Discurso durante a 171ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Esclarecimentos em relação ao pronunciamento do Senador Aloizio Mercadante.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Esclarecimentos em relação ao pronunciamento do Senador Aloizio Mercadante.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/2009 - Página 48526
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, POSIÇÃO, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR, DEFESA, CONDUTA, GOVERNO BRASILEIRO, ASILO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, HONDURAS.
  • QUESTIONAMENTO, POLITICA EXTERNA, GOVERNO BRASILEIRO, AUTORIZAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, HONDURAS, UTILIZAÇÃO, EMBAIXADA DO BRASIL, COMITE, NATUREZA POLITICA, TENTATIVA, RETORNO, PODER, CRITICA, FALTA, RESPONSABILIDADE, COLOCAÇÃO, EMBAIXADA, SERVIDOR, INSUFICIENCIA, QUALIFICAÇÃO, EFICACIA, SOLUÇÃO, CRISE.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, o Senador Aloizio Mercadante, como sempre, brilhante. Deve ter sido, na juventude, um belo líder estudantil, um aguerrido líder estudantil, daqueles que movimentavam a massa com refrões daqueles livros de cabeceira que nós aprendemos. Só que nós não estamos mais em república estudantil. Nós estamos no Senado da República do Brasil.

            Em nenhum momento, nós condenamos aqui o fato de o Brasil abrigar o Sr. Zelaya na Embaixada; em nenhum momento, nós defendemos o golpe praticado em Honduras. Nós estamos contra, Senador Mercadante, à maneira irresponsável de o Brasil entrar nessa história. É muito bonito! O Senador Mercadante diz aqui: “Todos os países aplaudem o Brasil”. Claro! Tiraram de todos os países que podiam ser vítima dessa hospedagem infeliz e insatisfatória a responsabilidade ou a possibilidade. O grande hospedeiro, hoje, quem é? É o Brasil! Por que o Brasil? Porque nós temos uma política internacional dúbia que permite esse tipo de oferecimento. Nós temos de levar essa questão de maneira mais séria. O Sr. Zelaya está na Embaixada brasileira fazendo turismo. Turismo conspiratório! O mundo inteiro a lhe mandar água, alimentos, e ele a pregar o retorno ao poder.

            Eu acho justo, mas não cabe ao Governo brasileiro decidir as questões internas de Honduras. Por que o Sr. Zelaya não procurou a Embaixada americana? Por que não se hospedou no prédio da OEA que existe em Honduras?

            E a revelação do Ministro das Relações Exteriores, Presidente Sarney, de que foi procurado pelo próprio Zelaya para lhe pedir um avião emprestado? Quem de nós pede avião emprestado a quem não tem intimidade? Quem de nós pede avião emprestado a quem não tem pelo menos a possibilidade de receber uma resposta positiva? Isso não é conversa cerimoniosa. Isso não é conversa que se tenha com as pessoas sem criar primeiro um ambiente de confiança.

            O Brasil entrou numa fria, Senador Mercadante. O Brasil entrou numa fria, porque nós não temos uma política externa unificada. Nós temos o Ministro das Relações Exteriores, que faz política externa, por um lado, e o assessor da Presidência da República, que desfaz, pelo outro.

            Não podemos tapar o sol com a peneira. O apoio que estamos dando e que devemos dar ao retorno da democracia em Honduras é incontestável. Agora o inaceitável é nós cedermos o prédio da Embaixada brasileira para o Sr. Zelaya fazer de lá o seu comitê de retorno ao poder.

            O Senador Mercadante agora diz de maneira tranquila: “Ah, mas só são 60 pessoas!” Já foram 300, 120, 110. O que faz a diferença?

            É preciso que se entenda uma coisa: asilo é dado a quem está no País e, por circunstâncias políticas, corre risco de vida. Vai à embaixada... Ele citou exemplos, na Revolução, de brasileiros que se asilaram aqui na Embaixada do Chile, na Embaixada do México, em várias Embaixadas. Receberam o asilo e foram para o País que lhe concedeu esse asilo.

            A questão do Zelaya é diferente. Ele já estava fora de Honduras. Retornou de maneira clandestina, com o apoio do Sr. Hugo Chávez, e foi para o endereço certo, que é a Embaixada brasileira. Então, já não se configura mais a figura do asilo. O Governo brasileiro precisa também dizer em que circunstâncias hospeda o Sr. Zelaya.

            Outro ponto, Senador Aloizio Mercadante, a irresponsabilidade brasileira de não colocar um diplomata de primeira linha em Tegucigalpa. Nós estamos lá com um funcionário de terceiro escalão. Era para ter sido nomeado, já há muito tempo, um embaixador pleno e potenciário, Senador José Sarney, um homem de responsabilidade que pudesse falar em nome do Itamaraty, não um funcionário competente, mas que tem limitações para tanto.

            Daí por que nós não estamos aqui discutindo a democracia de Honduras, a qual defendemos. Nós não estamos aqui discutindo outra coisa a não ser a maneira errada como o Brasil entrou nesse processo.

            O Presidente Lula tem todos os títulos para ser o grande líder da política externa da América Latina. Agora V. Exª, como seu Líder nesta Casa, apoiar uma atitude em que transforma o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva em um caudatário do Sr. Hugo Chávez é uma diferença muito grande! É querer e torcer para que o Brasil se agache!

            Todos sabem como a manobra foi feita, do avião venezuelano emprestado. É claro, depois que o Governo brasileiro negou o seu.

            O Brasil não pode ser caudatário de Hugo Chávez em episódios dessa natureza. O Brasil tem nome. O Brasil merece credibilidade e respeito.

            De forma que, meu caro Senador Aloizio Mercadante, é lamentável que, num momento de saudosismo, V. Exª volte aos bancos estudantis de São Paulo, do Brasil, que V. Exª frequentou, mas trazê-lo para o Senado da República, em nome do povo de São Paulo, é inaceitável! Temos de ter, Senador Mercadante, uma atitude de responsabilidade, porque este momento é grave. Não podemos deixar a menor dúvida de que o Brasil é um País que defende a paz e de que o Brasil, acima de tudo, quando diz que é um País irmão, está falando sério, está falando a verdade.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/2009 - Página 48526