O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, além de sua histórica missão evangelizadora, a Missão Salesiana tem prestado inestimáveis serviços sociais e dado privilegiada atenção à preparação dos jovens em todas as regiões onde ela atua. Aliás, foi a notável atuação de Dom Bosco nessa área tão importante que é a educação, que conferiu identidade tão forte dos salesianos com crianças e adolescentes de várias partes do mundo.

            No Brasil, eles desbravaram as regiões mais inóspitas para onde levaram ensino de alta qualidade, sempre temperado com boas práticas culturais e desportivas, e isso não é de hoje. Aconteceu isso, por exemplo, na Região Centro-Oeste onde os salesianos foram inovadores na forma de educar, inovadores e eficientes. De sorte que numerosos estabelecimentos dessa instituição incorporaram-se à tradição de comunidades e grandes vultos do ensino emergiram exatamente dos seus quadros. Aliás, é em razão de uma dessas figuras emblemáticas que ocupo esta tribuna nesta tarde de quarta-feira.

            A despeito de me conduzir com extrema discrição com relação a homenagens de pessoas, hoje venho fazê-lo porque o alvo é uma figura incomum, uma figura diferente. E o faço porque amanhã, 15 de outubro, a sua cidade querida, Corumbá, estará em festa para comemorar o aniversário deste magnânimo religioso chamado Padre Ernesto Sassida, que completa 90 anos de idade.

            Quem mora em Corumbá ou na sua vizinha Ladário conhece muito bem a vida abnegada e simples do generoso Padre Ernesto. Por uma feliz coincidência, ele faz aniversário no Dia do Professor. Amanhã, todos nós estaremos reverenciando a figura do mestre, daquele que educa, daquele que ajuda a modelar a personalidade de cada criança, de cada jovem no País.

            O Padre Ernesto nasceu no dia 15 de outubro de 1919, em Dornberg, que, na época, era território da Itália, e veio, ainda adolescente, com 15 anos, para o Brasil. Ao chegar aqui já ingressou na missão salesiana, tornando-se um dos mais fiéis discípulos de Dom Bosco. Realizou curso de humanidades, fez o noviciado e, depois, foi parar na coordenação prática de ensino do Colégio Santa Teresa, na vetusta Corumbá. Após isso, fez os cursos de Filosofia e Teologia e ordenou-se padre, em 1946, em São Paulo. Exerceu o ministério sacerdotal em Silvânia e Goiânia, no Estado de Goiás, retornando em 1950 para a Cidade Branca, cidade de Corumbá, como é conhecida, e até hoje ele lá vive com nossos conterrâneos na fronteira da Bolívia.

            Falando comigo sobre o Padre Ernesto, meu conterrâneo e ex-Deputado José de Freitas o definiu como “cidadão do mundo”, mercê do amor que ele devota às crianças e aos pobres. Não só amor ele vem dedicando aos frágeis e oprimidos, mas um trabalho árduo em seu favor. É, na verdade, uma vida integralmente voltada para o trabalho social, sem perder de vista sua novel missão evangelizadora.

            Falo de um sacerdote que sempre soube usar o púlpito para pregar a palavra de Deus, mas sem descuidar da periferia das duas cidades irmãs, Corumbá e Ladário, em cujos barracos se fazia presente, sempre presente, para mitigar, para aliviar a dor dos que sofrem, principalmente de meninos e meninas que amargavam o sofrimento do abandono e, por isso, frequentavam não as escolas do Estado, não as escolas convencionais, mas as escolas da rua, numa cidade onde medra o perigo; o perigo das drogas, já que tanto Corumbá quanto Ladário estão na faixa da fronteira com a Bolívia, Sr. Presidente.

            Quantos menores não deixaram de ser iscas vivas da malandragem, presas fáceis da prostituição, porque tiveram as mãos generosas do Padre Ernesto para se apoiar? Quantos deles não se livraram do submundo das drogas e do crime em razão da palavra amiga desse missionário de Dom Bosco? Só a população pobre da periferia de Corumbá e de Ladário, que teve o privilégio de conviver com ele, é capaz de responder com exatidão a essas indagações.

            Em 1961, Sr. Presidente, ele fundou uma comunidade que ficou conhecida como a Cidades de Meninos, onde os infantes deserdados passaram a encontrar o amor que lhes negaram os próprios pais. No começo, chamava-se Escola Rural Mista. Posteriormente, ampliada, recebeu a denominação de Escola Profissional Alexandre de Castro. Hoje, todos a conhecem por Cidade Dom Bosco e ela conta com cerca de dois mil alunos no ensino fundamental, médio e profissionalizante. Trata-se de uma gigantesca obra social, gratuita, idealizada e criada pelo Padre Ernesto Sassida.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Já estou para concluir, Sr. Presidente.

         Na verdade, a Cidade Dom Bosco é o porto seguro da criança que precisava de uma plataforma de amor e uma âncora de fraternidade. Como fiel discípulo de Dom Bosco, os traços do Padre Ernesto seguem as luzes do mestre na fé que alimenta a alma, na caridade que alivia o sofrimento dos desvalidos, na esperança que abre o caminho dos pobres.

         Ao devotar tanta energia à criança, o Padre Ernesto é, na verdade, Sr. Presidente, um construtor de futuros, um construtor de...

(Interrupção do som.)

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - ... perspectivas (fora do microfone), um construtor de vidas de quem não teria a chance se não tivesse as mãos amigas desse sacerdote.

            Então, Sr. Presidente, ao subir nesta tribuna para homenagear o Padre Ernesto, quero, na verdade, homenagear todos aqueles que cumprem esse papel missionário de guiar crianças, de guiar deserdados, de abrir caminhos para as pessoas que se encontram sem esperança.

            Minhas homenagens ao Padre Ernesto Sassida e à população de Corumbá, que tem nele, hoje, um filho legítimo; um filho que doa e recebe amor de todos.

            Era essa a nossa palavra; era essa a homenagem que queríamos prestar ao Padre Ernesto.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

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