Discurso durante a 212ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Professor Hélio Gracie.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ESPORTE.:
  • Homenagem à memória do Professor Hélio Gracie.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2009 - Página 59545
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ESPORTE.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, ATLETAS, PRESENÇA, SESSÃO, HOMENAGEM, PROFESSOR, ESTADO DO PARA (PA).
  • HOMENAGEM POSTUMA, ATLETA PROFISSIONAL, PROFESSOR, DESENVOLVIMENTO, TECNICA DESPORTIVA, DIFUSÃO, LUTA, IMPORTANCIA, ESPORTE, DEFESA, CIDADÃO, AUSENCIA, LESÃO, CONTROLE, ADVERSARIO, COMENTARIO, HISTORIA, FAMILIA, APOIO, ORADOR, INCLUSÃO, PRATICA ESPORTIVA, OLIMPIADAS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente, Senador Arthur Virgílio; Senador Magno Malta; Deputado Marcelo Itagiba; Sr. Rickson Gracie, filho do homenageado; Srª Reila Gracie; Sr. José Landim; Professor João Alberto Barreto; Professor Pedro Valente; Professor Osvaldo Alves, vou ser breve, Presidente Arthur Virgílio. Primeiro, parabenizo V. Exª por ter sido autor do requerimento para que pudéssemos fazer esta sessão especial em homenagem a essa figura exemplar que foi Hélio Gracie. V. Exª é um adepto dos esportes e, em especial, do jiu-jitsu. Eu tenho acompanhado V. Exª e tenho visto a forma como V. Exª vibra com o esporte e, mais do que isso, busca apoiar o esporte brasileiro.

            Algum tempo atrás V. Exª esteve, entre as várias vezes que já foi ao meu Estado, ao nosso Estado, porque V. Exª é paraense de coração, estivemos na Ilha do Marajó, a maior Ilha do mundo, marítima, fluvial, pega uma parte do mar e uma parte do rio Amazonas. Lá os caboclos marajoaras têm uma luta chamada luta marajoara. É uma mistura, segundo o professor Arthur Virgílio, é uma mistura do jiu-jitsu com a greco-romana, tanto que, àquela altura, o Senador Arthur Virgílio teve a oportunidade de fazer uma experiência, de praticar a luta com um dos caboclos lá do Marajó. E ficou tão entusiasmado que nós íamos fazer um trabalho no sentido de levar a luta marajoara para ser incorporada ao esporte brasileiro, também para que pudesse ser divulgada.

            Quero, ao iniciar estas palavras, dizer que estou de pleno acordo e me incorporo, apesar de não ser atleta, à tentativa e ao esforço de todos para que possamos ter o jiu-jitsu incorporado às Olimpíadas, como uma disputa nas Olimpíadas.

            Falar de Hélio Gracie, para mim, é de uma alegria muito especial, porque represento nesta Casa o Estado do Pará, onde nasceu Hélio Gracie. O Brasil pode até não ter conhecimento disso, mas foi lá no Pará onde ele nasceu, em 1º de outubro de 1913, e onde começou sua vida esportiva. Hélio, que faleceu aos 96 anos, agora recentemente, foi um daqueles heróis brasileiros que nunca esqueceu suas origens, sua formação tenra e precoce.

            Ainda há pouco, eu chegava aqui e ouvia atentamente a Srª Reila Gracie fazer sua exposição e ela falava do açaí. Ela dizia que estavam exportando palmito em vez de exportar a fruta. E agora estamos exportando a fruta. E o açaí hoje se tornou uma commoditie, de tão importante que está pela suas características energéticas.

            Só que o açaí que eles tomam lá fora não é o açaí nosso. Queria ter a oportunidade de convidar todos a tomarem o verdadeiro açaí, que não é aquele açaí misturado com granola, com guaraná.

            À vontade, Senador Magno Malta. Mas, se eu trouxer o açaí verdadeiro, V. Exª, que já é um ativo Senador, não vai dormir por 72 horas. Vai ficar aqui, no plenário, em vigília o tempo todo tal a força que terá.

            E a Srª Reila tem toda razão sobre o fato de a gente prestigiar as coisas do Brasil e, no caso específico, do Pará. Por isso, fiz questão de retornar para usar da palavra para prestigiar, homenagear, reverenciar o paraense Hélio Gracie. (Palmas.)

            Como bom paraense, nascido sob as bênçãos da floresta e com a força natural do caboclo da Amazônia, Hélio soube compensar sua compleição física diminuta com uma técnica e uma força mental inigualáveis.

            Embora, depois, radicado no Rio de Janeiro, já crescido, porque eu tenho a informação aqui de que foi lá, no Pará - se eu estiver errado, corrijam-me, por favor, Senador Arthur Virgílio -, que o jiu-jitsu começou. Eu li que, em 1914, chegou ao Pará o japonês Matsuo Maeda, que levou a luta. E, lá, o Gastão Gracie e seus filhos começaram a adotar esse tipo de luta. Então, o Pará foi o berço do jiu-jitsu e fez com que nós pudéssemos exportar para o Rio de Janeiro, Itagiba, o nosso Hélio. E lá ele fez a sua vida de glória. Como eu disse, embora radicado no Rio de Janeiro desde criança, levava o sangue paraense ao subir aos ringues e tatames, demonstrando invulgar destemor diante de oponentes muitas vezes com o dobro da sua envergadura.

            Era, por assim dizer, a representação humana da bravura do nosso povo que, a despeito de todas as dificuldades imanentes, levanta e não foge à luta. Acabou por criar um estilo de luta que hoje é estudado e seguido no mundo inteiro, batizado orgulhosamente pela alcunha de Brazilian Jiu-Jitsu.

            Nos anos 50, suas lutas mobilizavam o País. Diante de um Maracanã sempre lotado, impunha seu estilo de combate no solo, até mesmo contra judocas experimentados, que ficavam atônitos ao ver aquele brasileirinho franzino domá-los com tanta destreza. Até mesmo nas raras vezes em que perdeu, como diante do japonês campeão mundial Kimura, demonstrou inacreditável fibra: mesmo com um braço quebrado e semi-consciente, queria continuar lutando, sendo o combate interrompido somente pela intervenção de sua equipe técnica.

            A pedido do Senador Arthur Virgílio, não vou fazer a leitura de todo o pronunciamento, porque muitas das coisas aqui já foram ditas, mas vou fazer uma referência que eu não poderia deixar de fazer.

            Nesta sessão especial em que estamos homenageando a figura magistral do paraense Hélio Gracie, não podemos deixar de reafirmar aqui a filosofia encampada pelo mestre do jiu-jitsu brasileiro.

            Foi o mestre lutador que melhor compreendeu o esporte - e o orador que me antecedeu bem explicitou isso - como ferramenta redentora, como mecanismo de resgate da autoestima, do equilíbrio e da sociabilidade muitas vezes perdida em nosso árduo cotidiano.

            O povo do Estado do Pará tem muito orgulho desse seu filho honrado, que soube superar todas as adversidades que a vida lhe impôs com muita dedicação, tenacidade e esforço.

            Na memória de Hélio Gracie fica depositada a nossa esperança de uma sociedade mais harmoniosa e justa, calcada nos valores tão bem cultivados por este grande mestre do esporte brasileiro. Um mestre que deixa seu legado, sem dúvida alguma. O Brasil é uma das potências nesse esporte que conquista cada vez mais adeptos no mundo inteiro.

            E aí quero citar outro nome, por uma questão de justiça. Senador Arthur Virgílio, V. Exª esteve em Los Angeles, há pouco, assistindo à disputa do cinturão mundial do UFC, e lá vem de novo o nosso Pará, de forma invertida. Lyoto Machida, campeão mundial, nasceu em Salvador - diferentemente de Hélio Gracie, que nasceu no Pará e foi fazer a sua carreira de esporte no Rio de Janeiro - e veio criança para o Pará, onde desenvolveu a sua arte, que o levou a ser hoje o campeão mundial. Lyoto Machida, de origem japonesa, fez sua carreira no Pará e hoje brilha no mundo todo, sendo o atual campeão mundial do UFC. Tive a oportunidade de prestar-lhe uma homenagem aqui no Senado Federal, quando esta Casa apresentou voto de aplauso ao campeão pela conquista de seu último título.

            Faço essa aproximação entre o nosso inesquecível Hélio Gracie e Lyoto Machida, porque ambos representaram e representam o Brasil, em nível internacional, com brilhantismo e com amor à nossa Bandeira. Então, o que Hélio Gracie fez ao introduzir o esporte lá por Belém e chegando a títulos mundiais faz agora Lyoto Machida.

            Para terminar, Senador Arthur Virgílio. V. Exª fez referência - e o Senador Sérgio Guerra também - à necessidade de o Governo brasileiro apoiar o esporte, incentivar que a juventude brasileira se dedique cada vez mais à prática do esporte.

            Nós vamos sediar uma Olimpíada em 2016. Nós temos a responsabilidade de preparar os nossos campeões agora, quando eles terão que ser treinados para, daqui a sete anos, com certeza absoluta, colocar o Brasil em uma posição de destaque entre os países medalhistas da Olimpíada. Isso é um trabalho que requer tempo e requer vontade política.

            Senador Arthur Virgílio, eu fui procurado, há cerca de dois meses, no meu gabinete em Belém, por um rapaz franzino. O Senador Arthur Virgílio, no episódio que eu citei lá no Marajó, quando ele olhou para o caboclo, achava que o caboclo não teria força para derrubá-lo, que era franzino também. Esse rapaz que me procurou é lutador de Muay Thai e tinha sido campeão paraense. Não tinha nenhum incentivo, nenhum patrocínio. Ele queria disputar o campeonato brasileiro e, em seguida, o campeonato sul-americano, mas não tinha condições de comprar sequer o uniforme, quanto mais de se alimentar e treinar.

            Eu acreditei no Eric Guimarães Costa e consegui com amigos nossos, empresas amigas, que dessem essa oportunidade a ele para que fosse representar o Pará no campeonato nacional e, em seguida, no sul-americano

            Pois bem. Esse rapaz franzino, que chegou ao gabinete sem marcar audiência, sem nada, só pedindo ajuda, ele hoje, Senador Arthur Virgílio, é campeão nacional e é campeão sul-americano. (Palmas.) E ele está indo agora para a Tailândia, no dia 27 de novembro, disputar o campeonato mundial. Novamente me procurou ele, que não tinha condições de fazer o treinamento e de ter a passagem e condições de estadia lá na Tailândia. Novamente, eu tive que ir aos nossos amigos, e graças a Deus eles ofereceram a passagem, ofereceram o treinamento em Porto Alegre, durante 45 dias, e ofereceram ajuda de custo para que ele possa representar o Brasil lá na Tailândia, no campeonato mundial de Muay Thai, em 27 de novembro.

            Este exemplo do Eric e também o do Lyoto, de quem falei há pouco, é fruto, com certeza absoluta, da semente que Hélio Gracie plantou no esporte brasileiro.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2009 - Página 59545