O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos aqui hoje em mais uma sexta-feira sem lei, que é aquele dia, Senador Marco Maciel, em que temos um tempo menos pressionado para fazer algumas reflexões. Mas, antes de mais nada, eu quero agradecer os companheiros, que, sabendo da minha necessidade de me deslocar para o Piauí logo mais, permitiram-me iniciar esta sessão como primeiro orador.

            Senador Geraldo Mesquita, eu tenho na vida comigo alguns propósitos. O primeiro deles é não persistir em erro; o segundo é reconhecer acertos.

            Eu vou falar hoje aqui sobre um fato que alguns podem estranhar, mas quero separar as questões políticas, as questões administrativas, e analisar um fato. Quero dizer que, por incrível que pareça, por mais adversário que eu seja, numa hora como esta, eu não posso deixar de ser solidário ao Governador do Piauí, Wellington Dias.

            Vejam os senhores: o Governador do Piauí está simplesmente sitiado no Piauí. Imaginem os senhores: sitiado! É o termo exato para se qualificar a situação em que se encontra o Governador. Mas ele não está sitiado pelos que têm fome, ele não está sitiado pelos sem-teto, ele não está sitiado por nenhum movimento do MST. Ele está sitiado por uma categoria perigosa na política brasileira, ele está sitiado pelos sem-voto.

            E veja só de onde parte essa ação contra o Governador! Dos seus próprios correligionários. Os correligionários anteciparam o pleito. O Governador vinha insistindo em que a sucessão só deveria se dar no ano que vem, mas colocaram no laboratório, como candidato ao governo, um rapaz muito bom, embora de pouco voto, mas um rapaz extraordinário, o Secretário da Fazenda, Antônio Neto.

            Pois bem. Fizeram pesquisa, contrataram empresa de publicidade e o Antônio Neto não deslanchava. Numa atitude de desespero, tiraram o tapete do Antônio Neto e lançaram, no começo desta semana, o Secretário de Educação, Antônio José Medeiros, como candidato ao Governo do Estado. Com que objetivo? Sitiar o Governador. O Governador que, na primeira eleição, elegeu-se com uma aliança com Mão Santa - pegou a robusta garupa do Mão Santa em 2002, montou nela e se elegeu; na eleição seguinte, juntou-se com o PTB, na robusta e portentosa garupa do Senador João Vicente e reelegeu-se; e, agora, desesperadamente, procura uma garupa visando a 2010, mas aí os sem-voto, seus correligionários, deram-lhe o ultimato. E, à sua revelia, reuniram-se nesta semana e lançaram como candidato o Sr. Antônio José Medeiros.

            Mas, veja só, Senador Marco Maciel: fizeram o lançamento do Secretário de Educação no exato dia em que o IBGE lança uma pesquisa que mostra que o Piauí tem a segunda pior colocação entre os Estados do Brasil na corrida do combate ao analfabetismo. E esse cidadão é, há sete anos, o responsável pela educação no Estado do Piauí. Há 7 anos! Saiu para se candidatar a Deputado Federal, numa campanha milionária... Há, inclusive, um episódio: o Ministro da Educação foi ao interior do Piauí e perguntou a uma pessoa inscrita num daqueles programas se ela estava sendo treinada. Ela disse: “Não, não estou, não, senhor”. “Mas a senhora não é inscrita, não está recebendo?” “Estou recebendo.” “Mas o que a senhora está fazendo?” “Estou botando o pirulitinho do Deputado na porta lá de casa todo dia.” Pirulito é aquela propaganda que você recolhe no fim da tarde.

            Pois bem, no dia em que o IBGE anuncia o fracasso do Piauí na educação, esses aprendizes de aloprado que cercam o Governador do Piauí dão-lhe uma apunhalada pelas costas, imobilizam-no e lançam uma candidatura.

            Mas o engraçado - e estou-me dirigindo aos piauienses - é que se você examinar a fotografia da cena, Senador Geraldo Mesquita, verá, de um lado, o Antônio Neto, sacado da candidatura, com cara de choro, e, do outro, o Antônio José, recém-lançado, com cara de assustado. E a composição, Senador Mão Santa, da fotografia, se você somar, não dá cinco mil votos, se você tomar por base o ano de 2002, quando o PT do Piauí cabia, de maneira bem folgada, numa Kombi.

            Aí você vê: é uma verdadeira federação de suplentes que, após a conquista do governo pelo Sr. Wellington Dias, mais em uma ação de mobilização pessoal do que partidária, esse pessoal passou a trabalhar com uma arrogância, uma prepotência... Mas não tem voto. Aí meteram a faca nos peitos do Governador, Senador Mão Santa. E o Governador está em estado de sítio, estado de sítio político, não vai para lugar nenhum. Já ameaça ficar no Governo até o último dia, que é o que mais interessa a esse pessoal que não tem voto. O que esse pessoal quer é o Governador com a caneta na mão, é o Governador usando a máquina administrativa para elegê-los. E o resto que se lixe.

            Eu sou adversário, mas gosto de ser adversário correto. Se o Governador não tiver imunidade parlamentar a partir de 2011, ele estará em maus lençóis, por conta da administração desastrosa do ponto de vista ético que vem se realizando no Piauí nos últimos anos.

            Aí você começa, Senador Mão Santa, a examinar por que o Antônio José foi o escolhido, já que, como Secretário de Educação, a sua gestão é um fracasso - e quem diz isso é o próprio IBGE. Mas ele tem uma virtude: no Piauí, ele é o rei das ONGs. Ninguém controla mais ONGs no Piauí do que o Secretário de Educação. Ele tem uma ONG na sua terra natal, União, que é o Centro Manoel Otávio; ele tem o Instituto Civitas, que, aliás, é o que capacita e treina alunos e professores no Estado. Estou pedindo, inclusive, ao Ministério Público, na CPI das ONGs, que examine isso, porque não é possível esse Instituto Civitas treinar pessoal durante sete anos e continuar o fracasso educacional no Piauí. E ele ainda tem o Cepac, que é Centro Piauiense de Ação Cultural, que recebe uma polpuda ajuda do Governo Federal. A última foi de R$1 milhão - a última, mas são várias.

            Portanto, Senador Mão Santa, esse é o Piauí velho que conhecemos e com o qual estamos acostumados a conviver. Os sem-votos invadiram e sitiaram o Governador Wellington Dias. E ele que se lixe!

            É preciso fazer com que os suplentes se elejam pela primeira vez, e os sem-voto se reelejam. Temos suplentes no Piauí com um prestígio danado com o Governador. Agora mesmo, está lá uma crise, a mudança de um Secretário, mas, para manter o quinto suplente no exercício, a Assembléia já convocou - imagine, Senador Geraldo Mesquita - oito suplentes. Desses oito, cinco são para manter o Presidente do PT em exercício na Assembléia Legislativa.

            “Mundo velho sem porteira!”, Senador Marco Maciel, diria o velho Rodrigo Cambará, naquela famosa obra do Érico Veríssimo. Mas esse é o Piauí!

            Quero, encerrando, trazer um outro assunto.

            O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Senador Heráclito...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Pois não!

            O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Eu vinha no carro - aqui é precisão britânica - e já estava o Mozarildo aí, às 9h, presidindo. E essas segundas e sextas foram consolidadas. Esforço da nossa equipe de Senadores. Nunca o Senado foi tão bem representado, porque esta Casa nunca funcionou às segundas e sextas-feiras na história do Brasil. Só conosco. Agora, as sessões festivas serão ou às sextas, ou às segundas. Mas, Heráclito Fortes, o que eu queria dizer é o seguinte: V. Exª raciocina bem. Ele ficou de tal maneira que aqui ele é defendido pelos nosso Senador de São Paulo, que está...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - O super-homem!

            O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - ... vivendo um momento complicado, difícil! Mas eu queria dizer que tem um fato que V. Exª retratou bem. É verdade. Interessante que estou recebendo um e-mail agora - é esse negócio dessa massificação da comunicação na terceira onda: é portal, é blog, é twitter - que diz assim: “Dias de mentira. Governo Dias de mentira” - porque o nome dele é Wellington Dias. Dias de mentira. Mas a verdade, Heráclito, é que chegam, fazem pesquisa e, às vezes, fazem para o Governo, mas a gente tem amigo, e a notícia chega até nós. O fracasso da candidatura Dilma. Olha, esse José Serra empinou lá, empinou no Piauí. E, em segundo, empinou o Ciro Gomes, porque é de Sobral, é vizinho. E o Vice-Governador, com perspectivas de subir. Então, a Dilma está ridícula nas pesquisas no Piauí! Quem é que tem que levantar essa Dilma? É um trabalho... Não é, Luiz Inácio, mole não levantar essa Dilma! Esse é o quadro no Piauí. E o Piauí sempre foi altaneiro, o que se reflete no Nordeste e no Brasil. Essa é a realidade. Então, ela está em terceiro lugar. Os votos de protesto e o encantamento da Marisa, que invoca Deus, é teologista e tal. Essa Dilma... E quem é que vai levantar essa Dilma? Porque é peso! Você ficou magro. Fez uma cirgurgia e está magérrimo. Está leve, bonito! Mas a Dilma é pesada mesmo. Então, para levantar a Dilma... O problema não é nosso. Como V. Exª nos alertou...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - ...estamos apoiando o Serra, que está disparado no Piauí. E o candidato do PSDB, que surgiu aí para Governador, com o qual V. Exª tem intimidade, que é o Prefeito de Teresina - o Winston Churchill do movimento. Então, olha, vi a pesquisa! Como é que eles vão levantar essa Dilma? Aí é que está: tem que ser o Governador. Lamento! Quem é que vai levantar? Eu não vou. V. Exª não vai. O povo do Piauí não vai, porque ela não tem história, não tem afinidade. É um problema de estrabão para eles resolverem.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador Mão Santa, agradeço o aparte de V. Exª.

            Quero apenas dizer, para finalizar esse episódio do Governador do Piauí, que seus colegas do PT deixaram-no numa situação difícil. Ele, para se reeleger Governador, assumiu um compromisso com o atual Vice-Governador, Wilson Martins, no sentido de que ele assumiria nesse período da desincompatibilização. E assumiu um compromisso, segundo consta, de que teria como candidato à sua sucessão o atual Senador e colega nosso João Vicente Claudino. Diante dessa pressão e desse estado de sítio a que ele está submetido, parece-me que o PT não quer que o Governador honre a palavra. E o resto que se lixe!

            Mas, Senador Marco Maciel, Senador Geraldo Mesquita, vou encerrar minhas palavras lendo aqui manchete da Folha de S.Paulo: “Em Pernambuco, Lula ironiza Serra e ataca TCU, Justiça e bispo”.

            Será possível que o Presidente Lula não tenha ninguém que lhe aconselhe a evitar pronunciamentos após almoço demorado? O que o Presidente Lula está fazendo aqui é um absurdo! Atacar o TCU porque fiscaliza? O TCU está fazendo um bem ao Presidente da República e um bem ao País ao fiscalizar. Aliás, tem sido uma velha tática de Sua Excelência: ora ele ataca o Congresso, ora ele ataca a Justiça, ora ataca a igreja, e agora a moeda da vez é o TCU. É preciso que o Presidente da República se porte com a estatura de um chefe de Estado.

            Senador Mão Santa, o Presidente da República pode dizer tudo, menos que José Serra não olhou para o Nordeste. Aliás, os nordestinos são agradecidos a José Serra, porque foi quem primeiro fez o genérico, o trabalho de interiorização da saúde, o Bolsa Escola, quando Ministro do Planejamento do governo passado.

            Talvez essa frase infeliz do Presidente Lula faça com que os nordestinos reavivam na memória o que fez Serra quando Ministro da Saúde e Ministro do Planejamento pelo Nordeste brasileiro.

            São demais, são demais essas agressões! Mas, infelizmente, são um fato. Estamos diante de um fato concreto. Sua Excelência goza de uma popularidade e acha que essa popularidade o blinda. Era bom que o Presidente da República examinasse que o Brasil, na sua história, teve grandes blindados, e que, de repente, essa blindagem acaba. A história está aí para contar.

            Senador Mão Santa, eu não podia deixar esta tribuna sem antecipar meus votos de parabéns a todos os piauienses pelo dia 19. Segunda-feira é o Dia do Piauí, e quero me juntar aos piauienses que me ouvem nesta manhã para que possamos comemorar de maneira altiva esse dia. E dizer a eles que tenham um pouco de paciência, que esses dias de tristeza, de números negativos na educação, de corrupção desenfreada acabarão. Aliás, o velho Shakespeare disse: “Não há noite tão longa que por fim não encontre o dia”.

            Muito obrigado.

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