O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente. E é sobre professor que venho falar aqui.

            Em geral, tenho falado sobre o professor lembrando os aspectos difíceis da carreira, lembrando as dificuldades que enfrentam. Hoje venho falar aqui em função de uma solenidade em que estive ontem - e o Senador Flávio Arns lá também esteve como Presidente da Comissão de Educação - para a entrega do Prêmio Educador Nota 10 e do Gestor Nota 10, Senador Expedito.

            Esse é um evento patrocinado já há alguns anos pela Fundação Victor Civita, que escolhe em todo o território brasileiro experiências sobre as quais possam dizer: esse professor fez a diferença; esse professor, por uma dedicação especial, por uma criatividade especial, Senador Tião, foi capaz de mudar a vida dos seus alunos.

            Ontem foram entregues dez prêmios aos dez escolhidos como Educadores Nota 10, e um prêmio - pela primeira vez na história do prêmio - para o Gestor Nota 10.

            E eu quero dizer - e o Senador Flávio Arns, que estava presente como Presidente da Comissão de Educação, pôde sentir - que nós saímos de lá, Senador Flávio, com um orgulho, uma satisfação de que existe neste País gente trabalhando para compensar as dificuldades, professor que não se acomoda, que não fica parado, que leva adiante a sua luta. E eu digo professor até com certo constrangimento, porque, na verdade, quase todos são professoras. Raros são professores do sexo masculino. E quero aqui citar o que foi feito por essas pessoas que nos deixaram tão orgulhosos de ver o que é possível fazer com tão pouco.

            Eu começo citando a professora Andréia Betina Legatzke Klitzke, que é professora da Escola Municipal Karin Barkemeyer, em Joinville. Essa professora conseguiu atrair o gosto dos alunos para o estudo da Matemática e da Geometria. Ela conseguiu, em vez de usar as definições conceituais, que são tão abstratas na Matemática, usar o dia a dia da vida dos alunos e sua relação com a Geometria.

            É uma beleza ter visto, no filme de apresentação, como o garoto já sabia de ângulos, porque se lembrava da barra de futebol. E, a partir da barra de futebol, ela desenvolve o que é o ângulo, o que é o ângulo reto, o que é a Geometria, e todo um trabalho que atrai as crianças para o gosto por essa disciplina. Um esforço da professora Andréia, que foi escolhida, ontem, uma das professoras, um dos Educadores Nota 10.

            O outro é o professor Ademir Testa Júnior, da Escola Estadual Capitão Henrique Montenegro, em Bocaina, São Paulo. O que ele fez foi trazer o gosto dos alunos para a prática da Educação Física, uma disciplina que, embora pareça atrair os jovens, da maneira como é feita, termina afastando os jovens. E a Educação Física é tão importante quanto as disciplinas teóricas de uma escola. O que ele fez foi aproximar os alunos da população. O que ele fez foi fazer com que pudesse haver, na prática da Educação Física dentro da escola, também a participação da sociedade com os alunos.

            Um terceira professora: Áudrea da Costa Martins, da Escola Municipal de Ensino Fundamental São João Batista, em São Leopoldo. Ela trouxe - e vejam como os prêmios são bem escolhidos - experiências tecnológicas modernas para ajudar no ensino da composição musical. Foi absolutamente deslumbrante ver como é que as crianças se transformam em compositores de música, ao colocar - ela, a professora - as crianças para experimentarem composições musicais que tenderiam a casar com aquilo que essas crianças estão lendo. Nós vimos como é que as crianças podem usar as manipulações eletrônicas ao sabor de suas escolhas e aí criar e montar músicas eletroacústicas.

            Matemática e Música são disciplinas que afastam os alunos. Todos gostam de ouvir, mas poucos gostam de praticar. Ela conseguiu atrair a totalidade dos alunos da sua classe para a prática da música.

         A Professora Claudia Tondato é outra que recebeu o prêmio, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Rosalvito Cobra, em São Caetano, São Paulo. Ela colocou as crianças para discutirem livros, comporem livros, e fez com que as crianças pudessem fazer os textos avançarem e, obviamente, essas crianças avançarem também, por meio da leitura participativa, não apenas a leitura isolada, como os alunos fazem, ou, pior ainda, como os alunos não fazem, em geral, nas nossas escolas. Ela conseguiu envolver as crianças na criatividade da leitura e da escritura.

            A Professora Daniela Mazoko, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Althayr da Silva Rosa, em Urupês, São Paulo, também na área da Matemática. A Professora Daniela mostrou como é possível orientar os estudantes na busca de informação que, às vezes, nem a Prefeitura tinha, como o consumo médio de água por habitante na cidade. Foi bonito ver os meninos brincando com o computador para determinar quanto estava o consumo de água na sua cidade. Eles tiveram uma surpresa ao descobrir que o gasto diário é, em média, de 225 litros de água por pessoa, o que é um valor extremamente alto. Daí, além de aprenderem Estatística e Matemática, passaram a ter sensibilidade para o problema ecológico.

            A Professora Karla Emanuella Veloso Pinto, do Centro Educacional NDE de Lavras, Minas Gerais, também recebeu o prêmio. Seu projeto foi relacionado com ambiente virtual. Ela conseguiu mostrar que é possível, usando a ideia de copiar e colar que o computador favorece tanto na escritura, ela foi capaz de colocar as pessoas para aprenderam a digitar comandos, e passou a acompanhar as lições de casa pela Internet. Ela colocou as crianças entusiasmadas pela possibilidade de participarem da aula à distância, por meio de um ambiente virtual de aprendizagem e de uma rede de relacionamento a serviço da educação. Foi graças a essa ferramenta que ela pedia e recebia trabalhos complementares aos conteúdos tratados em classe. Hoje, um dos problemas de nossos meninos e meninas é levarem trabalho para casa trazerem o trabalho feito. Senadores, ela conseguiu fazer isso simplesmente colocando no jogo do ensino o uso do computador.

         A Professora Maria das Dores de Macedo Coutinho Raposo, da Escola Crescimento, de São Luís, no Maranhão, em Língua Portuguesa, fez uma inovação que para mim foi uma surpresa. Ela percebeu o gosto das crianças por contos de terror. Trouxe os contos de terror para dentro da sala de aula, e não apenas para que as crianças lessem, mas também para que as crianças tentassem compor, complementando, criando personagens, de tal maneira que se tornou uma aula agradável para essas crianças.

            A Professora Maria Tereza Gomes de Almeida Lima, do Centro Educacional Frei Seráfico, de São João Del-Rei, fez um trabalho formidável de recuperação da memória. Levou para dentro da sala de aula as cópias de um jornal chamado O Domingo, do século XIX. Esse jornal O Domingo tinha uma seção de Literatura. Ela passou a estudar Literatura do século XIX em São João Del-Rei, através de um jornal do século XIX que não existe mais.

            A Professora Milca Luiza Toyneti dos Santos, também outra vitoriosa como Educadora Nota 10, da Escola Estadual Professor João Caetano da Rocha, em Itápolis, São Paulo. Ela mostrou como é possível alfabetizar de uma maneira mais simples, tomando cuidado especial, que nem sempre faz parte da prática dos alfabetizadores. Professora há dezoito anos, por muito tempo ela usou métodos tradicionais, até que, durante o Curso Normal superior, compreendeu a importância de contextualizar o aprendizado. Como a maioria das crianças na sua sala não tinha contato com textos escritos - porque nossas crianças não têm contato com textos escritos -, ela incluiu na rotina escolar atividades de leitura e escritura. Sempre lia para eles e propunha tarefas como nomes próprios, listas e cantigas. E ao ler...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - E, ao ler, criou o gosto pela alfabetização.

         A professor Rosangela Guella Tamagnone, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Ismael Chaves Barcellos, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, na disciplina Arte. Ela deu aula sobre fotografia para crianças da 7ª e da 8ª séries. E ao levar a máquina fotográfica, ao levar as crianças a visitarem fotos, ao colocar as crianças a fazerem fotos, ela ensinou como é que uma foto pode ser boa ou ruim, como é que existe uma perspectiva especial na qual o estudante, o fotógrafo, pode fazer uma foto boa ou ruim.

            E, finalmente, eu deixo por último para aquele que venceu o título, pela primeira vez, de Gestor Nota 10. Deixo por último porque foi a primeira vez que esse prêmio foi dado; deixo por último porque essa é uma área a que nós precisamos dar mais atenção, que é a área do Gestor Educacional. E deixo por último porque quem venceu esse prêmio é um professor aqui do Distrito Federal, da cidade de Samambaia.

            O que o professor fez foi algo extremamente simples. O Professor Amarildo Reino de Lima percebeu que alguns alunos repetiam e repetiam e repetiam, alguns deles quatro vezes, porque ficavam para trás com estudantes pequenos. Mas, no lugar da saída que algumas cidades estão escolhendo, de deixar o aluno passar, sem fazer prova, de deixar o aluno ser aprovado automaticamente, com a chamada promoção automática e sem deixar o aluno mais velho ficar com o aluno menor e desmotivado, ele simplesmente percebeu que havia diversos alunos, em idades maiores, em classes atrasadas. Ele juntou esses meninos e essas meninas na mesma série. E, ao mantê-los na mesma série, com idades iguais, pôde atrair outra vez a atenção. E isso só foi possível pelo seu trabalho de gestor, porque uma orquestra pode até tocar sem maestro, mas uma escola não funciona sem um bom gestor. É ele que vira o maestro dos professores, para trazer à luz o som que existe dentro de cada criança.

            Por isso, meus parabéns ao Professor Amarildo Reino de Lima, aqui da cidade de Samambaia, do Centro de Ensino Fundamental nº 427, que ganhou esse prêmio ontem, pela primeira vez.

            Finalmente, Senador Mão Santa, peço mais trinta segundos ou um minuto, para falar de um premiado que não recebeu prêmio, que é a Fundação Victor Civita. A Fundação, ao manter esse prêmio, merece um prêmio também, porque, ao manter esse prêmio...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - V. Exª pede trinta segundos, e já lhe concedo sessenta.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço a generosidade dos trinta segundos adicionais.

            Ao manter esse programa, esse prêmio, há um esforço grande de seleção. Quatro mil candidatos se ofereceram. No próximo ano, certamente serão dez mil, tanto que sugeri à Fundação que criassem também os dez Educadores Nota 10 em cada Estado, para depois escolher os dez do Brasil inteiro.

            Eu parabenizo a Fundação, que faz um trabalho tão grande, com revistas especiais, com promoção de métodos educacionais, por ter levantado a autoestima dos professores do Brasil, escolhendo dez deles para dizer que alguns não se entregam, alguns continuam lutando, alguns têm criatividade e põem essa criatividade a serviço de todos.

            Vamos fazer com que os dois milhões de professores do Brasil sejam assim. Para isso, bons salários para eles, boa formação para eles, bons prêmios para eles, como esses que a Fundação Victor Civita concedeu ontem.

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