Discurso durante a 241ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar a João Borborema, fundador e militante do PMDB.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar a João Borborema, fundador e militante do PMDB.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2009 - Página 65618
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, FUNDADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ESTADO DO ACRE (AC), REGISTRO, SOLIDARIEDADE, FAMILIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senadora Serys, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, o que me traz hoje à tribuna é um assunto triste. Senador Mão Santa, costumamos referir-nos, quando falamos em partido, às pessoas que têm mandato: Senadores, Deputados, Governadores etc. Mas há pessoas no seio dos nossos Partidos - e o Senador Paim sabe muito bem - que passam a vida toda e, por vezes, não conseguem mandato eletivo, e que são, foram e sempre serão de importância fundamental para os partidos nos quais militamos.

            Queria referir-me aqui, com muito respeito, à figura do João Borborema, companheiro que faleceu ontem, na nossa capital, fundador do PMDB, do MDB ainda, militante, um daqueles que carregam o partido no coração, nas costas. E são desses que, por vezes, não aparecem, ou por não terem disputado, ou não terem, por alguma outra razão, conquistado um mandato eletivo.

            Lastimo, sinceramente, o falecimento do João Borborema.

            Publiquei recentemente - não eu, Senador Mão Santa, a Gráfica do Senado, com a minha participação e a de minha equipe - uma obra intitulada Brava Gente Acreana, Senadora Serys - e vamos publicar o segundo volume. João Borborema era um dos personagens dessa que é uma obra que tenta regatar a memória dessas pessoas de fundamental importância na história do nosso Estado. São pessoas que, ao contarem as suas histórias, em quarenta entrevistas, ao final, o que se lê é a história do Acre, em movimento, viva. E João Borborema era um dos personagens dessa história - era não, será um dos personagens.

            Quero, inclusive, reportar-me aqui a alguns trechos da sua entrevista. O jornalista que trabalha comigo e que preparou as entrevistas deu um título para a crônica de João Borborema: O subversivo de bigode.

            Há uma frase dele, aqui, que diz o seguinte, Senador Mão Santa: “A rebeldia da gente dava prazer, porque a gente não se preocupava em ser preso de manhã e ser solto de tarde ou passar um ano na cadeia”. Isso era o Borborema que dizia.

            O nome dele era João Moreira de Alencar. Borborema nasceu em Rio Branco, em 11 de agosto de 1930, quando o Acre ainda era Território Federal. Filho de Francisco Antônio Alencar e de Iracema Moreira de Alencar. Contudo, sempre fez questão de registrar que teve mais um pai, o pai de criação: Agostinho Borborema, de quem herdou o nome mais conhecido e a disposição inequívoca para a luta.

            Borborema é patriarca de uma prole significativa: Ben-Hur, Etã, Lenine, Espartacos, Raquel, Jaqueline, Ruth, Agostinho, Marcel e Iracema. Sua esposa, Francisca Maria Barbosa de Alencar; mais de 20 netos. Personagem importante da história do Acre, da história política do Estado, Senador Mão Santa.

            Nas lutas traçadas no destino de cada um, parece que há um princípio comunista que se tornou regra geral: apenas exigir de cada um segundo as possibilidades e dar a cada um segundo as suas necessidades. Essa é a crônica que o Stélio escreveu sobre o Borborema. Marx escreveu isso em seu principal compêndio, como quem escreve uma lei das possibilidades e realidades humanas.

            E, talvez de modo inconsciente, o menino Borborema aprendeu cedo essa lição. Claro, ele teria que pagar um preço alto por isso, justamente porque suas possibilidades simplesmente eram muitas. E não poderia ser diferente: ele aprendeu cedo o ofício de operário, como também, prematuramente, percebeu que a exploração do homem pelo homem representava algo maldito, que deveria ser extirpado.

            Não foi por acaso que, como uma espécie de marechal do submundo, se tornou subversivo e, armado de um mimeógrafo e alguns poucos amigos, tirou boas noites de sono de alguns patenteados, que vestiam fardas para dizer que eram homens. Foi com uma idéia na cabeça e um mimeógrafo à mão, sob a escuridão da noite acreana, que o afoito Borborema, menino e sonhador, atirou sem dó palavras ao vento, que eram como tiros à queima-roupa no peito daqueles que assaltavam palácios.

            Pagar caro ele tinha que pagar, mas, para isso, não se fazia de arrependido. Afinal, cadeia por um dia ou por um ano não lhe estremecia a predisposição ideológica de sempre dizer “não” aos que, matreiramente, queriam ser os donos do Acre. “Logo do Acre que tanto lutou para ser Acre, para ser Brasil”, pensava o intrépido comunista, com as mãos borradas pela tinta de uma impressora quase medieval.

            A força de Borborema sempre foi seu espírito despojado de ânsias materiais, e, por isso mesmo, depois dessas décadas de refregas, ele mais parece um vencedor de batalhas antigas, que verbera alegria por tantos companheiros esquecidos e faz orações, magnânimo, por inimigos que tanto o vilipendiaram, mas lhe ofereceram boas pelejas.

            Entender os sonhadores é quase impossível; o melhor é amá-los e respeitá-los. E amor e respeito é o que merece esse nosso João, o camarada Borborema.

            Só um trechinho a mais da entrevista colhida com João Borborema, Senador Paulo Paim. Ele diz aqui, sem mágoa:

Eu não fui forjado para guardar mágoa de ninguém. Eu guardo pena, eu tenho pena de algumas pessoas que, às vezes, fazem injustiça comigo e não só comigo, com outras pessoas, mas depois eles pagam, não sei como eles pagam, mas pagam. Todo mundo paga aqui mesmo. Então, eu não tenho mágoa de ninguém, eu não odeio ninguém, eu gosto de ser eu, de viver como sou, e eu sou uma pessoa que gosta de comer bem, de viver bem, tratar bem e respeitar as pessoas, e espero que as pessoas me respeitem, esse é o João Borborema, eu e nada mais.

            Com essa referência modesta, humilde, queria reverenciar a memória de um companheiro, Senadora Serys, um daqueles - pode-se dizer até anônimos - que, durante décadas, Senador Mão Santa, com amor pelo partido no coração, com a dedicação daqueles abnegados, carregaram o PMDB, carregaram o MDB nas costas. O que podia fazer, fez, e mais não fez porque não teve as condições necessárias. Eu queria me solidarizar, neste momento de dor, com a família de Borborema: sua esposa, seus filhos, seus netos, seus familiares, e, na pessoa dele, homenagear a todos esses bravos peemedebistas do Acre que, lastimavelmente, por vezes, são lembrados apenas no momento de seu falecimento.

            Com a permissão da Senadora Serys, um breve aparte ao Senador Mão Santa, para finalizar.

            O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Senador Geraldo Mesquita, V. Exª me faz adentrar a Bíblia, eu que sou do Partido Social Cristão. Cohelet disse: “Ninguém entende mais as coisas do que eu, porque sou filho de Salomão e neto de Davi. Aprendi com pai e avô e com os preceptores. Tudo! Tive riquezas, tive palácios, ouro, prata, mulheres mil, gado e tal. E tudo é vaidade”. É querer pegar, Presidenta Serys, o vento com a mão. Tudo é vaidade. Até a sabedoria, que é boa, eu tenho visto gente, no final a vida, que a perde e fica igual a um néscio. Tudo é vaidade. O bom mesmo é comer bem, beber bem e fazer o bem. Aí está o nosso líder, o filósofo da vida. E ele ainda vai mais; Cohelet dizia que você pode não acreditar agora nas minhas palavras, mas, quando morrer um amigo seu, no velório, na sentinela, nas recordações, como V. Exª agora faz, vai ver, assim como quem está lendo a Bíblia, que tudo que eu disse é verdade. Então, ele reviveu aquela sabedoria bíblica, e fez o bem, comeu bem, bebeu bem e lutou bem pelo PMDB, que esse aí é um grande valor que se iguala àqueles que recordamos com saudade; aos grandes nomes que nos encantam: Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Juscelino, Ramez Tebet e agora o Borborema, tão bem vivido pela amizade, o reconhecimento e a gratidão do Senador Geraldo Mesquita.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

            Encerro, Senadora Serys, propondo à Casa um requerimento de voto de pesar pelo falecimento do João Moreira de Alencar, o nosso querido Borborema, que deve já se encontrar na mesa pelo envio eletrônico que se faz hoje em dia.

            Muito obrigado pelo tempo disponibilizado.


Modelo1 5/1/248:59



Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2009 - Página 65618