Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise sobre matéria publicada no jornal O Globo de 27 de setembro, intitulada "FGTS perde até para inflação". Satisfação pela aprovação, na Comissão de Assuntos Sociais, do Projeto de Lei do Senado 301/2008, de autoria de S.Exa., que dispõe sobre a rentabilidade das aplicações dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Autor
César Borges (PR - Partido Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.:
  • Análise sobre matéria publicada no jornal O Globo de 27 de setembro, intitulada "FGTS perde até para inflação". Satisfação pela aprovação, na Comissão de Assuntos Sociais, do Projeto de Lei do Senado 301/2008, de autoria de S.Exa., que dispõe sobre a rentabilidade das aplicações dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Aparteantes
Antonio Carlos Júnior, Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2009 - Página 50358
Assunto
Outros > LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMPARAÇÃO, RENDIMENTO, RECURSOS, FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS), APLICAÇÃO FINANCEIRA, DENUNCIA, PERDA, INFLAÇÃO, AUSENCIA, REPASSE, TRABALHADOR, LUCRO LIQUIDO, AMPLIAÇÃO, PATRIMONIO LIQUIDO, DESCUMPRIMENTO, OBJETIVO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
  • JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, AUMENTO, REMUNERAÇÃO, TRABALHADOR, DISTRIBUIÇÃO, METADE, LUCRO LIQUIDO, FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS), JUSTIÇA, PRIORIDADE, PROTEÇÃO, EMPREGADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, ocupo esta tribuna para discutir um tema que considero de grande importância para milhões de trabalhadores de todo o País.

            O jornal O Globo do dia 27 de setembro último estampou a seguinte manchete: “FGTS perde até para inflação”. A matéria refere-se à rentabilidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, que, ao longo dos anos, não tem sequer acompanhado a inflação, ou seja, a remuneração das contas individuais não tem conseguido cobrir a perda do poder de compra da moeda.

            Somente nos últimos nove anos, entre 2000 e 2008, a perda da rentabilidade com relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, foi de cerca de 12%. Se considerarmos o período de 2000 até agosto deste ano, a perda acumulada para os trabalhadores das contas individuais do FGTS já atingiu 13,17%.

            O jornal O Globo faz uma comparação preocupante do FGTS com outras aplicações financeiras, levando-se em contra os rendimentos reais, ou seja, descontados os efeitos da inflação:

“Segundo cálculos da Comissão Mista de Orçamento, quem tinha depositado no Fundo R$100 reais hoje tem R$88,76, considerada a evolução do IPCA. Ou seja, o dinheiro não foi reajustado nem o suficiente para compensar o que a inflação corrói do poder de compra dos recursos.

Na poupança, os mesmos R$100 estariam valendo R$118,48. Se tivessem sido aplicados em ações da Petrobras na Bolsa de Valores - investimento que oferece risco -, o poupador disporia de R$691,97. [Vejam bem, Srs. Senadores e vejam os trabalhadores do Brasil.] Mas, [se fossem] corrigidos pela taxa de juros básica da economia (Selic, usada pelo Banco Central para corrigir títulos públicos), teria R$232,50.”

            Em lugar dos R$100,00 terem virado R$232,00, viraram R$88,76.

            Segundo estimativas da Consultoria do Senado, a perda dos depósitos durante uma vida laboral, a vida de um trabalhador, uma vida ativa de 35 anos, ficaria próxima de 60%, caso se tentasse cumprir o objetivo de proteger os cotistas contra a inflação e lhe oferecessem um adicional de 3% ao ano como ganho real. Se dessem isso, a perda ainda seria de 60%.

            Isso tudo, Sr. Presidente, contrasta com as evidências levantadas pelo jornal O Globo de que o FGTS tem obtido “lucros bilionários”. Ainda segundo o jornal:

“O fato é que o lucro líquido do FGTS foi de R$18,9 bilhões de 2001 a 2008, segundo cálculos da Ong FGTS-Fácil. Somente no ano passado, chegou a R$4,98 bilhões. E nada disso foi repassado ao trabalhador. O patrimônio líquido do Fundo também se multiplicou nos últimos anos. Passou de R$8,6 bilhões em 2000 para R$30,5 bilhões em junho de 2009, mais de 250 por cento de aumento”.

            O FGTS é um patrimônio do trabalhador, que ele pode utilizar em momentos cruciais de sua vida: na aposentadoria por tempo de serviço ou invalidez, na demissão sem justa causa ou quando acometido por doença grave.

            Não podemos esquecer que o FGTS, Senador Inácio Arruda, foi criado prioritariamente para dar proteção ao trabalhador, que perdeu, em troca, o benefício da estabilidade no emprego, obtido, àquela época, após dez anos de trabalho.

            Portanto, o Fundo funciona como uma espécie de pecúlio, uma poupança, uma garantia, e em muitas ocasiões é a única forma de poupança disponível ao longo da vida de um trabalhador.

            O empregador recolhe 8% do salário, em nome do empregado, ao Fundo, que é administrado pela Caixa Econômica Federal e por um Conselho Curador, composto de representantes das centrais sindicais, com apenas 25% , das federações patronais, com apenas 25% da representação, e do Governo, com 50%, que termina mandando no Conselho Curador do FGTS.

            A remuneração das contas individuais é extremamente modesta - pasmem os senhores: apenas TR mais 3% ao ano. O que está dando 4,5%, porque a TR está em 1,5%. Por outro lado, a Caixa aplica os recursos em títulos públicos federais, em habitação, saneamento básico e infraestrutura.

            Os tomadores dos recursos, dentre outros, Estados e Municípios, devolvem os recursos, em geral, pagando uma taxa de juros bem acima daquela paga aos donos do FGTS, que é o trabalhador. Por exemplo, os títulos públicos pagam em geral a Taxa Selic para as aplicações do Fundo. E um bom percentual do Fundo está aplicado em títulos de governo.

            Além disso, não existe nenhum critério de elegibilidade, de prioridade, para obtenção de financiamento por parte de quem é cotista do Fundo. Quer dizer, o trabalhador deveria ter empréstimo privilegiado, porque ele é o dono do dinheiro; isso, porém, não acontece.

            Pois bem, Sr. Presidente, preocupado com essa situação é que apresentei um projeto de lei, o PLS nº 301, de 2008, que visa a aumentar a remuneração dos trabalhadores, por meio da repartição de 50% do lucro líquido do Fundo.

            Dito de outro modo, metade dos ganhos com as aplicações do FGTS voltaria para as contas individuais, aumentando a poupança do trabalhador. Por exemplo, somente em 2008, seriam repartidos cerca de R$2,5 bilhões com os trabalhadores caso o projeto já estivesse em vigor.

            Senador Antonio Carlos Júnior, ouço o aparte de V. Exª.

            O Sr. Antonio Carlos Júnior (DEM - BA) - Senador César Borges, é muito oportuno o pronunciamento de V. Exª. Se nós formos lembrar a história do FGTS, veremos que, quando ele começou, tinha a remuneração das ORTNs, que repunham a inflação, mais 3% ao ano. Ora, ao longo do tempo, o Governo foi mudando os indexadores e hoje utiliza a TR, que é um índice que tem expurgos - é o índice da taxa de CDBs do mercado financeiro, mas com expurgo. Então, a partir daí, o FGTS passou a ter remuneração zero ou negativa em termos reais, ou seja...

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - O trabalhador, que é o cotista, não é?

            O Sr. Antonio Carlos Júnior (DEM - BA) - Sim. Então, o trabalhador começou a perder a partir daí. A remuneração do FGTS passou a ser negativa em termos reais e o trabalhador vem perdendo há anos e anos. O Governo se acomodou. Quer dizer, ele prefere engordar o Fundo: quando ele repassa para saneamento e habitação de baixa renda, ele repassa a taxas reais positivas. Então, na verdade, o ganho fica com o Fundo, o ganho está acumulado no Fundo. Quer dizer, crescem os recursos do Fundo em detrimento dos ganhos do trabalhador. O projeto de V. Exª é muito oportuno, porque, na verdade, o trabalhador deveria ter parte desses ganhos do Fundo ou então ter aumentada a sua remuneração por meio do aumento dos juros reais. V. Exª propôs a repartição dos ganhos do Fundo com o trabalhador. É corretíssimo o projeto de V. Exª, porque, realmente, o trabalhador vem sendo lesado há muito tempo. Não é justo que isso ocorra. Não foi para isso que o FGTS foi criado; quando ele foi criado, dava remuneração positiva.

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - Eu agradeço a V. Exª e concordo plenamente com suas palavras.

            Às vezes aparecem aqui as pessoas do Governo, da Caixa, às vezes até do Conselho Curador, dizendo que não podemos dilapidar o Fundo. Mas não há aí nenhuma dilapidação, ninguém está tirando dinheiro do Fundo, só se quer que se remunere melhor o cotista.

            Outros dizem: “Ah, o Fundo tem uma função importantíssima de fazer casas populares, de aplicar em saneamento”. Mas ninguém quer que ele deixe de aplicar nisso não, só que remunere a taxas positivas e quando aplica em títulos do Tesouro.

            O Senador Garibaldi Alves tem a palavra.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador César Borges, eu quero dizer a V. Exª que eu já tenho aqui informações de que, em face de a TR estar dando um resultado zero, zerado, na verdade, o rendimento do FGTS ao ano está simplesmente em 3%. Ora, é uma situação insustentável para...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) -...o patrimônio do trabalhador. E eu, melhor de que ninguém, posso dar um atestado da preocupação de V. Exª com relação a isso, pois estou relatando um projeto de V. Exª...

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - É este, 301, que foi para a CAE.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - ...a respeito disso, como também, tratando do FGTS, estou relatando um projeto do Senador Paulo Paim e do Senador Tasso Jereissati. E a minha preocupação é justamente esta: conciliar a defesa do patrimônio do trabalhador com os investimentos que devem ser feitos em função de um melhor rendimento. Além disso, é preciso que ele possa ter o financiamento com os recursos, porque é incompreensível...

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - É preciso que ele seja privilegiado no financiamento.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Exato. É incompreensível que o trabalhador seja...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - ...titular daquele patrimônio, daquele programa, e não usufrua dele. Eu só tenho a aplaudir o pronunciamento de V. Exª.

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - Eu fico tranquilo porque estão nas mãos de V. Exª esses projetos, que não são conflitantes, são coincidentes: o meu, o do Senado Paulo Paim e o do Senador Tasso Jereissati. Fico muito contente, satisfeito e esperançoso, pois acredito que V. Exª fará a matéria avançar. Já aprovamos esse meu projeto na Comissão de Assuntos Sociais e agora ela está no âmbito da Comissão de Assuntos Econômicos, que V. Exª tão bem preside.

            Sr. Presidente, sem abusar do tempo, quero finalizar dizendo que o que se pretende com este projeto é fazer justiça aos trabalhadores de todo o Brasil, fazer com que possam usufruir com mais dignidade e tranquilidade dos benefícios do FGTS, que foi criado prioritariamente como mecanismo de proteção social: uma poupança para o trabalhador no fim da sua vida de trabalho.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2009 - Página 50358