Discurso durante a 209ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre o apagão elétrico ocorrido na última terça-feira.

Autor
Tasso Jereissati (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Tasso Ribeiro Jereissati
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação sobre o apagão elétrico ocorrido na última terça-feira.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Cristovam Buarque, Flexa Ribeiro, Mário Couto.
Publicação
Publicação no DSF de 13/11/2009 - Página 58441
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, REPETIÇÃO, COMPORTAMENTO, GOVERNO FEDERAL, EXCESSO, PUBLICIDADE, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, OBTENÇÃO, APOIO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, TENTATIVA, CRIAÇÃO, PROGRAMA, DISPONIBILIDADE, RECURSOS, CULTURA, TELEFONE CELULAR, POPULAÇÃO CARENTE, FALTA, VERDADE, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, OCORRENCIA, INTERRUPÇÃO, FORNECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, PARTE, TERRITORIO NACIONAL, FORMA, PROTEÇÃO, CANDIDATURA, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, APROXIMAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, DITADURA, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente Mão Santa, sempre muito generoso com os seus amigos e hoje é uma liderança que já ultrapassou as fronteiras do Piauí.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Desde cedo, eu atravessei para o Ceará para estudar e aprender.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Mas graças a Deus que V. Exª não vai concorrer pelo Ceará, porque chego no interior e todo mundo perguntando pelo Mão Santa.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eu lá não teria vez, perderia para V. Exª todas as vezes.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na verdade, eu não estava programado nem pensando em falar sobre o apagão. Ontem, aqui, vários Senadores se pronunciaram sobre o assunto e não sou especialista em energia, não conheço tecnicamente o problema, mas, evidentemente, como todo cidadão brasileiro, principalmente também pelo fato de já ter sido Governador, como V. Exª o foi, tenho bom senso para, razoavelmente, saber dos limites daquilo que é um incidente e daquilo que não é tolerável e aceitável nos serviços públicos.

            Resolvi, então, mudar de opinião, Senador Flexa, Senador Arthur Virgílio, quando, ao ler o noticiário dos jornais e da televisão na noite de ontem, vi a repetição de um comportamento do Governo que tem se agravado com o tempo.

            No início, o Governo Lula já tinha uma tendência muito grande a usar e abusar da publicidade, dos factóides. Já na campanha eleitoral da sua reeleição, observamos como a força da Petrobras, a propaganda da Petrobras foi usada para sua campanha eleitoral. Poucos meses antes da eleição, criou-se o grande fato do Brasil potência, do Brasil moderno, do Brasil imbatível, em cima da criação da autossuficiência de petróleo.

            Lembro-me muito bem que discutimos aqui uma verba fantástica de publicidade da Petrobras. O Presidente Lula foi a um poço de petróleo numa plataforma, sujou as mãos de petróleo nas costas do Ministro ou do Presidente da Petrobras - não me lembro bem - e criou aquela grande atmosfera ufanista, muito parecida com a de um período que vivemos do “Brasil: ame-o ou deixe-o”, do Brasil do Presidente Médici, do “Ninguém segura este País”, de que V. Exª se lembra. Tinha até música “Ninguém segura este país”, tinha o adesivo de carro com o dizer “Brasil: ame-o ou deixe-o”.

            Então, criou-se, a partir dali, uma atmosfera daquele tipo. De lá para cá, isso veio num crescendo, num crescendo, que está passando de todos os limites aceitáveis, de todos os limites minimamente razoáveis, em que se tenta já sair do campo puramente de excesso de publicidade para um campo que já entra na área de tentar-se fazer verdadeiras lavagens cerebrais.

            A gente não vê mais... Nada está errado no Brasil, tudo está certo. Tudo vai muito bem, tudo está maravilhoso, a economia vai muito bem, o povo está feliz com o Presidente Lula, acabou-se a miséria, acabaram-se as desigualdades, acabaram-se os problemas na educação, na saúde... O Governo não aceita que algo não esteja indo bem. Tudo ou é uma estratégia da Oposição ou é uma conspiração da elite para tentar derrubar... Isso foi realmente chegando aos limites que hoje me fazem entender até um pouco mais a questão da entrada da Venezuela no Mercosul, Senador Arthur Virgílio.

            Eu pensava, num primeiro momento, que aquilo seria simplesmente uma visão pragmática. Vamos esquecer os problemas que tem a Venezuela e olhar o que a Venezuela pode comprar do País. Mas estou vendo, de uma maneira muito lamentável, nós nos aproximarmos cada vez mais do espírito de Hugo Chávez em relação à perpetuação no poder, à repetição usando uma máquina publicitária, recursos extraordinários parar fazer infiltração em todas as áreas de propaganda governamental, já passando daquela propaganda puramente institucional, comercial, para meios até subliminares.

            Recentemente, nós vimos aí uma questão que apareceu em todos os jornais e que é inacreditável para um País democrático. Talvez isso tenha acontecido na União Soviética do Stalin, talvez na Alemanha do Hitler, talvez em algum governo do Leste Europeu, naquela época de lavagem cerebral absoluta. Falo da prova do Enade, servindo nos textos, nas questões, servindo de propaganda quase que subliminar para o Governo Federal. É uma coisa realmente apavorante. Os nossos adolescentes, as nossas crianças... Já haviam sido feitas algumas denúncias anteriores dessas propagandas em livros didáticos do ensino básico, mas agora eu vi. Eu vi essa prova do Enade. É uma coisa realmente preocupante, Senador Mão Santa.

            Uma questão foi colocada mais ou menos no seguinte contexto: “O Presidente Lula disse, no início da crise econômica, que, no Brasil, aquilo era apenas uma marolinha. A imprensa o criticou muito por causa disso. Hoje a imprensa internacional reconhece que o Presidente Lula tinha razão. Pergunta: foi excesso de crítica da imprensa brasileira? Foi partidarismo da imprensa brasileira?” Uma coisa... Opção “a” ou opção “b”...

            Vejam bem a gravidade. Se o estudante respondesse alguma coisa que pudesse não ser aquilo que o Governo queria naquele ponto, a pergunta estava errada. Ele correria o risco de perder ponto e, portanto, não ser aprovado. Quer dizer, isso, no período militar brasileiro, que foi muito criticado pela Esquerda, pela tão calada Esquerda brasileira...

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª me permite um aparte, Senador Tasso Jereissati?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Só um momento.

            Eu vejo aqui, todos os dias, aqueles membros dos partidos de esquerda que falavam em liberdade. Senador Cristovam, que é um homem da Academia, quando havia aquelas aulas de História, de Moral e Cívica, eu me lembro de como a Esquerda criticou aquilo. E era uma coisa muito menos insinuante, muito menos perigosa do que a maneira como foram colocadas as questões. Nós estamos fazendo coisas semelhantes.

            Eu também tinha saído ontem de uma discussão, na Comissão de Constituição e Justiça, sobre a criação da bolsa cultura. E não entendi direito, Senador Virgílio, o que é aquela bolsa cultura. Até agora não estou entendendo direito. Aliás, para ser justo, o Ministro da Cultura até me telefonou, querendo explicar. Ligou para o Senador Arthur Virgílio... Eu disse que seria muito bom que ele viesse aqui conversar conosco e explicar o que está acontecendo, porque, aparentemente, não faz sentido dar mais um recurso - cerca de R$50,00 - para as pessoas comprarem entrada de cinema, entrada de shows, enfim, sem estar muito claro o que isso quer dizer, numa evidente nova distribuição de recursos que, aparentemente, nem os mais pobres receberiam, porque quem tem Bolsa Família não recebe. É para quem está acima do Bolsa Família. Os aposentados também, os aposentados ali do Senador Mário Couto, que ele defende tanto... Essa bolsa cultura seria menor para os aposentados, justamente para aqueles que estão num período de maior espaço de tempo, que podem usar e usufruir mais do seu tempo para a cultura. Eles também seriam prejudicados, mas evidentemente numa manobra ou aparentemente numa manobra para se levar mais esse dinheiro, distribuição de recursos absolutamente de cunho populista neste País.

            Enfim, no dia seguinte, se ouve falar no bolsa celular. Mas por que o bolsa celular? Não seria melhor o bolsa remédio ou o bolsa livro? Enfim, essas coisas todas.

            Mas, voltando aqui ao início, eu dizia o seguinte: eu não iria falar sobre o apagão, porque estava muito voltado para essas coisas, mas, quando eu vi na televisão ontem, na mesma linha, a dificuldade... Não é a dificuldade, mas o princípio do Governo, de todas as pessoas de aceitarem o problema de que alguma coisa não está tão bem no Brasil. Isso não se aceita. Parte-se imediatamente para desqualificar, para fazer comparações, não se atendo ao problema, ao foco - aconteceu esse problema? Vamos resolvê-lo, etc. Partem para uma gigantesca mudança de foco, tirando o foco da verdade, da discussão da verdade, da transparência, da abertura, que é como um Governo deve se comportar, o que preocupa muito, porque isso está ficando quase que uma obsessão do Governo: mentir em qualquer circunstância, desde que sejam preservados os princípios de que o País hoje é o melhor país do mundo, de que nada começou antes do Presidente Lula, de que tudo começou depois do Presidente Lula. Enfim, “nunca antes, na história deste País”, aconteceu alguma coisa boa, a não ser no Governo Lula, e “nunca antes, na história deste País”, só aconteceu coisa ruim antes de começar a história do Presidente Lula. Essa é uma visão claramente totalitária. Essa é uma visão que se constrói...

            Entro de novo na questão Venezuela. A Venezuela claramente, explicitamente, já caminha para uma ditadura. Estamos de uma maneira mais disfarçada, arredondando isso, paralelamente seguindo num caminho semelhante a esse.

            Dizia o Presidente Lula ontem que não sabia o que aconteceu, mas que, com certeza, o Governo Lula fez mais em linhas de transmissão do que nos últimos 123 anos. Eu não entendi. Cento e vinte e três anos. Não me disse nada sobre o que aconteceu, sobre qual foi o problema. Não disse: “Vamos averiguar. Calma, população brasileira! Existe um problema, mas vamos atrás, vamos resolver”. Disse que já fez mais do que nos últimos 123 anos. Entrou todo mundo nesses 123 anos. Depois, o Ministro de Minas e Energia disse que foi a chuva.

            Senador Arthur Virgílio, V. Exª tem casa, e, com certeza, nela há um para-raio. Sua casa está preparada caso chova, caso ocorra uma tempestade ou ventania. O maior sistema de geração de energia e transmissão do Brasil não está preparado para isso. É inacreditável. Isso é brincadeira, Senador Cristovam. Isso é uma brincadeira conosco. Nós não podemos permitir mais que a verdade seja de tal maneira tratada que nós todos brasileiros fiquemos idiotizados, como se não tivéssemos a menor capacidade de entender, de compreender as coisas ou de enxergar as coisas a um palmo adiante do nosso nariz.

            Eu gostaria de chamar aqui, primeiramente, o Senador Arthur Virgílio, que pediu um aparte. Em seguida, o Senador Flexa.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Jereissati, V. Exª se refere ao Ministro Lobão, nosso prezado colega de Senado, que disse “foi a chuva”. Ao mesmo tempo, ele diz “o sistema é sólido”. Se o sistema é sólido, não foi a chuva. Chuva não abalaria um sistema sólido. Se o sistema é frágil, então, não é sólido. Aí pode ter sido a chuva. Qualquer circunstância tem uma contradição brutal que o Inpe vai e desmascara, e os técnicos verdadeiramente isentos vão desmontando, peça por peça, as desculpas desencontradas do Governo. O Presidente Lula pega um número aleatório. Se ele fala 120 anos, parece inverdade; quando ele fala 123, número quebrado, a gente aprende que cola melhor. Podia ser 119. Se falar 123, dez meses e três dias, ficaria mais exato ainda. Mas isso não é verdade. Eu estou até agora sem resposta, e a não vinda da Ministra aqui só corrobora a denúncia que ontem eu formulei, a de que ela, como Ministra, reduziu os investimentos ou viu os investimentos de sua Pasta...

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Eu posso fazer um aparte ao seu aparte?

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Pois não.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - É outro ponto que eu queria tocar, para V. Exª desenvolver. Em todos os acontecimentos “nunca antes da história deste País”, todos - hoje estamos lançando o “programa nunca antes feito na história deste País” -, à frente está a Ministra Dilma, à frente, do lado, tal como...

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Hoje, sumiu.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Sempre do lado. Para a fotografia, é ela quem está na fotografia.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Hoje virou Conceição: se sumiu, ninguém sabe, ninguém viu, não é?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Hoje sumiu.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Virou Conceição.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Quer dizer, no PAC era a mãe do PAC. Agora, eu digo: ela foi Ministra; será que seria justo ou injusto chamá-la de mãe do apagão? Será que é por causa disso que ela não apareceu?

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - E a razão de trazê-la aqui... Longe da mesquinharia de querer afrontá-la, como gostava de afrontar os Ministros do governo passado os que hoje são da base do Governo; não aqueles que estão em qualquer base, não estou falando dessa turma. Vamos falar dos petistas especificamente, dos petistas que eram firmes na oposição a nós e que são firmes na defesa do governo deles, enfim. Vamos botar os pingos nos iis, enfim. Eles eram implacáveis e não aceitam que nós, aqui, questionemos, em nome do povo, as dúvidas que o povo tem. Acusação clara que ontem fiz. Na gestão da Ministra Dilma, por ano, caiu de R$20 bilhões para R$6 bilhões o investimento. E o correspondente a isso, obviamente, em produção de megawatts. Uma queda fora do comum. Ela teria que vir aqui; se fosse parlamentarismo e não essa coisa selvagem que é o presidencialismo, ela já teria comparecido à Câmara, e não ao Senado. Teria comparecido lá, para se explicar. Afinal de contas, é a coordenadora do PAC. Afinal de contas, foi Ministra de Minas e Energia. Afinal de contas, ela que estabeleceu o marco regulatório. O seu discurso é oportuno. Eu tenho aqui alguns dados que eu queria passar. Veja só, Senador Jereissati: o MEC terceiriza para uma empresa chamada Consulplan a elaboração das perguntas. É uma coisa para a gente saber. Eu tenho a melhor impressão pessoal do Ministro Haddad, uma figura simpática, uma figura bem posta, que conversa com elegância, enfim. Agora, veja: eu imagino que o Inep, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, devesse cuidar disso, e não uma empresa terceirizada. Agora, vamos à pergunta. É a pergunta 19.

O título da matéria do O Globo é “Resposta certa, só a favor do Governo”. A pergunta 19 menciona expressamente o nome do Presidente Lula. Diz o enunciado que “Lula foi criticado pela mídia ao afirmar que a crise financeira mundial seria uma marolinha no Brasil”. E continua: “agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula”. Os Municípios estão falidos no País. O Brasil vive uma situação fiscal delicada. Então, estão encucando na cabeça dos nossos jovens, via lavagem cerebral, a ideia de que foi uma marolinha mesmo.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Quase um milhão de pessoas perderam o emprego.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Perderam o emprego. Então, se alguém tivesse uma opinião - há subjetivismo -, se alguém tivesse uma opinião: o seu zé das couves fala “é marolinha”; o seu paulo das couves, primo dele, fala “não foi marolinha”, reprovar-se-ia o paulo das couves, por uma avaliação subjetiva dele. Aí temos aqui a opinião do Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murillo de Andrade, que diz que a questão “está mais para relações públicas e propaganda do que para uma prova com o objetivo de verificar o conhecimento dos alunos”. O repórter Demétrio Weber, que fez a matéria, ouviu o professor da UnB Ricardo Caldas, de Políticas Públicas, para quem a pergunta de número 19 “parece mais um discurso de autodefesa de Lula, quase ufanístico”. Outra pergunta: a de número 5. E eu leio a pergunta sobre o PAC: “O Brasil tem assistido a um debate que coloca frente a frente, como polos opostos, o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Algumas iniciativas merecem considerações, porque podem agravar ou desencadear problemas ambientais de diferentes ordens de grandeza. Entre as iniciativas e suas conseqüências, é incorreto afirmar que..”. Aí, então, eu transcrevo a resposta que, para o MEC, seria a correta, a resposta B: “a construção de grandes centrais hidrelétricas nas bacias do Sudeste e Sul gera mais impactos do que nos grandes rios da Amazônia, nos quais o volume de água, o relevo e a baixa densidade demográfica reduzem os custos de obra e o passivo ambiental. Ou seja, obras meritórias, mas obras feitas pelo Governo do Presidente Lula. Então, tem de acertar de acordo com a visão do Governo. Então, vamos aqui à “Questão nº 3: O Ministério do Meio Ambiente, em julho de 2009, lançou campanha para o consumo consciente de sacolas plásticas...” - elogiando, portanto, a medida. “Questão nº 8: O MEC divulgou, em 2008, que o Brasil não só produz mais da metade dos livros do continente americano...” - ou seja, elogiando que o Brasil produz mais da metade dos livros consumidos no continente americano. A seguir, indaga a questão - esta que vou falar, agora, a resposta correta é a A, para o MEC -, quais das ações não contribui para a formação de uma sociedade leitora. Então, o que não contribui: é “a desaceleração da distribuição de livros didáticos para os estudantes das escolas públicas, pelo MEC, porque isso enriquece editoras e livreiros”. Então, está ali o viés ideológico, está ali a resposta que, se alguém for formado em governismo, acerta todas. Uma pessoa que tenha, porventura, um pensamento de oposição erra todas e é reprovado. Aí se forma uma universidade de pessoas de pensamento único. Então, Senador, acho muito oportuno porque o filho de um amigo meu fez a prova e saiu de lá estarrecido, o moço, porque a técnica não é democrática, a técnica é fascistóide ou, se são de esquerda, é stalinista, não é democrática, não é plural, não admite a diversidade de opiniões. E isso não faz bem à cabeça dos nossos jovens. Isso é tudo que não podemos deixar florescer, deixar vicejar, em matéria de educação. E, por outro lado, não se ofendam, mas o compromisso democrático está sendo arranhado. Eu fico extremamente magoado quando vejo que Honduras, Nicarágua, Rafael Correa, Evo Morales, Hugo Chávez... E o Brasil com a censura ao Estadão por mais de 110 dias. É um jornal sob censura prévia no Brasil. E o Brasil, que tem instituições sólidas, consolidadas, convivendo com censura prévia a um grande jornal. Aí declaram o juiz suspeito, e você supõe, se você não é o Eremildo do nosso prezado amigo jornalista Elio Gaspari; você não é o Eremildo idiota, você diz: “Poxa, mas...” O Eremildo perguntaria o seguinte: “Como é que o juiz é considerado suspeito, e a sua sentença não é revogada, a sua sentença não é suspeita?” O juiz é suspeito por causa da sentença, mas a sentença não é suspeita apesar de ser do juiz. Então, está, no Brasil, eu lamento muito não haver a imortalidade, porque, se houvesse a imortalidade ou, pelo menos, uma longevidade maior, se o ser humano vivesse os 120 anos para os quais ele é organicamente destinado, teríamos conosco, escrevendo, com plena lucidez, o nosso Stanislaw Ponte Preta, o Sérgio Porto. Está fazendo falta para entender este País. Ele estaria com o Febeapá número tal já bem mais avançado do que aqueles que ele escreveu, enfrentando o regime autoritário. Mas o fato é que isto aqui é manifestação explícita de autoritarismo; é tentar formar pessoas com visão ideológica parecida com a do grupo dominante. Isso visa a perpetuar um grupo no poder, porque visa a reproduzir um modelo. Quem é democrata de verdade aceita, como nós aceitamos, que um outro grupo chegue ao poder normalmente, naturalmente. Nós fomos contra o impeachment do Presidente Lula. Nós fomos contra.

            V. Exª, eu, o Presidente Fernando Henrique, todos nós fomos contra o impeachment que se poderia ter decretado ao Presidente Lula àquela altura, quando se falava em mensalão. Nós fomos contra por entender que não se podia desestabilizar o Brasil de doze em doze anos, decretando o impeachment do Presidente, criando aversão ao Brasil perante investidores internacionais, enfim. Fomos sensatos, e alguém dizia: “Mas ele pode vencer a eleição”. E qual é o problema de vencer a eleição? Se eu não estou querendo aquela que fura poço... Como é?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Cargo que fura poço.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Se eu não quero aquele cargo que fura poço, se eu não estou querendo assaltar cofre público nenhum, se V. Exª tampouco o faz, qual é a diferença para nós estarmos no Governo ou na Oposição? Para mim, é o povo que diz para onde eu vou. O povo diz se eu vou para casa ou se eu vou para o Senado. O povo diz se eu vou para a Oposição, quando o meu candidato a Presidente perde, ou se eu vou para o Governo, quando o meu candidato a Presidente ganha. Não vai me fazer ninguém de mariposa, que fica ao redor da luz do poder, embriagando-se com essa coisa ilusória que, no fundo, no fundo, não resolve a vida de ninguém, até porque, se alguém quer dinheiro, que vá construir dinheiro com trabalho profícuo. Não vá mamar nas tetas de estatais, enfim, porque isso é indecoroso, isso não leva a lugar algum. Mas o fato é que temos aqui uma manifestação clara de autoritarismo que merece um exame autocrítico por parte desse bom dialogador, que é o Ministro Fernando Haddad. O Ministro deveria fazer uma autocrítica e dizer: “Puxa vida! Eu não posso me desviar dos meus rumos democráticos”. E fazer com isso, com esse mea-culpa, um gesto que só o credenciaria ao nosso respeito. V. Exª voltaria à tribuna, e eu o apartearia de novo, dessa vez elogiando a integridade intelectual do Ministro. Obrigado, Senador.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio.

            Espero uma explicação do Ministro Fernando Haddad, porque isso não pode ficar do jeito que está.

            Com certeza, também compartilho com V. Exª da simpatia pelo Ministro. É um homem muito elegante no trato, de argumentação sempre muito cortês. Mas seu silêncio também está me preocupando bastante.

            Senador Arthur Virgílio, mais do que os 120 anos, nos meus 60 anos, do que já aqui vivi, na minha experiência de vida, já me parece que estamos num retrocesso enorme, juntando os dois lados piores do nosso passado: o do passado autoritário, o viés autoritário; e o do passado populista, a busca da popularidade fácil por meio de medidas que não são transformadoras nem modificadoras da realidade, mas são paliativos que perpetuam, às vezes, a miséria e a pobreza. Acho que essas duas matizes infelizes do nosso passado estão voltando agora sob faceta diferente.

            Senador Flexa.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Tasso Jereissati, o pronunciamento de V. Exª, por si só, já é elucidativo a toda a Nação Brasileira. O aparte do Senador Arthur Virgílio incorporou importantes dados ao pronunciamento que V. Exª faz. Quero apenas parabenizá-lo, porque, todas as vezes em que V. Exª sobe à tribuna, traz sempre um assunto de maior relevância para a Nação Brasileira. Esse caso lembra muito a época da ditadura militar, a que V. Exª se referiu aí, a forma como foi criada, inclusive, uma disciplina para que pudesse fazer “uma lavagem cerebral” da juventude da época, para dourar a pílula. Também acho que o Ministro, e estive com ele na sanção da Universidade Federal do Oeste do Pará, a Ufopa, tem fino trato e trata as pessoas com toda a cortesia. Mas o silêncio dele... Talvez ele queira que seja entendido como o silêncio dos inocentes. Inocentes de que forma? V. Exª fala na questão, eu diria, das semelhanças entre o Governo de Hugo Chávez e o Governo Lula. Eu diria que as semelhanças são muitas; os métodos é que são diferentes. Realmente, o Presidente Hugo Chávez faz questão de se impor como ditador, mas talvez os fins a que se queira chegar sejam muito próximos aos fins que se pretendem aqui no Brasil. Lembro que, há mais de 15 anos, fiz uma visita a Havana e tive a preocupação, Senador Cristovam, de procurar conhecer o sistema de ensino de Cuba. E fui, Senador Tasso, à porta dos colégios e, quando os meninos saíam das aulas, eu parava para conversar. Eles gostavam muito de caneta Bic e chiclete, para que você pudesse presenteá-los, e pedia para folhear os cadernos. V. Exª deve ter visto e, se não viu, é importante porque deve estar acontecendo até hoje. Os cadernos dos alunos de Cuba eram exatamente dessa forma. Formavam a consciência dos alunos para perpetuar o poder do Presidente Fidel Castro. Tudo era sobre a vida de Fidel Castro e de Che Guevara, fazendo com que eles fossem idolatrados pela população desde crianças de cinco, seis anos de idade. Essa é uma forma, como foi dito aqui, stalinista de se fazer a perpetuação do poder. Hoje, pela manhã, na audiência, o Senador Cristovam esteve aqui e teve a oportunidade de falar e foi colocado que o grande impasse ao desenvolvimento, o grande impasse à paz, melhor dizendo, era a fome. O maior inimigo da paz era a fome e que, lamentavelmente, a fome era utilizada ainda hoje como instrumento de perpetuação do poder. Isso foi colocado hoje aqui na audiência da Unesco, comemorando o Dia Mundial da Ciência pela Paz e Desenvolvimento. É lamentável que isso ainda aconteça em pleno século XXI. V. Exª tem toda razão e, nós, como diz o Senador Arthur Virgílio que fomos aqui colocados pelo povo para fazer oposição, somos responsáveis para que possamos esclarecer à população do Brasil sobre essa lavagem cerebral com todo esse ufanismo. Como se tudo aquilo que é de bom, que é para fazer de forma messiânica, trazer as informações de forma messiânica, aparece a Ministra Dilma, como a mãe do PAC, a mãe do ‘Minha Casa Minha Dilma’, mãe do vale-cultura, mãe do bolsa telefone - vai ter um bolsa telefone também. E, lamentavelmente, nos momentos em que ela precisa vir a público para esclarecer o que não foi feito durante a sua gestão à frente do Ministério das Minas e Energia e que acarretaram ou poderão ter acarretado o apagão, lamentavelmente ela é protegida, como V. Exª disse; ela toma chá de sumiço. Parabéns, Senador Tasso Jereissati.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Flexa.

            Há mais dois pedidos de aparte, Presidente. Senador Mário Couto e, em seguida, o Senador Cristovam... Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Tasso Jereissati, quando vi a notícia sobre esse assunto, no primeiro momento, claro que preocupei. Mas, como já fui Governador, como o senhor também, eu disse: é capaz de ter sido uma instituição paralela ao Governo, algum puxa-saco do Governo. Amanhã sai o protesto do Ministro e do Governo. Para mim, o mais grave não foi aquilo ter acontecido, foi não ter havido até aqui explicação plausível e um depoimento claro do Governo, dizendo que nada tinha a ver com isso e que não aceitava esse tipo de coisa. Esse silêncio me preocupa ainda mais do que o fato. Por isso, acho importante o seu pronunciamento. Agora, quero analisar o assunto dessas questões do ponto de vista da educação. São questões deseducadoras, não apenas pelo lado de promoção de um governo dentro de uma prova, mas porque fala que a crise já teria sido eliminada e acabada, ou seja, educa de uma maneira errada, dando a entender que o problema é puramente econômico. Quando a gente tem que enfrentar essa crise sob a ótica da economia, do social, do ecológico e do financeiro. Até possível que a crise econômica, medida pela falta de crescimento, tenha sido uma marolinha, porque estamos com uma taxa de crescimento positiva. Mas essa taxa está sendo às custas do endividamento muito grande da população para comprar os produtos, e mais adiante haverá uma crise financeira, certamente, com uma crise ecológica que se agrava, porque cada produto desses vendidos na forma como são produzidos ainda hoje, sem uma mudança do perfil industrial nem da matriz energética, vai gerar problemas ecológicos, porque, em geral, a nossa indústria, sobretudo a de bens caros, que é o carro-chefe da economia, exige uma certa concentração da renda. Por isso, além de um fato manipulador, é um fato deseducador. Isso é muito grave. E, nesse sentido, acho que o Ministro devia deixar claro que não é por culpa dele, é punir quem fez isso. Não vou dizer cancelar a prova obviamente, aí seria muito grave, embora ache que, se algum aluno entrar na Justiça pedindo que seja cancelada, algum que for reprovado, dizendo que foi reprovado porque não levaram em conta a opinião dele - opinião não, a resposta dele, porque uma coisa é a resposta, outra coisa é a opinião -, ele é capaz de ganhar e anular tudo isso. É capaz. Mas o Ministro precisava ter dito alguma coisa que desautorizasse quem fez esse tipo de questionamento e deveria ter se comprometido que isso não vai se repetir, porque o medo que fica é que isso passe a ser uma regra.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque, sua participação é sempre importante. Suas palavras, com a credibilidade que V. Exª tem na área da educação, com certeza, espero que o Ministro as esteja ouvindo, preocupado com o que aconteceu, e venha aqui, nos dê uma satisfação sobre o que aconteceu e quais as medidas que pretende tomar, porque, sem dúvida alguma, como V. Exª disse, é extremamente preocupante o silêncio do Governo após o evento ter sido divulgado pela imprensa toda, no Brasil todo. E conivente, mais uma vez, como se achasse natural que esse tipo de coisa acontecesse.

            Concedo um aparte ao Senador Mário Couto.

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Senador Tasso Jereissati, primeiro, parabéns pelo vosso pronunciamento na tarde de hoje, muito oportuno para a ocasião em que vive o nosso País. Senador, por várias e várias vezes, o Senador Mário Couto esteve nesta tribuna onde V. Exª acaba de fazer um brilhante pronunciamento à Nação brasileira, para que cada cidadão brasileiro hoje, antes de dormir, depois de sua oração, possa refletir sobre o que V. Exª falou desta tribuna na tarde de hoje. Eu, por muitas vezes - repito - já vinha chamando a atenção exatamente para o que V. Exª acaba de nos falar. Vinha dizendo que o País começa a entrar numa ditadura política. A cada ano nós avançamos nessa ditadura política. Ora, Senador, me diga uma coisa, nós estamos a menos de um ano para as eleições, eleições gerais neste País. Como é que um Presidente da República, um homem que deveria dar exemplo à Nação, exemplo de cumprimento das leis que esta Nação tem, é o primeiro homem que não cumpre as leis neste País. Senador, por que o Presidente pode e os outros políticos não podem? No meu Estado quem coloca um outdoor atualmente é multado em R$100 mil, R$150 mil. Eu estou pagando essa multa por ter feito isso, sem saber, sem conhecer direito aquele retalho de lei que fizeram na última eleição. Estou pagando do meu salário. O Presidente Lula, então, deveria estar cheio de multas, porque está agredindo a lei eleitoral. Senador Tasso, é lógico que isso qualquer pessoa concebe na sua mente. V. Exª acabou de dar um exemplo. V. Exª passou pelo exemplo que vou dar, rapidamente sobre a bolsa celular. O País hoje, a cada dia que acorda, acorda com a notícia de uma bolsa. Qual é o cidadão brasileiro que não gosta de ter uma notícia dessas? Quem é que não gosta, o cidadão pobre? Qual é o cidadão pobre que não quer ganhar algo de graça? Ontem até citei um exemplo aí, inspirado na novela Caminho das Índias da Globo. Eu até dei esse exemplo e vou repetir a V. Exª. Vou dar o exemplo. Se o nobre Senador Flexa Ribeiro diz para o Senador Mário Couto: “Mário Couto, eu vou te dar uma bolsa, a bolsa dinheiro”. Qualquer uma, essa bolsa família. E o Senador Flexa Ribeiro passa a me dar a bolsa. Mais tarde, o nobre companheiro chega e diz novamente: “Agora eu vou te dar um telefone celular”. Depois chega e diz: “Agora vou te dar a entrada para o cinema e para o teatro, de graça”. Lógico que passarei a gostar do Senador Flexa Ribeiro. Mas pergunto ao Senador: “O senhor me dá uma boa educação?” Ele fala: “Não”. “O senhor me dá uma boa saúde?” Ele fala: “Não”. “Eu estou seguro neste País, posso andar nas ruas das capitais deste País?” Ele fala: “Não”. Aí vem a frase da novela, o Caminho das Índias, que diz assim: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”. Daí a popularidade do Presidente Lula. Está explicado. O cidadão brasileiro sabe que o Lula não vale nada, mas gosta do Lula, porque o Lula dá para ele. V. Exª sabe por que a Dilma não decola e não vai decolar? Porque o cidadão sabe que não é ela, é ele. Aí o seguinte: “Você não vale nada, e eu não gosto de você”. E assim vai ficar a Dilma. Senador Tasso, nós estamos numa ditadura política estabelecida neste País. Desde que cheguei aqui, falo isso, com que V. Exª acabou de preocupar-se dessa tribuna. Que sirvam de reflexão as suas palavras para a Nação brasileira. Meus parabéns! 

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Mário Couto. V. Exª tem sido aqui, nesta Casa, valente, pioneiro em alertar a população brasileira e a nós mesmos, Senadores, de uma série de questões graves que estão ocorrendo, de maneira bastante enfática, bastante incisiva. E sua palavra tem sido muito importante como liderança da chamada resistência que existe nesta Casa a essas coisas que estão acontecendo neste País.

            Senador Mão Santa, agradeço a generosidade de me dar a oportunidade de conceder todos esses apartes aos nossos colegas aqui presentes.

            Muito obrigado, Presidente.


Modelo1 5/6/243:21



Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/11/2009 - Página 58441