Discurso durante a 165ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Explicação de S.Exa. ao Estado do Piauí, a respeito da sua saída do PMDB e seu ingresso no PSC. Leitura de carta de despedida do PMDB.

Autor
Mão Santa (S/PARTIDO - Sem Partido/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Explicação de S.Exa. ao Estado do Piauí, a respeito da sua saída do PMDB e seu ingresso no PSC. Leitura de carta de despedida do PMDB.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 25/09/2009 - Página 47218
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, ESTADO DO PIAUI (PI), MOTIVO, SAIDA, ORADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), FILIAÇÃO, PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC).
  • LEITURA, CARTA, DESPEDIDA, ORADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (Sem Partido - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Sarney, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Parlamentares, brasileiras e brasileiros presentes no plenário do Senado e os que nos assistem pelo fabuloso sistema de comunicação do Senado, a gente aprende na vida. Deus me permitiu conviver com grandes homens na política do Piauí. Petrônio Portella - às vezes, eu nem o entendia, Sarney - balbuciava: “Não agredir os fatos, não agredir os fatos”. E um dos pensamentos dele, Pedro Simon, é o seguinte: “Só não muda quem demite seu direito de pensar”.

            Tenho uma satisfação a dar à Nação e ao Piauí. Mudamos de partido. Meu mandato está aí, mas tenho o entendimento de que aqui é que está a sabedoria. Os três Poderes estão aí, e está aí Honduras. Isso se deu porque faltou esse entendimento que tivemos e essa coragem.

            Pedro Simon, democracia, em primeiro lugar, é divisão de poder e, em segundo lugar, é alternância no poder. Presidente Sarney, democracia é isto: divisão de poder e alternância no poder. Felizes somos nós, porque este Senado da República nos ensina isso. Esse é nosso modelo democrático, que é bom. A democracia é isto mesmo: é complicada, a gente tem de aguar, tem de aperfeiçoar, tem de aprimorar. Winston Churchill disse que ela é ruim, mas que não conhece outro regime melhor.

            Apesar dessa complicação, até que fomos bem. Lá, onde ela começou mesmo, na prática, onde o povo insatisfeito com o absolutismo gritava “liberdade, igualdade e fraternidade”, Sarney, lá rolaram muitas cabeças. As cabeças daqueles que a imaginaram rolaram. Depois de as cabeças rolarem, veio a inteligência forte e privilegiada de Napoleão Bonaparte. Embora o grito só cem anos depois chegasse aqui, agimos do nosso jeito, graças ao Senado da República. E não rolaram cabeças! Nada! Aqui está o Senado. Foram elaboradas essas Constituições.

            A República é a do Governo do povo, pelo povo e para o povo. Atentai bem para aquele que está ali! A gente fala muito desses militares recentes, que o Médici foi duro, mas diz a história que o Marechal Floriano era mais duro, era o Marechal de Ferro. E devia ser mesmo, porque nosso Rui Barbosa teve medo, foi para a Argentina, não gostou do tango e do espanhol e acabou na Inglaterra. Ele é que nos trouxe tudo. Ele é um de nós, é nosso patrono. Evidentemente, ele já sabia falar francês, que era a língua universal, mas precisava aprender Inglês - passou dois anos lá. Ele viu o Parlamento que foi o mais forte no mundo, o Parlamento inglês monárquico e democrático.

            Houve, aliás, um rei que fechou aquele Parlamento, o Rei Carlos I. Somos tão fortes, tão fortes, tão fortes, Sarney, que dá inveja e suscita mágoa. O Rei fechou o Parlamento, mas, de repente, eles entraram em uma guerra contra a Escócia e a Irlanda. O Rei estava perdendo e só viu uma maneira de agir: “Vou reabrir o Parlamento, porque eles é que têm credibilidade”. Aí um deles liderou, Oliver Cromwell, e disse: “Eu o abro, eu o convoco. Nós, que somos povo, temos sabedoria. Vamos arrumar dinheiro, ô Rei, para você enfrentar essa guerra contra a Irlanda e a Escócia”. Atentai bem, Rei Carlos I, nunca, jamais, um rei vai estar acima da lei. Está vendo, Sarney? É isso, é o entendimento da força disso. O Rei se curvou à lei. Aí eles voltaram e instalaram aquela democracia monárquica bicameral. Aí Rui Barbosa foi lá e, achando bonitos aqueles escritos do John Locke, copiou-os. E observou o filhote da Inglaterra, os Estados Unidos, também democrático, não monárquico, mas presidencialista, bicameral, e trouxe o regime para cá. É o que somos.

            Então, essa é a nossa cultura. Queiramos ou não, nossa cultura é essa, é a da Grécia. Aristóteles disse: “O homem é um animal político, buscando forma de governo”. E lá havia a democracia direta. A confusão era muito grande na praça, na ágora. Já imaginaram o povo todo tendo direito a falar? Reuniam-se às 5 horas da manhã, à meia-noite, e, naquele tempo, já havia álcool, vinho, cerveja. Então, a democracia direta não deu certo.

            Passou-se pela inteligência da Itália, do Renascimento, e eles fizeram uma democracia representativa, simbolizada pelo grande Senador Cícero, que, todas as vezes, dizia: “O Senado e o povo de Roma”. Nós podemos dizer: “O Senado e o povo do Brasil”. Nós somos povo. Nós somos filhos da democracia e do voto, igualzinho ao Presidente da República, com a diferença que aqui há mais voto do que os que o Luiz Inácio obtém. É fácil somar: são oitenta milhões de votos aqui.

            Queremos dizer o seguinte: essa é nossa cultura. E, graças ao Senado, não estamos aqui como se está em Honduras. Ouviu, Pedro Simon? A nossa cultura é esta: é a grega, democrática, de Sócrates, de Platão, de Aristóteles; é a italiana, do Senado Romano, do Direito Romano; é a francesa, do Liberté, Egalité et Fraternité; passando pela da Inglaterra, de que falamos há pouco, e pela dos Estados Unidos. E a trouxemos para cá. É essa nossa cultura. Nós somos isso. Ouviu, Eduardo Azeredo?

            Nada temos a ver com a história de Cuba. Nada temos a ver com a história do Chávez. Esses meninos estão fazendo a História. E aí vem ai o Equador, com o menino Correa; o índio Morales, na Bolívia; o Padre reprodutor do Paraguai; a Nicarágua. E, agora, deu isso em Honduras. Todos querem se perpetuar no poder. Todos eles querem isso. Cuba existe, Fidel existe, Chávez existe, os outros estão aí. Esse de Honduras, o que ele queria era isso. Aqui, não houve isso, porque, aqui, há o Senado, brasileiros e brasileiras. Eles quiseram isso, eles planejaram isso, eles cooptaram todo mundo, todo o Brasil, mas o Senado resistiu. Por isso, somos orgulhosos de fazer parte deste Senado.

            Vocês iam para o terceiro mandato, e quem quer o terceiro mandato quem quer o quarto. Pergunte a Fidel Castro se isso é bom. Pergunte isso ao Chávez. E essa ameaça de guerra interna em Honduras foi feita pelo Exército, e o Presidente de lá queria o terceiro mandato também. Aqui, não; aqui, freamos isso. Fomos nós que o fizemos, nós não deixamos isso acontecer. Luiz Inácio, num banquete, disse: “Vou botar o PMDB na Câmara e vou botar o Tião Viana no Senado”. Ele deve ter tomado umas. Não é nada mal tomar umas; eu também as tomo. Mas todo mundo sabe que a coisa não funcionou assim. Não deixamos isso acontecer, porque entendemos e sabemos o nosso compromisso com a democracia, ouviu, Presidente? Essa é a verdade.

            Atentai bem! O Poder Executivo está com o PT. Ganharam as eleições. Em 1994, votei no Luiz Inácio. O Judiciário, ô Pedro Simon, por uma anomalia... A democracia tem de ser aperfeiçoada. V. Exª é o Rui Barbosa de nossos dias. Está nesta Casa há 32 anos; assim, pelo menos, já tem um mandato de trinta anos, como ele. Não é que houve erro, mas a democracia tem de ser aperfeiçoada. A nossa Constituição atendeu o povo. Eles gostaram do povo e deram uma satisfação ao povo, que é presidencialista. Por várias vezes, este País foi ao plebiscito. Deram um direito que não existe: o Presidente da República nomear a Corte Suprema. Isso não existe, não. Isso não existe, viu, Pedro Simon? Dessa maneira, de onze, já há nove. Os Constituintes imaginaram quatro anos. Então, o Presidente colocaria dois ou três. Mas há nove, de onze, alguns deles filiados, fichados, ferrados no PT há mais de vinte anos. É isso mesmo. Falo com psicologia. Não vão mudar, não é, Pedro Simon?

            Olhem o cuidado: nosso Judiciário não pode ser um clube do PT. E, se o Presidente estivesse aqui - ô Renan! -, eles teriam os três Poderes. É por isto que ele é o Líder: só pelo gesto! Ele, lá no Palácio, foi o único que disse: “Isso não é bem assim”. E não deu certo, não. O Tião não ganhou, porque aqui somos os pais da Pátria.

            Da divisão de poder, da alternância do poder, não podemos abrir mão. Entendo, e entendo bem, que a democracia foi a melhor criação do mundo civilizado, com direito da liberdade, com direito de escolher o governo. Entendo, Pedro Simon, que V. Exª, que está aí, é homem que simboliza todas as virtudes desta Pátria, é temente a Deus, às leis de Deus, e ama a família, que é a maior instituição. Tanto isso é verdade, que Rui disse que a pátria é a família amplificada. Deus colocou seu Filho em uma família, para protegê-lo. Então, a família é a maior instituição; e o amor é o cimento. Mas, às vezes, eles se separam.

            Então, Pedro Simon, é legítimo meu direito de sair do PMDB. Primeiro, se o pai ou a esposa não se entendem, há o direito de se separar. O nosso Partido não é aquele, Pedro Simon. Em 1972, Elias Ximenes do Prado lutava com outros companheiros, no MDB, para conquistar uma prefeitura da ditadura. O Governador era Alberto Silva, que era duro, e nós ganhamos. Em 1974, depois, Ulysses tomou coragem e nos ensinou. Ele foi o anticandidato, sem nenhuma perspectiva de vitória, pois era um colégio eleitoral, mas, com muita coragem, levou os ideais do renascer da democracia. Não foi em 1974, Pedro Simon? Em 1974, este Partido já tinha coragem de ter candidato a Presidente da República.

            Sem chances. Tancredo também foi. Em um ato meio tresloucado e corajoso, deixou o Governo de Minas, num ideal. Era meio aventura. Contra um Colégio Eleitoral, contra a estrutura militar, ele foi e mostrou a coragem.

            O PMDB não é mais aquele, ô Pedro Simon, de Ulysses, que está encantado no fundo do mar, de Tancredo, que se imolou pela democracia, de Juscelino, cassado e humilhado aqui, de Ramez Tebet, de Teotônio Vilela, seu amigo, que, moribundo, com câncer, dizia que uma das funções do Senador é resistir falando e falar resistindo.

            Não é mais aquele, Pedro Simon. É um partido que vence eleições com mais de seis milhões, que tem o maior número de Governadores, o maior número de Prefeitos, o maior número de Vereadores, o maior número de Deputados Estaduais, Federais, ô Pedro Simon, mas diz que não tem gente capaz de ser candidato. Então, me constrangem essas coisas. Isso foi no Piauí e no Brasil. Olha, Pedro Simon, constrangem.

            Nas eleições passadas para Presidente, depois de nomes como Rigotto, como Garotinho, Pedro Simon foi aclamado para ser candidato. Garotinho é um grande homem. Ele desistiu de ser candidato a Presidente - essa é a verdadeira história - depois daquela greve de fome. E Pedro Simon foi aclamado, mas o partido não deixou Pedro Simon ser candidato. Eu sou testemunha, eu estava do lado dele. Foi muita ingratidão. Foi muita covardia. Foi muito constrangimento. Mas piorou. O partido não tem condições de ter candidato na Capital da República? Todo mundo sabe que Deus fez o mundo, mas todo mundo sabe, todos os brasileiros e brasileiras, que quem fez Brasília foram Juscelino e Roriz. Esse partido, por negociações, não deixa ter...

            Olha, ô Pedro, tem muito que aprender. A Rui Barbosa foi oferecido... Quando ele viu um militar suceder ao outro, Heráclito - Deodoro, Floriano e o Marechal Hermes -, ele não concordou em fazer a República e entrou na campanha civilista. Foram lhe dar, de novo, o Ministério da Fazenda. Simon, ele disse: “Não troco a trouxa das minhas convicções por um ministério”. É! Como atual é isso e quanto ensinamento!

            O fato, Pedro Simon, é que estou com o coração partido, mas, como Petrônio disse, só não muda quem se demite do direito de pensar. Descartes, Heráclito: “Penso, logo existo”. Eu pensei e, realmente, Simon, fiz uma carta de despedida ao meu partido. Recebi muitos pedidos para relê-la, e V. Exª, que está aqui hoje, é citado.

“Irmãs e Irmãos do Piauí.

Piauí terra querida, Filha do sol do equador. Pertencem-te a nossa vida, nosso sonho, nosso amor ...”

Agradeço a Deus ter nascido no Piauí, casado no Piauí, ter filhos no Piauí e fazer amigos no Piauí.

Ausentei-me do Estado na juventude, de 1958 a 1968, para buscar ciência para com consciência servir a nossa gente. Sou orgulhoso de ter exercido bem a minha profissão de médico e cirurgião e ter recebido dos pobres o aposto de Mão Santa.

O destino levou-me a exercer a política. Afirmo que não me envergonho de nenhum ato nos mandatos que recebi do povo: Deputado Estadual, Prefeito de Parnaíba, 1º Suplente de Deputado Federal, duas vezes Governador pelo voto direto. Em 2002, em condições adversas, o povo do Piauí nos elegeu Senador da República com 664.600 votos, mandato que estamos exercendo com a grandeza que o Piauí merece.

Recentemente foi gratificante ouvir de um Presidente de outro partido (DEM) , o Deputado Federal Mainha, dizer: “Tenho percorrido o Brasil e emocionado senti que o país quer o Mão Santa no Senado da República. O Piauí não pode decepcionar o Brasil”.

A nossa luta foi inspirada nos grandes líderes que não hesitaram em ter a necessária coragem de ser oposição. São eles: Juscelino Kubitschek [médico como eu, cirurgião como eu, de Santa Casa, prefeitinho, Governador, cassado bem daqui, humilhado e tirado da vida pública por um período], Ulysses Guimarães,Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Pedro Simon [V. Exª está na minha carta, aqui], Celso Barros [esse é do Piauí], Chagas Rodrigues, Wall Ferraz, Severo e Oscar Eulálio.

Hoje, sou condenado em meu Estado pelo meu partido, por fazer uma oposição responsável em defesa de uma melhor SEGURANÇA PÚBLICA, da SAÚDE para todos, de uma EDUCAÇÃO PÚBLICA de qualidade, oportunidades de EMPREGOS para jovens e adultos, queda da CPMF, fim das injustiças aos APOSENTADOS e combate à CORRUPÇÃO que Ulysses Guimarães chamava de cupim [que corrói] da democracia. Foi ao PMDB defensor desses e de outros ideais, a que me filiei. Destinei em Emendas Orçamentárias mais de 122 milhões para obras no Piauí.

Hoje, publicamente, membros do partido ligados ao PT reprimem e ameaçam com legenda a ser negada quem se mantém fiel ao programa do partido e aos princípios democráticos de liberdade. Declaram claramente nos órgãos de comunicação que o PMDB não terá candidato a Senador.

Estou mudando de sigla partidária para ter o direito de ser candidato e continuar sendo a voz do Piauí no Senado. Como sempre a minha confiança está no povo. Durante minha vida política juntos cantamos “o povo é o poder”.

Saio de coração partido, agradecendo a todos, filiados ou não, que no passado até em condições adversas, apoiaram-me e receberam o meu irrestrito apoio. Não podendo citar todos, vou simbolizá-los nas lideranças dos Deputados Estaduais Mauro Tapety, João Madison, Moraes Souza Filho e Ana Paula Carvalho.

Concluo com o cântico bíblico do rei Davi: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”.

Mesmo com a alma ferida,continuo acreditando no filósofo que diz: “Muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o ser humano”. Inspirados no rei Roberto Carlos, da minha geração, eu e Adalgisa abraçamos todos os piauienses cantando “eu quero ter um milhão de amigos...”

Oh Deus! Abençoe o Piauí e a nossa gente.

Um aparte ao Senador Pedro Simon.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª não calcula a profunda mágoa com que recebo o pronunciamento de V. Exª. Eu estava em Montevidéu, participando do Congresso do Mercosul, quando a imprensa me telefonou perguntando o que eu achava da notícia de que V. Exª estava saindo do PMDB. Eu, que não estava a par da situação, disse que não acreditava: “Primeiro, não acredito que o Mão Santa saia do PMDB. Segundo, eu não acredito que o PMDB permita que o Mão Santa saia do PMDB.” Ontem, chegando aqui, recebi cópia da carta que V. Exª terminou de ler desta tribuna. Olha, é difícil de entender. Uma pessoa como V. Exª, com o seu passado, com a sua biografia, com a sua atuação brilhante e excepcional, mudando os rumos da vida diária deste Senado, ter de sair do PMDB, como expõe V. Exª, porque o PMDB, a rigor, determinou que isso acontecesse. V. Exª - Prefeito, Deputado Federal, Governador por duas vezes e Senador - tem sido a grande referência deste Senado em âmbito nacional. O seu linguajar, o seu estilo, as referências que V. Exª faz a autores, a sábios, a gênios da política internacional com as suas frases que marcaram suas biografias, a oportunidade dos pronunciamentos de V. Exª, a simpatia pessoal de V. Exª. V. Exª é o grande líder de audiência da TV Senado. É impressionante! Lá no Rio Grande do Sul, todas as pessoas que me abordam, que conversam comigo, perguntam por V. Exª e contam nos detalhes o último pronunciamento de V. Exª a que assistiram. Que fase triste vive o nosso País! E que fase triste vive o nosso partido! De repente, sem mais nem menos, um membro do partido que tinha o Governador eleito reeleito, um Senador eleito com uma multidão de votos, uma candidatura tranquila a Governador ou a Senador, fica informado de que o partido lhe negará legenda, porque o partido resolveu não ter candidato nem a Governador, nem a Senador. O partido, lá, decidiu ser uma sublegenda de aluguel do Partido dos Trabalhadores. Nenhuma aliança, nenhuma coligação, nenhum entendimento respeitoso. Quando tem um cargo a Governador a ser disputado, um cargo a Vice-Governador e duas vagas ao Senado, nem assim acharam eles que V. Exª pudesse ser candidato, digamos assim, a uma vaga de Senador. É muito triste! É muito triste que o PMDB do Piauí - e V. Exª, na sua carta, se refere a Chagas Rodrigues, e fui seu amigo, e ele morando aqui em Brasília, ainda que fora da política, contava as suas histórias e a sua luta -, é muito triste um partido do tamanho do nosso praticamente determinar a saída de V. Exª. Há dias, a direção do PMDB lançou uma carta, uma nota, convidando, apelando, eu diria, para que os descontentes saíssem do partido: “Quem quiser sair, saia, porque não faremos nada. Saia sem nenhuma preocupação de que vamos solicitar que o mandato, como disse o Supremo Tribunal, é do partido e não do parlamentar. Saia e o PMDB não vai fazer nada”. Foi o apelo que ela fez. É realmente muito triste! Na segunda-feira, foi o ex-Governador Roriz.

            Três vezes Governador de Brasília, um forte homem público, candidato, que o Partido simplesmente excluiu, dizendo que, no PMDB, ele também não teria lugar nem a Governador, nem a Senador, nem a coisa nenhuma. E ele teve que sair do Partido pelo mesmo motivo que V. Exª lá no Piauí. Não é candidato a nada. Talvez a Deputado ele desse uma legenda, talvez. Olha, que política é esta? O que o PMDB fez para merecer uma direção que nem essa que ele tem? Há uma decisão do Partido determinando a realização de congressos em todos os Estados. Nós fizemos o nosso no Rio Grande do Sul para discussão sobre o programa partidário para Presidente da República e para saber se PMDB quer ou não quer candidato próprio a Presidente da República. O Rio Grande do Sul foi unanimidade; milhares de pessoas no nosso congresso. Goiás também fez, Santa Catarina também fez, vários Estados estão fazendo. Em meio a isso, o presidente “licenciado”, porque ele é quem continua dando as ordens, informa que está querendo fazer imediatamente um acordo com o PT. Quatro anos atrás o PMDB chegou a fazer uma prévia. Concorreram o Governador Rigotto, do Rio Grande do Sul, e o Governador Garotinho, do Rio de Janeiro. A tese amplamente vencedora era a de que o PMDB tivesse um candidato próprio para Presidente da República. O que aconteceu? O comando nacional, com a maior cara de pau, não convocou a convenção, nobre Senador, para a escolha de candidato. Não saiu a convenção! E o PMDB abriu mão, não teve candidato a presidente, também não teve vice nem do PT, nem do PSDB, não teve nada. O tempo de televisão a que o PMDB tinha direito para Presidente da República desapareceu, foi distribuído entre os outros partidos.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Metade ficou com o Lula, metade ficou com o Serra, com o compromisso assinado entre eles: quem ganhasse trazia o outro grupo para o lado do governo. E foi o que aconteceu. O Senador Renan, que foi Ministro da Justiça do Presidente Fernando Henrique, foi levado de volta para o PT pelos que estavam do lado do PSDB. E agora, quando esperávamos a convocação de uma convenção nacional para discutir o nosso plano de governo e a candidatura própria, sim ou não, o presidente licenciado, mas mandando, Presidente da Câmara, que está com a mosca azul de ser Vice-Presidente da República, quer fechar o acordo imediatamente com a...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ...o ex-Governador Roriz; vale deixar V. Exª no vazio, vale o que for necessário. Mas V. Exª, Senador Mão Santa, está acima disso. Eu me comprometi com V. Exª a, com muita honra, ir ao Piauí fazer a campanha de V. Exª para o Senado, no ano que vem. Se V. Exª for candidato ao Senado, estarei lá para defendê-lo. Quero aqui trazer o meu testemunho. Não pense a direção nacional do PMDB e não pense o comando do PMDB, o triste comando do PMDB lá no Piauí...

(Interrupção de som)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ...que V. Exª não tem a capacidade e que não tem o respeito não apenas da bancada do PMDB, mas de todo o Senado Federal. V. Exª aqui é um vencedor. Dessa tribuna de onde V. Exª tem sido o campeão de uso durante esses anos todos, aquela Presidência onde V. Exª esteve mais tempo do que o próprio Presidente efetivo, a franqueza com que V. Exª expõe a realidade deste País... V. Exª, ao que sei, apoiou o Presidente Lula para Presidente. Tinha todas as condições de acomodar-se, de pegar os cargos, as vantagens que eles estão dando. A rigor, V. Exª é até meio responsável com relação a ter se acomodado, pegado um cargo aqui, outro ali. No PMDB está todo mundo cheio disso. Um é Diretor da Petrobrás, outro é Diretor do Banco do Brasil, outro é ministro disso, outro é ministro daquilo. Cargo é o que não falta. V. Exª resolveu ser um Senador - digamos assim - independente e, da tribuna, onde V. Exª está neste momento, disse o que achava que deveria dizer. Criticou quando achou que deveria criticar, expondo as linhas de V. Exª, que são as linhas da existência de V. Exª. Homem simples. Como diz a sua carta, belíssima carta, emocionante a carta de V. Exª, só saiu do seu Piauí para fazer a sua graduação em Medicina. E com que honra V. Exª disse que, nos longos anos em que exerceu a Medicina como cirurgião especialista, para o povo, é Mão Santa. Mão Santa! Ontem, como médico cirurgião, Mão Santa. Hoje, como político, que usa as suas mãos, a sua mentalidade, a sua capacidade, o seu esforço e a sua resistência a favor da dignidade, da honra, da seriedade. Eu lhe trago o meu abraço, o meu carinho. E lamento profundamente. Em primeiro lugar, quando eu o procurei hoje, eu achei que isso estava ainda em andamento. Eu tentava até convencê-lo a fazermos um movimento no sentido de exigir a sua permanência. Para mágoa minha, fiquei sabendo que V. Exª já assinou ficha no outro Partido. Eu felicito esse novo partido. Eles nem imaginam a aquisição que fizeram. Eles nem imaginam o que V. Exª representará para esse novo partido não apenas no Piauí, mas no Brasil inteiro. V. Exª muda de partido para não mudar as suas idéias, a sua ideologia, o seu pensamento, a sua maneira de ser, a sua maneira de proceder. A sua consciência não está à venda. V. Exª não está à procura de quem dá mais. V. Exª está sendo coerente. Aquele jovem esperançoso, aquele médico iniciante que se transformou em um famoso cirurgião, aquele político que se consolidou pela dignidade e pela honradez vive uma hora muito, muito feliz.

(Interrupção do som.)

            O Sr Pedro Simon (PMDB - RS) - Às vezes é preciso, para manter o rumo, mudar a rota. Às vezes é preciso, para manter as idéias, buscar outras formas. Eu continuo seu amigo, seu irmão e seu admirador - seu, da sua querida esposa e da sua querida filha, que lá no Rio Grande do Sul faz um curso de especialização na Medicina. Continuo confiando que o destino lhe reserva grandes planos, grandes trabalhos e postos muito importantes não apenas no Piauí, mas no Brasil. Meu carinho, e que Deus seja pródigo com V. Exª ao distribuir felicidades.

            O SR. MÃO SANTA (S/Partido - PI) - Pedro Simon, eu agradeço a Deus suas palavras. É como se fosse minha mãe, porque que minha mãe é terceira franciscana e o Pedro Simon é franciscano. “Onde há desespero, que eu seja a esperança”.

            Mas, Pedro Simon, na minha vida eu acreditei sempre no estudo. Eu me lembro de ter lido Benjamin Disraeli, que disse: “Não se queixe, não se desculpe, não se explique. Aja ou saia”. O que importa são os resultados. Então, eu me sinto honrado em ingressar nesse partido que eu escolhi, que é meu perfil. E muitos opinaram aqui. O Magno Malta foi um que disseram: Vá, é bom. PSC, está aqui, conheci. É o nosso perfil: cristão. Nós acreditamos em Deus, é o nosso perfil. E a sua origem é lá em Minas, é o Pedro Aleixo, aquele que foi Vice-Presidente de Costa e Silva; não assumiu, veio uma junta militar... Atentai bem, Azeredo, porque eles se negaram a assinar os atos institucionais.

            Então é esse grupo idealista que o comanda, por meio do Presidente Vitor Nósseis e do Pastor Everaldo Pereira. Eu agradeço a todos eles. Todos os Deputados estiveram presentes na nossa assinatura: Hugo Leal, do Rio de Janeiro; Cadoca, do Pernambuco; Deley, do Rio de Janeiro; Eduardo Amorim, de Sergipe; Felipe Pereira, do Rio de Janeiro; Jurandir Loureiro; Mário Oliveira; Ratinho Júnior; Régis Oliveira; Silas Câmara; Takayama e outras lideranças agora.

         Mas eu queria agradecer aos Senadores que foram lá prestigiar e que discursaram e nos emocionaram, como V. Exª, o Arthur Virgílio, o José Agripino, o Paulo Duque, o Delcídio Amaral, o Mário Couto e o Heráclito Fortes - Heráclito, na carta, na outra, eu vou botar “meu irmão camarada”, do Roberto Carlos também -, que fez um discurso emocionante, traduzido.

            Então, nós estamos nesse Partido, que tem um símbolo, com o qual já estou, que é um peixe, um símbolo cristão que lembra Pedro, o pescador. Esse Partido tem um slogan, que é “fé e ética na democracia”, e um programa, em que nós acreditamos, que é a promoção do ser humano - sempre acreditei que, na natureza, muitas são as maravilhas, mas a mais maravilhosa é o ser humano -, e uma doutrina,...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (Sem Partido - PI) - ...a doutrina cristã.

            Então, eu quero dizer que eu ingresso nesse Partido inspirado em Cristo: eu não vim para ser servido, mas para servir o Partido, o Piauí e a democracia.

            Muito obrigado.


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