Discurso durante a 240ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Ocupação do plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal por manifestantes e a ordem da Juíza Júnia de Souza Antunes de reintegração de posse, apelando para que não haja confronto. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).:
  • Ocupação do plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal por manifestantes e a ordem da Juíza Júnia de Souza Antunes de reintegração de posse, apelando para que não haja confronto. (como Líder)
Aparteantes
Alvaro Dias, Eduardo Suplicy, Garibaldi Alves Filho, João Pedro, Mão Santa, Sadi Cassol.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2009 - Página 65378
Assunto
Outros > GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).
Indexação
  • COMENTARIO, MOVIMENTO ESTUDANTIL, PROTESTO, CORRUPÇÃO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), CRITICA, UTILIZAÇÃO, VIOLENCIA, POLICIAL, RETIRADA, ESTUDANTE, INVASÃO, CAMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL (CLDF), DESRESPEITO, DEMOCRACIA.
  • SOLICITAÇÃO, JUIZ, AMPLIAÇÃO, PRAZO, DETERMINAÇÃO, RETOMADA, CAMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL (CLDF), POSSIBILIDADE, DIALOGO, ESTUDANTE, DEPUTADO DISTRITAL, PACIFICAÇÃO, RETIRADA.
  • REGISTRO, INICIATIVA, ORADOR, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), SOLICITAÇÃO, ASSINATURA, SENADO, APROVAÇÃO, COMISSÃO DE INQUERITO.
  • SOLICITAÇÃO, AFASTAMENTO, GOVERNADOR, PERIODO, INVESTIGAÇÃO, REGISTRO, APREENSÃO, SOCIEDADE, EMPRESA, EFEITO, CRISE, POLITICA, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, DEFESA, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faz alguns meses, durante a crise que vivia o Senado, um grupo de estudantes esteve aqui fazendo uma manifestação e eles terminaram presos pela polícia interna do Senado. Eu, o Senador Suplicy, que está aqui, e outros fomos lá onde eles estavam e ficamos junto com eles até que fossem liberados.

            Agora, Senador Suplicy, Senador João Pedro, o mesmo está acontecendo, de uma maneira mais duradoura, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, ou seja, aquilo que em outros Estados se chama Assembleia Legislativa. Há um grupo de jovens que ali estão dormindo, sobrevivendo, mas manifestando cada um deles com a força, a dignidade da cidadania e, às vezes, com a ousadia e a audácia de jovens em nome da ética no Distrito Federal.

            Não vamos discutir aqui os problemas que ocorreram no momento da invasão, o fato de terem rompido uma porta ou outros bens, até porque isso terá de ser pago - eu creio que eles estão dispostos a isso -, mas o que nós temos de discutir é que, neste exato momento, está para entrar a polícia na Câmara Legislativa, no Poder Legislativo, e tirar esses jovens à força.

            Isso será um gesto extremamente perigoso para a democracia. Hoje, em nome de uma desculpa que pode até ser juridicamente correta, a polícia entra para tirar jovens em uma Assembleia Legislativa. Amanhã, entrará na Câmara Federal, no Senado Federal, nas Câmaras de Vereadores e em todos os Poderes Legislativos do País.

            Eu gostaria, daqui, Sr. Presidente, fazer um apelo à Juíza Júnia de Souza Antunes, que deu a ordem para que a Polícia retome a propriedade - expressão corretíssima do ponto de vista jurídico - da Câmara Legislativa. Gostaria de fazer um apelo à Juíza - com quem eu não consegui falar ainda por telefone -, para que pelo menos dê um prazo maior para que os Parlamentares e esses jovens dialoguem e encontremos uma maneira de resolver esse problema, sem que o Distrito Federal, que há uma semana mostra, na televisão, todos os dias, as cenas explícitas de corrupção de políticos locais, mostre agora outra coisa que nos envergonhará muito: a polícia batendo em estudantes que estão dentro da Câmara Legislativa em protesto por causa da corrupção. Juntando essas duas coisas, o Distrito Federal passará a imagem de uma terra sem lei, sem ordem, sem cumprimentos do livre exercício da democracia. Sem lei, pode-se dizer porque, juridicamente, não se deve ocupar espaço público. Mas, sem democracia, porque não há como combinar democracia com polícia, Exército, Marinha ou Aeronáutica dentro do Poder Legislativo. Nem mesmo se convidado pelo Presidente da Câmara, nem mesmo se convidado pelos próprios Parlamentares, porque, na hora que eles fizerem isso, eles estão demonstrando sua incapacidade de dialogar com a sociedade. Ali não estão malfeitores, ali não está ninguém para roubar patrimônio; ali está um grupo de jovens se manifestando, às vezes até, como acontece em todos os movimentos, nem só de jovens, como acontece em todos os movimentos, passa-se dos limites. Isso é uma discussão a fazer depois. Cada um assumirá a responsabilidade dos danos causados. O movimento terá...

            O Sr. Sadi Cassol (Bloco/PT - TO) - Permite-me um aparte, Senador?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Permitirei, com o maior prazer.

            Os que fizeram isso terão que amanhã prestar contas dos danos que causaram. Agora, a retirada deles é um gesto que transcende muito os danos materiais. É um dano de ordem moral na democracia da nossa cidade.

            Eu vou sair daqui e vou para lá. Estarei junto com os estudantes. Às sete horas, oito horas, temos o evento de entrega do prêmio do Congresso em Foco para os melhores Parlamentares. Eu tenho a honra de ir receber o de melhor Parlamentar do ano, mas, se for preciso, eu abrirei mão de estar lá e receber esse troféu. O que nós não podemos é deixar que a democracia dê um exemplo tão nefasto de a polícia arrancar jovens de dentro de uma Casa legislativa.

            Apelo mais uma vez à Juíza Júnia de Souza Antunes, apelo até aos estudantes para que a gente possa dialogar, conversar e apelo muito ao Comando da Polícia Militar do Distrito Federal para que saiba se comportar como a democracia exige. E apelo a todos para que não passemos ao resto do Brasil mais imagens vergonhosas do Distrito Federal. Ontem, troca de dinheiro. Agora, troca de cacetadas nas cabeças dos jovens. Eu apelo e vou tentar naquilo que for possível para que isso não aconteça.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu passo, em primeiro lugar, ao Senador Sadi Cassol, porque pediu antes.

            O Sr. Sadi Cassol (Bloco/PT - TO) - Eu agradeço o aparte. Eu quero me associar ao seu apelo, Senador Cristovam Buarque, e até sugerir, se isso for possível, que a polícia retire os corruptos e os corruptores de suas mesas e de seus locais de trabalho e que deixe aqueles que querem ver a administração pública cada vez mais limpa, mais transparente. Essas cenas que vemos nesses últimos dias envergonham o País, envergonham o mundo. Acho que precisamos cuidar disso. Eu até estou sugerindo - vou entrar com uma matéria nos próximos dias - que, para as eleições do próximo ano, se ainda for possível, numa resolução do TSE ou dos Tribunais Regionais Eleitorais, que se obrigue a colocar no “santinho” de cada candidato o CPF, para que cada um possa entrar na internet e ver em quem se está votando. Não é possível que se continue votando em quem tem dez, doze, quinze processos ou até mesmo um processo. Quem tem um processo não é digno de ser votado pelo povo. Eu defendo essa tese. Se você tem um processo, como é que você se apresenta para pedir voto para o eleitor? Então, eu acho que temos de ir apertando, apertando mesmo, para ver se paramos com essa vergonha que, de vez em quando, estoura aqui e acolá, incomodando o eleitor mais humilde, que bate palma nos comícios e depois vê essas roubalheiras acontecerem. Parabéns pela iniciativa e vamos torcer para que a polícia retire realmente os corruptos e não aqueles que estão lá, democraticamente, protestando contra a corrupção.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador, o seu aparte é um daqueles que a gente diz que não gosta porque diz o que eu gostaria de ter dito. A sua frase “se a polícia tivesse de entrar, deveria entrar para retirar os corruptos das mesas onde eles estão sentados e não os estudantes de onde eles estão deitados protestando” é exemplar. Fico feliz que ela entre no meu discurso como um aparte seu. Ela é exemplar, claro que figurativamente, porque a polícia não deve entrar nem para tirar os corruptos, pois os corruptos nós é que devemos tirar através do voto. Mas a sua frase é exemplar.

            A polícia não entra para tirar os corruptos, não prende os corruptos que já foram retirados e agora está pensando, por ordem de uma juíza, em entrar para tirar, na marra, na força, os estudantes que ali estão.

            Senador, por favor.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Cristovam Buarque, V. Exª fala a respeito desse episódio com um peso maior do que nós porque, tendo sido Governador do Distrito Federal e sendo Senador pelo Distrito Federal, conhece muito mais de perto a gravidade dos episódios que, infelizmente, caracterizam a vida política da Capital Federal. O sentimento de indignação expresso pelos estudantes, pelos jovens que foram à Câmara Distrital é algo natural. O que nós percebemos diante da publicação e divulgação dos episódios em que pessoas, com responsabilidade no Governo do Distrito Federal, estavam ali como que compartilhando recursos financeiros totalmente ilegais, constituíram situações que levaram, naturalmente, a essa indignação. Então, não é à toa que os estudantes estão lá a exigir que possa haver o fim do mandato do Governador José Roberto Arruda, até porque não houve qualquer explicação satisfatória que pudesse modificar a gravidade daquilo que foi revelado. Ademais, o próprio Partido ao qual pertence o Governador deu um prazo até esta semana para que ele possa se defender, possa dar as explicações convincentes, mas até agora não houve explicação adequada que possa colocar qualquer justificativa para aquelas imagens e ações que por todos estão sendo condenadas. De maneira que o apelo que V. Exª faz, aos estudantes e também às autoridades policiais que estão ali presentes na Câmara Distrital, é um apelo de bom senso. Eu avalio que, com a autoridade que V. Exª tem como ex-Governador e como Senador, V. Exª está em condição muito propícia para mediar um entendimento de procedimento por parte dos estudantes e também de pedir à polícia um procedimento que seja civilizado e que leve em conta essa indignação da parte dos que protestam com um sentido de indignação muito forte, comum à população de Brasília. Quero lhe transmitir, Senador Cristovam Buarque, que pude perceber essa indignação - V. Exª, certamente, mais do que eu -, até ao caminhar, de manhã cedo, pela quadra onde moro, ao fazer a minha caminhada, durante o meu exercício normal, quando as pessoas, senhoras, se dirigiram a mim dizendo: “Senador...” O que aconteceu é de uma gravidade tal que todas as pessoas estão solicitando a mobilização das forças sociais, indignadas com respeito a isso. Então, cumprimento V. Exª por estar preocupado com esse problema e por procurar encaminhar uma solução de bom senso, inclusive perante os estudantes que se encontram na Câmara Distrital em diálogo com as autoridades policiais, com os Deputados Distritais e com outras autoridades.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Garibaldi.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Cristovam Buarque, eu também acho que o Senador Sadi Cassol tem inteira razão. Há uma inversão de valores nisso que V. Exª está denunciando. As autoridades policiais não deveriam se voltar contra os estudantes que estão protestando, que estão na Assembleia Legislativa no seu direito de realmente manifestar a sua indignação, porque nós não podemos perder a capacidade de nos indignar. Mas nós a estamos perdendo. Esses estudantes, pelo menos, estão tentando salvar isso. Creio que V. Exª tem razão em fazer esse apelo e, ao mesmo tempo, esse protesto no qual estou inteiramente solidário com V. Exª. Para Brasília, o Distrito Federal, para a Capital Federal estão voltadas todas as atenções. Um ato como esse seria verdadeiramente antidemocrático. Seria um ato que só traria mais vergonha para todos nós.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador. Acho que realmente traria vergonha para todos nós. Mesmo que essa ocupação e essa manifestação estejam servindo de pretexto a muitos Deputados para não irem lá e, com isso, não tomarem a iniciativa de começar a CPI, por essa razão, eu quero até dizer que, por sugestão do Senador Mão Santa, durante meu discurso feito na semana passada, estamos recolhendo assinaturas para uma CPI no Senado, caso não haja CPI na Câmara Legislativa. Se houver, muito bem; se não houver, não podemos ficar omissos. Foi sugestão do Senador Mão Santa, a quem agradeço, mas tomei, junto com ele, a iniciativa. Estamos pedindo as assinaturas e já temos sete. Alguns não assinam dizendo que isso é uma tarefa da Câmara Legislativa. Muito bem, mas vamos ter as assinaturas prontas no caso de a Câmara Legislativa, controlada, como parece ser, pelas mesmas forças que aparecem na televisão, não fazer uma CPI.

            Passo a palavra ao Senador João Pedro.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Cristovam...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Só um detalhe, Senador.

            Eu quero dizer que, enquanto estávamos aqui falando, chegou um aviso para mim de que não haverá hoje a invasão pela Polícia. Chegou a informação de que teria sido suspensa de hoje, sem marcar a data, provavelmente para amanhã, o que nos dá tempo de conversar com a juíza, de conversar com os estudantes, de procurarmos uma saída pacífica para essa situação. De qualquer maneira, fica aqui a minha preocupação, o meu protesto.

            Até aqui todos diziam, quando eu vinha para cá, que a Polícia já estava entrando. Mas parece que, no meio do caminho, já dentro, decidiu dar mais um tempo.

            Senador João Pedro.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Ouviram o pronunciamento de V. Exª, o apelo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não sou tão pretensioso a ponto de achar que foi o pronunciamento aqui. Mas...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - É o melhor caminho.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas foi exatamente neste momento.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Cristovam, V. Exª, como membro do Senado e legítimo representante do PDT, Senador aqui do Distrito Federal, eu acompanho a preocupação de V. Exª e o seu pronunciamento, principalmente com essa possibilidade de a Polícia usar a força no cumprimento de uma determinação judicial, de uma juíza, e tirar a força os estudantes. V. Exª então está correto quando busca o entendimento, a conversa. E eu quero refletir sobre as palavras de V. Exª. o caminho é este: conversar com os estudantes, com a direção da Casa, da Assembleia, conversar com a juíza. Mas refletir sobre isso. Imagine um oficial que não esteja preparado ou alinhado politicamente com o Governador, alinhado politicamente, porque é claro que ele está cumprindo um papel de Estado, uma ordem judicial de um outro Poder. Mas como é delicada essa situação de, na retirada dos estudantes, se mudar o eixo da discussão.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE  (PDT - DF) - É verdade.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Veja a delicadeza nessa ação. Então, é preciso que os estudantes, que cada estudante que está ali represente a indignação da sociedade brasileira contra o Governador Arruda, os Deputados, os secretários, que pegaram... E estão aí os registros recebendo o dinheiro. Então, quero me congratular com os estudantes. Não poderia ser diferente. Os estudantes, há bem pouco tempo na história do Brasil, em todo o Brasil, foram com a cara pintada protestar contra a corrupção. E foram mesmo, de Manaus ao Rio Grande do Sul, de Boa Vista ao Rio Grande do Sul. Então, é uma manifestação que faz parte da cultura do movimento estudantil, da juventude brasileira, de protestar. Então, precisamos tratar, trabalhar essa manifestação, que é correta, é justa. E cada estudante ali, com certeza, representa milhares e milhares de brasileiros que condenam essa postura do que aconteceu com o Governo do Distrito Federal, Deputados e secretários, enfim. Então, quero me congratular com os estudantes. Segundo, também me associar às preocupações de V. Exª no sentido de buscar o diálogo, a conversa para o entendimento. E quero chamar a atenção da sociedade: o eixo não é a saída dos estudantes. O eixo é cobrar a apuração e exigir rigor na apuração contra essa vergonha que macula não só a política do Distrito Federal, mas a política nacional, porque sobra para todos nós. Ela é localizada, mas sobra para todos nós. Então, quero, mais uma vez, condenar o que aconteceu no Governo do Distrito Federal. Minha opinião é essa. Minha opinião é esta: é o afastamento do Governador, para apurar. O Governador deve se afastar, para apurar. Imediatamente, afastar-se. Deve se afastar, para apurar. Então, espero que haja a conclusão por parte da Justiça. Mas é muito importante que a Assembleia apure, instaure uma CPI, para que o poder político possa se manifestar também. É muito importante isto: essa manifestação. Mas parabéns pelo pronunciamento e pela busca de V. Exª pelo entendimento no sentido de apoiar o protesto, entender o protesto, e que isso não seja motivo para que se mude o eixo, o foco dessa situação. Não podemos mudar de foco. O foco é o seu Arruda, o Governador que foi pego recebendo dinheiro. Isso precisa ser explicado. Ele precisa se afastar, e precisa haver uma apuração rigorosa acerca dessa situação aqui em Brasília. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço ao Senador João Pedro e digo que os bons apartes são aqueles que acrescentam, e o do Senador Cassol trouxe essa contribuição imensa de dizer que a gente termina tirando, batendo em estudantes, e não nos corruptos. E o Senador João Pedro trouxe aqui duas coisas muito boas em que eu não havia pensado. Primeiro, a mudança de eixo. Quando sair na televisão a Polícia batendo em estudantes, o eixo vai ser a Polícia batendo em estudantes, e vai-se esquecer todas as imagens de corrupção. Segundo, o que eu achei de uma beleza até poética: é lembrar que cada um desses estudantes representa centena, milhares de estudantes no Brasil inteiro que gostariam de estar aqui se mobilizando. Eles não vão poder pegar ônibus e virem para cá, os daqui estão fazendo o seu trabalho; e, realmente tirá-los é uma afronta aos estudantes do Brasil inteiro.

            Senador Alvaro Dias.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Cristovam, este um assunto que exige o posicionamento de todos nós, e eu espero, não hoje, mas, quem sabe, amanhã também fazer um pronunciamento da tribuna sobre esse escândalo de Brasília. Mas, pontualmente, sobre aquilo que disse o Senador Sadi Cassol, realmente essa inversão provoca uma indignação e uma desesperança na população. Se a população verificar que a policia, em vez de perseguir os corruptos e colocá-los no lugar onde devem ser colocados, ir atrás de estudantes ou de manifestantes que, democraticamente, manifestam a sua indignação e exigem providências, nós teremos aí, evidentemente, uma desesperança maior da população, verificando que a impunidade realmente é a rainha nesse cenário em que o Brasil é o paraíso da corrupção. Outra coisa que é muito importante dizer: nestes dias, ouve-se muito falar que a corrupção é em função da eleição, o dinheiro é para campanha eleitoral. É como se nós tivéssemos eleição todo dia, porque essa corrupção é no exercício do mandato. Obviamente, o pretexto é a campanha eleitoral. Parte desses recursos podem ser aplicados em campanha eleitoral. Mas o objetivo mesmo, o objetivo definitivo é o enriquecimento ilícito de pessoas desonestas. Nós temos que evitar a contaminação dos partidos, que são instituições que devem ser preservadas. Nós devemos ser implacáveis com aqueles que, eventualmente, sujam suas mãos nesse lamaçal de corrupção. Essas imagens desgastam, deprimem. São imagens que provocam enorme revolta popular; revolta contida, mas ela existe. Ela não explode nas ruas, como antes, mas existe de forma contida. Nós temos que, pelo menos, como Parlamentares, ficar presentes nessa exigência. Temos que exigir que a investigação seja rigorosa. O julgamento político prescinde de provas materiais. O que se viu de indícios é suficiente para estabelecer rigorosa punição dos envolvidos. Da minha parte, o meu Partido tem que agir assim. Eu defendo que aja desta forma: que as pessoas com indícios sérios de envolvimento sejam colocadas para fora imediatamente, sejam afastadas do Partido. É o mínimo que podemos fazer para evitar que isso contamine o partido político, que é uma instituição que deve ser preservada. Parabéns a V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador Alvaro Dias.

            Quero concluir, Presidente Roberto Cavalcanti, dizendo que fico feliz com a reação demonstrada aqui por todos os que falaram em seus apartes.

            Cada um de uma cidade diferente, cada um de um Estado diferente e cada um manifestando a sua solidariedade com esses jovens que estão ocupando a Assembleia.

            Logo que houve o assunto e que chegaram as notícias de que haviam quebrado uma porta, eu disse: não vou dizer que estou de acordo com esses erros, mas prefiro jovens que cometem erros a jovens que ficam omissos. Esses jovens aqui de Brasília não ficaram omissos, Senador Roberto Cavalcanti; eles foram à luta e têm toda a minha solidariedade, mesmo que - quando necessário, eu digo - haja gestos que devessem ser evitados. Quero estar ao lado deles, embora, aparentemente, já não seja necessário fisicamente, nesta tarde, pela notícia de que o movimento foi suspenso - vou checar isso com mais detalhes -, mas nós temos que estar ao lado deles.

            E o Senador João Pedro deu a saída. A saída é o afastamento do Governador. Eu não usei a palavra impeachment. Impeachment exige um julgamento, exige a defesa, exige um ritual, uma liturgia que demora meses às vezes. Agora, o afastamento, puro e simples, por própria vontade, não; este pode ser imediato. O Governador Arruda afastou todos os Secretários que apareceram nas imagens. Esqueceu de afastar a ele próprio. Ele podia se afastar, por seis meses, por 60 dias, por 30 dias, que seja, mas se afastar, entregar o poder ao Vice-Governador, e a gente começaria a apurar o que aconteceu de fato. Até porque, Senador Roberto, aos poucos se começa a sentir na cidade o risco de uma paralisia. Pessoas da Secretaria de Educação com quem conversei começam a temer a dificuldade de fazer a matricula das crianças no próximo ano, cujo calendário começava agora - a matrícula por telefone, que, aliás, eu implantei aqui quando fui Governador. No Distrito Federal, a matrícula é feita pelo telefone, mas há um cronograma muito cuidadoso.

            As empresas começam a temer que as obras não sejam pagas conforme o cronograma de execução. Aí as empresas vão ter que demitir os trabalhadores, e haverá pais de família sem emprego. As coisas vão começar a paralisar. Não há como continuar funcionando bem um Governo sem apoio dos partidos, sem os secretários que estavam, com secretários provisórios. Não há como continuar, não há como manter a cidade funcionando.

            Então o que disse o Senador João Pedro eu venho dizendo aqui desde o primeiro dia. O Senador José Roberto Arruda poderia fazer um gesto: afastamento. Não peço a renúncia dele, porque ele tem suas confianças naquilo que fez e vai provar, vai mostrar, vai dizer. Agora, que se afaste, que dê um tempo para que as coisas funcionem normalmente, ou quase normalmente, porque normalmente nós não vamos conseguir funcionar nem tão cedo.

            Por isso eu cheguei a dizer que a comemoração dos 50 anos de Brasília não deveria ser mais em abril do próximo ano, deveria ser adiada para um período em que não estivéssemos de luto. Ninguém faz festa vestido de preto. Mas pelo menos daria um tempo, Senador Cassol, para que as coisas funcionassem.

            Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Senador Cristovam, nós vivemos um momento muito difícil. Acho que no País não está havendo aquele tripé que Montesquieu imaginou, dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Nós vivemos um tripé de mentira, corrupção e incompetência. Um pronunciamento muito oportuno e sério que ouvi na sexta-feira - eu estava presidindo -, foi o do Mozarildo Cavalcanti. Ele buscou uma pesquisa, não sei bem os dados - vou até buscar, quando ele chegar, o pronunciamento -, que muito me preocupou, Prof. Cristovam. Eu, por exemplo, fui interno em colégio de padres católicos, o Colégio Marista. Então, fui nascido naquele tempo em que todo mundo acreditava, havia credibilidade na Igreja. Na pesquisa apresentada pelo Senador Mozarildo - não sei a fonte, mas eu ouvi, estava presidindo -, a instituição mais acreditada no País - atentai bem! - era a Igreja Católica, com 29%. Aí vem descendo. Eu me lembro bem de que este Poder tinha 8%. A Justiça, não sei o número, mas... Partido político não era nem citado, não é nem acreditado. Então, vivemos esse momento de descrença. A gente tem que crer, tem que ter fé. Então, é um momento muito difícil. E Brasília é a capital. O exemplo arrasta. Então, a situação está feia. Atento ainda à crença que tenho em Deus e que nos sustenta, eu diria que, depois da tempestade, vem a bonança.

            E quadro mais feio não existe na história da democracia. Então, nós temos que tomar uma providência para que se acredite nas instituições. Eu não sei o número exato, mas eu gravei bem que a maior credibilidade é a da Igreja, 29%. Eu não sei o número da Justiça, mas está bem abaixo de 29%, que foi a maior. Que país é este onde não se acredita em mais nada? Então, a única crença - e eu sou do Partido Social Cristão - é em Deus, que diz que depois da tempestade vem a bonança. Vamos ver se vai chegar essa bonança com mudanças de atitude. E V. Exª, queira ou não, está no olho desse furacão, porque o maior furacão hoje é Brasília! Esse é um quadro que nem Dante Alighieri, quando descreveu o inferno, imaginou. Esse desequilíbrio, desrespeito... não há mais o princípio de autoridade. No meu entender - e eu entendo bem, muito bem - autoridade não pode ser suspeita. E eu entendo assim não é de agora, não. Eu era prefeitinho de Parnaíba, quando, de repente, um capitão foi considerado suspeito. Atentai bem! Lá existe a Capitania dos Portos. Era uma força à qual eu tinha de recorrer, porque era acima da Polícia - e o governo do Estado era contra mim. E eu, dialogando com o capitão, disse - eu era prefeitinho: entendo que uma autoridade não pode ser suspeita. Eu não posso, o bispo não pode, o senhor não pode. Então, havia esse suspeito, era o Capitão Correia Lima. Aí, quando eu cheguei ao Governo do Estado, eu tive o privilégio de prendê-lo. Ele era o Coronel Correia Lima. Era o chefe do crime organizado. Então, eu estou mais sofrido, mais vivido, e hoje eu sou um pai desta Pátria. Então, eu já tinha esse conceito. Autoridade não pode ser suspeita. E aqui não há suspeita, não; ele está é condenado. Um quadro vale por dez mil palavras. E foram quadros deprimentes, piores do que os que a gente lê em Dante Alighieri descrevendo o inferno.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador Mão Santa.

            Eu quero concluir, Senador Roberto, pegando o gancho do que falou o Senador Mão Santa, dizendo que nós somos, no Distrito Federal, dois milhões de pessoas, e somos apenas - porque sou um deles - 37 Parlamentares. Juntando os 24 Deputados locais, os 8 Deputados Federais, os 3 Senadores, o Governador e o Vice-Governador, somos 37. Nós não somos nada em número diante de nós dois milhões.

            Eu, quando venho aqui, no olho do furacão, como dizia o Senador Mão Santa, venho como um dos 37, mas venho, sobretudo, como um dos dois milhões. E esses dois milhões não merecem a imagem que está sendo passada no Brasil inteiro, Senador Cassol. Não merecem! São dois milhões de pessoas que vieram de suas cidades para o Distrito Federal, muitas delas - vivas ainda - quando aqui não havia nada. Correram o risco que poucos brasileiros correram de virem para o Planalto Central construírem uma nova cidade. Os outros que aqui estão vieram também em períodos difíceis dessa cidade. Os outros são filhos e netos dos que vieram para cá; são trabalhadores. E, hoje, mais da metade, não é nem funcionário público, trabalha no setor privado, sobrevive do trabalho no setor privado. Nós, dois milhões, é que estamos hoje no olho do furacão. Porque as imagens que aparecem é como se fosse Brasília e não como se fossem alguns daqueles 37, dos quais, eu, como Senador, faço parte também.

            Mas eu faço parte dos dois milhões também. E é em nome desses dois milhões que, ao mesmo tempo em que eu peço desculpas ao Brasil inteiro pelo que está acontecendo aqui, eu também digo que nós, os dois milhões, não somos a mesma coisa que nós, os 37; nós, os dois milhões, somos pessoas que viemos de fora para trabalhar.

            Quando eu vim para cá, Senador Roberto Cavalcanti, Brasília nem tinha eleição. Eu vim ser professor na Universidade de Brasília. Aqui, não havia eleição para Deputado, para Senador, para Governador, para nada. Nós éramos cassados. Agora, se continuarmos com eleições, levando a 37 que geram imagem desse tipo, qualquer dia o resto do Brasil vai perguntar se nós sabemos votar. O pior é que esquecem as corrupções de outras cidades; esquecem os corruptos de outros Estados; esquecem, inclusive, os que vieram para esta Casa eleitos de fora pra cá. E fica a imagem de Brasília.

            Nós, dois milhões de brasilienses, não temos nenhuma razão para diminuir o nosso orgulho, de lutarmos para fazer uma capital nova, onde antes não havia nada, de lutarmos para manter esta cidade com todas as dificuldades, longe até do mar, que é o sonho de todo brasileiro. Nós, dois milhões, nós temos muito orgulho da cidade onde nós vivemos e que nós fizemos. 

            Agora nós somos também - eu, um dos Senadores - 37, dos quais alguns estão sendo ao mesmo tempo a imagem do que há de pior na política e contaminando os outros brasilienses que labutam todos os dias sem fazerem parte da política.

            Aqueles que, agora, nas férias, vão sair por aí, pelo Brasil, com a placa escrito Brasília, sabendo que, por conta disso, podem ser ridicularizados. Até pouco tempo atrás, já o éramos, por causa dos que vinham para cá identificados como brasilienses, e não eram brasilienses. Foi daqui que surgiram as causas que levaram a esse sentimento contra Brasília que hoje surge. Por isso, nós, brasilienses, temos de encontrar saída para esta crise o mais rápido possível.

            E eu concluo, fazendo um apelo ao Governador José Roberto Arruda. Que ele faça um gesto, que ele dê uma contribuição, que ele se afaste do seu cargo para que as coisas sejam apuradas e, aí sim, a gente possa dizer o que deve ser feito definitivamente do ponto jurídico. Mas, do ponto de vista da imagem da cidade, ele prestaria um serviço com seu afastamento, como ele fez ao afastar os outros secretários de Governo.


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