Discurso durante a 241ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre os incidentes registrados entre as torcidas do Coritiba e do Fluminense, no último domingo, no Estádio Couto Pereira. Defesa da capacidade do Estado do Paraná de sediar jogos da Copa do Mundo. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Comentários sobre os incidentes registrados entre as torcidas do Coritiba e do Fluminense, no último domingo, no Estádio Couto Pereira. Defesa da capacidade do Estado do Paraná de sediar jogos da Copa do Mundo. (como Líder)
Aparteantes
Flávio Arns.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2009 - Página 65672
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, TORCEDOR, ESTADIO, ESTADO DO PARANA (PR), COMPETIÇÃO ESPORTIVA, FUTEBOL, NECESSIDADE, CUMPRIMENTO, ESTATUTO, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, CRIME, CRITICA, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, EXTERIOR, FALTA, BRASIL, PREPARAÇÃO, REALIZAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, OLIMPIADAS.
  • DEFESA, CAPACIDADE, ESTADO DO PARANA (PR), REALIZAÇÃO, FASE, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, ORGANIZAÇÃO, SOCIEDADE, REPUDIO, COMBATE, VIOLENCIA, ESTADIO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero agradecer a gentileza do Senador João Pedro e até justificar por que eu preciso falar neste momento: em função da séria gripe que eu estou, não quero ficar aqui e contaminar nenhum Senador - embora não seja a gripe suína, viu, Presidente? Pode ficar tranqüilo. Mas eu recomendo que todo mundo, daqui para frente, fale daquele outro microfone. O Senador Mozarildo é médico e está me recomendando isso.

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - O senhor falando à esquerda está tudo bem.

            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Está bem.

            Sr. Presidente, eu venho aqui para falar de um assunto que é de extrema gravidade, Senador Arthur Virgílio. V. Exª falou agora do esporte e é sobre isso que eu quero falar, dos gravíssimos acontecimentos no Couto Pereira no final do jogo Coritiba e Fluminense.

            Eu tenho ouvido na mídia nacional, na mídia esportiva, uma generalização que não é justa com o Paraná. Aquilo que aconteceu no campo do Coritiba não foi promovido pela torcida do Coritiba, não foi promovido pela torcida do Atlético Paranaense, do Paraná Clube, do Grêmio de Maringá, do Londrina, não foi promovido pela torcida paranaense que vai ao campo para torcer pelo seu time, para exercer a cidadania e para participar de um espetáculo do esporte mais popular do País.

            Aquelas pessoas que fizeram aquilo no Couto Pereira fariam aquilo num bar, numa rua, numa quermesse de igreja, em qualquer ambiente, porque aqueles, sim, são desgarrados da cidadania. São pessoas que devem ser punidas rigorosamente, porque estão manchando o nome do clube que elas dizem representar e não representam, porque o Coritiba é um clube de tradição, de história, construído com muita dignidade pelas pessoas durante um século, já que está no ano do centenário. E logo no ano do centenário aquilo foi acontecer. O Coritiba é um time de respeito.

            Não sou torcedor do Coritiba, todo mundo sabe que não sou torcedor do Coritiba. O meu time não está na primeira divisão nem na segunda do Campeonato Paranaense, Senador Acir. V. Exª conhece Cascavel. O meu time é o Grêmio de Maringá, lá no Paraná, que até acabou. E, em São Paulo, torço pelo mesmo time do Senador Romeu Tuma, o Corinthians, que vai muito bem, graças a Deus, e está na Libertadores. Há muita gente brava com isso, mas está na Libertadores.

            Vim a esta tribuna para defender, Sr. Presidente, aquilo que considero uma questão de justiça, porque, se tivesse acontecido no campo do Atlético, não teria sido a torcida do Atlético. Se tivesse acontecido no Paraná Clube, da mesma forma. Se acontece no campo do Coritiba, não podemos permitir que se manche o nome de uma instituição que tem 100 anos de existência, porque alguns aloprados - como costuma dizer aqui o Senador Mão Santa - foram lá para promover a bagunça, a confusão. Foram lá para se exibir e querer transformar em guerra uma praça de esportes. E atacando a polícia.

            Há gente que fala que a polícia estava mal preparada: poucos homens para 40 mil torcedores. Mas vamos ver. Será que a gente precisa, então, pôr o Exército no campo do Coritiba, do Atlético, do Flamengo, do Corinthians para assistir a um jogo de futebol? Aí é porque a coisa está perdida. A polícia estava lá para oferecer um mínimo de segurança, para simbolicamente dizer: “Estamos aqui, se acontecer qualquer episódio, estamos prontos.” Não podemos, de jeito nenhum, culpar a Polícia Militar pelos episódios que aconteceram lá e dizer que ela estava despreparada, que havia poucos homens e inclusive mulheres.” Não.

            Ninguém pode entender, Sr. Presidente, como é que aquelas pessoas foram lá para destruir o patrimônio de um clube, arremessar placas e bancos em direção à polícia, como se ela tivesse culpa de o time ter empatado e ter sido rebaixado para a segunda divisão - o que lamento, porque é o futebol do Paraná que perde.

            O futebol do Paraná merecia ter, pelo menos, dois clubes na primeira divisão. Aliás, o futebol do Paraná deveria ser repensado, porque um Estado como o Paraná, que é o quinto do País, que tem cidades como Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu, não tem um time do interior que dispute a primeira divisão - aliás, tem um time na segunda divisão.

            Então, é preciso que se repense isso, mas isso não dá motivo para que aquele bando de loucos promovessem aquele espetáculo grotesco, grosseiro, gravíssimo. Hoje, eu vi, num programa de esportes de rede nacional, um locutor famoso dizer o seguinte: “Foi o pior espetáculo que já vi na minha vida desportiva.” Não, não foi o pior. Já houve piores. Lá em São Paulo, já houve gente morrendo; no Rio de Janeiro, gente morrendo. Foi um dos mais grosseiros espetáculos que também vi, mas não podemos agora dizer que nunca aconteceu e que nunca mais vai acontecer.

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. DEM - SP) - Senador, dá licença.

            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Pois não, Senador.

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. DEM - SP.) - Queria só chamar a atenção para a importância do discurso de V. Exª. Não se pune um clube, em nenhuma sociedade, por crimes individuais. Eles são isolados. São pessoas que praticaram a violência. Então, a tese que V. Exª levanta, não tenha dúvida, é tolerância zero para a violência no esporte.

            Então, o Paraná não pode ser punido pela ação individualizada, que foi filmada, e provavelmente os responsáveis serão identificados.

            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Senador Romeu Tuma, obrigado pelo aparte, que é muito importante, V. Exª é especialista nisso e sabe a importância que tem a Polícia presente, o aparato policial, mas sabe também a importância que tem a educação, a cidadania. As pessoas não podem ir a um campo de futebol prontas para brigar, só pensando em brigar.

            Será que, se o Coritiba tivesse vencido e não tivesse caído para a segunda divisão, aquelas pessoas que foram lá não teriam promovido o mesmo espetáculo grosseiro, de invadir o campo? Aqueles crimes que eles praticaram eles não teriam praticado? Para eles não importa o resultado do time, não são torcedores coisa nenhuma; eles estão lá para bagunçar, para aparecer. Conseguiram aparecer, mas eu espero que eles apareçam atrás das grades agora, porque aquilo que foi feito lá...

            Uma enfermeira perdeu três dedos da mão. Não tinha nada a ver com aquilo. Estava passando na rua e jogaram uma bomba no ônibus em que ela estava andando. Ela perdeu a sua profissão. Sem os três dedos, Senador Mão Santa, como é que ela vai exercer a sua profissão?

            Então, foi um crime que se praticou, e aquele grupo de pessoas tem que ser identificado. Um por um. Porque as imagens da televisão podem identificar um por um. E que a Justiça seja ágil para puni-los, porque o exemplo da punição é que vai levar as pessoas a irem ao estádio, a voltarem a ir com as suas famílias, com a criança de colo, o que no nosso tempo era possível - hoje não é mais -, com a mulher, com a filha, com o filho, com a família, enfim. Porque o futebol é o esporte mais popular, mas, para continuar sendo o esporte mais popular, as pessoas precisam ter o direito e a liberdade de frequentar um estádio de futebol.

            E aí vem a Copa do Mundo. E a Copa do Mundo levou as redes de televisão do mundo inteiro a colocarem as imagens do campo do Coritiba, para dizer o seguinte: “O Brasil não está preparado”. Já chega aquele ator americano que fez aquela cena de agressão ao nosso País. Ele deveria também receber uma reprimenda, não sei de quem, mas tem que receber, porque o que ele fez com o Brasil foi uma brincadeira de mau gosto, uma grosseria que não tem perdão.

            E aí aproveitam agora para dizer: “O Brasil não está preparado para as Olimpíadas, não está preparado para a Copa do Mundo”. O Brasil está, o Paraná está. E que não venham com a conversa de tirar a Copa do Mundo do Paraná, porque a população do Paraná vai reagir contra isso. Nós vamos nos unir, porque o Paraná está preparado, sim. Meia dúzia de malucos não podem representar a maioria da nossa população, que é pacífica, que é ordeira e que gostaria de ter visto o final do jogo com toda a tranquilidade, com o direito de o Fluminense comemorar, com direito de o Coritiba ficar triste, porque todos da “nação verde”, como lá é chamado o grupo de torcedores do time, estão tristes. Agora, vejam aquilo que foi feito lá: o sujeito vai a uma academia, Senador Romeu Tuma, faz quinze dias, vinte dias de academia e se acha forte, se acha o Rambo, se acha poderoso, e sai num campo de futebol querendo bater em todo mundo. Ah, não dá! Não dá para suportar esse tipo de atitude, de violência, de pessoas criminosas que não merecem o respeito da sociedade e que, portanto, merecem a punição da Justiça.

            Agora, a televisão tem as imagens de um por um. Dá, sim, para, identificar cada um e saber quem são os responsáveis. O Estatuto do Torcedor está aí para ser cumprido, e o time vai ser punido. Quem vai pagar caro é o Coritiba, porque sei as punições que já estão sendo pensadas em relação ao Coritiba. E aqueles que promoveram vão ficar impunes? Não dá. Nós estamos falando de segurança pública, nós estamos falando de cidadania e de respeito, que não houve lá, e que têm que ser cobrados.

            Senador Flávio Arns, concedo um aparte a V. Exª.

            O Sr. Flávio Arns (PSDB - PR) - Só quero, Senador Osmar Dias, concordar integralmente com tudo o que V. Exª disse em relação a esse episódio de domingo e dizer também que as imagens - eu estava assistindo ao jogo pela televisão -, transmitidas no decorrer do jogo, eram de torcedores entusiasmados, entristecidos também, famílias, crianças, jovens, mulheres; no final, pessoas chorando. Aquela era a torcida coxa-branca, a torcida do Coritiba, que neste centenário inclusive, cem anos de existência, está caindo para a segunda divisão chateada e triste por causa daquilo. As imagens que nós vimos da torcida do Flamengo foram entristecedoras também, porque havia torcida do Flamengo brigando com a própria torcida do Flamengo, infelizmente; não a torcida, mas elementos da torcida agredindo pessoa caída inclusive. Quer dizer, são cenas de violência indescritíveis, que estão acontecendo não só no Paraná, como aconteceu no domingo em relação àqueles torcedores, mas no Brasil inteiro. Agora, o que o Paraná pode fazer - e nós vamo-nos empenhar, sem dúvida, para isto - é o seguinte, como V. Exª colocou: é esclarecer os fatos, e as pessoas têm que ser exemplarmente identificadas e punidas. Para isso, nós confiamos muito no Ministério Público do Estado Paraná. O Dr. Olympio de Sá Sotto Maior Neto, Procurador-Geral de Justiça, já determinou que houvesse uma investigação completa. Confiamos na Polícia Militar, na Polícia Civil, no aparato de segurança, para que isso aconteça. Aí o Paraná pode - tem todas as condições para isso - e deve dar o exemplo para o Brasil. Agora, ao mesmo tempo, quero mandar um abraço para a nação coxa-branca, para a nação alviverde, para todos os torcedores, amigos do Paraná, para que o Coritiba realmente possa fazer uma bela campanha, possa se recuperar porque o Paraná precisa, o nosso Estado precisa desse time na 1ª divisão. Então, eu não torço pelo Coritiba. Sou do Paraná Clube, meu filho é coxa-branca, meu falecido sogro era jogador do Atlético, e há uma convivência pacífica lá em casa entre as três torcidas. E é isso que tem que acontecer no Estado do Paraná. Mas punir, identificar, punir e tomar as medidas necessárias, aplicando-se aquilo que nós aprovamos, que foi o Estatuto do Torcedor, como V. Exª já mencionou.

            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Obrigado, Senador Flávio Arns.

            Para encerrar, Sr. Presidente, eu gostaria de incorporar o aparte do Senador Flávio Arns, porque é isso mesmo. O que nós queremos aqui ressalvar é que, no Paraná, nós temos uma sociedade ordeira, organizada e que não pode ser confundida com aqueles elementos que estavam lá para provocar a violência.

            Aquela violência é a mesma que matou e chacinou oito pessoas nas ruas de Curitiba. Eram trabalhadores, mulheres, inclusive uma grávida. Aquela violência é a mesma que está se espalhando no País. Pessoas que muitas vezes se viciam - e não estou dizendo que aqueles estavam - não têm nenhum pudor e nenhum temor de cometer atos de violência como aqueles que foram praticados no campo Couto Pereira.

            Estou aqui não para lamentar, mas para cobrar do Ministério Público. Sei que o Dr. Olympio, que está à frente dessa ação, pode realmente levar à punição aqueles que promoveram aqueles atos de violência.

            Precisamos banir dos campos de futebol, limpar os campos de futebol daquela gente. As ruas, as praças, todos os locais precisam ser limpos dessa gente que quer provocar a violência. Não havia nenhum motivo para aquilo. Fizeram aquilo porque gostam de fazer. Se gostam, há um lugar para quem gosta de fazer aquilo. Não é no campo de futebol.

            Estamos aqui para dizer que a torcida do Coritiba não merecia ser misturada com esses elementos. A torcida dos paranaenses é para que a gente possa ter a punição de quem provocou a violência.

            Que o time, o clube, o Coritiba, a instituição Coritiba Futebol Clube possa realmente ser preservada, respeitada, porque está comemorando o seu centenário e merece o nosso respeito, Sr. Presidente, assim como toda a torcida paranaense.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2009 - Página 65672