Discurso durante a 216ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamentos sobre as causas do apagão elétrico ocorrido em diversas regiões do país na última semana.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Questionamentos sobre as causas do apagão elétrico ocorrido em diversas regiões do país na última semana.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/2009 - Página 60493
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, INTERRUPÇÃO, FORNECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, PARTE, TERRITORIO NACIONAL, DEFESA, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, GOVERNO FEDERAL, POPULAÇÃO, CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • REPUDIO, COMPARAÇÃO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO FEDERAL, ATUALIDADE, CRITICA, AUTORITARISMO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, DEFESA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, SETOR, ENERGIA ELETRICA, GARANTIA, SEGURANÇA, POPULAÇÃO.
  • REGISTRO, APREENSÃO, POPULAÇÃO, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, GOVERNO, MELHORIA, SAUDE, EDUCAÇÃO, CRESCIMENTO, OPORTUNIDADE, TRABALHO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente! É sempre um prazer enorme tê-lo aqui na Presidência desta Casa. V. Exª se tornou conhecidíssimo no país inteiro por meio da TV Senado, pela sua cultura e principalmente pelo seu tino e pela sua perspicácia a respeito de todos os temas.

            Srs. Senadores, a história é um processo que nos ensina que a arrogância é sempre uma péssima companheira. Os acontecimentos devem ser olhados sob a ótica da cautela e da humildade, porque no Brasil nada se transforma como num passe de mágica. Nossa realidade tem uma dinâmica que se constrói no aprendizado do dia a dia, com muita ponderação, paciência e bom senso. É assim que o brasileiro trabalha. É pensando, discutindo e conversando que as coisas vão acontecendo neste País.

            A questão do recente apagão que atingiu 18 Estados brasileiros e mudou a rotina de mais de 60 milhões de pessoas é emblemática. É o exemplo que quero dar para isso que acabei de colocar como conceito.

            Independentemente de sermos Governo ou Oposição, temos que atuar sempre em favor da transparência. O povo tem o direito de saber aquilo que se passa no País, tem o direito de saber o que aconteceu com ele, por que tivemos um apagão. Isto é, tem o direito de saber onde está o erro, o que faltou, o que vamos fazer para consertar aquilo que aconteceu. Quero dizer que o cidadão brasileiro tem direito à verdade e a explicações plausíveis.

            Tenho acompanhado o debate sobre as causas desse desastre e posso concluir que, seja qual for a origem do problema, uma coisa é certa: ele ensinou a todos nós - políticos, técnicos, empresários, especialistas no assunto - que o imponderável nos espreita e qualquer governante que se arrogar dono da verdade vai, certamente, perder sempre.

            Tenho visto, no debate político brasileiro, esse erro se repetir. O processo eleitoral do próximo ano começou prematuramente e sob os auspícios do Presidente Lula. Já falamos isso aqui e todos têm falado muito nisso. Mas, principalmente, o que me preocupa é a sinalização que este Governo e os políticos ligados a este Governo têm dado de que vão colocar no centro do debate as comparações entre o Governo Fernando Henrique Cardoso e o Governo Lula.

            Essa é uma preocupação que me cala fundo, Senador Geraldo Mesquita. Afinal de contas, o mundo muda, as circunstâncias mudam, a forma de as pessoas conviverem entre si muda e, principalmente, os interesses mudam. Portanto, não há como a gente querer comparar dez anos atrás com o momento de hoje.

            Quero dizer que o que devemos fazer é justamente uma comparação global, da época da globalização, da época da Internet, da época em que as coisas se tornam velhas simultaneamente, pois algo que agora é novidade não o será daqui a pouco. Antes falávamos em séculos; hoje estamos falando em décadas. Então, as mudanças estão acontecendo muito rapidamente e, portanto, não há como não pensarmos nas mudanças como processo histórico. E aqui, nada mais justo do que pensarmos na nossa história, nos problemas que estamos enfrentando e nessa forma de perspectiva histórica e de um processo de construção permanente que deve afetar todos nós.

            Por isso, tornou-se comum dizer que muitas das conquistas do Governo Lula foram gestadas no Governo Fernando Henrique. E também muitos dos problemas que foram evitados no atual Governo ocorreram por causa de medidas adotadas naquele período, como a queda da inflação, a política cambial, as criações das metas inflacionárias, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o saneamento dos bancos. Tudo isso deu o substrato e a força para que o Governo Lula conseguisse superar aquilo que hoje é uma das maiores crises por que o mundo já passou. E o Brasil passou esse momento histórico de uma forma mais segura.

            Acredito que dizer que o apagão do Governo Fernando Henrique é igual ao apagão do Governo Lula não é possível. São dois momentos diferentes, características diferentes e, provavelmente, origens diferentes. Embora a gente não saiba ainda qual é a origem efetiva daquilo que aconteceu há duas semanas aqui no País.

            Por isso acredito muito que iludir a sociedade é dizer a ela que essa comparação deve existir e é sobre ela que vamos fazer nossos debates futuros. Isso é iludir mesmo a população e a sua boa-fé.

            Cada tempo tem o seu tempo. E é isso que temos que ter em mente, trabalhando com questões fundamentais. O que quero é um debate honesto, sem mistificações, um debate às claras, que a população brasileira possa acompanhar e possa, sim, saber aquela linha, aquela metodologia, aqueles conceitos que são melhores para ela e aquilo que lhe dá mais tranqüilidade para o seu futuro e da sua família.

            Portanto, eu quero dizer que, quando ouvi a Ministra Dilma dizer, com muita arrogância, que apagão não iria acontecer nunca no Governo Lula, uma semana depois acontece o “apagão”. Parece até que Ele, lá em cima, resolveu mostrar que arrogância não é o melhor para governar este País, que este é um País de homens e mulheres que não usam arrogância e prepotência como pano de fundo da discussão das questões mais importantes do País. O povo brasileiro não é visto dessa maneira. Poucos são aqueles que dirigem este País que são vistos com extrema arrogância. E a Ministra Dilma mostrou isto: a prepotência em emitir conceitos que, logo depois, foram destruídos.

            Descobrir essas causas do “apagão”, desse último “apagão”, é essencial principalmente porque demonstra um compromisso com o futuro do País.

            E aqui eu quero fazer uma pausa, Senadora Maria, que está aqui conosco - é um prazer enorme -, e Senador Geraldo Mesquita. O povo brasileiro quer, sim, entrar numa campanha política para 2010 pensando no futuro. Não interessa a ele voltar ao passado e fazer comparação de governos. O que o povo brasileiro quer? O que nós queremos? É saber se quem vai governar o País vai ter competência gerencial para fazer com que este País avance no desenvolvimento, principalmente no desenvolvimento sustentável. Essa é a linha que o povo vai querer. Nós vamos discutir, em 2010, as propostas de quem vai dirigir este País.

            Não interessa discutir propostas de quem já passou.

            O povo não vai ser governado pelo Lula. Vai ser um outro governante. E esse governante deve dizer à população brasileira, de forma clara, lúcida e competente, qual é o rumo que o País vai ter nos próximos anos.

            É desse rumo e do nosso futuro que vai depender muito a vida, a segurança e a tranqüilidade do povo brasileiro.

            Eu quero dizer a todos os que trabalham neste País, em qualquer área, que todo cidadão brasileiro vai querer saber se a educação vai melhorar. Ele vai querer saber se as filas nos postos de saúde vão diminuir. Ele vai querer saber se vai haver mais trabalho. Ele vai querer saber se o meio ambiente vai estar apto a lhe oferecer uma vida digna por muitos e muitos anos. Ele vai querer saber de todos aqueles pontos de referência importantes para a sua vida.

            Portanto, quando eu vejo colocarem a política como uma questão maior no equilíbrio, mas principalmente na comparação entre dois Governos, eu quero dizer que, como o “apagão”, nós precisamos saber das verdades que existem, das linhas que cada um está tomando, daquilo que é importante para o País, mas precisamos muito mais garantir o nosso futuro.

            Eu quero saber se o apagão aconteceu e o que estão fazendo para resolver a causa. Eu quero saber se apagão vai ter sempre. Eu quero saber se isso é o início e o prenúncio de algo mais grave que possa acontecer no País. Eu quero saber se a construção das novas usinas vai dar conta do recado. Eu quero saber se talvez não seja só usinas hidroelétricas, talvez precisemos passar para outras fontes de energia, não ficarmos só dependendo de seca ou excesso de águas. Quer dizer, são coisas que nós precisamos saber. Isso, sim, nós queremos saber, mas não é só saber por saber. Não é saber só para bater no Governo. Não é saber só para fazer oposição ao Governo. Eu quero saber pelo nosso futuro, para o povo brasileiro saber para onde nós vamos e que segurança nós temos para caminharmos.

            E é pensando nisso que eu quero aqui lembrar algo que aconteceu na semana passada também. O “apagão” está sendo usado também para dar luz a outros temas fundamentais da nossa realidade. E eu quero fazer minhas aqui as palavras do Senador Cristovam Buarque, que disse, nesta tribuna, algo fundamental: o “apagão” colocou na agenda brasileira os apagões invisíveis do dia a dia. E falou dos apagões invisíveis: o apagão do Enen e do Enad, o apagão da infraestrutura, o apagão moral e ético, o apagão da segurança pública, o apagão da Previdência Social, o apagão da censura à imprensa, enfim, tudo aquilo que está latente, enfraquecendo a força moral do povo brasileiro.

            E nós precisamos reagir. Precisamos fazer e compreender que é nesse diapasão que é importante discutirmos as questões brasileiras agora e para o próximo ano, principalmente para as eleições do próximo ano, principalmente garantindo a obediência à lei e garantindo a todo o povo brasileiro a tranquilidade de saber que nós temos um Governo que vai a fundo nos problemas e que não usa a mistificação da propaganda para enganar o povo.

            E é com essa tranquilidade, com essa transparência, com essa seriedade que a gente espera que o Governo dê respostas aos nossos grandes problemas brasileiros.

            Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/2009 - Página 60493