Discurso durante a 241ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com resultados de pesquisa publicados no jornal Folha de S.Paulo, de 4 de outubro do corrente, acerca da credibilidade das instituições e da percepção da corrupção pelo povo.

Autor
Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com resultados de pesquisa publicados no jornal Folha de S.Paulo, de 4 de outubro do corrente, acerca da credibilidade das instituições e da percepção da corrupção pelo povo.
Aparteantes
Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2009 - Página 65631
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • APREENSÃO, RESULTADO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, CORRUPÇÃO, BRASIL, EXISTENCIA, IRREGULARIDADE, MAIORIA, INSTITUIÇÃO PUBLICA, OCORRENCIA, CRISE, ETICA, PAIS.
  • REGISTRO, CONCORRENCIA, MUNDO, EPIDEMIA, CORRUPÇÃO, DIFICULDADE, COMBATE, CRIME.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Marco Maciel, que preside esta reunião de 8 de dezembro; Parlamentares presentes; brasileiros e brasileiras que acompanham aqui no plenário a sessão e os que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado - televisão e a rádio.

            Senador Marco Maciel, V. Exª simboliza muito o Brasil, além da vida política, de haver exercido com muita dignidade a Presidência da República por mais de 80 vezes, entendo que atravessamos um dos momentos mais difíceis da nossa história. Governo é governo e conta que é forte, eu entendo e vi isso em Hitler, que tinha 99% de apoio. Hitler - podem pegar a história e lerem Mein Kampf. Fidel Castro, estive lá recentemente, e ele não tem, eu senti, menos de 90%. O Presidente da República se diz de grande popularidade. Mas, Marco Maciel, não há, no Brasil, aquele tripé sonhado por Montesquieu, a divisão de Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O tripé que sustenta o Governo brasileiro e o do meu Piauí é a mentira, a corrupção e a incompetência. A mentira. “Nunca antes”, diz o nosso Luiz Inácio. A verdade é “nunca dantes”, Camões falava assim. Marco Maciel, eu nunca vi isso.

            Folha de S.Paulo, de domingo, 04 de outubro. Atentai bem! Presidente Marco Maciel, o que lhe lembra 04 de outubro? São Francisco - o meu nome é Francisco -: “Senhor, faça-me um instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; a discórdia, a união; o desespero, a esperança”. Eu quero levar a esperança “O erro, a verdade”. Eu quero levar a verdade, como Cristo dizia: “De verdade, em verdade”. Tudo é mentira! Tudo é mentira! Por isso, hoje, essa audiência da TV Senado, por que leva a verdade.

            Marco Maciel, eu nunca vi isso. Aqui é a Casa do debate. “De verdade, em verdade eu vos digo”. É o nosso Cristo. Eu sou do Partido Social Cristão, e aqui falo em nome de Jesus. Mas, Marco Maciel, 04, Dia de São Francisco. Olha aqui os trabalhos. Trabalho muito bem feito da Folha de S.Paulo. Eu nunca vi isso. Hitler teve esse percentual de popularidade. A bandeira lá era - vejam: foi o Mozarildo que me chamou a atenção para isso na sexta-feira - Goebbels, um comunicador que dizia: “Uma mentira repetida se torna verdade”. O Mozarildo me inspirou a isso na sexta-feira. Está ouvindo, Mozarildo? 

            Marco Maciel, atentai bem!: vivemos a pior crise deste País. Não é negócio de dinheiro, não, mas de credibilidade. Ninguém acredita mais em ninguém. Não existe desgraceira pior do que essa, ninguém acredita em ninguém.

            Marco Maciel, 92% dos brasileiros acham que nós somos corruptos; só 8% a nossa credibilidade, do Congresso. Neste País, Marco Maciel - atentai bem! -, segundo o trabalho bem-feito aqui, a instituição que tem mais credibilidade é a Igreja Católica, com decepcionantes 29%. Ô Marco, preste atenção aqui V. Exª que é da Igreja Católica. Meu nome é Francisco, filho de uma Terceira Franciscana, fui ser interno em colégio de padre Marista. Rapaz, naquilo ali todo mundo acreditava! Ô Marco Maciel, nos anos 60, todo mundo acreditava na Igreja Católica. Hoje é a que tem mais credibilidade: 29%. Um país desse! Marco Maciel, V. Exª é da nossa geração. Acreditava-se. Aí, as Forças Armadas, 24%, Exército e Aeronáutica. A justiça perambula por aí. O Congresso, 8%. Setenta e nove por cento afirmam que os brasileiros vendem voto. É o exemplo. Não era assim, não.

            Ô Marco Maciel, ô Luiz Inácio, eu nunca precisei desse negócio aqui de ser político, não. O que me atraiu foram os homens de vergonha e dignidade. E era assim. Eu fui atraído por um Petrônio Portella, que tinha respeito e dignidade, pelo irmão dele, Lucídio Portella, Chagas Rodrigues, Wall Ferraz, General Gaioso. Não era assim, não, Marco Maciel? Você foi atraído pela política porque os políticos tinham vergonha. Não é isso que se vê hoje, não. É o reino dos aloprados.

            Quer que eu diga uma? Está todo mundo aqui vazio. Está todo o Brasil indo para Copenhague. Tem uma delegação de aproximadamente mil brasileiros.

            Shakespeare, no seu livro Rei Lear, ô Mozarildo, “há algo de podre no reino da Dinamarca”. Ele chegou a dizer no seu livro que era melhor ser um mendigo em Nápoles, Osmar Dias, do que rei da Dinamarca. Não existe! Os aloprados dominaram; nós perdemos a credibilidade. Há mil brasileiros! Rui Barbosa foi sozinho para a Holanda, para Haia. Levou a mulher dele e nos representou com sabedoria, com decência, impôs-se ao Direito Internacional.

            Desafio aí os jornalistas. Não sei se o Banco do Brasil vai deixá-los publicar, quem paga a conta, o BNDES, a Caixa Econômica, a Petrobras. Eu não sei. Mil brasileiros!

            Vocês se lembram de Rui Barbosa? Foi ele só, com dois. O Governador do Piauí foi outro dia para a Grécia e para a Alemanha mentir e levou 32.

            Então, resulta nisso: credibilidade, ninguém acredita mais em ninguém.

Vinte e nove por cento acreditam na Igreja Católica, com 20% dos evangélicos, a média dá 24%, porque todos são cristãos, são iguais, não tem esse negócio não. Aqui é porque fomos descobertos por Portugal, prevaleceu o catolicismo, mas é tudo igual, todos são cristãos.

            Então, a média é esta. Não é assim. Era para acreditarmos no Congresso, era para acreditarmos no Presidente da República, era para acreditarmos nos Governadores. Como que pode?

            Como é que pode o governador aqui da capital? Então, eu acho e entendo que este é o mais grave momento.

            Segundo a Folha de S.Paulo, 79% afirmam que os brasileiros vendem voto. Não era assim. Não era assim. Não era assim. Trinta e três por cento acham que não se pode fazer política sem corrupção. Esta é a crise mais grave. É a crise de ética, de falta de moral, de dignidade.

            Então está aqui o trabalho bem-feito. Olha, o trabalho é longo. Diz aqui: “Retrato da Ética no Brasil. Pesquisa Data Folha revela que os brasileiros se sentem cercados de corrupção por todos os lados, embora advoguem um alto padrão moral, com valores semelhantes em todos os estratos da sociedade.”

            Então nós queremos crer e queremos trazer aqui a esperança.

            Senador Osvaldo Sobrinho, ainda bem que estou no partido de Jesus, pois a esperança a gente só encontra no livro de Deus, que diz: depois da tempestade, vem a bonança.

            Não acredito que nós possamos descer mais. Este tema foi trazido aqui, sexta-feira, por Mozarildo Cavalcanti. Mozarildo, o que V. Exª trouxe foi tão sério e tão importante, que fui buscar as origens que V. Exª despertou para a crise. E o Mozarildo trouxe uma contribuição da instituição dele, a Maçonaria. Ele mostrou aqui, nos cartazes, que ela inicia uma campanha de ética, de dignidade na democracia. Então este é o momento. É cada gesto.

            “No Brasil, perseguem-se mais os pequenos contraventores que os grandes corruptores de fato, como empreiteiros que se beneficiam de sistema de proteção.”

            É um trabalho longo, bem-feito:

Podres poderes.

Noventa e três por cento dos simpatizantes do PSDB e 90% dos que optam pelo PT veem corrupção no governo federal

            Nunca dantes em mares navegados... O nosso Presidente diz: “Nunca antes...” Nunca antes, houve um mar de corrupção tão grande que nos envergonhe tanto. “Noventa e três por cento dos simpatizantes do PSDB e 90% dos que optam pelo PT veem corrupção no governo federal.” O que adianta essa pesquisa comprada, falsa?

Congresso, Presidência e ministérios lideram percepção de corrupção entre instituições brasileiras; atos relacionados ao poder público são sinônimo de irregularidade, mostra pesquisa.

            Está aqui o seu gráfico, Mozarildo. Olha aqui: 29%, quer dizer, a média dos cristãos, que é o que tem mais credibilidade, Arthur Virgílio, dá 24,5% na igreja cristã. De lá para cá, eu não acredito em autoridade sem credibilidade, em autoridade suspeita. Então, está é a verdade. A imprensa... A imprensa... A imprensa, só 20% acredita nela. É a crise da credibilidade.

            Então, nós esperamos, acreditando no Livro de Deus, que diz: “Depois da tempestade vem a bonança”, que o País, como se diz... Aqui... Os países exemplos de honradez não têm essas estatísticas de jeito nenhum.

Corrupção é epidemia global. Levantamentos indicam percepção de ilícito semelhante em outros países e sensação de que a política pública fracassa no combate à prática, que pode ser minimizada, mas não abolida.

            Uma viagem à propinolândia. Do ‘molhar a mão’ ao ‘pagou-passou’,... Os entrevistados dizem ter ouvido pedidos ilícitos de dinheiro. Qualquer atividade hoje.

Paradoxos morais. Complexidades inerentes às escolhas éticas ajudam a entender por que brasileiros, ao mesmo tempo, se dizem ciosos das leis e reconhecem praticar desvios.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Um aparte, Senador Mão Santa?

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Aparte.

Setenta e seis por cento dos brasileiros afirmam discordar da frase: “se quero ganhar dinheiro, nem sempre posso ser honesto”

Do quanto somos (im)perfeitos

Desconfiança generalizada em relação a outras pessoas contrasta com o elevado padrão moral assumido individualmente pelos brasileiros.

            Então, esta é a realidade do nosso Brasil.

            Com o aparte o nosso Senador Papaléo.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senador Mão Santa, quero cumprimentar V. Exª pelo tema importante que V. Exª traz à tribuna, exatamente porque, não digo denúncia, porque as denúncias já ocorreram sobre todos esses casos, mas fundamentalmente uma lembrança: relembrar a todos nós todo esse processo de corrupção, de malversação do dinheiro público que se passa e que, de repente, em algumas semanas ou em alguns meses, são substituídos por outros, e são esquecidos aqueles primeiros, e assim por diante. Então, o que falta, eu acho, é que nós temos que fazer com que a população se sinta responsável também por isso, que se sinta responsável no momento de cobrar, no momento de votar, no momento de participar ativamente dos movimentos que possam vir a servir de alerta à nossa sociedade. Então, eu quero parabenizar V. Exª. E quero fazer uma lembrança também sobre a questão da corrupção. O que nós vimos, eu quero... Estou batendo muito nesta tecla porque eu não vi nenhum educador, nenhuma pessoa preocupada com educação - até cito aqui o Senador Cristovam, que hoje na Comissão repetiu a mesma coisa - sobre o Enem. O Enem é uma avaliação em que não sabemos que tipo de avaliação o Ministério da Educação quer fazer. Não sabemos. Eu não consigo imaginar que se possa avaliar o ensino médio ou que se possa avaliar o aluno da maneira como é feito. Primeiro, houve vazamento da prova. Isso já vinha ocorrendo há muito tempo, há muito tempo mesmo. Por que? Porque o Governo se exime da responsabilidade de fiscalizar...

(Interrupção do som.)

           O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - ...de chamar para si a responsabilidade de fiscalizar a elaboração e a distribuição da prova, e terceiriza. Quem terceiriza terceiriza para outros também. Então, não adianta fingir que não sabemos disso, mas a safadeza está disseminada. Pegaram uma das safadezas e anularam o Enem. E por que o Governo fez com que a prova fosse adiada para o final do ano, a maioria das universidades rejeitou o resultado dessa prova e 40% dos alunos não fizeram a prova. E inclusive professores de cursinhos em São Paulo orientaram os alunos a não fazerem a redação para poder dar tempo de responder as perguntas. No domingo, Senador Cristovam,

           (Interrupção do som.)

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Eles fizeram 45 questões de Matemática, mais 45 de outras matérias e, depois, uma redação. Então, os professores disseram: “Não façam a redação. Deixem para lá. Façam as respostas objetivas”. Há perguntas com alto nível de complexidade. Ou seja, o Governo jogou fora R$130 milhões para fazer o Enem, que poderia ser dispensado completamente este ano. Então, Senador, isso tudo é corrupção. Isso é corrupção. Afirmo que é corrupção, porque não havia necessidade de gastar R$130 milhões para fazer esse Enem no afogadilho, terceirizando. Dali em diante, a corrupção se alastra, não há jeito. Isso é corrupção. Então, o próprio Governo dá o exemplo da corrupção legalizada. Isso é corrupção. V. Exª, quando lembra do “mensalão” patrocinado pelo Governo Federal, vê que o exemplo vem de cima. Daí vem “mensalote”, “mensalete”, “mensalinho”, tudo que é tipo de corrupção. Realmente, não podemos deixar que toda essa corrupção seja coberta pelo manto branco da popularidade do Senhor Presidente, seja coberta pelo manto branco do bom desempenho da economia do País, porque são coisas completamente distintas. Vivemos um bom momento no País? Sim, vivemos. Mas também vivemos um péssimo momento em maus exemplos relacionados à corrupção. Parabéns a V. Exª!

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Para terminar, eu ia buscar no nosso Rui Barbosa - por isso, ele é muito atual - uma reflexão para quantos brasileiros estão na Dinamarca: é preciso ter austeridade. Eu queria dizer que Rui Barbosa é atual, porque disse que, “de tanto ver as nulidades assumirem o poder, de tanto campear a corrupção, rir-se das honras, vai haver o dia em que vamos ter vergonha de sermos honestos”. Esse dia chegou.

            Fui buscar as provas todas, para ler o trabalho que chamou a atenção desse bravo Senador Mozarildo, que trouxe aqui uma campanha da Maçonaria, que não foi pesquisada e que estará na frente. É muito pouco, porque a Igreja cristã, na média, dá 24%. Então, todas as instituições estão abaixo de 24%: Justiça; Polícia; Congresso, com 8%; partido político - esse não tem credibilidade alguma, como fez a análise o Senador Mozarildo.

            Então, acreditamos, acreditamos. Há crença. É preciso crer, e creio que o bem vai vencer o mal. Estou com a literatura de Ernest Hemingway, que nos ensina que não se pode perder a esperança. É a maior estupidez, é um pecado perder a esperança. Então, tenhamos esperança de que o bem vai vencer o mal, mas tenhamos a certeza, como disse o Padre Antonio Vieira, de que “palavras sem exemplo são como um tiro sem bala”. O nosso Presidente tem dito muitas palavras. O exemplo arrasta. Então, ó Deus, ó Deus, fazei com que o nosso Presidente se afaste desses aloprados que contaminaram o País!

            Termino, enfatizando o trabalho da Folha de S.Paulo, que reflete - há até uma figura: “Retrato da ética no Brasil. Pesquisa DataFolha revela que os brasileiros se sentem cercados de corrupção por todos os lados”. Sempre denunciei: há muitos aloprados aqui. Ulysses Guimarães, encantado no fundo do mar, daquele MDB da história, do passado, dizia que a corrupção é o cupim que corrói a democracia. Nunca vi, neste Brasil, tantos cupins e aloprados juntos! Vamos combatê-los!

            Era o que tinha a dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2009 - Página 65631