Discurso durante a 185ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do cinquentenário da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - Febrasgo.

Autor
Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Comemoração do cinquentenário da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - Febrasgo.
Aparteantes
Osvaldo Sobrinho, Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 21/10/2009 - Página 53346
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, FEDERAÇÃO, ASSOCIAÇÕES, ESPECIALIDADE, MEDICINA, OBSTETRICIA, DEPOIMENTO, EXERCICIO PROFISSIONAL, ORADOR, MEDICO, OPORTUNIDADE, CONTRIBUIÇÃO, BEM ESTAR SOCIAL, POPULAÇÃO, PREPARAÇÃO, VIDA PUBLICA, PARTICIPAÇÃO, POLITICA NACIONAL, VALORIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ETICA.
  • DEFESA, MELHORIA, SALARIO, MEDICO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Augusto Botelho, que preside esta sessão em comemoração ao 50º da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Parlamentares presentes, autoridades médicas - não vou citar nomes porque poderia esquecer alguns, mesmo involuntariamente, e seria imperdoável. Tenho falado um bocado de vezes em um bocado de lugares, mas este instante é muito importante. E como diz a sabedoria popular: é a minha praia. E eu sou garoto da praia, nasci lá no litoral do Piauí. São 66 km de verdes mares bravios, sol nos tostando, ventos nos acariciando, brancas dunas, rios que nos abraçam. Eu sou da praia, mas a minha praia mesmo é aqui, na medicina.

            Mas eu queria falar da emoção.

            Primeiro, formei-me em medicina em 1966. E o tempo fez nascer o amor à profissão, que é quase a minha vida, como de todos nós que dedicamos o melhor da vida para, nas noites indormidas, buscar ciência para, com ciência e consciência, servirmos a humanidade.

            Nós somos médicos. E um quadro vale por 10 mil palavras. Estou aqui como político, e lembro que o grande líder político, talvez nem o Chávez saiba interpretá-lo como eu, foi Simón Bolívar. Eu quero fazer um quadro. Dom João VI disse: “Filho, coloque esta coroa antes que um aventureiro a coloque na cabeça”. O aventureiro era Simón Bolívar, que estava derrubando tudo que era rei e ia derrubar o daqui.

            Mas algo me impressionou, como médico e deputado. Fui representar o Piauí num planejamento familiar. Passei por Profamilia, uma instituição de planejamento familiar, em Bogotá, Colômbia e, andando com a minha Adalgisa, fui a uma praça. Ele nasceu em Caracas, Venezuela, mas morou ali. Onde ele libertou, ele tinha casa; ali era uma branquinha, do lado da praça de Simón Bolívar, onde havia uma estátua. E eu li na estátua: “Abdicarei de todos os títulos”. E ele foi muita coisa: soldado, sargento, tenente, major, coronel, general, marechal, presidente, ditador, El Libertador; ele abdicaria de todos os títulos, Simon Bolívar, mas não ao de bom cidadão.

            Então, Augusto Botelho, nasci em 1942, na guerra. Deus e o povo do Piauí já me deram muitos títulos. Eu já fui Prefeito, Secretário de Saúde, Deputado, Governador por duas vezes, eleito pelo voto, e hoje represento a grandeza do povo do Piauí aqui. E digo, aqui e agora, que trocaria todos os títulos que tive, mas não abdicaria ao de médico, de ter sido um bom médico. É mais honroso e mais orgulhoso do que qualquer outro.

            E está aqui. Este é o quadro: ao médico, nunca vi promoverem desfiles, darem medalhas, honrarias, músicas, alegrias, bodas, festas. Não! Mas se lembram de nós na hora da dor, do infortúnio, da desgraça; aí é que o médico entra e é lembrado, é querido, é amado e nunca esquecido. Essa é a diferença.

E digo aqui, eu, pai da Pátria - o Senado serve para isso. Olha, podem falar de nós, mas é com inveja. Nós somos melhores, a melhor classe deste Brasil! E nós estamos aqui, como eu estou e o Augusto Botelho, como os outros vieram, não foi por acaso, não. Foi por amor à medicina. Foi por entender as coisas.

            Está lá a Organização Mundial da Saúde. Falou o representante aqui. Reza: saúde não é apenas ausência de enfermidade ou doença; é o mais completo bem-estar físico, mental e social. Isso é que nos atrai. Nós não éramos desocupados, não, mas idealistas, fazendo o bem e ganhando com honradez. É porque o bem-estar social é combater a fome, a miséria e o pauperismo. Isso é que nos leva. Por isso é que nós aceitamos ser políticos, porque estamos fiéis, não traímos em nenhum instante o ideal pregado pela Organização Mundial da Saúde.

            Eu vivi, no meu tempo, numa Santa Casa de Misericórdia, como muitas que existem. Estas mãos, guiadas por Deus, salvavam um aqui e outro acolá. Pude, como político, fazer muito, muito, muito mais. Deus me permitiu criar pronto-socorro, criar hospitais, criar faculdades de medicina, cirurgia. Então, isso que nos trouxe.

            Nós somos melhores. Nós, médicos, somos melhores - sou orgulhoso. E Deus foi tão bom que a minha filha caçula está fazendo medicina. Está lá no Rio Grande do Sul, sendo médica-residente; quer ser dermatologista. E ela acompanhou a luta do pai. Ela disse, em um dos meus últimos aniversários, a coisa mais linda - ela escreve bem. Ela disse que, quando queriam enfezá-la, bastava dizer que ela ia ser médica, porque ela via a minha luta. A luta de todos nós. No balanço da minha casa, jogavam pessoas esfaqueadas, que precisavam de atendimento, porque sabiam que eu iria recolhê-las e ia levá-las para a Santa Casa. E minha filha disse que, até 15 anos, tinha horror, mas depois ela seguiu em frente e, hoje, está querendo ser médica. Então, esse é o exemplo de amor, de solidariedade, de utilidade que nós temos.

            Mas nós somos melhores porque somos mesmo, Augusto Botelho! Eu pergunto a todos aí. Eu vi a Heloísa Helena ser muito clara. Ética, só nós. Qual é a profissão que tem o juramento de Hipócrates, o nosso Pai, que já é um código de ética? Nós somos diferente, nós somos melhores, e eu os conheço.

            Este País tem muitas mazelas. Nós temos culpa?

            Há pouco, fui a uma reunião da Câmara e representei o Senado pelo Dia do Médico, comemorado atrasado - deve-se estar votando o ato médico. Augusto Botelho, sabemos as coisas, e das mazelas do Brasil, nós temos culpa? Faça uma pesquisa quem tem mais credibilidade. Apesar dos pesares, somos nós, médicos, e nós, médicos políticos.

            Augusto Botelho, interessa-nos é a etiologia; a febre não nos interessa, a convulsão. É a causa que buscamos.

            Adentrei a sala do Presidente que estou representando neste instante, o Presidente Sarney, e vou amanhã representar o Congresso em Portugal. Adentrei e olhei, Augusto Botelho - vá lá: 1º Senado da República; um quadro vale por 10 mil palavras -, olhei os caras lá, fiquei olhando, fiquei olhando um por um. Tirando os portugueses, eram 42 brasileiros. Atentai bem! É um momento de reflexão, e o Senado serve para isso. Eu me sinto pai da Pátria. Se Cícero dizia “o Senado e o povo de Roma”, eu posso dizer “o Senado e o povo do Brasil”. Augusto Botelho, dos 42: 22 eram da área da Justiça, Direito - 22! Dez militares, Caxias; 7 da Igreja, Padre, e 2 médicos. Vinte e dois da Justiça e dois da área do campo. Vinte e dois! “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça.” Tenho em minha mente Deus dando a Moisés as leis da justiça. Ela é divina inspiração, mas é feita por homens, interesseiros. De lá para cá, só fazem leis boas para eles mesmos! Quanto ganha um Ministro do Supremo Tribunal Federal? Um Desembargador? Um Juiz? Um Defensor? Um Promotor? E Rui Barbosa disse para eles: “Só há um caminho da salvação: a lei e a justiça”. Mas isso não é justiça, não. Ele disse que justiça tardia é injustiça. Olha o salário dessa gente! Olha o salário de nós, médicos, das enfermeiras, das professorinhas, dos soldados.

            Ô Augusto Botelho, dois médicos; já melhorou, pois hoje nós somos aqui seis. Tem que vir mais. Esta é a verdade: leis boas e justas para eles.

            Sei quanto ganha essa gente. Não sei quanto um médico ganha porque os represento, aposentado.

            Fiquei muito feliz: o pobre colocou-me o aposto de Mão Santa, o que não sou. Gratidão. Eles não tinham como pagar um médico de Santa Casa. Também não me envergonho de nenhum ato de minha vida política. Mas esta é uma vergonha: os salários dessa gente. Sou aposentado no melhor nível, o federal, fiz concurso, cirurgião do INPS. Não sei quanto ganho, mas é muito pouco. Não sei porque sou esperto, e Deus foi bom para mim: estou aqui. É tão ruim, tão péssimo que não olho nem o contracheque. Minha Adalgisa é que olha porque sei que aquilo dá úlcera. Então, posso morrer; e ela fica viúva. É vergonhoso o que ganham. Deus foi muito bom, e eu agradeço: estou como Senador da República.

            Eu queria, neste dia e nesta hora, dar dois quadros da minha vida que refletem tudo para essa injustiça. É um descaramento! É uma sem-vergonhice!

Olhai o salário e comparai. A professorinha!... Eu não digo só nós, não; médicos, enfermeiros.

            Mas o que eu queria dizer era o seguinte: nós estamos aqui, e somos os melhores, desde o juramento de Hipócrates, de ética, de vergonha na cara e de decência. Até dizem que nós somos sacerdotes! Temos que ser sacerdotes. Mas nós enfrentamos mais problemas. Os sacerdotes não têm filho. Alguns têm, mas a maioria não tem. E nós temos que ter filhos, para educá-los, a esposinha, para que ela fique cheirosa, e enfrentarmos a vida.

            Mas eu quero dar um quadro para mostrar a gravidade. Ô Augusto Botelho, está aí, esse é da Justiça. Ô Valter Pereira, a área da Justiça devia homenagear os sacerdotes da medicina. Valter Pereira, eu vou dar dois exemplos.

            Esse negócio de Mão Santa, eu não sou, não; não tem nada a ver. Eu sei que não sou. Sou filho de mãe santa. Ela era terceira franciscana. Chegado do Rio de Janeiro, fui bom cirurgião mesmo. Bom! Muito bom! Era o Pelé fazendo gol, Roberto Carlos cantando, D. Hélder celebrando missa, e eu operando os pobres da minha Santa Casa. Cheguei novinho do Rio, pude ter todos os cursos que vocês imaginam em medicina; eu os tive. Meu avô tinha navios, dois, botou uma indústria no Rio. Eu estou dividindo os méritos, mas eu podia ter sido irresponsável, rabo de burro, playboy. E fui. Então, fui porque quis para a minha cidade. Tive proposta para ficar no Rio, quiseram foi me amarrar para... Mas eu fui porque quis. Cidade minha, eu sonhava.

            Vou dar dois exemplos. Cheguei lá, havia um médico: Dr. Cândido Almeida Athaíde. Ele fez o parto de João Paulo dos Reis Velloso. Santa Casa... Ele nasceu em Tutoia, ao lado de Parnaíba. Quando cheguei, ele era o diretor da Santa Casa. Eu só queria operar. Operar é bom e operei muito. Primeiro, às vezes ganhava dinheiro. Havia muitos institutos naquele tempo. Mas, quando não tinha, as freiras chegavam e diziam: “Tem cinco.” “Bota.” Porque eu ganharia experiência, prática, que é fundamental. Então, esse Dr. Cândido - eu acho um homem extraordinário, diretor da Santa Casa, maranhense de Tutoia - chegou e disse (não tinha ainda nada de Mão Santa): “Francisco, olhe, eu vou ser homenageado em Tutoia, Barro Duro, no Maranhão. Lá na cidade, tem um posto do Funrural, botaram o meu nome. E tem um aviãozinho daqueles teco-teco, e um pastor protestante...”

            Eu acho, pensando assim, que ele era sabido, tinha muito medo que aquilo caísse, porque, naqueles tempos, no início dos anos sessenta, não é? E ele disse: “Você não quer ir me representar?” Eu, novinho, vindo do Rio... Aí fui lá com o anestesista, uma freira e o pastor, andando na ilha do Delta, por aí. Não era nem em Tutoia, era no povoado de Barro Duro. Aí fui lá. Vindo do Rio de Janeiro, cervejinha, churrasco e tal, animado, com aquela mentalidade do carioca alegre, porque eu tinha me formado lá no Hospital do Servidor do Estado, Ipase, com o professor Mariano de Andrade - na época, um grande cirurgião de tireóide.

         Aí lá, e bebida, e tudo, é bom mesmo, cerveja, eu, novo, e eu lá com o anestesista que eu tinha levado, também piauiense que estava no Rio de Janeiro, trabalhava lá na Usiminas. Aí acaba a bebida, vamos para a inauguração. Fiquei até chateado: estava tomando uma cervejinha, mas tinha que ir representar o patrono, não é? Aí, naquela hora, é muito discurso no Maranhão. O maranhense discursa como o quê - que o diga o Sarney. Começou aquele negócio, e eu por ali... Aí um orador começou e subiu, e eu estava representando o patrono, Dr. Cândido de Almeida Athaíde... Esse negócio de nome é chato, por isso que eu digo que a gente diz um e esquece os outros; não vou citar, porque a gente esquece algum. Aí ele vai, e não se lembrou do meu nome. Aí ele disse: “E esse doutor que está aqui, esse doutor, doutor da mão santa, que me operou e eu estou benzinho aqui. Presidente do sindicato. Aí ficou aquilo naquela brincadeira, e depois é que eu fui saber.

            Naqueles tempos, a medicina do Piauí era muito, muito, muito mais avançada do que a da região, porque Getúlio Vargas colocou um interventor médico. Os outros todos eram tenentes. Aí eu, Governador do Estado, coloquei o Estado na era do transplante. Os meninos falavam em transplante de coração brincando. Não vou entrar em detalhes. Mas é isso. O interventor era médico, os outros todos eram tenentes. Então, houve um avanço. Teresina tem quatro faculdades de medicina. Mas aí eles iam para Parnaíba, eles iam na rede; não tinha estrada, a de Tutoia. Entravam na Santa Casa dois caboclos, a rede amarrada num pau, as freiras não iam chamar o velho, não iam chamar o Dr. Cândido, e eu ia. Sei que ficava só na brincadeira. Aí chegavam, queriam se operar com o Dr. Cândido, laureado. “Não - a freirinha -, ele está cansado, tem um médico novo, das mãos santas”. Aquilo foi entrando.

            Mas eu quero dizer, para chamar esta história toda: esse médico Cândido Athaíde, maranhense, simboliza todos de que estou contando esta história. Esse médico fez o parto de João Paulo dos Reis Velloso e o meu próprio. Eu, menino, era metido, queria ser goleiro, quebrei no gol, depois outro, ele botava gesso. Fui criado assim. Esse médico... Deus me fez Governador do Piauí . Eu me lembro, Senador Augusto Botelho, que ele tinha 94 anos! Aí havia aquela Comenda Grã-Cruz Renascença. Eu, Governador, chamei ele, taquei no peito do Dr. Cândido, ele era cabecinha branca, como o Paulo Barros, que era ginecologista e me ensinou ginecologia. Aí taquei a medalha no peito do Dr. Cândido e botei para ele agradecer. Noventa e quatro anos! Aí ele morreu “emedalhado”, Diretor da Santa Casa. Na véspera, ele tinha operado. Noventa e quatro anos! Essas figuras raras, como Niemeyer, que está com mais de cem.

            Por que o Dr. Cândido, que digo aqui, trabalhava? Porque era um homem de dignidade e vergonha. As aposentadorias são isso. E ele se mantinha, porque, com noventa e tantos anos, somos obrigados a trabalhar. E esses homens da Justiça não vêm isso; e, geralmente, todos com o rabo preso, votam ligeiro.

            Hoje, concluo: ele trabalhava com 94 anos, porque somos médicos.

            Vou dar outro exemplo, para acabar: tinha um médico, Dr. João Silva Filho, irmão de Alberto Silva, que foi dez vezes prefeito da minha cidade. Uma, ele me ganhou; eu, novinho, ele merecia ganhar, e é honroso. Em política, a gente não pode perder a dignidade e a vergonha. Já ganhei eleições, perdi, e Rui Barbosa perdeu muito mais do que eu e está ali, no pedestal ali, com todo mundo olhando.

            Então, Deus me permitiu. Eu, novo; ele, candidato; eu, governador do Estado. Ele teve um câncer na garganta. Augusto Botelho, esse homem foi para São Paulo; e vocês sabem como a medicina hoje é cara e complicada. E esse que tinha me derrotado, Dr. João Silva Filho, um exemplo, um símbolo, irmão de Alberto Silva, que foi Senador. Mário Couto se ofereceu, uma preferência, ele quis um particular, porque era amigo dele. Fiquei calado. Mário Couto foi decente e arrumou tudo. Augusto Botelho, estou no Palácio do Governo, quando o filho dele, João Silva Neto, que era suplente de Deputado Estadual, meu adversário, telefona, chorando, dizendo que o pai dele ia ser posto para fora do hospital - vocês sabem que a medicina está boa para quem tem dinheiro, está boa para quem tem plano de saúde.

            Pronto, está aqui a vergonha! Por isso é que não deixo a Adalgisinha... Sabem quanto é a minha aposentadoria? - Deus é bom para mim, não estou reclamando; um quadro vale por dez mil palavras. Francisco de Assis de Moraes Souza; não tem Mão Santa, não. Luiz Inácio, Luiz Inácio: olhe para cá! Tem um bocado de desconto. Maio de 2009: R$2.136,39.

            Este é um País injusto! Não tem melhor do que nós, médicos. Os Candido Athayde, de vergonha! E esse Dr. João Silva Filho... Ainda hoje recebo processo.

            Aí, o filho telefonou que iam botar para fora. Papaléo, telefonei para o Dr. Paulo Ayres, na cidade de Natal, Secretário de Saúde. “Vá direto lá para o serviço do Oswaldo Cruz, porque querem...” O homem deu dinheiro para o depósito, mas acabou. Estava com câncer. Aí, dá aquelas complicações: médico, ficha, etc. “Vá lá, Sr. Secretário, e diga para o doutor que sou médico, que assumo tudo.” Aí, mandei pagar - eu, não; o Estado, mas teve meu poder, acho, de Governador.

            Um homem que serviu à medicina. Era parteiro, uma homenagem. Fez o parto do meu primeiro filho - foi R$260 mil a conta; eu tinha sido prefeito. Isso é o quadro do médico.

            Outro dia, o Tribunal de Contas me chamou, para me justificar. É, Papaléo! “Mas você podia ter dado um jeito!” “Que jeito, rapaz? O jeito foi esse! Um homem que foi da minha cidade, até meu adversário, mas foi o homem mais honrado, mais digno, ganhou e tal!” “Mas você podia ter ajeitado!” “Que ajeitado, rapaz? Pode tacar o pau aí!”

            Então, é isto: ele foi dez anos prefeito da minha cidade, uma figura humana extraordinária. O irmão dele era o Alberto Silva, mais novo - está ouvindo, Augusto Botelho? -, que você considera.

            Então, somos melhores mesmo, somos mais decentes. E o País todo sabe disso. Temos que fazer é uma leizinha para frear esses que fazem lei boa e justa só pra eles! E o País sabe dessa verdade.

            Quem foi melhor do que Juscelino Kubitschek de Oliveira? Bem daqui, humilhado, cassado. Quem foi na política tão nosso?

            Este é o convite que faço para os colegas médicos: virem aqui e melhorar. Acredito nos que se entregaram à Medicina.

            Mas está aqui. Papaléo já pediu um aparte e já vou dar. Provento básico: R$2.136,00 Tem anuênio e não sei mais o quê, o total chega a R$3.011,00. Quarenta e três anos de Medicina. Deus é bom, e estou aqui, mas imaginem se eu tivesse tido um derrame. Como ia sofrer a Adalgisinha para segurar isso, para multiplicar.

            E aí a gente vê esses aloprados imorais assaltarem a Pátria. Luiz Inácio, Vossa Excelência tem assinado muito DAS-6. Estou aqui é para ensinar, ensinar, ensinar. Estou é para isso. Já estou satisfeito.

            Papaléo, eu não sei a sua prefeitura, mas o Governo de Estado tem DAS-1, 2, 3 e 4. Eu tive e nomeei. O Federal tem 5 e 6. Luiz Inácio, faça uma reflexão. Esses aloprados que estão aí entraram pela porta larga - que está na Bíblia - da facilidade, da falcatrua, da malandragem. Não pela porta estreita, como médico, estudando, se sacrificando. Eles ganham R$10.548,00. Assinou o Luiz Inácio, e já entrou. Não por mim.

            Então, este País não vai bem. Este País é da injustiça.

            Papaléo, médico, que admiro muito, com a palavra.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Quero aqui testemunhar sua participação ativa na nossa tribuna do Senado Federal; e, hoje, mais uma vez, fazendo uso da palavra, para participar desta justa homenagem à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. É uma justa homenagem, porque V. Exª, assim como o Senador Augusto Botelho, conhecem muito bem o que esses profissionais dessas especialidades fazem para a saúde pública do nosso País. Aproveitando suas palavras, seu discurso, como homem sábio, culto, que leva ao povo, de maneira culta e simples, o assunto que quer levar, como, por exemplo, na homenagem que faz hoje, quero me somar a V. Exª e dizer, Senador Mão Santa, que, realmente, precisamos evoluir. Não quero deixar aqui de reconhecer - não vou deixar de reconhecer - o esforço do Governo, porque temos um Ministro da Saúde que, realmente, acredito que todos respeitamos, pela sua retidão, pela sua imparcialidade político-partidária. E vejo que ele tem um único partido, que é o partido da saúde. Tem suas dificuldades? Tem, sim; mas está fazendo o que pode. Agora, o que nós não podemos é deixar de buscar, com muita ânsia, a aprovação da nossa regulamentação dos recursos, principalmente dos recursos destinados obrigatoriamente à saúde, através da Emenda nº 29. Disso nós precisamos. Nós precisamos porque nós não podemos ter um Município como, por exemplo, Vitória do Jari, cujo prefeito, Sr. Luiz Beirão, está aqui presente com os nove Vereadores daquele Município, em busca de apoio aqui no Senado Federal, junto ao Presidente do Senado. Amanhã nós vamos ao Calha Norte pedir apoio para poder, num esforço hercúleo, manter a saúde lá no Município. Nisso o Estado deveria dar mais assistência - eu quero reconhecer isso -, a Emenda 29 atribui competência ao Município, ao Estado e ao Governo Federal de repasses orçamentários fixos. Nós não podemos fazer com que funcione a saúde de uma maneira fluente, boa para assistir àqueles pacientes, se tudo fica nas costas do pobre do prefeito, tirando um dinheirinho daqui, um dinheirinho dali para tentar manter os profissionais atendendo, Dr. Tite, porque realmente é uma tristeza isso. E as testemunhas estão aqui: os nossos nove Vereadores com o Sr. Prefeito. Eu quero agradecer a todos eles pela conversa que tivemos ainda há pouco em prol de um Município: o de Vitória do Jari. Então, Senador Mão Santa, acredito que lá eles estão sem especialistas em ginecologia e obstetrícia. É um Município que realmente é um município... Pronto! Um dos 16 Municípios do Estado do Amapá. Então, é o momento para fazermos um apelo para que, como se diz normalmente, as autoridades competentes, excluindo o Prefeito, que já está atuando competentemente, venham a assumir suas responsabilidades com a saúde pública dos Municípios, principalmente aqueles mais carentes financeiramente falando, como é o Município de Vitória do Jari. Parabéns a V. Exª, parabéns à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, e quero dizer que, cada vez que nós fazemos uma homenagem a uma instituição da saúde, nós estamos homenageando todos aqueles que fazem a saúde neste nosso Brasil. Muito obrigado.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Incorporo as palavras do Papaléo, que também é um dos nossos, mas eu citei dois médicos, e o terceiro, quis Deus, está aí. Árvore boa dá bons frutos. Sílvio Botelho se desgarra lá do mundo civilizado e se mete no meio da selva para fazer medicina, ginecologia e obstetrícia. A primeira maternidade. Árvore boa dá bons frutos. Está aí o filho.

            Eu queria, com esses três quadros, mostrar a luta. E morreu novo, mas de trabalhar: 61 anos. Eu citei dois envelhecidos, que chegaram à velhice, com dificuldades, mas com a grandeza do ideal de ser médico. E aqui nós falamos em Deus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Belo discurso de Cristo. O Pai-Nosso, em um minuto, a gente sai daqui aos Céus. Mas o Cristo se tornou grande, grande, grande, grandioso quando ele se portou como médico. Só os discursos dele não nos teriam atraído. Foi quando ele fez cego ver, limpou os corpos dos leprosos, tirou o demônio dos endemoniados, fez surdo ouvir, mudo falar, aleijado andar; alimentou os famintos. Aí, Jesus tornou-se grandioso. Fé sem obra já nasce morta. Quando ele fez de suas obras ações de nós, médicos: Lázaro, levanta-te! Nós não tivemos esse poder, mas nos inspiramos.

            Eu queria, então, para encerrar, dizer o seguinte: vamos daqui, certos e convictos de que nós somos os melhores, e o País sabe disso. Nós temos ética, vergonha na cara, decência, solidariedade...

            O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - V. Exª me concede um aparte antes de terminar o seu pronunciamento?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Osvaldo Sobrinho, esse extraordinário Senador, que veio do Mato Grosso.

            O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - Senador Mão Santa, na verdade, o pronunciamento que V. Exª faz aqui, para mim, já é costumeiro ouvir, porque, todos os dias, o senhor fala sobre médico e sobre medicina aqui. Eu nunca vi ninguém tão convicto do que fala e do que prega como V. Exª. Sempre, em todos os seus pronunciamentos, no começo, no meio ou no fim, V. Exª defende a classe dos médicos, falando do trabalho sério e competente que eles fazem neste Brasil afora, falando da sua luta, desde a escola de medicina até quando voltou para o Piauí, dando àquele povo assistência necessária e, por isso, recebeu o nome de Mão Santa. Mão Santa é aquele também que sabe dar e receber; Mão Santa é aquele que sabe valorizar sua classe e sabe os conceitos que essa classe tem, ao longo deste Brasil todo. E quanto mais distante for o Brasil, mais perto está o médico daqueles que mais necessitam. Portanto, a V. Exª sempre trouxe para cá essa luta, essa lembrança; sempre aqui defendeu ardentemente essa teoria, eu quero me congratular, dizendo que não é só porque é uma sessão especial, mas V. Exª, quase todos os dias - e eu estou aqui sempre para ouvi-lo - defende os médicos, porque sabe da grandeza, do trabalho, do sacerdócio que eles exercem por este Brasil afora. Mais uma vez, fico feliz de aparteá-lo, porque apartear V. Exª é fazer justiça ao seu trabalho, a sua luta, a sua coerência com o seu dia a dia de trabalho. É difícil ver um homem público com a obstinação de V. Exª naquelas convicções que prega, aquelas em que V. Exª acredita de verdade. Eu o parabenizo, mais uma vez. Estou feliz, porque, na verdade, são poucas as pessoas. Às vezes se fala de um assunto aqui, de outro assunto ali, outro assunto lá, mas nunca se fixa naquilo que na verdade sabe que é verdadeiro. E V. Exª faz isso todos os dias, aqui. Portanto, para os médicos que aqui estão e os que nos ouvem por este Brasil afora, quero dizer que o Senador Mão Santa é um dos homens que verdadeiramente, aqui nesta Casa, sempre, sempre mesmo, defenderam essa categoria, que é, indiscutivelmente, a mão de Deus dando condições aos homens de sobreviver. Parabéns!

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Incorporamos as palavras de Osvaldo Sobrinho ao nosso pronunciamento. E, para encerrar, eu queria dizer assim: não bastasse ainda Lucas, o Evangelista. E este País tem certeza. Como eu comecei, relembramos que, de 42, mais da metade, 22 eram da área da justiça e do direito. E Rui Barbosa disse que só tem um caminho e uma salvação: a lei e a justiça. Eu digo que só tem um caminho e uma salvação: quando a essas leis, aqui no Brasil nós tivermos um Congresso como foi no passado, em que mais da metade for ligada e comprometida com a saúde.

            E ó Deus, ó Deus faça-me... E eu digo como Castro Alves, no Navio Negreiro, vendo o sofrimento e a injustiça dos escravos: Ó Deus, onde estais? Ó Deus, faça que a saúde no Brasil seja como o sol: igual para todos. E abençoe os nossos médicos e médicas do Brasil.


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