Discurso durante a 239ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre o pronunciamento do Senador Pedro Simon, na sessão de ontem, quando fez leitura de carta enviada à Presidenta Nacional do PMDB, Deputada Íris de Araújo, sobre a crise de corrupção por que passa o Governo do Distrito Federal. Importância do debate ideológico, o que, na opinião de S.Exa., deixou de existir no Governo Lula, reconhecendo, todavia, as qualidades de estadista do Presidente da República.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ECONOMIA POPULAR.:
  • Reflexão sobre o pronunciamento do Senador Pedro Simon, na sessão de ontem, quando fez leitura de carta enviada à Presidenta Nacional do PMDB, Deputada Íris de Araújo, sobre a crise de corrupção por que passa o Governo do Distrito Federal. Importância do debate ideológico, o que, na opinião de S.Exa., deixou de existir no Governo Lula, reconhecendo, todavia, as qualidades de estadista do Presidente da República.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/2009 - Página 65151
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ECONOMIA POPULAR.
Indexação
  • ANALISE, DISCURSO, PEDRO SIMON, SENADOR, RELEVANCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), COMENTARIO, CARTA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DEFESA, MOBILIZAÇÃO, SOCIEDADE, COMBATE, SITUAÇÃO.
  • CRITICA, TRANSFORMAÇÃO, ATIVIDADE POLITICA, PROFISSÃO, DEFESA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ESTABELECIMENTO, PRAZO, MANDATO, FUNÇÃO.
  • CRITICA, INEXISTENCIA, EMPENHO, DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS, SENADO, BAIXA, FREQUENCIA, SENADOR, PLENARIO, TOLERANCIA, CORRUPÇÃO, PODERES CONSTITUCIONAIS, IMPUNIDADE.
  • CRITICA, TRANSFERENCIA, RESPONSABILIDADE, EDUCAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, FALTA, PARTICIPAÇÃO, FAMILIA, OMISSÃO, INSTRUMENTO, ENSINO, TELEVISÃO, REGISTRO, DIFICULDADE, APROVAÇÃO, PROJETO, AUTORIA, ORADOR, OBRIGATORIEDADE, PRESENÇA, ESCOLA PUBLICA, PAES, ESTUDANTE, BOLSA FAMILIA, MOTIVO, ACOMPANHAMENTO, EMPENHO, ALUNO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROMOÇÃO, RETROCESSÃO, IDEOLOGIA, BRASIL, INEXISTENCIA, DEBATE.
  • RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, POLITICA EXTERNA, GOVERNO FEDERAL.
  • CRITICA, INEXISTENCIA, IDEOLOGIA, PARTIDO POLITICO, AUSENCIA, LIDER, BRASIL, FALTA, COMPROMISSO, CONGRESSISTA, MELHORIA, SOCIEDADE, EXCESSO, PRIORIDADE, POLITICO, PESQUISA, ELEIÇÃO, ANALISE, INFLUENCIA, GLOBALIZAÇÃO, PERDA, FORMAÇÃO, LIDERANÇA, DEFESA, REFORMULAÇÃO, ATIVIDADE AGRICOLA, PAIS.
  • REPUDIO, PROPAGANDA, BEBIDA ALCOOLICA, TELEVISÃO, ANUNCIO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, OBRIGATORIEDADE, COLOCAÇÃO, MENSAGEM (MSG), ROTULO, BEBIDA, CONSCIENTIZAÇÃO, RISCOS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, apenas antes de começar a razão do meu discurso...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permita-me, Senador! V. Exª não deve brincar com essa história de gaúcho, porque o gaúcho é capaz de levar a sério, e aí a coisa vai adiante!

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - V. Exª sabe da admiração...que a pessoa que mais quero, depois da Adalgisa, é uma filha que se formou em medicina e está no Rio Grande do Sul, buscando sabedoria e ética.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - O senhor falou aqui que o mar é de corrupção. Acho que é a expressão que a gente deveria usar é o mar de lama. Há um rock que diz que o Eixão é a nossa praia, aqui no Distrito Federal. Parece que a nossa praia hoje é de lama.

            Mas, Sr. Presidente, embora eu não venha falar especificamente deste caso de Brasília, o que venho falar tem a ver, porque quero repercutir o discurso feito ontem aqui, nesta tribuna, pelo Senador Pedro Simon.

            Em geral, os discursos que fazemos aqui vêm e vão embora, ninguém toma conhecimento, ficam para os Anais, um dia a gente publica e nada mais.

            Creio que o discurso de ontem não merecia apenas o aparte que fiz, mas merecia, em primeiro lugar, a releitura de algumas frases - poucas, para não tomar o tempo. E, depois, uma pequena reflexão, Senador Pedro Simon, sobre onde erramos e o que fazer.

            Algumas frases do Pedro Simon que creio que vale a pena lembrar: ele diz que nós todos estamos vivendo um impacto tremendo com os fatos do Governo de Brasília. Eu diria: os fatos e as fotos. Porque essas duas coisas juntas criaram esse impacto terrível sobre a posição de Brasília no cenário nacional no que se refere a essa realidade desses últimos dias.

            Creio que uma frase para a qual vale a pena chamar a atenção é quando ele diz que o constrangimento é geral. Na carta que ele leu aqui à Presidenta do PMDB: “O constrangimento é geral e atinge, desde ontem, o próprio PMDB, ferido com o envolvimento de nomes ilustres de seu comando nacional”.

            Creio que vale a pena também citar uma frase que ele diz: “Eu me sinto achacado por esses fatos” ou “achatado [como está escrito aqui] por esses fatos”. “Tenho dito e repito: não espero deste Congresso quase nada”. E diz: “Perdoe-me [estava se dirigindo a mim], mas falo com quase 60 anos de vida pública, com quase 80 anos de idade, e fechando 32 anos só nesta Casa”. E ele continua dizendo: “Não tenho direito de ter esperança; pelo que está acontecendo, não tenho direito de ter esperança!”.

            Uma frase extremamente forte para alguém como o Senador Pedro Simon, com a respeitabilidade, com a experiência e com as utopias que ele carrega dentro dele.

            Mais adiante ele diz: “Na lei que votamos aqui [Lei de Reforma Eleitoral] não teve uma vírgula em temos de moralização”. Veja que frase para ficar na história. “Não teve uma vírgula de moralização”. “Acho que a sociedade tem que acordar”. E ele diz: “Acredito na ira popular, e acho que deve ser feito isso”. Ele transfere, de certa forma, coerentemente, ao dizer que não tem esperança, para a população a mobilização no sentido de tomar as rédeas deste País. E diz “acho que o momento é agora”.

            Quis lembrar essas frases para retomar também a provocação que fiz, quando disse que nós daqui podemos até, se for o caso, perder a esperança, mas não podemos perder a vontade de lutar; e, para ter a vontade de lutar, podemos até não ter esperança, mas temos que ter um objetivo aonde chegar. Ainda que a gente diga que não tem esperança de ver aquele objetivo na vida da gente, mas a gente tem que ter um objetivo. E aí, Senador Pedro Simon, as minhas reflexões em cima do seu discurso: onde erramos, e o que fazer?

            Claro que são muitos outros pontos além desse, e eu acho que esse discurso deveria merecer um pouco de reflexão de todos nós.

            Eu tenho a impressão, Senador Mão Santa, de que uma das coisas que nos fez chegar aqui é a profissionalização da função política. A política deveria ser uma função, Senador; virou uma profissão. Nós deveríamos ter aqui a clareza de que estamos com uma função específica, com um mandato determinado para realizar uma tarefa clara numa luta de construir um País melhor. Lamentavelmente, nós transformamos a função política em uma profissão de políticos. Qualquer dia desses, entre tantos projetos de regularização, é capaz de chegar um de regularizar a profissão política e dizer que só pode ser político e candidato quem já tiver mais de tantos anos de mandato. Virou uma profissão. Perdemos o espírito público de uma função que exercíamos provisoriamente e assumimos a ideia de uma profissão que temos que fazer com que seja mantida permanentemente, impedindo a morte, tomando os remédios, indo aos médicos, tomando cuidado com a saúde e, ao mesmo tempo, buscando os votos para continuar, mas não na função, não nos objetivos da luta, mas no exercício de uma profissão como se fosse um caráter permanente.

            A atividade política não pode ser vista dessa forma. Nós só nos justificamos aqui enquanto tivermos uma função a cumprir, e não um título a manter. E é por isso que, dentro da ideia do que fazer, eu volto a insistir em uma ideia que há anos e anos eu defendo - coloquei em livros, coloquei em um projeto de lei: que a gente tenha prazos de mandatos para as funções. Pode até mudar de uma para outra nos mandatos, mas não permanentemente naquela.

            O segundo é - eu não encontrei a palavra correta, talvez esta nem esteja no dicionário - um certo desfazimento do trabalho parlamentar. O trabalho do parlamentar é o trabalho de par-la-men-tar - e nós não estamos fazendo isso. A prova é o vazio do plenário; a prova é a falta de repercussão dos discursos aqui dentro. O que eu estou fazendo hoje, ao repercutir o discurso de ontem de Pedro Simon, é algo feito raramente aqui dentro - e eu próprio não o costumo fazer. Muitas vezes, Senador Mão Santa, se não fossem seus gritos, chamando a atenção de cada um de nós, a gente nem prestaria atenção aos discursos - a verdade é essa. O senhor provoca que a gente preste atenção, porque nós estamos aqui, cada um de nós, em outras atividades, e terminamos o discurso e vamos embora. Falamos para a televisão e não falamos para os outros senadores. Houve um desfazimento da atividade parlamentar. Grave, ainda, é que votamos aqui sem votar. Os Líderes acertam seus votos, e chega aqui o Presidente e diz: “Quem estiver de acordo, fique sentado”. Os poucos que estão aqui ficam sentados. E eu não digo que isso são os outros, eu também.

            Essa é uma autocrítica. Nós estamos desfazendo a atividade de parlamentar. Não discutimos entre nós, não elaboramos com cuidado as coisas como deveria ser. Isso só pode mudar - e eu tenho proposto -, quando decidirmos que a presença do Senador é uma condição necessária à atividade parlamentar.

            Não é necessário ficar aqui para exercer atividade política. Política a gente exerce conversando com os nossos companheiros onde estivermos, conversando com o nosso povo, falando com o eleitor. Para fazer política, não precisa estar aqui, mas, para parlamentar, o único jeito é estando aqui.

            Quando eu vejo o plenário vazio, acredito que os outros que não estão aqui talvez estejam trabalhando muito mais do que nós, caminhando, andando, conversando com os eleitores. Estão trabalhando mais do que nós, mas não estão parlamentando. Não estão fazendo o trabalho que cabe a cada um de nós, de Senador, de parlamentar.

            Esta, Senador Simon, é a minha segunda causa: o desfazimento do trabalho do parlamentar, como foi feito durante anos, durante o período de redemocratização. Ali houve um processo de parlamentarização, como houve na aprovação da Lei Áurea, em que, em dez dias, isto aqui se reuniu e decidiu como aprovar a lei que vinha da Coroa.

            O terceiro é a tolerância com os malfeitos. Aproveitando sugestão sua, Mão Santa, a perda dos bons costumes, como você falou. Nós estamos perdendo os bons costumes deste País, Senador Mozarildo. Estamos perdendo o hábito dos bons costumes em geral, no País, e também na política. Aí a política não é exceção. A falta dos bons costumes a gente vê generalizadamente. Nesta semana, a compra de ingressos para assistir a um jogo de futebol no Brasil mostrou a falta de bons costumes. Quando você assiste a uma sala de aula hoje funcionando, está ali implícita a falta de bons costumes. Quando a gente vai a qualquer lugar, hoje, a gente sabe que os bons costumes desapareceram. Nós somos tolerantes com os malfeitos hoje: os malfeitos de chegar atrasado, de romper a fila, os malfeitos de roubar milhões ou bilhões de recursos públicos, os malfeitos de empresários nas manipulações para definir os seus preços, para baixar os salários dos seus trabalhadores.

            Há hoje uma tolerância absoluta com os maus costumes; há hoje uma aceitação dos maus costumes; há uma tolerância com os malfeitos, e aí a corrupção entra no meio disso.

            Certamente, a corrupção dos políticos é o mais grave dos maus costumes que tem hoje o Brasil, mas não único. Não único. Existem maus costumes no Executivo, no Legislativo - vamos falar com franqueza -, existem muitos maus costumes no Poder Judiciário, mas muitos, muitos mesmo. A corrupção é um deles. E há maus costumes fora da política também.

            Há um outro ponto que eu coloco, e refletindo sobre seu discurso: é a impunidade para os que podem pagar os serviços jurídicos, definindo legalidade e ilegalidade conforme a habilidade do advogado, conforme a capacidade dele de manipular as vírgulas. E o senhor disse, no seu discurso de ontem, que a gente não colocou nenhuma vírgula na reforma política em nome da moralização. E o que botou foi negativo. Em nome da moralização, não colocamos uma vírgula. Essa sua frase é uma frase para ser pichada, guardada e sofrer com ela. Não acrescentamos uma vírgula na moralização. Acrescentamos vírgulas, acrescentamos palavras para outras coisas, mas não para moralização. Então, nós temos uma impunidade total. Todos nós sabemos disso. Os fatos não terminam em punição.

            Hoje o jornal lembra que faz dez anos, se não me engano, do processo em que o Governador Arruda é julgado pelo painel do Senado. Ainda não foi ouvido. Mas, na verdade, não faz dez anos o fato. O fato foi em 1992.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Ele ainda não foi ouvido sobre a questão do painel do Senado. Houve aquela questão, marcou-se a audiência para ele ser ouvido. Até hoje ele não foi ouvido para discutir a questão do painel do Senado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Há uma notinha no jornal O Globo dizendo que, se ele tivesse sido ouvido, talvez tivéssemos evitado muito das coisas de hoje. Está lá, em O Globo.

            Então, essa impunidade é uma das causas de tudo isso que está acontecendo e que ontem se materializou no seu discurso, dizendo que não tem esperança nesta Casa, não tem esperança no Judiciário, não tem esperança no Executivo, no Lula - aliás, cita -, e sua esperança está na ira do povo.

            O outro ponto onde erramos é o abandono à educação, que ficou para poucos e equivocada. Não é questão de nota só, até porque eu estou colocando essa já em quinto lugar. Não é uma questão de nota só e de mania que eu tenho. Não. É a realidade. O processo educacional é feito para poucos e de maneira equivocada, até porque educação não é só escola. Educação é escola, é família, é mídia e entidades outras, inclusive as religiosas.

            Esse complemento não está havendo. Nós temos as famílias dilaceradas hoje, incapazes de atender às exigências das crianças no processo educacional.

            Nós temos uma mídia, vamos falar com franqueza, que pode merecer todos os prêmios do mundo, pela qualidade, do ponto de vista estético técnico, mas que não está sendo um instrumento educativo. Não está sendo. Existem instrumentos educativos paralelos, até das próprias televisões, com alguns dos seus programas, em algumas das suas televisões específicas, mas, do ponto de vista do dia a dia do noticiário, do dia a dia das novelas, do dia a dia das atividades, do dia a dia dos programas, nossa mídia é um instrumento de deseducação das crianças, dos adultos e também dos bons costumes.

            Nós passamos parte dos maus costumes através da mídia. Nós passamos parte dos maus costumes pela omissão das famílias. E nós passamos maus costumes pela incapacidade da escola, do professor. Incapacidade! Não é falta de vontade de serem instrumentos dessa verdadeira educação.

            Sem escola, não há educação. Só com escola, educação não há. E nós cometemos erros de achar que educação é apenas instrução. A mídia tem que estar dentro da educação, e creio que há um projeto do Senador Simon em relação ao uso dela. Há um projeto seu antigo em que uma parte do tempo da mídia tem que ser transmissão de idéias educativas. Tem que haver uma maneira de a família se envolver.

            E aí o projeto em que eu digo que os pais do Bolsa Família teriam que ir uma vez por mês à escola está sendo barrado e está difícil de passar, por acharem que vamos exigir demais dos pobres que recebem o Bolsa Família. Não! Temos que exigir de todos que participem da educação dos seus filhos. Pela lei, recebem o Bolsa Família para dar educação aos seus filhos.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Nesse sentido, V. Exª sabe que acabou a Voz do Brasil. O Governo do PT acabou com a Voz do Brasil. Cada rádio apresenta no horário em que quer: um apresenta às 2h; outro, às 3h; outro, às 5h. Mas aquele espaço que fazia com que o Brasil inteiro falasse a linguagem do Brasil desapareceu. Hoje não tem chance. Modéstia à parte, a Voz do Brasil estava excepcionalmente muito bem. Acabou!

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas em uma hora errada.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - É.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - E o próximo passo é dizer que, se é às 3h ou 4h da manhã, por que manter isso? É o próximo passo. E extingui-la de uma vez por todas. A ideia de tirar o horário fixo, que era um horário em que todos ouviam ou desligavam, se quisessem - tinham direito a isso, ou ficavam vendo a televisão, em que não existe a Voz do Brasil -, a ideia de liberalizar só tem uma razão de ser: acabar com ela. Não faz sentido manter às 3h, às 2h esse programa. E esse era um instrumento de unificar o Brasil no mesmo tipo de programa, único.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - É o único instrumento de Federação. O Brasil falava igual para todos os brasileiros.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Falava igual para todo o Brasil. Era o único momento.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Hoje, a televisão é do Rio, de São Paulo. Nós, lá... Tem que ser uma desgraça muito grande para aparecer em uma notícia, senão não existe.

           O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF) - Era o único momento, salvo os jogos da seleção brasileira de futebol, que trazem a liberação do patriotismo, mas não trazem a construção da consciência.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - E quem diria que o Lula é que acabou... O Fernando Henrique não acabou; foi o Lula que acabou.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF) - E isso leva a uma das constatações a respeito das quais tenho falado.

            O Presidente Lula, costumo dizer, não tenho a menor dúvida, é dos melhores Presidentes que o Brasil já teve, para não dizer que algum é o melhor. Agora, um ponto, entre outros, é decepcionante: a perda de capacidade do Brasil de debater o seu futuro. O Lula provocou um retrocesso ideológico neste País. Ele melhorou a generosidade com os pobres, manteve a responsabilidade econômica, fez, de fato, uma inflexão na política externa... O debate dele, ontem, com a chanceler da Alemanha é algo a ser elogiado, primeiro por ele ficar em condições de absoluta igualdade e não subalterno, como os Presidentes do Brasil costumavam se comportar diante dos chefes dos grandes países, e, segundo, pela capacidade de discordar e dizer de público que, se vamos acabar as armas nucleares em um país, que acabemos em todas. Foi uma lição de moral que o Presidente Lula deu ontem para o mundo inteiro. Quanto a isso, não há dúvida.

            Agora, um ponto é trágico. Vamos levar 10, 15, 20, 30 anos para recuperar a perda da capacidade de debate ideológico. A Oposição, por exemplo, só tem críticas, não tem um debate ideológico, de propostas novas, porque o Lula adotou as propostas dela. Como o senhor gritou aqui ontem: une onde estás, oculte onde estás. Foi seu discurso. Acabou o debate ideológico, Senador Mozarildo. Não debatemos...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Repare V. Exª que o único entendimento que tenho hoje... O que vai acontecer no fim do ano que vem? Ninguém sabe se vai haver um terceiro mandato, se vai ser o Lula, se vai ser a Ministra, se vai ser o Serra, se vai ser o Ciro, se vai ser o Governador de Minas Gerais, se vai ser o Requião, ninguém sabe. O que todo mundo sabe é que o Líder do Governo vai ser o Jucá, porque a pessoa mais coerente que tem neste Senado se chama Jucá. Eu quero fazer justiça.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Ele não mudou.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Ele foi Líder do Governo Fernando Henrique aqui e hoje é Líder do Governo Lula. Ele não mudou um terço do discurso dele. Até hoje eu não posso cobrar no discurso do Jucá... “Ah, mas quando V. Exª era Líder do PSDB, V. Exª falava diferente...” Não dá para cobrar, porque é o mesmo discurso.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É verdade. Não foi o Líder que mudou; mudou o que está na direção do Líder.

            Então, esse retrocesso ideológico, essa falta de capacidade de debate, essa conversa que a gente está tendo morreu. Morreu não, mas entrou em paralisia. Até pela competência do Lula, pelo carisma do Lula, pela sedução que ele tem, ele juntou todo mundo e disse: “agora não vamos mais discutir”. Aí alguns dizem que é porque acabou o Muro de Berlim, que o Muro de Berlim é que separava esquerda e direita. Nunca foi tão necessário uma esquerda e uma direita. A esquerda defende o equilíbrio ecológico, a direita não se preocupa com isso. A esquerda defende que a escola do trabalhador vai ser igual à escola do patrão. Isso é ser de esquerda. A esquerda mudou de objetivos, não está mais na estrutura econômica, mas está na estrutura educacional, está no modelo de desenvolvimento. É mais ainda do que era antes. Agora não é mais a discussão entre dois modelos da civilização industrial, agora é o modelo de uma nova civilização pós-industrial. Agora que a gente devia estar debatendo, mas a gente não está. Até porque, mesmo quando o Presidente adota a ideia da redução das emissões de dióxido de carbono, ele está tocando num pedacinho da química, não da ideologia. Ele está discutindo a química das relações do processo industrial que provocam o dióxido de carbono que vai para a atmosfera e trazem, com o efeito estufa, o aumento da temperatura do planeta. Ele está sendo químico, não está sendo ideólogo. Para ser ideólogo, ele precisaria dizer “vamos mudar o modelo industrial que produz dióxido de carbono, vamos mudar a matriz energética, vamos mudar a matriz produtiva”. E qual a prova de que ele não está? Porque está comemorando o aumento na venda de automóveis. Como é que a gente comemora aumento na venda de automóveis e diz que vai reduzir as emissões de carbono? Substituindo tudo por etanol? Quando substituir tudo por etanol, vai ter de destruir florestas para produzir mais combustível.

            Há um modelo morrendo e um modelo querendo nascer. Esse era o debate que o Presidente Lula deveria estar provocando hoje, mas ele provoca pinceladas específicas olhando, obviamente, o processo eleitoral. E aí leva a uma das outras razões, das sete que eu anotei em relação ao seu discurso.

            Nós substituímos líderes por políticos. Antigamente, nós disputávamos uma eleição para ter o poder de liderar. Agora, nós disputamos uma eleição para sermos apenas políticos. Antes, a gente era político para liderar; agora a gente é político para ser político. Acabou o discurso de líder, do que vem na frente, do que corre o risco de ser execrado, do que corre o risco de perder voto, do que corre o risco de perder eleição. As eleições deixaram de ser em função do que diz o candidato e passaram a ser em função do que as pesquisas dizem para ele dizer e de como os “marqueteiros” dizem para ele dizer. E todos nós - não é crítica aos outros - terminamos nos submetendo. O que a pesquisa diz que é para dizer agora? Como o “marqueteiro” diz que é para dizer agora? A idéia de liderança morreu.

            Recentemente, lendo um livro, vi que, quando o Primeiro Ministro da Inglaterra, Churchill, naquela semana em que ele decidiu fazer a declaração de guerra contra Hitler, as pesquisas de opinião diziam que os ingleses queriam fazer a paz. Os ingleses não queriam ir para a guerra, acreditavam que ainda era possível barrar Hitler simplesmente com um acordo de paz, na idéia do apaziguamento que vinha até do Primeiro Ministro anterior, do Chamberlain. O Churchill disse: “Não, é hora de a gente enfrentar, é hora do sangue, suor e lágrimas”.

            Ninguém ganha eleição...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) (Fora do microfone) - Pegaram a Polônia e Chamberlain disse: “Salvamos a pátria”.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Claro, depois do encontro em Munique.

            Ninguém vence eleição, hoje, no Brasil, falando em sangue, suor e lágrimas. Hoje, para você ganhar a eleição, você tem que falar em salários mais altos, você tem que falar em trabalho menor, você tem que falar em lucros maiores. Perdemos a capacidade de ter líderes querendo conduzir o País; temos geniais políticos administrando o País.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Quero avisar que V. Exª está falando para o Presidente, para mim e para o Senador. A TV Senado está fora do ar. Não sei por que, mas ela está fora do ar.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu não sabia disso.

            Talvez, se fôssemos pretensiosos, diríamos...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Dr. José Roberto, o Pedro Simon está dizendo que a televisão está fora de ar. Então, eu gostaria de ter informações precisas, porque este pronunciamento de Cristovam é muito importante para o País.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu vou deixar de lado um pouquinho a minha “pernambucanidade”, porque nós pernambucanos somos tão pretensiosos que eu ia dizer que é por minha causa que tiraram a televisão do ar. Não vou ser ridículo, obviamente. Fica só a brincadeira com a “pernambucanidade”.

            Mas mesmo que estejamos só nós aqui...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - As más línguas vão dizer que é com relação a V. Exª. Pelo amor de Deus, tenho certeza de que não é. É apagão mesmo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É apagão. Além disso, estão aqui os taquígrafos e essa conversa nossa fica registrada. Temos outras formas de divulgar depois e podemos repetir esse discurso outra vez. É uma boa desculpa para repeti-lo outra vez.

            Pois bem, nós perdemos a capacidade de buscarmos ser líderes e nos viciamos na tarefa de buscarmos os mandatos, sem o compromisso com a transformação, sem o compromisso com a mudança maior, sem o risco de olhar na frente, olhando apenas o que as pesquisas indicam que a população quer naquele instante e, o pior, dito da maneira que os “marqueteiros” dizem que é para falar. Isso, a meu ver, Senador Pedro Simon, é uma das causas da sua decepção...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Cristovam Buarque, está no ar. Estou sendo informado pelo José Anchieta de Moraes Silva, um líder, filho de Dr. João Silva. Ele é da minha cidade e está ouvindo V. Exª. Está no ar.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Está no ar?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Viu como é importante? Está no ar lá no Piauí. José é sobrinho do Alberto Silva, mas o pai dele era Dr. João Silva, foi o maior líder da cidade de Parnaíba.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Está no ar e tenho pelo menos um assistente. Eu quero agradecer a ele por estar assistindo.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Está me ouvindo. Está vendo como é a audiência?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Então, Senador, o sexto problema que vejo é essa substituição de líderes por puros políticos. É claro que não há líder que não seja político. A liderança é uma atividade que exige, como premissa, a capacidade política, que o Churchill, que citei, tinha. Agora, você pode ser político sem ser líder. O problema é que a proporção de líderes entre os políticos está cada vez menor. Nós estamos sendo transformados em bonecos dos marqueteiros e dos que fazem pesquisas de opinião. Então, estamos prisioneiros do presente, porque a pesquisa de opinião reflete o pensamento naquele instante e não reflete o que vai acontecer no futuro.

            Aí, se deixamos de ser líderes, nós nos apequenamos. O processo de globalização levou ao apequenamento dos líderes. Nesse ponto, o Lula até tem se saído melhor do que os outros. A sensação que dá é a de que os líderes deixaram de ser lideres e transformaram-se em gerentes comerciais. Eles vão para as reuniões, na OMC, discutir se o país deles está ganhando mais ou menos no comércio. Eles perderam a capacidade de ir para as organizações internacionais defender as revoluções. Os presidentes dos menores países africanos, nos anos 50, 60, iam para as Nações Unidas falar da luta contra o colonialismo no mundo. Não iam para lá defender a melhoria do preço do café na Costa do Marfim, dos seus produtos específicos. Eles lutavam por bandeiras. Eles não lutavam apenas pelos seus países. A globalização apequenou os líderes. Os líderes viraram ministros da economia e, às vezes - o que é pior -, viraram gerentes comerciais. Eles perderam a grandeza da dimensão da proposta de uma nova alternativa para o mundo - que a globalização exige - e para seus países.

            Antes de passar para mais um ponto, Senador Pedro Simon, tudo provocado pela reflexão do seu discurso de ontem, passo a palavra ao Senador Geraldo Mesquita, que a pediu.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Cristovam, o Dr. José Roberto, nosso secretário executivo, disse que era um problema interno, mas já voltou o ar. Então, V. Exª está sendo ouvido no Brasil pelos 190 milhões que param o País para ouvi-lo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado.

            Senador Geraldo Mesquita.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Caríssimo professor Cristovam Buarque, V. Exª hoje profere mais uma aula; e o tema é de fundamental importância, que é a política. Sempre entendi, professor Cristovam, que a política é um dos principais instrumentos que temos para transformarmos o mundo, partindo do nosso pequeno universo para a frente. Sempre entendi a política como esse instrumento. Quando V. Exª fala que hoje estamos reféns dos marqueteiros de certa forma, compreendi perfeitamente sua fala. É claro que não é ofensiva aos marqueteiros, mas discordo em parte disso. Acho que os marqueteiros cumprem um papel que exigimos deles, porque renunciamos à transformação do mundo. Nós, de maneira geral, que atuamos na política, nos últimos tempos, estamos pari passu renunciando ao exercício do papel mais importante da política, que é a tentativa de transformar o mundo. Nós nos conformamos e nos acomodamos com um objetivo muito pequeno, que é mudar para continuar tudo na mesma. Isso para mim não é transformar o mundo, não é? Portanto, aqui não estou fazendo nenhuma defesa dos marqueteiros. Estou apenas situando e colocando em termos concretos e práticos o papel deles nesse processo todo. Eles cresceram de importância nestes últimos anos, porque nós perdemos importância, nós renunciamos à importância. A verdade é essa. Eles nos atendem. Na verdade, o anseio é nosso de fazer política, de transformar a política nessa mesmice que está hoje. Porque, culpa nossa, de pessoas que militam na política, nós renunciamos ao papel mais bonito que a política tem e nos oferece, que é o de transformar o mundo. Os marqueteiros apenas cumprem o papel de nos atender. Nesse anseio pequeno, nós nos apequenamos, na verdade. Em suma, nós reduzimos a nossa atividade na busca de mudar para continuar tudo da mesma forma. A verdade é essa.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador, estou totalmente de acordo, e até lhe agradeço que tenha trazido a defesa dos marqueteiros, porque não são eles os culpados, absolutamente. Nós é que perdemos a capacidade de liderar com as nossas falas, com as nossas caras, e nos submetemos a eles pela nossa falência, pela falta, que é o outro ponto, de bandeiras. Isto é que está nos matando: falta de bandeiras.

            Quem tem bandeira nem precisa de marqueteiro, sobretudo se o programa eleitoral fosse diferente. Quem tem bandeira deve convencer com a sua fala, mesmo que não ganhe. Nós caímos nos marqueteiros pela falência nossa, pela nossa falência. A falta de bandeiras: isso está nos faltando. Nós tínhamos a bandeira da democracia. Quando ela chegou, nós ficamos perplexos; contentes e perplexos. Mas ainda, por alguns anos, restava a bandeira do socialismo, para alguns; do capitalismo, para outros. Com a queda do Muro de Berlim, com a globalização, pareceu ficar tudo parecido, e aí a gente perdeu bandeiras. E agora, com o Governo Lula, os partidos ficaram todos iguais. E, ao ficarem todos iguais, perdemos as bandeiras específicas dos nossos partidos, que não se diferenciam mais. E alia-se a isso o fato de que talvez os partidos sejam entidades em caminho de obsolescência. Por quê? Com a globalização, que nos exige pensar coisas que vão além das nossas fronteiras; com a comunicação imediata dos blogs e dos twitters, o nosso partido não é mais quem manda na gente, são os nossos seguidores do Twitter, são os nossos seguidores do blog, que vivem aqui mandando mensagens, cobrando posições, que vivem aqui se manifestando a cada dia. Os partidos talvez estejam ficando algo obsoleto.

            Há país - aprendi ontem, Senador Mão Santa - em que o candidato se apresenta sozinho à campanha, não há partido. Depois de eleito, tomado posse na Câmara, aí ele se organiza com aqueles que são mais próximos dele, mas sem a necessidade formal do partido. É como era na convenção da Revolução Francesa. Eles se organizaram ali dentro, fazendo com que, ali dentro, houvesse os girondinos, houvesse os montagnards, houvesse cada um deles, conforme o tema em discussão. Era para executar o rei? Aí havia um tipo de organização. Era para fazer a guerra com os países vizinhos? Havia outro tipo de composição.

            Nós estamos vivendo um momento em que talvez a atividade política esteja exigindo uma reformulação completa. A falta de bandeiras talvez seja a mais grave das fragilidades que levam a essa situação que vivemos.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Vou ao último ponto.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Cristovam, eu acho que esse foi o pronunciamento mais lindo e mais útil na história do Brasil.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não acredito, mas acho que...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Há outros companheiros com voo marcado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu não queria fazer um depoimento. Eu queria fazer uma conversa aqui, como estou. E vou para o último item, também provocado pelo Senador Pedro Simon, ontem.

            O Pedro Simon, ontem, disse que um médico, a quem procurou, respeitado, diz que não quer se candidatar. Isso é o que a gente mais vê hoje. E vi uma coisa pior, Senador Pedro Simon. Conversando com algum Senador aqui, esta semana, ele disse que sente isso - creio que foi o Camata.

            Senador, fico até constrangido de falar isso. A situação está tão dramática que, às vezes, quando vejo um jovem que, com essa crise toda, chega até a mim e diz que quer fazer política, confesso, Senador Pedro Simon, que às vezes me pergunto: esse cara quer fazer política porque ele é muito bom, ou ele quer fazer política porque ele quer se locupletar.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Vou repetir, porque essas últimas palavras perderam-se.

            Eu me pergunto: ele quer ser político porque ele é um santo, porque quer mudar o País, como dizia Geraldo Mesquita? Ou ele é um político porque, de tanto ouvir que a gente tem benefícios, ele quer se locupletar no cargo?

            Quando eu era da idade deles, e dizia, e entrava e fui fazer política, a gente ia correndo o risco de vida. A gente foi correndo o risco de se sujar de sangue. Hoje, é de se sujar de lama! Como a gente vai querer que candidatos que aceitem correr o risco de lama?

            E uma das causas de tudo isso é o custo da política. Como a gente vai pedir dinheiro a empresário para financiar campanha agora em 2010? Eu me pergunto. Eu não me sinto à vontade para pedir dinheiro para campanha. Agora, como vou fazer campanha sem ter dinheiro? Mas a gente diz: a gente pode pedir dinheiro só legal. Se pedirmos dinheiro só legal, não há problema. Primeiro, não se consegue tanto dinheiro, se for só legal, provavelmente. Segundo, você pega dinheiro legal de uma empresa; amanhã, vem aqui um projeto de lei que tem a ver com aquela empresa; você vota conscientemente a favor daquele projeto; ninguém vai acreditar que não foi pelo dinheiro.

            Eu fico muito feliz porque uma das empresas que deu contribuição na minha campanha para Presidente foi a AmBev, e eu sou radicalmente contra publicidade de bebidas na televisão e vou votar contra elas quando chegar aqui o projeto, radical. Mais que isso: há um projeto meu que propõe colocar no rótulo de bebidas alcoólicas mensagens tão duras quanto aquelas que há nos maços de cigarro. Agora, felizmente estou contra essa empresa. Se eu estivesse a favor, quem ia acreditar que não era por causa da contribuição que recebi?

            Então, nós passamos a uma atividade...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Nós entramos em uma atividade de alto risco para a honra de cada um de nós. E aí, como vamos querer trazer gente séria, gente boa, que preze a honra para exercer essa atividade? Vai ser difícil.

            Senador Pedro Simon, esses oito pontos foram resultado da reflexão de ontem para hoje em cima do seu discurso. Mas eu gostaria, como lhe disse, logo depois que saí, quando telefonei para o senhor, que a gente se encontrasse mais para tentar fazer isso que se chama parlamentar, e não apenas discursar. Nós estamos transformando a atividade de parlamentar em uma atividade de discursar, e não é o mesmo. Parlamentar é discursar, debater, divergir, conciliar e encontrar saídas para mudar o Brasil e o mundo, como dizia Geraldo Mesquita.

            Nós não temos direito ainda de perder a esperança. Essa esperança ainda tem que continuar.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/2009 - Página 65151