Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do fim da Guerra do Contestado.

Autor
Neuto de Conto (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Neuto Fausto de Conto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do fim da Guerra do Contestado.
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2009 - Página 50586
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, SESSÃO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO, EXTINÇÃO, GUERRA CIVIL, HISTORIA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, MEMORIA NACIONAL.
  • REGISTRO, EXISTENCIA, DIVERSIDADE, MUNICIPIOS, REGIÃO SUL, DENOMINAÇÃO, HOMENAGEM, FATO, PATRIMONIO HISTORICO, VULTO HISTORICO.
  • ANALISE, GUERRA CIVIL, HISTORIA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), VIOLENCIA, ESTADO, REPRESSÃO, POVO, LUTA, DIREITOS, TERRAS.
  • ELOGIO, POVO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), COLONIZAÇÃO, TERRAS, AMPLIAÇÃO, TERRITORIO NACIONAL, CONSTRUÇÃO, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA, AGROPECUARIA, TECNOLOGIA, TURISMO, IMPORTANCIA, COLABORAÇÃO, EMIGRANTE.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Saúdo V. Exª, Senador Presidente Mão Santa; cumprimento o colega Senador Raimundo Colombo, autor do requerimento para esta sessão solene; Senador Geraldo Althoff, que representa o eminente Governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira; o Secretário de Estado da Cultura, do Esporte e do Turismo, Deputado Estadual Sr. Gilmar Knaesel; Anita Pires, Presidente da Fundação de Cultura; o Secretário Regional de Curitibanos, Nilson Berlanda; cumprimento e saúdo o historiador Aldair Goetten de Moraes; e, com muita alegria, os alunos Cristhine Beppler, Rúbia Mohr, Júlia Maria Heiden, Luana Baltazar Silvério, e as professoras Nilva Terezinha Neto, Ericléia Malicheski, e Maribel Barbosa da Cunha. Saúdo as Srªs e os Srs. Senadores, as Senhoras e os Senhores que nos dão a alegria e a satisfação de estarem presentes.

            Quem fala depois sempre tem uma dificuldade maior, pois os assuntos tratados quase sempre são os mesmos. Contudo, eu busco falar sobre a história da minha querida Santa Catarina, iniciando por aquilo que o Presidente Mão Santa falou, da Guerra das Missões ou da Guerra dos Palmares.

            A Guerra da Missão, ou dos Palmares, se deu em razão da divisa entre Brasil e Argentina. Os argentinos queriam que a divisa fosse no rio Chapecó. Os brasileiros, no rio Peperi-Guaçu. E, depois de cinqüenta anos de lutas jurídicas e muitas ameaças de revolta e guerras, por intermédio de Dionísio Evangelista de Castro Cerqueira - hoje nós temos até um Município, em Santa Catarina, que se chama Dionísio Cerqueira em homenagem a ele -, por todos os levantamentos topográficos e pelo trabalho exemplar e fantástico do Barão do Rio Branco, houve um relatório que conduziu ao julgamento em Haia, e o julgador não era ninguém mais, ninguém menos do que o Presidente americano Stephen Grover Cleveland. Hoje nós temos, no sudoeste do Paraná, a cidade de Clevelândia em homenagem a ele.

            Aqui poderíamos citar - e tudo no mesmo contexto - o Estado do Iguaçu, extinto pela Constituição de 1946. Podemos voltar a falar da Revolução Tenentista, liderada por Luís Carlos Prestes, que varou o rio Uruguai e entrou em Santa Catarina, no nosso oeste, deixando marcas indeléveis. Temos o Município de Descanso, porque lá descansou a Coluna. Por causa da grande Batalha da Separação, em Dionísio Cerqueira, hoje temos uma localidade chamada Separação, porque lá aconteceu a batalha entre Governo e os rebeldes. E lá temos até hoje o Cemitério dos Tombados.

         Podemos adentrar a Guerra do Contestado. Normalmente as guerras são contadas pelos vitoriosos, e nunca pelos perdedores. E, como ela é contada pelos vitoriosos, cada um de nós faz a sua interpretação. Ela se iniciou porque a Constituição imperialista criou o Paraná e Desterro, hoje Santa Catarina, sem determinar as divisas. E as tropas, o Governo do Paraná, sem divisas, passaram a percorrer e adentrar as terras que os catarinenses julgavam serem suas. Nessas terras, os sertanejos, pessoas iletradas, peões, posseiros estavam a defender nem o Paraná, nem Santa Catarina: defendiam seu chão, defendiam sua terra, porque eles queriam dali tirar seu sustento, seu trabalho.

            E, sem dúvida nenhuma, por incrível que pareça, as forças oficiais de Santa Catarina se juntaram às do Paraná, e as forças federais também se juntaram ao mesmo grupo, contra aqueles que quase não tinham nada para debater, só queriam sua terra, e esqueceram o processo da divisa. A divisa foi julgada por um acordo entre os Governadores Filipe Schmidt e Afonso Camargo e ratificado no Rio de Janeiro, junto com o Governo Federal, e ratificado por ambas as Assembléias do Paraná e de Santa Catarina.

            Esse quadro deu a Santa Catarina 28 mil km2 de avanço, graças aos posseiros, aos iletrados, graças ao homem que lutava pela sua terra de trabalho e que acabou dando aos catarinenses quase o tamanho do Estado de Sergipe.

           Sr. Presidente, José Maria e seu grupo perderam milhares de vidas, em batalhas, degolados e fuzilados pelas forças dos governos. Lamentavelmente, registra-se que toda essa evolução, muito bem aqui já interpretada pelo Senador Raimundo Colombo e pela Senadora Ideli Salvatti... Bem, vou deixar de adentrar toda essa história para falar um pouco mais de Santa Catarina, Sr. Presidente.

           O primeiro Governador que passou por essas terras e chegou à fronteira foi Adolfo Konder, em maio de 1928. Ele foi de automóvel, de trem, a cavalo, de canoa, e foi com três objetivos: conhecer os imigrantes alemães que chegaram a Porto Feliz e Porto Novo - hoje Mondaí e Itapiranga -, usando o rio da Várzea e o rio Uruguai; foi também conhecer uma vastidão de terras sem habitação, sem expansão demográfica, tanto a do Contestado, com 28 mil km2, como a das Missões, com mais 36 mil km2 que, segundo os avanços, nos deram o Brasil.

           Nessas poucas palavras, trago, em minha memória, em minha mente, com a minha vista e os meus ouvidos, esse Estado fantástico, já muito bem traçado aqui. Dentro dessa mesma área contestada, temos uma história fantástica de habitação, com pessoas, dezenas e dezenas de famílias, diariamente - a grande maioria vinda do Rio Grande do Sul -, que, trazendo a esperança, a fé e a força do braço, adentravam para domar a terra, para plantar e para colher. Parece que ouviram o discurso de Franklin Roosevelt, que, quando Presidente, colonizava o seu oeste e dizia: “Faça o que puderes, onde estiveres, com o que tens”. Lá foram com picaretas, cabos de enxada. Construíram as pontes e as primeiras estradas. Domaram a terra, substituíram as matas por campos de produção e construíram, fazendo surgir e crescer, vilas e cidades.

           Hoje, somos o maior complexo agroindustrial da América Latina e quiçá do mundo, graças ao alicerce baseado no trabalho. Podia falar do nosso planalto, que também integrava. É falar em poesia, em celulose, em agropecuária; é falar em maçã, reflorestamento; é falar no vinho, nas pousadas e na neve. No nosso sul, da terra do nosso querido Althoff, podemos falar da cerâmica e do carvão, as maiores do Brasil; do nosso norte, mais rico, mais forte, do metal mecânico, da tecnologia de ponta; do nosso Vale do Itajaí, dos alemães, dos poloneses e dos russos, onde temos a maior indústria e o maior pólo mundial de tecelagem; do nosso litoral, que inspira poesia, com suas praias ensolaradas, com a tecnologia de ponta na nossa grande Capital.

           Para falar de toda a Santa Catarina, deixo aqui, nessas palavras, as minhas homenagens a todos quantos lutam por aquela terra. Meus aplausos por aqueles que aqui vieram para ouvir e participar, e os nossos parabéns a todos quantos lutam por todo o Brasil e, em particular, por minha querida Santa Catarina.

           Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2009 - Página 50586