Discurso durante a 215ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra e o Dia de Zumbi dos Palmares.

Autor
Osvaldo Sobrinho (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MT)
Nome completo: Osvaldo Roberto Sobrinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.:
  • Comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra e o Dia de Zumbi dos Palmares.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/2009 - Página 60388
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, NEGRO, COMENTARIO, RELEVANCIA, GRUPO ETNICO, HISTORIA, BRASIL, REPUDIO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, REGISTRO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, GARANTIA, IGUALDADE, OPORTUNIDADE, NECESSIDADE, RECONHECIMENTO, DIVERSIDADE, RAÇA, PAIS.
  • ELOGIO, ENGAJAMENTO, PAULO PAIM, SENADOR, PERSONAGEM ILUSTRE, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, EX-CONGRESSISTA, DEPUTADO FEDERAL, VEREADOR, SECRETARIO MUNICIPAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), GARANTIA, IGUALDADE, RAÇA, REGISTRO, NECESSIDADE, REVISÃO, HISTORIA, BRASIL, EFETIVAÇÃO, ESTADO, PAGAMENTO, DIVIDA, NATUREZA SOCIAL, NEGRO, COMENTARIO, RELEVANCIA, ATUAÇÃO, SENADO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, GRUPO ETNICO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. OSVALDO SOBRINHO (PTB - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa; Senador Paim, primeiro subscritor do requerimento para realização desta sessão e que honra este Senado pela sua luta, pelo seu trabalho; Sr. José Augusto da Silva, Coordenador Nacional do Fórum Sindical dos Trabalhadores; Senador Inácio Arruda; Senadora que nos honra com a sua presença; companheiros que lutam para que a história faça justiça ao seu trabalho e às suas lutas; hoje é um dia memorável, e o Senado Federal faz justiça à história daqueles que ajudaram e que ajudam a construir este País.

            Não é possível escrever a História do Brasil ou do povo brasileiro sem escrever a história do negro neste País, que é uma história linda, uma história bonita, uma história de luta, uma história de exemplos, uma história de pessoas que edificaram as raízes deste País.

            Este País não teria a história linda que tem se não fosse a existência e o trabalho de vocês.

            Acredito que todos nós temos de lutar para que a igualdade chegue rapidamente a este País. Não é possível, em pleno século XXI, ainda se falar em racismo, que indiscutivelmente existe, e existe de forma monstruosa. Uma forma que desiguala os homens, na liberdade, nos direitos, nas pretensões e nas oportunidades.

            Aqui falou o nosso Senador Cristovam Buarque que essa igualdade só vamos conquistar por meio do processo educativo. É verdade. Não existe outra forma de avançarmos, se não investirmos em educação e se não dermos oportunidade para que todos ingressem na universidade e possam, por meio da competência e da inteligência, mostrar aquilo que sabem. Essa luta pela educação tem de ser travada por todos nós, a fim de que todos possam vencer e ser qualificados por aquilo que podem produzir e não por aquilo que está na sua epiderme ou pela cor que possuem.

            Acredito que o Brasil tem de reescrever a sua história, e a História do Brasil parte da sua população. Somos uma população arco-íris, em que todas as cores fazem parte da nossa história. Portanto, é necessário entender que este é o povo brasileiro: diferenciado. Não há no mundo povo igual, porque somos feitos do índio, do negro, do branco, das raças de todos que para cá vieram e que fizeram nossa riqueza. A riqueza que está aí não foi feita pela elite brasileira, não. A riqueza que aí está - e o Brasil é tido como potência hoje - é a produzida por todos nós. A luta daqueles que por aqui passaram não pode ser em vão.

            Vejo aqui a luta do Senador Paim todos os dias, todas as horas. Quando assume a tribuna, é para falar sobre as desigualdades, combatendo as desigualdades, seja do negro, do índio, dos sem-terra, dos aposentados, daqueles que não têm voz, que não podem falar, que não podem gritar e só gritam pela dor e pelo sofrimento. Sua luta aqui, Senador Paim, tem sido por aqueles que não podem manifestar seu pensamento e sua vontade. Eu diria até que a sua luta aqui e a de outros companheiros também é a que lá, alguns anos atrás, na África do Sul, foi encetada por Mandela (Palmas). O grande Mandela, o homem do século, que verdadeiramente quebrou paradigmas, deu sua vida e sua existência por uma causa. Ficou 27 anos encarcerado, preso e humilhado, mas não renunciou à sua luta e às suas convicções. Brigou, lutou, falou e triunfou. Hoje, a África do Sul é dos negros, que a comandam com seriedade, responsabilidade e progresso. É prova de que valeu a pena a luta.

            A luta do Bispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz, homem que lutou, brigou também e tem conseguido, nas suas lutas, vitórias importantes. (Palmas)

            Não podemos deixar de falar também no Reverendo Luther King, que deu a sua vida, a sua existência, por uma causa também americana, pelo povo americano.

            Não podemos deixar de falar aqui de outras grandes pessoas que passaram por este Congresso, como Benedita da Silva, nossa colega na Constituinte, que lutou, trabalhou, e luta até hoje por causas maiores como a nossa.

            Não podemos deixar de falar no Caó, também nosso colega aqui, cujos projetos todos foram em defesa da raça negra. Não sei onde anda Caó. Está no Rio de Janeiro? Grande homem, grande lutador, inteligente, competente, que aqui deixou a sua marca.

            Edmilson Valentim, nosso Deputado Federal, que aqui passou também como Constituinte, do PCdoB.

            Não podemos deixar de falar no Senador que passou aqui e que assumiu sua negritude, Valdo Varjão, de Mato Grosso. “Negro sim, escravo não” era o lema dele.

            Não podemos deixar de falar no Rinaldo Ribeiro de Almeida, lá de Cuiabá, vereador, que lutou e luta todos os dias, intransigentemente, na defesa de suas convicções. Jacy Proença, ex-Prefeita de Cuiabá, Secretária Municipal hoje, que luta também, todos os dias.

            São pessoas cuja voz, cujo trabalho são apenas o reflexo da luta de Zumbi. Zumbi está em cada um de vocês, em cada um de nós. Em cada um daqueles que assomam à tribuna e assumem convicções também. Em cada um daqueles que não têm medo de falar a verdade, de mostrar ao Brasil que precisa quebrar alguns paradigmas, que precisa fazer um reencontro com a sua história, com o seu povo, com a sua gente, com as suas origens, com as suas raízes.

            Precisamos fazer o reencontro desta Nação, pagando as grandes dívidas sociais que temos, principalmente com os negros, dívida esta que muitos teimam em dizer que não existe, mas existe e é profunda. Ela está na alma daqueles que comandam este País, das elites dominantes, que não têm a mínima responsabilidade com a igualdade social. É necessário, sim, lutarmos todos os dias. É necessário trabalharmos nesse sentido.

            E feliz o povo que tem aqueles que podem cantar para que haja justiça. Feliz o povo que teve um Castro Alves para cantar as suas ilusões, as suas desilusões e as suas razões. Feliz o povo que teve José de Alencar, que, no seu tempo, na sua hora, no seu momento, falou aquilo que pensava. Feliz o povo que tem um pouco do espírito, da alma, das lágrimas de Zumbi. Feliz o povo que vem aqui hoje, faz a sessão no Congresso Nacional, no Senado da República, para dizer que temos dívidas, sim, a pagar.

            Portanto, Senador Paim, neste momento estou feliz de participar desta sessão, porque aqui podemos fazer o registro da nossa confissão de fé de que este País, lindo como é, grande como é, de dimensões continentais, com uma população de quase 200 milhões de brasileiros, este País precisa fazer uma revisão de sua História. Mas aqui, a cada dia, todos os momentos, há sempre uma pregação, há sempre uma luta colocada. E com relação a essa luta toda do Senado da República, do Congresso Nacional, quero fazer aqui a homenagem a V. Exª, que tem feito por merecer. Feliz o povo que tem um Paim numa Casa congressual defendendo os seus direitos. (Palmas) Feliz o povo que tem um Cristovam Buarque, que não se cansa em falar em educação nesta Casa. E fala todos os dias, e fala com convicção. É uma nota só? É, mas fala todos os dias. Infelizes aqueles que nunca falam. Felizes, minha Senadora, aqueles que têm a senhora na Comissão de Assuntos Sociais defendendo as suas convicções. E o Mão Santa, que não se cansa de falar todos os dias aqui também, fala com convicção.

            Estou feliz por participar desta equipe de homens e mulheres que, todos os dias, têm temas e temas em nome daqueles não podem falar.

            Tem muita gente que pode falar e fala demais. Mas há alguns que não podem falar e têm que ter representantes aqui. Não esqueçam: os senhores têm que continuar com representantes autênticos aqui nesta Casa, porque assim a sua voz será sempre alta e será sempre ouvida.

            Fico feliz e agradeço a oportunidade. E quero dizer que contem comigo nesta luta, porque tenho certeza de que ela é justa e que o Brasil deve a vocês, o Brasil nos deve, nesta luta de remissão dos pecados que cometeu durante a sua história toda.

            Muito obrigado. Felicidade a todos. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/2009 - Página 60388