Discurso durante a 205ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Posicionamento sobre a questão do ingresso da Venezuela no MERCOSUL, sugerindo que o Congresso Nacional sobreste a matéria até o retorno da democracia àquele país. Desacordo com a atuação do Presidente Lula, no XII Congresso do PCdoB, realizado em São Paulo no último fim de semana, ocasião em que S.Exa. defendeu a candidatura da Ministra Dilma Roussef à presidência da República e fez críticas ao PSDB e às oposições. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS). PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Posicionamento sobre a questão do ingresso da Venezuela no MERCOSUL, sugerindo que o Congresso Nacional sobreste a matéria até o retorno da democracia àquele país. Desacordo com a atuação do Presidente Lula, no XII Congresso do PCdoB, realizado em São Paulo no último fim de semana, ocasião em que S.Exa. defendeu a candidatura da Ministra Dilma Roussef à presidência da República e fez críticas ao PSDB e às oposições. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2009 - Página 57826
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS). PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, HUGO CHAVEZ, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, POLITICA INTERNACIONAL, INCENTIVO, CONFLITO, PAIS, AMERICA DO SUL.
  • NECESSIDADE, ADIAMENTO, VOTAÇÃO, INGRESSO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), EXIGENCIA, RESTAURAÇÃO, PLENITUDE DEMOCRATICA.
  • ANUNCIO, ENTREVISTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DEMOCRATAS (DEM), PROVIDENCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).
  • REPUDIO, ALEGAÇÕES, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONGRESSO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMPARAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), NAZISMO, NECESSIDADE, COMBATE, FIDELIDADE.
  • ELOGIO, ESTUDO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, OCORRENCIA, AUTORITARISMO, POLITICA NACIONAL, REGISTRO, DECLARAÇÃO, HISTORIADOR, AUSENCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, inicialmente, os cumprimentos ao Senador Papaléo Paes pela oportunidade e importância do tema que explorou da tribuna até este momento.

            Estamos numa segunda-feira de uma semana que esperamos seja muito produtiva, mas uma semana que também nos apresenta afirmações preocupantes daqueles que deveriam liderar nações com responsabilidade pública, prezando, sobretudo, os valores democráticos.

            De um lado, o Presidente Hugo Chávez, incitando a guerra entre irmãos da América Latina ao afirmar que os países precisam se preparar em razão das divergências existentes entre eles, exatamente na semana em que devemos deliberar sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul.

            Esse é um tema para debate certamente na próxima quarta-feira, mas, Senador Geraldo Mesquita Júnior, eu gostaria de antecipar a minha posição afirmando que o Congresso Nacional deveria sobrestar essa matéria até que a democracia retornasse na sua plenitude à Venezuela.

            Os valores democráticos são essenciais e devem ser preservados, especialmente no Parlamento. É nosso dever, sobretudo porque exercitamos aqui a representação popular, defender os princípios básicos do regime democrático.

            E, evidentemente, assistimos na Venezuela ao contraponto a essa realidade. Trazer a Venezuela para o Mercosul é como se colocarmos macaco em casa de louças. E olhem que o Mercosul tem problemas. Há insatisfação visível na Argentina, no Uruguai, em relação ao Mercosul. E vamos oferecê-lo como palanque para o discurso boquirroto do líder venezuelano, que está arrasando economicamente um país com potencialidades extraordinárias por ser detentor da quinta reserva mundial de petróleo.

            Mas esse é um assunto, como disse, para quarta-feira. Amanhã pretendemos, numa entrevista coletiva, os Democratas e o PSDB, anunciar providências relativas à CPI da Petrobras, desta tribuna, a partir das 14 horas. Esse é, portanto, um tema para a terça-feira.

            Hoje, Sr. Presidente, me traz à tribuna a necessidade, como oposicionista, de rechaçar afirmações descabidas do Presidente da República. Novamente com seus arroubos retóricos, o Presidente da República oferece uma péssima lição aos democratas brasileiros.

            No XII Congresso do PCdoB, Partido Comunista do Brasil, em São Paulo, acompanhado da Ministra Dilma Rousseff e mais cinco Ministros de Estado, o Presidente defendeu ardorosamente a candidatura da Ministra da Casa Civil à Presidência e fez críticas descabidas ao PSDB e à oposição.

            Num discurso de mais de uma hora, o Presidente Lula exibiu recorte de jornal cujo título da reportagem era Contra Lula PSDB treina cabos eleitorais no nordeste. E o Presidente disse:

“É um pouco do que Hitler fazia para os alemães pegarem os judeus, ou seja, vamos treinar gente para não permitir que eles sobrevivam. (...) Fiquei com pena. (...) Vão encontrar gente do PT, do PCdoB, da CUT e do MST. Acho que vão se dar mal.”

            É surpreendente. Evidentemente não nos cabe duvidar da capacidade intelectual do Presidente da República. Não nos cabe, da mesma forma, debochar. Nem de longe pretendemos diminuí-lo. O que não podemos aceitar passivamente é que o Presidente, utilizando-se da prerrogativa de ter o espaço de mídia que cabe a um Presidente da República pela importância da função que exerce, oferecer a cada dia lições que deveriam ser repudiadas por todos aqueles que acreditam no regime democrático. Aliás, não é de hoje a admiração do Presidente Lula por Hitler.

            Há alguns anos, em entrevista à revista Playboy, Lula dissera que admirava determinadas qualidades de Hitler. Eu não entendo como alguém possa admirar mesmo que sejam algumas qualidades de um ser descomunalmente desumano como aquele que infelicitou milhões de seres humanos no mundo.

            Eu não entendo como alguém possa citá-lo como exemplo. Eu não entendo como, mesmo como figura de retórica, se possa lançar mão desse expediente para convencer alguém. No caso do PSDB, o Presidente não é apenas injusto. Não. Ele é desonesto intelectualmente. Tem revelado, a cada declaração que faz sobre história universal, um desconhecimento completo do que ocorreu no mundo nas mais diversas épocas. Ou seja, o Presidente não sei se foi aluno de História algum dia, mas foi um péssimo aluno. E, certamente, não deveria lançar mão de argumentos tendo em vista acontecimentos históricos, porque acaba resvalando para o terreno da mediocridade.

            E o Presidente da República, comparando o PSDB com Hitler, afirma que o PSDB pretende treinar gente para não permitir que eles sobrevivam. Mas o que eu indago é de onde o Presidente retira esta afirmação. Com que autoridade o Presidente pode afirmar que o Presidente quer dizimar os cidadãos brasileiros? Com que objetivo o Presidente faz esse tipo de afirmação? É inexplicável.

            Mesmo que fosse um vereador em qualquer Município do País, e é honroso ser vereador, mas é Presidente da República. É evidente que a palavra do Presidente da República ecoa com mais força. Ouvir isso do Presidente da República é estarrecedor. O PSDB, diz o Presidente, é um pouco de Hitler. Quer treinar gente para não permitir que sobrevivam.

            O que se deseja é exatamente que as pessoas sobrevivam com dignidade. O que prega o nosso Partido não é a sobrevivência da impotência absoluta, da incapacidade incomum. O que prega o PSDB não é o que prega o Presidente Lula. Nós não encaramos a população ou parte dela como um agrupamento de pessoas incapazes. Entendemos que a postura de um governo que quer construir cidadania é exatamente oposta àquela exercitada pelo atual Governo.

            O Presidente, em outro momento da sua fala, defendeu o nome da Ministra Dilma para consagrar a continuidade. Já se fala muito que a Ministra Dilma é o terceiro mandato. Nós não queremos, de forma alguma, discutir estratégia eleitoral do PT. Mas evidentemente o que nós não queremos aceitar passivamente são acusações improcedentes, estapafúrdias, sem nenhum sentido de construção, porque, mesmo quando fazemos oposição, devemos almejar sempre construir para oferecer à população qualidade de vida com dignidade. E a Ministra Dilma também, na linha do seu chefe, fez duras críticas ao PSDB, especialmente ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.

            Imagino que essa fixação no nome do Presidente Fernando Henrique Cardoso ainda há de ser analisada futuramente.

            Fernando Henrique Cardoso, há poucos dias, redigiu um artigo memorável, a meu ver, sinalizando, para o seu Partido sobretudo, a responsabilidade de combater uma espécie de autoritarismo popular que se implanta no País.

            E quero, Presidente Geraldo Mesquita Júnior, pedir apenas alguns minutos a mais, porque vou trazer a fala de um historiador a esse respeito, o historiador Carlos Guilherme Mota, que é professor titular de História Contemporânea da Universidade de São Paulo, define o atual cenário político como “superpresidencialismo desbussolado e pitoresco”. Segundo o referido historiador, o Presidente Lula pratica uma forma cordial, mas matreira, de evitar a implantação de uma moderna sociedade.

            Quantas vezes - especialmente a Esquerda do quadro político nacional - acusam-se detentores do poder de trabalhar para evitar a implantação de uma sociedade moderna? Pois bem, hoje é um historiador que dirige suas palavras nessa direção para alcançar o Presidente Lula na Presidência da República.

            Carlos Mota, utilizando o exemplo da Argentina, da Argentina peronista, afirma:

“À semelhança da Argentina de Perón, existe aqui o assalto às estatais que desviou o PT do seu papel histórico de criador de um trabalhismo moderno. Para o historiador, o superperonismo identificado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pode ser suplantado por algo ainda pior. O populismo de Peron politizava, enquanto o pobrismo daqui avilta.”

           O historiador vai buscar uma nova terminologia para definir o que ocorre atualmente no Brasil. Só buscando terminologias inéditas é que podemos realmente definir o que está acontecendo no nosso País nos tempos de Lula.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2009 - Página 57826