Discurso durante a 176ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a quebra, há cerca de um ano, do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos e as conseqüências para aquele país e o mundo.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Considerações sobre a quebra, há cerca de um ano, do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos e as conseqüências para aquele país e o mundo.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2009 - Página 49676
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, SITUAÇÃO, QUEBRA, BANCO ESTRANGEIRO, PROVOCAÇÃO, CRISE, FINANÇAS, MUNDO, PREDOMINANCIA, FALTA, ESTABILIDADE, BOLSA DE VALORES, NECESSIDADE, GOVERNO ESTRANGEIRO, APLICAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, BANCO DE INVESTIMENTO, MERCADO FINANCEIRO, ADVERTENCIA, RISCOS, OPERAÇÃO FINANCEIRA, PARLAMENTO, APROVAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, CRIAÇÃO, AGENCIA, PROTEÇÃO, CONSUMIDOR, AUMENTO, EXIGENCIA, CAPITAL DE GIRO, BANCOS, ESTABELECIMENTO, INSTRUMENTO, MEDIAÇÃO, INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, IMPEDIMENTO, FALENCIA, AMEAÇA, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi numa segunda-feira, 15 de setembro do ano passado, que o Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, especializado em grandes e complexas operações, entrou em colapso. Instituição com 158 anos de existência, sua quebra foi um marco da crise financeira que se alastrou pelo planeta.

            O pânico se espalhou e, num efeito dominó, a instabilidade predominou nas bolsas de todo o mundo. Entre outras conseqüências, os grandes bancos de investimentos que dominavam Wall Street desapareceram, absorvidos por outros, ou foram salvos por injeções de dinheiro do governo federal.

            A impressão inicial, naquele dia, era de que assistiríamos a uma reprise da Grande Depressão, a crise de 1929, que persistiu ao longo de toda a década de 1930 e só terminou com a Segunda Guerra Mundial. Seria, como ela, um longo e tenebroso período de recessão econômica, com fechamento de bancos, indústrias e comércio, e elevação drástica das taxas de desemprego.

            Transcorrido um ano, as previsões concretizaram-se apenas em parte, felizmente. Depois de se recusarem a socorrer o Lehman Brothers, o governo e o Federal Reserve, o banco central americano, deram-se conta do erro e recorreram a injeções de capital nos mercados, compra de ações de entidades bancárias, garantias aos depósitos em contas monetárias e outras intervenções públicas.

            A decisão de permitir a falência do Lehman causou uma paralisação quase fatal nos mercados de capital mundiais, forçou os governos norte-americano e dos países europeus a liberarem trilhões de dólares para o sistema financeiro e mudou permanentemente a feição do setor bancário.

            Um ano depois, sinais de recuperação estão à vista. Mas o perigo não passou, tanto que o presidente Barack Obama julgou necessário lançar uma advertência a Wall Street no dia do primeiro aniversário do fim do Lehman Brothers. Para ele, há quem, no setor financeiro, esteja ignorando as lições do passado recente e ensaiando um retorno aos maus hábitos.

            “Nós não vamos voltar à era de comportamento irresponsável e excessos que originaram essa crise”, afirmou o presidente norte-americano. A advertência incluiu o aviso de que as instituições financeiras não devem esperar que o contribuinte americano resgate novamente os bancos.

            A verdade é que, apesar da lição tão recente, muitas instituições bancárias retomaram a prática de oferecer investimentos de alto risco, fazendo girar novamente a roleta do cassino em que havia se transformado a economia dos Estados Unidos até 2008. São hipotecas de alto risco e derivativos exóticos, os mesmos que se transformaram em “ativos podres” naquela época, e levaram ao fundo pesos-pesados do mercado bancário.

            O furacão que devastou esse mercado nos Estados Unidos deixou um rastro de destruição, o que justifica a advertência de Obama. Mais de uma centena de bancos médios e pequenos fecharam, e ainda existem 415 em situação difícil. Quanto aos grandes bancos, são estes que, salvos pelas injeções governamentais, parecem dispostos a ignorar novamente o perigo e começam a mergulhar em operações arriscadas.

            No caso da economia norte-americana, a complacência representa riscos enormes. Cresce a inadimplência entre os portadores de cartões de créditos, imóveis residenciais ainda são retomados por falta de pagamento e as previsões são de que o desemprego continue em alta e chegue a 10 por cento, índice bastante elevado para um país desenvolvido.

            Adaptar-se a uma nova era, de manobras financeiras menos arriscadas, é algo que os bancos estão tendo enorme dificuldade em fazer. Como dependentes de drogas, sua opção preferencial, aparentemente, é retomar as práticas que adotavam até a crise explodir.

            Resta torcer para que o presidente obtenha êxito nos esforços para aprovar no Congresso uma reforma regulatória que mude os hábitos dessas instituições. Ela criaria uma agência de proteção para o consumidor de produtos financeiros, aumentaria as exigências de capital para os bancos e estabeleceria mecanismos para lidar com a quebra de instituições consideradas estratégicas, cuja falência põe em risco o sistema financeiro, como foi o caso do Lehman Brothers.

            Não podemos pensar em tais questões como um problema exclusivo dos Estados Unidos. Graças à interdependência do mundo globalizado, não fomos poupados da última crise, embora, felizmente, em escala reduzida. As próximas que ocorrerem também gerarão ondas sísmicas em todo o globo. Preveni-las não é impossível, mas se persistirem os maus hábitos a que o presidente Obama se referiu, elas serão inevitáveis.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2009 - Página 49676