Discurso durante a 241ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Proposta de que a sociedade possa cassar diretamente mandatos eletivos, em comentário acerca do episódio envolvendo o Governador do Distrito Federal e membros das três esferas do governo distrital: Legislativo, Executivo e Judiciário.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).:
  • Proposta de que a sociedade possa cassar diretamente mandatos eletivos, em comentário acerca do episódio envolvendo o Governador do Distrito Federal e membros das três esferas do governo distrital: Legislativo, Executivo e Judiciário.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2009 - Página 65630
Assunto
Outros > GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).
Indexação
  • GRAVIDADE, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), REGISTRO, NECESSIDADE, APURAÇÃO, DENUNCIA, IMPORTANCIA, EFETIVAÇÃO, PUNIÇÃO, AUSENCIA, INJUSTIÇA, COMENTARIO, REFERENCIA, PROVA.
  • ANALISE, SITUAÇÃO, DENUNCIANTE, CORRUPÇÃO, REU, CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, PARTIDO POLITICO, DEMOCRATAS (DEM), REGISTRO, EXTENSÃO, CRISE, LEGISLATIVO, JUDICIARIO, DISTRITO FEDERAL (DF).
  • APRESENTAÇÃO, SUGESTÃO, CONGRESSO NACIONAL, CASSAÇÃO, MANDATO ELETIVO, PARTICIPAÇÃO, CONGRESSISTA, CORRUPÇÃO, REGISTRO, IMPORTANCIA, SOCIEDADE, GARANTIA, DEMOCRACIA.
  • COMENTARIO, MATERIA, IMPRENSA, REFERENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, DISTRITO FEDERAL (DF), INVASÃO, CAMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL (CLDF), REGISTRO, IMPORTANCIA, ACOMPANHAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, CRISE, ETICA, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), OCORRENCIA, EXPANSÃO, SITUAÇÃO, PAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Serys, hoje, Mato Grosso está aqui se impondo, nesta Casa Alta do Congresso Nacional, na pessoa de uma mulher da têmpera de V. Exª. O Estado, certamente, se sente orgulhoso com isso, e nós, lá do sul também.

            Srs. Senadores, o episódio das fitas que enredaram o Sr. José Roberto Arruda, Governador do Distrito Federal, é o objeto do nosso comentário, nesta tarde, até porque entendemos que o que está acontecendo, o que levou a esse clima todo de inquietação não detona apenas o Governador do Distrito Federal. Seus estilhaços se espalham por todos os cantos, levantando dúvidas e suspeitas para todos os lados.

            A atitude do DEM de promover rápida apuração da responsabilidade de seu filiado não foi suficiente para conter as retaliações que estão ocorrendo, nem a sinalização de que haverá punição foi suficiente para inibir os estragos políticos que as denúncias estão produzindo. De um lado, porque as imagens sempre falam mais alto que as palavras, e os vídeos exibidos pelas emissoras de televisão foram muito acachapantes. Por outro vértice, a crise ética, tal qual uma novela, se divide em capítulos, mas difere num ponto: enquanto as produções televisivas têm fim, os desvios políticos só conhecem intervalos. Na passarela dos escândalos, já desfilaram os anões do Orçamento, sanguessugas, mensaleiros, cuequeiros e tantos “eiros” mais. E os atores não saíram de um camarim, mas dos centros de decisão deste País: do Legislativo, do Judiciário, do Executivo.

            Dos grandes Partidos, é difícil apontar um que não tenha sofrido o desgaste decorrente de desvios éticos destes ou daqueles mandatários que pertencem aos seus quadros. Daí a desilusão de muitos, a descrença de tantos outros e a indiferença de grande parcela da população, que exorciza a atividade política ao invés de mudá-la ou de, pelo menos, tentar fazer isso.

            Embora seja defensável o ato de denunciar, é prudente sempre examinar as denúncias com o maior critério, com as maiores reservas possíveis. Uma denúncia sem prova pode esconder uma vingança política, ou mesmo um simples interesse contrariado. Nessa circunstância, é inevitável o risco da injustiça. Um simples depoimento só deve induzir a juízo de valor quando o depoente tiver idoneidade capaz de avalizar o que diz.

            As denúncias contra o Governador do Distrito Federal e seus parceiros, que aparecem em gravações, são fortes porque foram fortes as evidências apresentadas. Faço essa ponderação porque tem gente achando, hoje, que o denunciante é um paladino da moralidade pública e dando crédito a tudo o que ele diz.

            Não resta dúvida de que ele acabou prestando um notável serviço público ao denunciar as mazelas do Palácio do Buriti, mas, entre a sua condição de meliante e o status de herói que alguns querem-lhe atribuir, existe uma enorme distância. Quem responde a mais de 30 processos, a maioria por crimes contra a Administração Pública, jamais pode ser confundido como referência de probidade, como ícone da ética, ainda mais porque só abriu a boca com a condição de se beneficiar da delação premiada e, assim, tentar escapar das penas a que está sujeito em razão dos processos a que me referi.

            É claro que o seu reprovável caráter não desqualifica as provas que efetivamente produziu, nem as que ele venha a ajudar a produzir, e isso é útil para alcançar os responsáveis pelos desmandos e puni-los.

            O que se impõe, entretanto, é separar o joio do trigo ou distinguir o que é verossímil, aquilo que tem coerência daquilo que não passa de aleivosia.

            De qualquer forma, é um episódio que deslustra o Democratas, mas respinga também na vida partidária em geral e, por isso, é nefasto à representação política.

            Para enfrentar tais desvios, o Congresso precisa adotar medidas corajosas. Uma delas é instituir o recall de mandatos eletivos ou a possibilidade de revogá-los sempre que o eleitor tiver um fundamento relevante para isso.

            É indispensável garantir a toda a sociedade o direito de cancelar o mandato de quem transgride os seus deveres éticos, estando no exercício de um mandato popular. Afinal, a sociedade é a verdadeira titular do poder, em cujo nome todos nós temos apenas o mandato, apenas a delegação. Portanto, todos nós o exercemos em nome da sociedade.

            Quando um político é julgado por outro político, é natural que ocorra a desconfiança. Aí brota o receio do corporativismo, que é janela para a impunidade.

            Veja o que está acontecendo agora no Distrito Federal.

            Como as evidências alcançam Executivo e Legislativo, não tardou a suspeita. O temor de acumpliciamento dos dois Poderes põe dúvidas, sérias dúvidas, no julgamento e gera a reprovação. A ocupação de instalações da Câmara Distrital por populares reflete essa desconfiança.

            Ainda hoje, à tarde, Sr. Presidente, a polícia cercou a Câmara Distrital. Aqui está a última notícia que pincei acerca do assunto:

A Polícia Militar e membros do Bope cercaram há pouco a Câmara de Brasília. Eles vão iniciar negociações e pedir a saída de manifestantes que ocupam o prédio. Mais cedo, a Câmara, que contava com a presença de cerca de 60 manifestantes do movimento que pede o impeachment do Governador José Roberto Arruda começou a receber apoiadores do Governador. Mais de uma centena de pessoas ocupou a galeria da Câmara e gritou palavras de ordem pró-Arruda. Os ânimos ficaram tensos entre os manifestantes, que foram orientados a ficar em espaços separados do prédio.

            A verdade é que esse episódio está, de certa forma, engessando o próprio funcionamento da administração de Brasília e precisa ter um desenlace, até para evitar a exploração política.

(Interrupção do som.)

            O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Já estou concluindo.

            É importante evitar essa exploração política, que já está ocorrendo desde o começo. E quanto mais tempo demorar para o seu epílogo, a exploração política será mais pronunciada ainda. A verdade é que o episódio, envolvendo o Governador José Roberto Arruda, é lastimável sob todos os aspectos e precisa, sim, que o Congresso Nacional acompanhe atentamente o desenrolar da crise, porque ela reflete também uma crise ética, que não está só no Distrito Federal, mas se espalha como praga de gafanhoto por todo o território brasileiro.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2009 - Página 65630