Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Deputado Alberto Silva, líder político piauiense, que veio a falecer ontem, dia 28 de setembro.

Autor
Mão Santa (S/PARTIDO - Sem Partido/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Deputado Alberto Silva, líder político piauiense, que veio a falecer ontem, dia 28 de setembro.
Publicação
Publicação no DSF de 30/09/2009 - Página 47763
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ALBERTO SILVA, DEPUTADO FEDERAL, EX SENADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), ENGENHEIRO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DETALHAMENTO, BIOGRAFIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (S/Partido - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Jefferson Praia, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui no plenário e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, venho aqui trazer a emoção de tristeza do povo do Piauí. Ontem, pela madrugada, morreu, com certeza, talvez, o seu filho mais ilustre: Alberto Silva. Já ontem aqui, o Senador Heráclito Fortes o trouxe para ser velado como Senador da República, aqui no Salão Negro - ele que, por dois mandatos, foi Senador -, depois de receber as exéquias na Câmara dos Deputados, onde era Deputado Federal.

            Senador Jefferson Praia, para falar nisso e transmitir o momento de tristeza que vive o Piauí, teria que abrir o Livro de Deus: a Bíblia.

            A Bíblia diz que “aqueles abençoados por Deus, aqueles amados por Deus, aqueles que são os bem-aventurados, Deus dá a eles uma longa vida e em pleno exercício de suas atividades durante todos os dias de sua existência”. Alberto Silva faria 91 anos, Senador Antonio Carlos Valadares, no próximo dia 10 de novembro. Ele é nascido na minha cidade, Parnaíba.

            Família tradicional, cujo pai era um juiz de Direito e mãe uma religiosa que, hoje, chamamos de Santa Vangi. Alberto Silva deixou o Piauí e foi estudar Engenharia. Senador Inácio Arruda, hoje é fácil, as faculdades estão aí, mas naquele tempo o jovem parnaibano se arrancou e foi se meter lá nas Minas Gerais, em Itajubá, fez o seu curso, em uma das mais renomadas. Basta dizer que Aureliano Chaves, aquele que foi Vice, o Governador de Minas, o Governador aqui do Distrito Federal, Senador Inácio Arruda, lá estava. Ele fez concurso para engenheiro da ferrovia e exercia o cargo.

            Foi chamado a sua terra natal, Parnaíba. Eu era menino e vi, em 1948, ele enfrentar uma campanha.

            Naquele tempo, ele representava a UDN contra o PTB. Senador Inácio Arruda, é muito oportuno você ver isso. Por laços familiares, eu estava na campanha de Alberto Silva. O irmão dele mais velho, médico, maior líder municipalista, Dr. João Silva Filho, casou-se com uma irmã de minha mãe. Então, o irmão do Alberto Silva... Mas eu sei que, de repente... Senador Inácio Arruda, é muito importante você ver. A UDN tinha os ricos e os poderosos. Parnaíba era mais rica que a capital. O ICMS era mais de 80%. Todo poder econômico estava desesperado, porque apareceu um líder. Olha, ele era bonitão, parecia com o Clark Gable. Diziam que o homem era comunista. Diziam isso porque ele tinha ideias avançadas, sociais. Era Darcy Araújo, que seria o nosso Carlos Prestes de lá. Senador Inácio Arruda, eu morava no centro da cidade, onde hoje é o Bradesco, e me impressionava com aquele homem bonito, que parecia o Clark Gable, de terno branco. Quando ele passava, por volta de meio-dia, na hora do almoço, estivadores, carroceiros e pobres iam atrás do homem. Um dia, Senador Inácio Arruda, eu não me controlei e acompanhei aquele que era o candidato contra Alberto Silva. E andei assim umas quatro quadras. Ele entra para a esquerda, por trás da Caixa e aí eu vejo ele abraçar uma mulher linda, a esposa dele. Eu menino, minha família...E a UDN, todos ricos, todos poderosos, foram buscar Alberto Silva. Apavorados, diziam que aquele homem era um comunista. Para o Arruda sentir como era naquele tempo.

            Terminou a eleição em Parnaíba, Alberto Silva perdeu para o Clark Gable comunista por 71 votos. Mas Cocal, uma cidade que se limita com Viçosa, era Parnaíba naquela época. E Alberto Silva, engenheiro da estrada de ferro -o transporte de Cocal-Parnaíba era o trem -, quando vieram os outros de Cocal, Alberto Silva ganhou as eleições por 90 votos.

            E eu já naquele tempo... Naquele tempo era bom, Antonio Carlos Valadares, a gente ia buscar o eleitor. A cidade era de areia. Meu irmão mais velho, Antonio José, guiava o jipe, a caminhonete Land Rover, e eu adentrava a casa, meninote. Naquele tempo se votava de paletó, uma elegância, assim branco. E eu ia no bolso, ver a chapinha, se era Alberto Silva ou... E levava lá para a casa do meu pai, onde era o que se chamava curral eleitoral. Tinha comida, tinha cerveja. Você fazer um eleitor votar antes de almoçar ainda!?

            Mas era um tempo bom. E eu ia no bolso nos eleitores para ver a chapinha. Então, desde aí havia... Mas ele foi um extraordinário Prefeito por dois anos. Negócio de telefonia, eletricidade, povo da cidade, inovador. Ele era danado.

            Não conseguiu fazer o seu sucessor, porque o PTB era forte. O comunista lá, o Clark Gable, colocou até depois um tio meu, médico, João Orlando de Moraes Correia, em 1950. Em 1954, Getúlio passou lá. Há uma placa com a inscrição: “Aqui hospedou-se Getúlio Vargas”. Eu vi o Getúlio na casa do meu tio.

            E esse Clark Gable foi ser Deputado Estadual. Depois, o destino fez com que Alberto Silva voltasse à Prefeitura. Foi Deputado Estadual. Ele sempre dizia aqui - ele não me chamava de Mão Santa, mas de Dr. Francisco, porque os mais velhos tinham esse hábito -: “Dr. Francisco, eu sou um engenheiro político”. Engenheiro político ele se definia. E ele era um homem de planos, de obras. O Livro de Deus diz: “Fé sem obras - Tiago disse - já nasce morta”. A fé dele era com obras. Onde ele pegava...

            Então, a elite de Teresina... Alberto, Deputado Estadual, negociou com ele para lhe dar a estrada de ferro central do Piauí, está vendo, Arruda? E a sua vocação primária era a engenharia. Pegou logo, largou o mandato de Deputado Estadual e a elite botou um suplente. Essas coisas já havia na política.

            Arruda, o homem dinamizou tudo. E quero dar um testemunho de menino. Naquele tempo, o trem, Antonio Carlos Valadares - V. Exª é da minha idade -, era uma tal de maria-fumaça.

            Jefferson, botava lenha, saía fumaça. Ele trouxe uma máquina a óleo do Ceará, de Fortaleza, mas o importante era que só o Alberto sabia fazer.

            Eu era menino e fomos esperar essa máquina. Arruda, era até um ato de competência, mas normal, de uma administração. Mas, rapaz, quando a gente chegou, lá vinha a máquina a óleo do Ceará. Rapaz, quem estava na frente, feito maquinista, era o Alberto de macacão. E vinha ele. Então, toda a minha geração, ninguém tira da cabeça que ele chegou guiando a locomotiva lá do teu Ceará, Arruda.

            Aí ele saltou - o Alberto Silva era essa figura - e era gente para ver a máquina. Daí daquele jeito dele aí apareceu o maquinista. “Olha, leve esse povo para a praia de Atalaia para tomar um banho de mar”. Esse era o Alberto Silva. Você já imaginou naquela época? Olha, Arruda, hoje, a minha geração, os que não tiveram o entendimento das coisas, acha e entende que ele veio guiando lá do Ceará a máquina. Esse era o homem que liderava, que empolgava e que sabia.

            Depois, a política. Eu vi, eu vi. Eu vou escrever um livro sobre o Alberto Silva. Sabe como é a política. O Caldas Rodrigues venceu e o homem, de repente, não pôde exercitar a sua profissão. Eu vi ele se despedindo e foi uma revolução na estrada de ferro. Modernizou. Até time de futebol ferroviário. Ele era danado e eu nunca me esqueço ele discursando que ia como Pedro II.

            Pedro II, quando foi para o seu exílio, quando tomaram..., ele levou, Jefferson Praia, um travesseiro com areia do Brasil.

            Então, ele ia levar, e foi para o Ceará. No Ceará, o Governador Virgílio Távora, que casou com uma filha de Luís de Moraes Correia, a Luzia, que é nossa parente - e Luís Correia é irmão de meu avô, Josias Benedito de Moraes Correia. Então, ele foi para o Ceará, Arruda. Sabe por quê? Fugindo da Polícia do Piauí. Os Moraes Correia, políticos, e os Silva se juntaram, para ter esse elemento familiar. E ele foi, na ditadura, porque não queria negócio de briga, guerras, com Moraes Correia. Olha o destino! Foi para o Ceará, juntou-se com Clóvis Bevilácqua, professor de Direito, grande jurista. Teve duas filhas. É a mulher que faz o homem. Sou só fruto de Adalgisa. É a mulher que faz o homem. Elas fizeram, lá do meu Piauí, da Parnaíba, dois Governadores no Ceará: Virgílio Távora e Flávio Marcílio, nascidos no Piauí. Para você ver o que é o micróbio político. O homem fugiu da política no Piauí, familiar, e foi lá e... V. Exª é testemunha.

            Então, o Alberto Silva foi para o Ceará no seu exílio. A sua competência fez com que ele fosse professor de engenharia, que ele fosse da Cenorte e levou, amando o Piauí, a luz de Chaval para Parnaíba. Vi Andreazza dizer que na época era a maior rede elétrica.

            Esse é Alberto Silva.

            A revolução dos seus atos mais felizes o indicou Governador do Estado do Piauí. Avançado, foi um período próspero. O melhor Ministro que já deu este País era também parnaibano: João Paulo dos Reis Velloso.

            Então, Alberto dinamizou.

            Depois ele volta nos braços do povo. Eu fui candidato a Deputado Federal, do palanque dele tirei, tirei... Fui primeiro suplente, numa campanha memorável. E Alberto volta ao Governo. No segundo não foi tão feliz. Fecharam o banco e deixou o funcionalismo atrasado. O seu adversário não pagou o atrasado. E depois ele me buscou como ex-Prefeito de Parnaíba, e ganhamos as eleições pelo PMDB. Ele era o Presidente e eu o Vice-Presidente do PMDB de lá.

            Eu queria resumir o que Alberto significa para o Piauí. Exerceu posições federais, diretor do Pólo Nordeste, que não tem mais; da grande empresa que era quase um ministério, EBTU - Empresa Brasileira de Transporte Urbano; responsável pela construção das rodoviárias, estradas, acessos, metrô. E por duas vezes foi Senador da República, e duas vezes Deputado Federal.

            Mas resumindo o que ele significa para nós... Acabamos de chegar, Heráclito Fortes prestou as homenagens a ele, à família. Ele foi velado aqui no Salão Negro, o Senado rendendo a ele as homenagens. S. Excelência o Presidente Luiz Inácio o reconheceu e o nomeou como Conselheiro da República. E Heráclito, com o esforço do Senado, com a sua competência, conseguiu um avião da Força Aérea, levou a família de Alberto Silva e o corpo. Ele foi homenageado a noite toda em velório, na Assembleia Legislativa, onde eu passei quase toda a noite, e, pela manhã, foi para a nossa terra natal, onde foi velado na Igreja de Santo Antônio e sepultado em Parnaíba.

            Eu diria o seguinte: o que significa... E está aqui, quis Deus, um grande líder do povo. Quem, quem foi um líder lá? Quem, quem foi candidato a prefeito e quase ganha? Está ali um líder popular, e ele simboliza... Então, eu diria ao Inácio Arruda, para simbolizar Alberto Silva na História. Está aqui a Bandeira do Brasil. Ô Jefferson Praia, olhai as cores. A bandeira do Piauí tem as mesmas cores. Senador Osvaldo, a bandeira do Piauí é mais bonita, a do Brasil tem um monte de estrelas, representa os Estados; a do Piauí só tem uma estrela. Atentai bem! Quando a olharmos, significa a Estrela Antares. Pois bem, ele fez um barco, o Antares, para desenvolver o turismo. Então, doravante, quando olharmos, piauienses, a bandeira do Piauí, aquela estrela é Alberto Silva.

            Que nos iluminou!

            De tantos ensinamentos, eu diria que o mais forte que deixou para todos nós, seu grande legado, foi seu amor pelo Piauí. Ninguém nunca amou o Piauí como ele. Sinto-me feliz porque vou meditar sobre sua vida e fazer um livro.

            Participei dos dois momentos mais felizes da vida de Alberto Silva. Um deles foi a comemoração dos seus 60 anos de casado. Ele morreu com 66 anos de casado. Fomos convidados, eu e Adalgisa. Senador, foi uma festa linda! Muitos filhos, porque a árvore boa dá frutos; muitos netos. Eu e Adalgisa fomos convidados. Religioso ele! A esposa, uma santa, uma mãe de família. Nunca ouvi falar mal de Dona Florisa. Um amor de 60 anos! Foi um ato religioso e depois na casa deles. Os dois com 60 anos de casados. Olhai e beleza do amor! Tocavam piano. Ele tocava para ela; ela para ele. Os dois tocavam piano. Namoravam tocando piano. E eu lá. A outra, Arruda, foi quando ele, Senador... Ele dizia que era um engenheiro político. Fazia questão de dizer: “Sou um engenheiro político.” Sempre digo aqui: para onde se vai leva-se a profissão. Ele foi convidado pela Faculdade de Itajubá, por essa faculdade de engenharia histórica, tradicional e, na época, a mais importante. Hoje é fácil formar-se em engenharia, mas, naquela época, sair lá da Ilha Santa Isabel para estudar!... Quer dizer, mostrou coragem.

            E ele foi convidado para os 100 anos da faculdade e me convidou para ir com ele. Eu fui, eu o acompanhei. Ele era Senador aqui. E com a Dona Florisa, eu, a Adalgisa e sua querida filha Suzana. Chegamos em São Paulo, dois carros da faculdade, e fomos. Aí aquela emoção de ele rever amigos, 100 anos, professores, prédios, casas, restaurantes. Eu vivi com eles essas emoções.

            Quando citaram os mais laureados, Arruda, rapaz, era gente muito importante. Era dono da Philips, era não sei o quê, multinacional. Alberto Silva era o mais rico deles porque tinha um currículo da mais bela política. E eu vi a emoção. Tanta felicidade que, no dia seguinte, ele pedia: Dr. Francisco, vamos rezar, agradecer a fé. Aí eu fui com ele, a Adalgisa para a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Um encantamento.

            Então, no meio disso, a minha voz aqui, somada à dos Senadores do Piauí, Heráclito Fortes, que conseguiu o avião com a Força Aérea, fomos, acabamos de chegar, estamos juntos, o outro Senador.

            Então, que saia daqui, pelo sistema de som, as ondas sonoras da televisão, da rádio AM, FM, que a minha voz chegue aos céus, até Deus.

            Ó Deus, receba Alberto Silva, o melhor filho do Piauí, exemplo de trabalho, exemplo de amor à sua família, seu Estado e sua gente! Ó Deus, o Piauí todo nos acompanha nesta prece. Receba o nosso mais importante... É o trabalho. Ele viveu como o Apóstolo Thiago. Thiago disse: “A fé sem obras já nasce morta”. A fé de Alberto Silva foi com obras. Ó Deus, receba o melhor filho da história do Piauí!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/09/2009 - Página 47763