Discurso durante a 201ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência ao antropólogo e filósofo belga, Claude Lévi-Strauss, falecido na semana passada, aos 100 anos de idade.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência ao antropólogo e filósofo belga, Claude Lévi-Strauss, falecido na semana passada, aos 100 anos de idade.
Aparteantes
Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2009 - Página 56547
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTROPOLOGO, INTELECTUAL, PAIS ESTRANGEIRO, BELGICA, PROFESSOR UNIVERSITARIO, FUNDADOR, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, BRASIL, VIAGEM, INTERIOR, CONHECIMENTO, POPULAÇÃO, COMUNIDADE INDIGENA, RELEVANCIA, ESTUDO, CIENCIAS HUMANAS, REGISTRO, AMIZADE.
  • SOLICITAÇÃO, INCLUSÃO, HOMENAGEM, ANAIS DO SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOSÉ SARNEY (PDMB - AP. Para uma comunicação inadiável. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero nesta Casa reverenciar o maior pensador vivo do Séc. XX: Claude Lévi-Strauss que faleceu este fim de semana na França.

            Claude Lévi-Strauss representou para as Ciências Humanas aquilo que Marx, Einstein e Freud representaram para os seus devidos tempos para as suas respectivas áreas. E o Brasil teve uma ligação importante com Claude Lévi-Strauss. Ele era professor da École Normale Supérieure da França quando foi convidado, na criação da Universidade de São Paulo, para ser professor de Sociologia. Veio e foi um dos fundadores.

            Em São Paulo ele ficou de 1935 até 1939. Na oportunidade ele fez muitas expedições ao interior do Brasil. Em suas memórias sempre dizia que a vocação de antropólogo que ele tinha - e foi um grande antropólogo, o maior de todos - foi descoberta nas viagens que fez pelo interior do Brasil.

            Ele dizia que tinha descoberto que não havia uma só civilização, mas vários tipos de civilização. Afirmava que na civilização ocidental, no homem do Ocidente, não via uma forma de pensar diferente daquela nos indígenas que encontrou.

            Faço essa comunicação ao Senado como uma pessoa que também teve uma estreita ligação com Claude Lévi-Strauss. Quando ele veio ao Brasil integrado na comitiva do Presidente Mitterrand, tive a grande emoção de conhecer o extraordinário sábio. E, dessa visita, tivemos uma relação pessoal que se prolongou até a sua morte. Trocávamos frequentemente correspondências e guardo, com grande orgulho, a maneira como ele sempre me tratou nas ocasiões em que fui à França e estive com ele. Quando a Academia Brasileira visitou a Academia Francesa, ele teve oportunidade de estar presente e receber-me. E também quando houve o lançamento de dois livros meus, Saraminda e O Dono do Mar, ele compareceu na Casa da América Latina prestigiando aqueles eventos.

            Numa entrevista, ele teve oportunidade, na sua generosidade, de dizer que as referências pessoais que ele guardava do Brasil eram de Mário de Andrade, Sérgio Milliet. Paulo Duarte e me incluiu entre aqueles que tinham ligação mais recente com ele.

            O Brasil foi tão importante na sua vida - e ele mesmo ressaltava isso - que escreveu um livro que se chamava Tristes Trópicos, um livro extraordinário, no qual, nas primeiras páginas, ele teve oportunidade de ter uma visão do nosso País que até hoje guardamos, embora em algumas passagens ele não tenha sido ufanista em relação ao Brasil. Há poucos anos, quando escreveu Saudades do Brasil e Saudades de São Paulo, que são espécies de fotobiografias, ele teve oportunidade de se referir ao nosso País com um grande carinho.

            Era um homem respeitado no mundo inteiro pela sua vasta obra, sua vasta inteligência, sua grande cultura, um grande pensador. Ele foi nivelado, como disse, aos grandes pensadores da humanidade. É esse o homem que faleceu aos 101 anos de idade. Ele nasceu em 28 de novembro de 1908 e veio a falecer neste fim de semana. Somente hoje eu soube, lendo o noticiário internacional na Internet, quando a notícia do seu falecimento no sábado foi liberada. Mas dos santos não se comemora a data do nascimento, comemora-se a data da sua morte. É o que se diz em relação aos santos.

            E, para a cultura mundial, Lévi-Strauss era, realmente, uma figura deusificada, pelo que ele tinha representado para a história do pensamento.

            E ele dizia que, se nós extinguíssemos dez ou vinte séculos da história da nossa civilização, não perderíamos muita coisa sobre a natureza humana, mas perderíamos somente as obras de arte, que são o que distingue o homem. Isso não poderia ser perdido e ficava relembrado.

            Ele era membro da Academia Francesa, como eu disse, do Colégio de França também, aquela grande instituição que na França existe, e, aqui no Brasil, ele era reverenciado.

            E é com grande emoção que eu digo isso, porque de um homem de 101 anos de idade, que manteve a sua lucidez e a sua produção intelectual até o final da sua vida, o que se tem que dizer é que, realmente, fomos beneficiados por sermos seus contemporâneos, por termos convivido com este pensador extraordinário que foi Claude Lévi-Strauss.

            É nesse sentido que eu faço, com emoção, esse registro aqui no Senado.

            Queria que o Senado colocasse nos seus Anais essas minhas palavras e também um voto, não digo de pesar, mas de louvor a esse grande homem, que foi Claude Lévi-Strauss.

            Muito obrigado.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Presidente Sarney, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Concedo um aparte a V. Exª

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Queria fazer só um acréscimo. Trouxe aqui matéria que a Folha Online publicou sobre o antropólogo Claude Lévi-Strauss, e V. Exª, em boa hora, como intelectual, traz ao conhecimento desta Casa o triste falecimento. E aqui me chamou mais a atenção foi o fato de que ele lecionou Sociologia, na Universidade de São Paulo, em 1934.

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - De 1934 a 1939, se não me engano.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - E lá iniciou, segundo a notícia, o seu grande projeto intelectual. O que me chamou também a atenção foi uma das obras dele, O Pensamento Selvagem, de 1962, em que ele “demonstra que não há uma verdadeira diferença entre o pensamento primitivo e o moderno”, quando comenta o pensamento indígena - não do índio - e a modernidade. Então, V. Exª, em boa hora, lembra um intelectual, um filósofo. Não poderia ser outra pessoa a não ser V. Exª a relembrar um homem como Lévi-Strauss.

            O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Como eu tive oportunidade de dizer, ele escreveu em um de seus livros que realmente tinha sido extremamente importante para a vida dele a sua passagem pelo Brasil e também a sua passagem como professor de Sociologia da Universidade de São Paulo. Ele, aliás, foi um dos fundadores. Armando Salles de Oliveira pensou em implantá-la, e isso ocorreu naquele tempo.

            Nessa época, como eu disse, ele teve oportunidade de fazer muitas incursões pelo interior do Brasil. E é nesse tempo que, relata ele, despertou a sua vocação de antropólogo.

            Houve uma fase de sua vida em que, para fugir da guerra, exilou-se nos Estados Unidos e foi professor, por alguns anos, na Universidade de Columbia e na New York University, onde também teve oportunidade de pregar tudo o que representou para o pensamento humano.

            V. Exª se refere a matéria sobre o que ele achava do pensamento indígena moderno. Ele dizia justamente isto: que não existia uma só civilização, que o pensamento não era do homem primitivo, mas o pensamento dos índios representava a mesma coisa que o nosso pensamento, apenas eles tinham a sua civilização e o seu pensamento. Ele não estudou somente os índios brasileiros, ele estudou também os índios americanos durante muito tempo.

            Enfim, com todos os setores do conhecimento humano, na área das ciências humanas, Lévi-Strauss tem uma ligação e ele ficará para a eternidade como um daqueles grandes vultos da História da humanidade, como eu disse, ao lado de Marx, de Freud e também de Einstein.

            Muito obrigado a V. Exª.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/2009 - Página 56547