Discurso durante a 187ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração pelo transcurso, no dia 24 de outubro, dos 76 anos da cidade de Goiânia.

Autor
Marconi Perillo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Marconi Ferreira Perillo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração pelo transcurso, no dia 24 de outubro, dos 76 anos da cidade de Goiânia.
Publicação
Publicação no DSF de 23/10/2009 - Página 54406
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, MUNICIPIO, GOIANIA (GO), ESTADO DE GOIAS (GO), REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA, EX GOVERNADOR, INICIATIVA, CONSTRUÇÃO, ALTERAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, SAUDAÇÃO, PROCESSO, MIGRAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, MODERNIZAÇÃO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no dia 24 de outubro Goiânia completa 76 anos. Sinto-me, mais do que na obrigação de tecer palavras, feliz pela oportunidade de traduzir um pouco da História dessa jovem Capital aqui no plenário desta casa.

           Goiânia, aparentemente, nasceu nos anos 30 do século passado, com a chamada Revolução de Trinta que colocou no comando Getúlio Vargas, em nível nacional, e Pedro Ludovico Teixeira no controle da política goiana. Os dois ficariam 15 anos consecutivos no poder. Se a Vargas cabe um lugar ímpar na História Brasileira pelas conquistas trabalhistas e pelo desenvolvimento nacionalista, a Pedro Ludovico cabe o reconhecimento de ter ele mostrado ao País as potencialidades e pujança do Goiás que emergia sob sua direção.

           Mais do que uma idéia de Pedro Ludovico, mais do que um anseio dos grupos dominantes em ascensão, que poriam fim ao domínio das oligarquias na República Velha, Goiânia era uma necessidade dos novos tempos, dos rumos de desenvolvimento que Goiás ansiava.

           A idéia de mudança da capital é antiga, veio dos séculos 18 e 19, mas foi efetivada somente no burburinho de transformações dos anos 30. Pedro Ludovico Teixeira capitalizou as mudanças, retomou a idéia de transferir a capital e deu ao tema novas cores e novos tons políticos e econômicos.

           Construir Goiânia era um desafio e uma forma de afirmação política, um investimento no Estado e uma estratégia para retirar da cidade de Goiás a posição de centro da política estadual.

           Pedro Ludovico assina, em 18 de maio de 1933, o Decreto n.o 3.359, que estabelecia as bases para a edificação da nova capital. Prometia uma capital moderna, planejada, coerente com os novos tempos que se anunciavam no Estado.

           Goiânia nasceu sob o signo do conflito, dos posicionamentos prós e contras tão ao gosto de uma época repleta de transformações. Nasceu plural, com goianos, mineiros, nordestinos e tantos outros que ajudariam em sua edificação.

           Srªs. e Srs. Senadores, Pedro Ludovico é uma das faces dessa jovem e ousada capital. Cerca de mais de 4 mil trabalhadores somaram-se a ele: os geniais urbanistas Atílio Corrêa Lima e Armando Augusto de Godói, engenheiros da estatura dos irmãos Coimbra Bueno e uma população sedenta de transformação e progresso completavam a rede de anseios da época.

           Dentro desse contexto Goiânia significava uma capital capaz de satisfazer os anseios dos grupos em ascensão na política e na economia do Estado, situados no sul e sudoeste, regiões historicamente desenvolvidas e carentes de representação política.

           A modernidade, sinônimo de progresso à época, movia Pedro Ludovico e seus apoiadores. Sob o manto do progresso a idéia de uma nova capital ganharia as ruas, contagiaria as consciências, ao mesmo tempo em que ampliava os ardores da oposição e centralizaria toda a política dos anos 30 e da Constituinte de 1933.

           As vozes contrárias a mudança da capital não eram poucas. Como hoje, naquele tempo havia os que discordavam de tudo o que significava mudança, progresso e modernidade. A construção de Goiânia seguia seu rumo indiferente aos embates. Problemas de ordem financeira eram resolvidos ou através do tesouro estadual, da venda de lotes ou por meio de apólices e empréstimos do governo federal. Pedro Ludovico não queria saber de gastos e sim reforçava a idéia de que estava fazendo um grande investimento. O tempo mostrou suas razões, seus sonhos, sua ousadia.

           A parceria do governo Vargas com o futurismo de Pedro Ludovico, encontraria na Marcha para o Oeste, anos mais tarde, o rumo de um Brasil que se bifurcava para o interior.

           A mão-de-obra básica teve que ser trazida de várias regiões do país, principalmente do nordeste, para constituir um contingente operário que, anonimamente, substituía o que o Estado não havia formado ao longo da República Velha.

           Goiânia já contava, em 1935, com alguns prédios erguidos e se afigurava, a cada dia, como uma realidade irreversível. Assim, à oposição restava a tentativa de obtenção de melhorias para a cidade de Goiás.

           Os oposicionistas reivindicavam que o governo empreendesse reformas na velha Goiás, de modo a dinamizar seu crescimento econômico, o que também não chegou a ser feito. Pedro Ludovico tinha uma idéia fixa no futuro e o Goiânia era esse símbolo, o bandeirantismo moderno, o salto para frente, o encontro do Estado de Goiás com os novos rumos do Brasil de Vargas. Uma nova capital seria o resumo de muitos destes planos.

           Em 20 de novembro de 1935, foram instalados o município e a comarca de Goiânia. O dirigente político se posicionava dizendo: “Amo esta terra que é minha. Mas há um imperativo mais alto que é preciso obedecer.” Pedro Ludovico era filho da velha capital, da cidade de Goiás. O imperativo maior, por certo, inserir o Estado de Goiás no mercado nacional, inserir a região no projeto nacionalista de Vargas.

           Com a Construção de Goiânia concretizava-se a estratégia política de Pedro Ludovico Teixeira para se afirmar no poder e dar ao Estado de Goiás uma dimensão de modernidade que apagasse da memória as imagens de decadência e atraso, com as quais os detentores do poder estadual em 30 insistiam em ver a Velha Capital.Era um equívoco mas era o argumento político exato para a época.

           Cumpria-se, finalmente, mais uma etapa da Marcha para o Oeste, no processo de ocupação do Centro-Oeste do país. Goiânia representaria o trampolim para novos e arrojados projetos, como a construção de uma nova capital federal, Brasília e a Belém-Brasília.

           A inauguração oficial ocorreu em julho de 1942 sob o signo da modernidade e da cultura, definindo o momento como O Batismo Cultural de Goiânia. A convivência do moderno com o atraso marca a história de Goiás e de sua nova capital, Goiânia, nos agitados anos 30.

           Goiás, Estado em desenvolvimento teria com uma nova capital um atrativo capitalista capaz de chamar a atenção de um país em transformação. Significava também a consolidação do projeto de afirmação política de Pedro Ludovico, um novo centro do poder. Goiânia nasceu plural, cosmopolita, altamente moderna com prédios públicos em art déco, cravada no mais expressivo interior, Campinas. Daí sua mesclagem entre o urbano e o rural, o campo e a cidade, o litoral e o sertão.

           Foi ambiciosa para a época. Projetou-se para 50 mil habitantes e hoje conta com cerca de um milhão e cem mil trabalhadores que a constroem diuturnamente. Bonita, altaneira, capital do verde e do acolhimento, a Goiânia de Pedro Ludovico e de todos nós, bela, moderna, cosmopolita, contrasta em seu seio, com inúmeros problemas, merecendo a atenção vigilante de todos os goianos. Os avanços da medicina de Primeiro Mundo e a fragilidade das políticas públicas de saúde; a beleza de suas ruas com o caos do transporte coletivo urbano; a força trabalhadora de seu povo com um sistema de tráfego sem o menor planejamento e, por isso, problemático; a qualidade de vida de parcela da população com a completa inexistência de políticas públicas municipal de inclusão social, além de tantos outros problemas que reclamam da administração local a atuação mais ampla e de resultados.

           Assim é que, ao completar 76 anos, Goiânia nos leva a refletir sobre sua trajetória histórica, seus problemas e possíveis soluções. Enche-nos de orgulho ao mesmo tempo em que nos cobra saídas para a metrópole que simboliza o crescimento de um Estado que, por duas vezes, tivemos o prazer de governar.

           Por isso a louvamos e nos preocupamos com sua trajetória, entendemos sua formação multicultural, e apoiamos sua diversidade em todos os campos do saber. Goiânia aos 76 anos merece não só os parabéns, mas solicita também o conhecimento sobre sua História como forma adequada de reconhecer suas tradições, sua importância patrimonial, seu povo e, por fim, para firmar o compromisso de cada um de nós com sua preservação, sua História, sua memória e identidade.

           Parabéns Goiânia, parabéns aos goianienses, parabéns aos goianos e parabéns, nesta data, a todo o Brasil.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/10/2009 - Página 54406