Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Professor.

Autor
Flávio Torres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/CE)
Nome completo: Flávio Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração do Dia do Professor.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2009 - Página 51971
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, PROFESSOR, DEFESA, NECESSIDADE, INCENTIVO, VALORIZAÇÃO, EXERCICIO PROFISSIONAL, PAIS.
  • ELOGIO, TRABALHO, ANISIO TEIXEIRA, PEDAGOGO, DARCY RIBEIRO, EX SENADOR, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), INCENTIVO, EDUCAÇÃO, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. FLÁVIO TORRES (PDT - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desde a segunda metade do século passado, uma série de impactos tecnológicos alterou profundamente o exercício da maioria das profissões. Os professores, que lembramos nesta data a eles dedicada, não constituíram exceção. Mesmo assim, as inovações não elevaram a produtividade de seu trabalho no mesmo nível das demais, ao menos do ponto de vista quantitativo.

            A mão-de-obra industrial proporcionava produção cada vez mais acentuada, graças ao uso de novas tecnologias nas linhas de montagem. Na agricultura, descobertas científicas como o desenvolvimento de linhagens ou a sofisticação dos fertilizantes, sem falar no maquinário, também aumentava o rendimento dos trabalhadores. Tudo isso se estendia a engenheiros, médicos e outros profissionais qualificados. Os professores contam também com novas tecnologias, especialmente as audiovisuais e as voltadas para o ensino à distância. A internet converteu-se em importante auxiliar para o processo educacional. Mesmo assim, receberam impacto menor.

            Existem explicações para isso. Nelas é que reside toda a especificidade do trabalho docente e nelas está sua grandeza. É que nada é mais importante na missão do professor do que o contato direto com o estudante. Como alfabetizar sem esse vínculo direto, imediato, sem essa troca, essa reciprocidade que marcam a relação docente? O mesmo se estende a todos os níveis do ensino.

            Mais, o tempo e o desenvolvimento científico aliaram a pesquisa ao trabalho docente. Especialmente nos níveis universitários não se imagina a figura do professor desassociada da inovação. À dedicação ao ensino somou-se a responsabilidade pela ciência.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não foi só isso que mudou na vida do professor. Nem todas as mudanças se deram para melhor. Talvez até poucas.

            Fala-se com saudosismo da época em que a profissão era mais valorizada do que era hoje. Dos bons tempos em que o professor recebia salário melhor, em que os alunos mostravam mais interesse, em que chegavam mais qualificados. Em que as escolas não eram danificadas, mas preservadas e amadas. Em que havia mais dignidade no exercício das funções.

            Há razão, sim, para tantas queixas.

            Seria possível perguntar, em contrapartida, quantos estudantes havia, tanto no ensino público quanto no particular. De onde vinham esses alunos. Com que background chegavam à escola. Chegaremos à conclusão de que o saudosismo tem sempre como parâmetro um período em que a escola brasileira, assim como a dos demais países em desenvolvimento, constituía uma instituição voltada para as elites. Mesmo nas escolas pública, e ao contrário do que hoje se tornou rotineiro, o contingente escolar era formado pelos estratos médios, senão ricos, da nossa população.

            Não é, felizmente, o que acontece hoje. O ensino está quase universalizado, mesmo em um país que nela investe tão pouco, como no Brasil. Sentam-se nos bancos escolares crianças e adolescentes de todas as classes sociais. Entre elas haverá as que já chegam prejudicadas por todo tipo de carência, principalmente alimentares, culturais e afetivas. Haverá as que enfrentam todo tipo de desestímulo, em especial, no caso dos adolescentes, a falta de perspectivas em termos não apenas de diversão, mas também de mercado de trabalho, pois sabem que, mesmo jovens, precisarão enquadrar-se nele dentro de pouco tempo e que as perspectivas são poucas. Muitos reagirão a uma cultura que nem sempre vêem como sua, como a cultura das vastas periferias que criaram e desenvolveram até uma linguagem própria.

            Concordo que tudo isso pode representar um desestímulo ao professor, como constitui desestímulo também para os alunos dessa massa hoje incorporada aos grandes centros urbanos e às instituições de ensino. Tudo pode ser sentido como um golpe à sua dignidade.

            Pesa para isso também a necessidade de integração, de contato direto, de que falávamos. Não há como o professor separar-se dos estudantes. Não há como, ao contrário de outras profissões, utilizar novos recursos tecnológicos que representariam colocar entre eles uma barreira, uma distância asséptica que daria a ilusão de retornar aos velhos tempos.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem melhor compreendeu esse tipo de problema, no Brasil, não o via como problema. Entendia-o como solução. Registro aqui três grande figuras, proféticas até. Refiro-me a Anísio Teixeira, a Darcy Ribeiro e a Leonel Brizola. Sem eles, a educação brasileira estaria longe de ser o que é hoje.

            Foi Anísio Teixeira quem primeiro percebeu a inevitabilidade da expansão do sistema educacional brasileiro e das imensas perspectivas que representaria - e representou - para o país. De sua ação resultaram não apenas concepções teóricas, mas também propostas concretas para a expansão, a atualização e a qualificação do ensino do país.

            Já Darcy Ribeiro foi o responsável pelas grandes idéias que renovaram nossa educação. Ninguém como ele soube criar instituições na área do ensino, desenhando soluções inovadoras que, caso tivessem sido implementadas desde que teve a oportunidade de concebê-las, teriam levado o Brasil a um patamar bem diferente do atual.

            Rendo minhas homenagens a Leonel Brizola, o político brilhante que soube perceber a importância da educação e levá-las à prática. Sensível às reivindicações populares, construiu um modelo de extremo refinamento para atendê-las. Nunca um governo privilegiou tanto a educação quanto as administrações de Leonel Brizola. Deixou-nos a concepção dos centros de ensino integral, partilhada com Darcy Ribeiro, graças aos quais a educação brasileira nunca mais será a mesma. Mais do que a concepção, deixou-nos a execução. Transformou-a em realidade.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste dia gostaria de dizer que compreendo a desalento, as decepções, a frustração dos professores brasileiros. Mas gostaria de dizer também que são eles que realizam o milagre da integração de novos e importantíssimos contingentes sociais a um mundo que antes pertencia apenas às elites. São eles que estão no centro do trabalho que já está conduzindo a um Brasil melhor e que, dentro de um tempo que espero ser breve, terão completado esse esforço.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2009 - Página 51971