O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com a mais profunda tristeza que registro nos Anais do Senado da República o falecimento, ontem, em Teresina, do Padre Pedro Balzi, de 82 anos.

            O Padre Pedro chegou à capital do meu Estado há aproximadamente 22 anos, vindo da Bolívia, onde prestava extraordinário serviço à comunidade católica daquele país, em La Paz, assistindo as comunidades carentes e com trabalho especialmente destinado aos hansenianos.

            Num esforço pessoal do então arcebispo de Teresina, Dom Miguel Fenelon Câmara, o Padre Pedro deslocou-se para Teresina e lá foi colocado para administrar, naquela época, uma invasão que dava problema de toda natureza, não só à comunidade católica, mas de maneira muito especial à própria segurança pública do Estado.

            Coincidiu que, ao segundo ano da chegada do Padre Pedro a Teresina, eu assumi aquela Prefeitura. E encantei-me com a maneira de trabalhar daquele sacerdote. Iniciamos uma parceria informal visando à melhoria de vida e o bem-estar dos que moravam naquela comunidade.

            Fiz o calçamento de ruas, urbanizações, passarelas, mas o que mais me beneficiou foi a amizade que eu e minha família fizemos com aquela extraordinária figura de homem público. O Padre Pedro tinha uma vida franciscana, jurou pobreza, embora fosse de uma família bem situada na Itália, e morava ao lado da paróquia, numa casa de taipa. Nunca gostou de publicidade, nunca gostou de notoriedade, era um homem totalmente voltado para o trabalho sacerdotal.

            Esse trabalho foi crescendo também com a ajuda fundamental de seus conterrâneos italianos, que começaram a fazer doações para a realização de obras em vários setores daquela comunidade. O elo era o italiano Oreste Fratus, que mantinha esse vínculo. E com essas ajudas ao longo desse tempo, a Vila da Paz ganhou marcenaria, padaria, vários cursos de grau médio, capacitando os moradores daquele bairro à realização de um trabalho admirável. Padre Pedro também começou a realizar um trabalho dignificante, que foi a recuperação de jovens viciados em drogas, e criou, Senador Cafeteira, do outro lado do rio, no seu Maranhão, a Fazenda da Paz, onde, ao longo desses anos, recuperou centenas e centenas, para não dizer milhares, de adolescentes.

            A Igreja piauiense, de maneira muito especial a Igreja em Teresina, perde o apoio e o concurso desse extraordinário homem. Eu e minha família, de maneira muito especial minha irmã Zélia, perdemos um grande amigo, um conselheiro e uma pessoa com a qual nós tínhamos uma relação pessoal que nos dava muito orgulho e que me dava muita alegria.

            Nos últimos dez anos, o meu aniversário era comemorado com uma missa celebrada pelo Padre Pedro, na Vila da Paz. O Santuário da Vila da Paz foi erguido com esforço e com os recursos do Padre Pedro. Dias antes do meu último aniversário, ele tinha sentido os primeiros sintomas da doença que o levou do nosso convívio e não pôde fazer a celebração da missa. Estivemos juntos várias vezes; ele, no hospital; eu, aqui em Brasília. A minha irmã, diariamente, ia visitá-lo, dando-lhe assistência.

            Eu quero aqui também ressaltar o carinho e a dedicação que o Prefeito Sílvio Mendes, também grande amigo do Padre Pedro, dedicou a ele durante todos esses dias, assim como dos médicos que o acompanharam, não só do HTI como também do Hospital São Marcos, uma vez que em determinado momento solicitei ao Dr. Alcenor Almeida que dedicasse uma atenção muito especial a essa figura extraordinária que é o Padre Pedro.

            Nesse momento, quero crer que esteja sendo celebrada, em Teresina, pelo nosso Arcebispo Dom Sérgio da Rocha, uma missa de corpo presente. E está programado o seu enterro para as 17 horas.

            Ontem, passei alguns momentos acompanhando as visitas que faziam, na igreja, ao Padre Pedro, no seu último adeus. Era impressionante, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, ver aquele povo comovido, como que abandonado, perdendo o orientador, perdendo o pastor, mas perdendo, acima de tudo, o grande amigo.

            Quero, portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fazer este registro com muita dor, com muita tristeza, porque sei que dificilmente a lacuna, com a ausência do Padre Pedro naquela região, será preenchida, pelo seu trabalho, pela sua dedicação e, acima de tudo, pela maneira como ele convencia os que moravam na Vila da Paz, em São José da Costa Rica, a seguir o caminho da fé, tirando muitas pessoas do mau caminho, dando aconselhamentos. Portanto, além de pastor, era um amigo.

            Eu quero pedir a V. Exª que transcreva nos Anais da Casa o registro que faço e mande também esses votos de pesar ao Arcebispo de Teresina, ao Vigário-Geral de Teresina, Padre Tony Batista, e, acima de tudo, aos membros da comunidade do Santuário da Vila da Paz.

            Faço este registro na certeza de que interpreto aqui também o pensamento dos meus companheiros Mão Santa e João Vicente Claudino, mas interpreto muito mais os sentimentos de uma cidade que amanheceu chorando a falta de um homem que vai deixar a sua marca pelo bem que praticou e, acima de tudo, pela luta incansável que teve até os últimos dias de sua vida em benefício do povo daquela região sofrida da capital do meu Estado, Teresina.

            Eram estas, Sr. Presidente, as palavras que queria dirigir principalmente aos moradores da Vila da Paz, São José da Costa Rica, Parque Rodoviário e aos jovens da Fazenda da Paz.

            Muito obrigado.

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