Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Louvação da escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Sugestão de que nas Olimpíadas de 2016 e também na Copa de 2014 os organizadores deem prioridade aos jovens nos empregos que vão se abrir.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. POLITICA DE EMPREGO.:
  • Louvação da escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Sugestão de que nas Olimpíadas de 2016 e também na Copa de 2014 os organizadores deem prioridade aos jovens nos empregos que vão se abrir.
Aparteantes
Eduardo Azeredo, Epitácio Cafeteira, Osvaldo Sobrinho.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2009 - Página 50305
Assunto
Outros > ESPORTE. POLITICA DE EMPREGO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ESCOLHA, MUNICIPIO, RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SEDE, FUTURO, OLIMPIADAS, PIONEIRO, PARTICIPAÇÃO, AMERICA LATINA, MOTIVO, CAPACIDADE, COMPROMISSO, BRASIL, ELOGIO, EMPENHO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREVISÃO, INVESTIMENTO, CONTRIBUIÇÃO, SOLUÇÃO, PARTE, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • IMPORTANCIA, APROVEITAMENTO, OPORTUNIDADE, INVESTIMENTO, OLIMPIADAS, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, SUGESTÃO, POLITICA DE EMPREGO, PRIORIDADE, ATENDIMENTO, JUVENTUDE, FAVORECIMENTO, INCLUSÃO, MERCADO DE TRABALHO, OFERTA, QUALIFICAÇÃO, MÃO DE OBRA.
  • QUALIDADE, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANALISE, DIFICULDADE, POLITICA DE EMPREGO, ATENDIMENTO, JUVENTUDE, EXPERIENCIA, INSUCESSO, PROGRAMA.

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            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP. Pela Liderança do PMDB. Sem revisão do orador.) - Caríssima Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou apenas fazer uma breve comunicação, ressaltando uma coisa que todos nós já vivemos, talvez com certo retardamento: a grande euforia e a grande alegria com que o Brasil recebeu o anúncio e a escolha para ser o Rio de Janeiro sede das Olimpíadas de 2016.

            É que, naturalmente, foi resgatado, para todos nós, o que parecia uma grande injustiça: que nenhum país da América Latina até hoje tinha sido escolhido para sede desse grande acontecimento esportivo internacional.

            Na verdade, parecia não somente uma discriminação, mas nós podíamos justificar pela incapacidade, talvez pela pobreza ou pela impossibilidade de os países da nossa área arcarem com os recursos necessários a um evento dessa magnitude.

            Mas, na realidade, a escolha do Brasil tem um significado que resgata duas coisas. Em primeiro lugar, esse certo ressentimento nosso e de todos os nossos países aqui desta área pelo fato de nunca termos participado de um evento dessa grandeza. E o outro também, sem dúvida, é o fato de o Brasil ter chegado a um patamar internacional que pôde acolher e arcar com todas as responsabilidades de um evento dessa grandeza. Sem dúvida alguma, ele foi resultado de um trabalho de todos os nossos desportistas, de todos que se envolveram para que o Brasil alcançasse essa escolha. Também não podemos obscurecer o trabalho do Presidente Lula, seu empenho e também o prestígio que hoje ele desfruta em nível internacional, prestígio esse que, sem dúvida, pesou para o Brasil e para a escolha que nós tivemos.

            Em segundo lugar, quero ressaltar que a escolha não podia ter sido outra. Ainda ontem eu estava lendo no jornal El País, da Espanha, um editorial fazendo justiça, dizendo que o Rio de Janeiro, sem dúvida, o Brasil merecia ter sido escolhido. E até numa autocrítica dizia que o Brasil merecia mais que Madri, que tinha sido concorrente do Brasil, porque esses investimentos feitos aqui, a visibilidade que o País vai ter em nível internacional, sem dúvida, contribuiriam para que nós tivéssemos uma ajuda para a solução de muitos problemas nossos, das cidades.

            E a escolha do Rio de Janeiro era uma escolha natural, porque todos nós, brasileiros, quando nascemos, em qualquer lugar do Brasil, e quando tomamos conhecimento do mundo, talvez a primeira grande ambição que tenhamos é conhecer o Rio de Janeiro. Todos nós, no fundo, temos ainda essa grande devoção pelo Rio de Janeiro, por tudo o que o Rio de Janeiro representou durante muitos séculos sendo a capital do nosso País. Mas, muito mais, pela sua beleza extraordinária, onde o Criador se esmerou em fazer uma cidade tão bela, numa conjugação de ilhas, numa conjugação de granitos, numa conjugação do mar. De um lado o mar, o oceano; do outro, a baía, intercalando aqueles vales e também as serras, com matas extraordinárias e praias que também são belíssimas. E tudo isso conjugado com um certo jeito carioca, a hospitalidade carioca, uma característica do Rio de Janeiro...

            O Sr. Epitácio Cafeteira (PTB - MA) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Já vou dar o aparte a V. Exª.

            É uma característica do Rio de Janeiro que é por todos nós reconhecida pela hospitalidade. E também, não vamos esquecer, a grande força da cultura popular do Rio de Janeiro, o que faz com que seja um quadro que possa compor essa pintura tão bela que é a cidade. É, por exemplo, vamos dizer assim, a cultura do Carnaval. Há coisa mais linda do que o Carnaval? É a alegria, a cultura da alegria, da beleza, o culto da convivência, da união, do corporativismo das escolas, enfim, daquilo que se expande nas tradições dos blocos populares, do conceito de viver que se constrói dentro do Carnaval.

            A cultura do futebol do Rio de Janeiro, que durante tantos anos fez com que nós nos dividíssemos em dois clubes de futebol: o da nossa terra e sempre um clube do Rio de Janeiro. Hoje, isso já mudou um pouco, com a televisão, com a expansão de outros clubes e de tudo isso.

            A cultura da praia, aquela cultura que faz com que tenham dito que a psicanálise não prosperou no Brasil por causa da cultura da praia do Brasil, onde se senta ao lado de uma pessoa. Se é uma moça, o sujeito começa logo a conversar com ela, pergunta como é seu nome, de onde veio, o que faz, se é casada ou solteira. No fim, é quase que um sofá de análise que se estabelece nessa convivência que a praia possibilita dentro do Brasil.

            A cultura do botequim, aquela cultura da discussão sobre o futebol. Aquela cultura que se estabelece dentro das escolas, do cantarolar dos sambas, do gingado que se diz do próprio povo carioca.

            Com prazer, ouço o seu aparte.

            O Sr. Epitácio Cafeteira (PTB - MA) - V. Exª permita que eu acrescente no seu pronunciamento que, neste momento, o Brasil passou também a ser emprestador de dinheiro ao FMI, emprestando dois bilhões de dólares ao FMI. Isso garante que a nossa palavra aumentou, porque, na realidade, passamos de devedor a credor do Fundo Monetário Internacional.

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Muito obrigado pelo seu aparte. Sem dúvida, ele reforça aquilo que eu disse: nós mudamos de patamar internacional. Hoje, apesar da crise que assolou a economia mundial, o Brasil deu um exemplo extraordinário, saindo na frente, quase que passando por ela, de maneira muito tênue. Tudo isso foi o trabalho que o Brasil realizou e não podemos esquecer a participação do Presidente Lula, enfrentando todos esses problemas.

            Portanto, eu estou aqui para louvar e comemorar essa vitória, participar e dividir a minha alegria também com todos aqueles que já vivem essa alegria, como eu vivi, desde o primeiro dia do anúncio da nossa cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016.

            O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Com muito prazer, ilustre Colega.

         O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - Presidente José Sarney, fico imensamente feliz em apartear V. Exª, principalmente porque a minha estima por V. Exª é grande.

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Muito obrigado.

            O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - Segundo, regozijar-me também com a alegria de V. Exª de sentir os fluidos positivos por que passa a Nação. Na verdade, essa alegria parece-me que foi ela toda do mundo latino. Eu estava em Cuba no final da semana passada, no dia em que foram anunciadas as Olimpíadas para o Rio de Janeiro e, ao sair às ruas, o povo perguntava-nos se éramos brasileiros e alegrava-se conosco, dizendo realmente que era merecido esse prêmio que recebemos para as Olimpíadas de 2016, do Rio de Janeiro. Portanto, essa alegria parece-me que conseguiu ungir e unir a todos nós e fazer justiça ao Brasil e à América Latina como um todo, porque é realmente um dos maiores eventos do desporto do mundo. Portanto, isso é a construção que o País faz através de seus filhos, através daqueles que o governam, através de uma Constituição que foi feita ao longo do tempo, que chega a um ponto tão bom como este, em que o Brasil está em condições ótimas. E V. Exª pode ter a certeza de que está inserido também nessa plataforma que foi feita para que o Brasil chegasse a esse ponto, pela sua luta pela redemocratização do País, pela sua luta como Presidente que pegou o País no momento mais difícil da sua História, mas conseguiu, com sabedoria, conduzi-lo a um porto seguro, trilhando pelos caminhos democráticos, sem intransigências e contendo as intransigências, sabendo o momento certo das coisas. V. Exª fez a travessia e levou todos nós para o outro lado da ponte, onde tivemos condições de ver uma nova paisagem, a paisagem de um país bonito, um país próspero, um país que, na verdade, nós já merecíamos. Portanto, congratulo-me com V. Exª por este pronunciamento e digo que eu também quero participar desta alegria que V. Exª dá a esta Casa neste momento. Muito obrigado.

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Muito obrigado pelo seu aparte.

            Eu quero também dizer que, um pouco antes da data em que se ia escolher a cidade para as Olimpíadas de 2016, entrevistaram-me em um programa de televisão e tiveram a capacidade de me perguntar se nós seríamos capazes de enfrentar a cidade de Chicago, que, depois de Nova Iorque, é a maior cidade dos Estados Unidos, com aquela sua força extraordinária. E eu apenas respondi: É simples: Chicago é a fera e o Rio de Janeiro é a bela. Então, nós vamos ter uma luta entre a bela e a fera. Finalmente, ganhou a bela, e a fera ficou sem participar desse certame.

            Mas eu queria também dizer que, com tudo isso, nós devemos aproveitar esta oportunidade para tirarmos algum proveito que não seja somente esse proveito que nos enche de orgulho e que significa a nossa visibilidade internacional e esse patamar que alcançamos. Eu acho que podem nascer muitos benefícios para o Brasil dessas Olimpíadas.

            Quero lembrar hoje que um dos grandes problemas do nosso tempo é o do emprego para os jovens do nosso País. Talvez esse seja o mais dramático de todos, porque, se a nossa taxa de desemprego é muito alta, nessa taxa de desemprego, talvez a mais dramática seja aquela em que se encontram os jovens. Eles estão saindo para a vida, para a batalha da vida e, evidentemente, cheios de insegurança. Nessa insegurança, a dificuldade, a luta por encontrar o primeiro emprego é muito grande.

            Então, vejo que talvez seja uma lembrança que estou fazendo, talvez uma sugestão aos organizadores das Olimpíadas, uma vez que temos sete anos pela frente para que deem possibilidade de se tornarem uma grande fonte de oportunidade para os nossos jovens.

            As Olimpíadas vão significar um investimento de grande magnitude, com construções, transporte, turismo, serviços esportivos, etc. E muitas outras linhas para o mercado de trabalho as Olimpíadas poderão abrir nesses sete anos.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Presidente...

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Ouço V. Exª, Senador Eduardo Azeredo.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Presidente Sarney, quero cumprimentá-lo. Este é evidentemente um tema da maior importância, como é bem realçado: a questão dos empregos que serão gerados e a exposição positiva do Brasil. Temos que estar unidos, pois é um momento muito importante para o Brasil, sim, para o Rio, para nós todos, a fim de que possamos realizar um evento desse porte, assim como vamos realizar também a Copa do Mundo, em 2014. De maneira que eu desejo apenas me somar ao seu pronunciamento que traz a relevância de um evento como as Olimpíadas, a importância de uma cidade como o Rio de Janeiro. Nós temos quase um milhão de mineiros no Rio de Janeiro, e, como se costuma dizer, aquela cidade é uma extensão para nós mineiros. Então, meus parabéns pelo seu pronunciamento.

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Muito obrigado a V. Exª.

            Eu quero fazer essa sugestão de que não só nas Olimpíadas como também na Copa de 2014 os organizadores poderiam dar prioridade aos jovens nesses empregos que vão se abrir. Acho que esse talvez fosse um ponto fundamental, em relação ao qual poderíamos ter essa oportunidade de dizer que, em todos os trabalhos que vamos fazer, nos empreendimentos que vamos realizar, nos empregos que vamos criar, vamos dar prioridade para os jovens. Assim, esses eventos teriam uma marca não só de natureza esportiva, mas também de natureza social, com prioridade para o recrutamento de jovens para essas áreas que vão se abrir. Ao mesmo tempo em que o próprio Governo se organizasse para capacitar, nas áreas que forem necessárias, fazendo o levantamento de cada uma delas, capacitasse jovens para que eles pudessem ter a oportunidade, desse a eles prioridade que nós devemos dar com a abertura dessa área econômica e, naturalmente, na abertura de empregos, que serão, portanto, dos jovens, em seus diferentes períodos de formação.

            Os jovens deixam a sala de aula e encontram-se diante de um ambiente que lhes é desconhecido até certo ponto, porque eles abandonam aquela convivência que eles estabeleceram ao longo da sua mocidade, aquele convívio, aquelas relações que são marcadas pela solidariedade em torno de grandes objetivos que eles constroem, que são os objetivos de se prepararem para a vida, para entrarem nesse campo aberto da disputa na sociedade e encontrarem o seu destino, por meio da profissão que vão ter.

            Portanto, esse primeiro emprego é muito importante e decisivo. Devemos criar, cada vez mais, programas para que o primeiro emprego seja incentivado.

            Recordo-me de que, quando fui Presidente da República, criei um programa de primeiro emprego chamado Programa do Bom Menino. Infelizmente, como quase todos os programas dessa natureza, não só no Brasil, como também no exterior, que tratam do assunto com preocupação, esse programa fracassou, porque a própria competição na sociedade faz com que se possa julgar que a entrada dos jovens - um benefício dado aos jovens - retire os empregos efetivos daqueles que já têm emprego. Isso estabelece um confronto, como tive a oportunidade de verificar quando fui Presidente, pois eu tinha uma grande esperança nesse programa. No entanto, não tivemos sucesso, porque tivemos que enfrentar alguns segmentos organizados das classes trabalhadoras, outros segmentos organizados também das classes produtoras e também algumas organizações religiosas que se colocaram contra a ideia do primeiro emprego, achando também que isso podia ser um caminho para a exploração do trabalho infantil.

            Agora, o que estamos pleiteando, sugerindo, é que, nesses eventos que vão ocorrer no Brasil e dos quais estamos tratando, se abram oportunidades muito grandes: vinte e dois bilhões de reais de investimentos é o valor que se estima para esses sete anos.

            E, portanto, o Governo - está aí, tenho uma sugestão - devia dar prioridade, aproveitar esses sete anos para que eles fossem sete anos de vacas gordas para os jovens, e que nesse período se procurasse estabelecer as prioridades, as áreas para estabelecer mecanismos de capacitação e dar prioridade. Que todos os que vão trabalhar, que todas as firmas que vão trabalhar tenham como prioridade os jovens, para que eles tenham oportunidade de começar a vida nesse período.

            Certamente eu quero também dizer que não é fácil fazermos isso. Temos que capacitá-los. Mas, sem dúvida alguma, se fizermos isso, marcaremos essas Olimpíadas não somente como um fato esportivo, não somente como um fato que vai projetar o Brasil para o mundo, mas também como um fato importante diante dos problemas sociais brasileiros e em relação ao problema do emprego, em relação ao problema do primeiro emprego para os jovens.

            Prioridade, então, para eles, marcaria também essas Olimpíadas e marcaria também a Copa do Mundo.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2009 - Página 50305