Discurso durante a 241ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação acerca da corrupção no meio político, ilustrada por poema de Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, intitulado "Brasil". (como Líder)

Autor
Wellington Salgado (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Wellington Salgado de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação acerca da corrupção no meio político, ilustrada por poema de Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, intitulado "Brasil". (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2009 - Página 56695
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, OCORRENCIA, CORRUPÇÃO, POLITICA, EXTENSÃO, SOCIEDADE, LEITURA, OBRA ARTISTICA, MUSICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REFERENCIA, ASSUNTO, COMENTARIO, EXISTENCIA, CRISE, MORAL, BRASIL, PREJUIZO, POPULAÇÃO.
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, IMPORTANCIA, POLITICA EXTERNA, GOVERNO BRASILEIRO, INTERESSE, EMPRESARIO, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

            Hoje eu vim à tribuna para falar para os Senadores e também para a TV Senado que existem momentos em que você tem que colocar realmente o que você está sentindo, o momento que você está vivendo.

            Eu nasci em 1958. A minha geração veio depois... Não tinha idade, ainda, na época da ditadura, ou seja, houve a discussão de uma geração que tinha liberdade política e, em virtude de conflito entre pessoas dessa mesma geração, veio a ditadura e, depois, veio, outra vez, a liberdade conseguida por essa mesma geração. O que é engraçado, Senador Mão Santa, é que aqueles dessa geração, anterior à minha, que acabaram criando conflito entre eles mesmos, que criaram toda essa discussão - ditadura, volta à liberdade que existia antes da ditadura - acabam cobrando um preço que quem paga é a minha geração. Refiro-me às indenizações por causa dos direitos que essas pessoas perderam durante a discussão daquela geração. É a minha geração que está pagando por tudo o que eles fizeram há vinte anos.

            Ao mesmo tempo, Senador Mão Santa, a situação causa-me constrangimento por eu ser um político e estar aqui no Senado Federal, cercado da maioria que não comunga com o que estamos vendo todos os dias nos jornais, na imprensa. Acabam generalizando e levando para todos os políticos imagens colocadas, imagens feitas, imagens reais do que vem acontecendo. Eu não estou aqui para julgar esse ou aquele partido, porque o que estamos vendo, Senador Mão Santa, é o problema de valores. Uma hora dizem que há o mensalão do PT; outra hora há o mensalão do PSDB; outra hora, é um problema do PMDB, que é o meu partido; outra hora, é o problema do DEM. Na verdade, Senador Mão Santa, o problema é um só. Ninguém nasce e recebe um carimbo: você vai ser do DEM, você vai ser do PMDB, você vai ser do PT. Não existe isso. Cada um cria o seu caminho e ali desenvolve os seus valores. Existem momentos em que a pessoa tem que mostrar quais são os seus valores. É aquele momento mágico quando a pessoa tem de decidir se adere ou se não adere. Por isso eu disse que estou fazendo essa manifestação, desta tribuna, em nome da minha geração, porque se eu não a fizesse eu não me sentiria bem.

            Senador Mão Santa, eu fiz a consulta... Eu estava olhando a manifestação de um poeta da minha geração, que escreveu um poema chamado Brasil. Esse poeta se chamava Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, que representava a nossa geração. Ele também é de 1958, ano em que eu nasci.

            Esse poema, que foi transformado em música... Eu, tendo em vista todo esse momento que nós estamos vivendo, nunca vi alguma coisa tão atual. Esse poema, segundo as minhas consultas - eu vivi essa época -, foi escrito em 1988, ou seja há 21 anos. Eu tenho 51 anos; eu tinha 30 anos naquela época. Estávamos saindo da universidade, gozando de liberdade...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Ano em que foi escrita a Constituição Brasileira Cidadã.

            O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Exatamente. Então, eu queria, para retratar esse momento, ler - não cantar - esse poema, que muitos conhecem mas que retrata realmente o momento que nós estamos vivendo:

Não me convidaram

Pra esta festa pobre

Que os homens armaram

Pra me convencer

A pagar sem ver

Toda essa droga

Que já vem malhada

Antes de eu nascer...

Não me ofereceram

Nem um cigarro

Fiquei na porta

Estacionando os carros

Não me elegeram

Chefe de nada

O meu cartão de crédito

É uma navalha...

Brasil!

Mostra tua cara

Quero ver quem paga

Pra gente ficar assim.

Brasil!

Qual é o teu negócio?

O nome do teu sócio?

Confia em mim...

            E ele repete o refrão da música:

Não me convidaram

Pra essa festa pobre

Que os homens armaram

Pra me convencer

A pagar sem ver

Toda essa droga

Que já vem malhada

Antes de eu nascer...

Não me sortearam

A garota do Fantástico

Não me subornaram

Será que é o meu fim?

Ver TV a cores

Na taba de um índio

Programada

Pra só dizer "sim, sim"

            E ele repete:

Brasil!

Mostra a tua cara

Quero ver quem paga

Pra gente ficar assim.

Brasil!

Qual é o teu negócio?

O nome do teu sócio?

Confia em mim...

            E ele diz:

Grande pátria

Desimportante

Em nenhum instante

Eu vou te trair

Não, não vou te trair...

Brasil!

Mostra a tua cara

Quero ver quem paga

Pra gente ficar assim

Brasil!

Qual é o teu negócio?

O nome do teu sócio?

Confia em mim...(2x)

Confia em mim

Brasil!!

            Quer dizer, são versos atualíssimos em relação a tudo o que estamos vendo. Não é apenas uma questão que está acontecendo em Brasília, mas é uma questão que se repete a cada momento.

            Esse poema foi escrito há 21 anos, Senador Mão Santa, ou seja, há uma geração. (Pausa.) São duas gerações - o Senador Heráclito me corrige. As coisas não mudaram, ou seja, entra geração, sai geração, e as coisas continuam como estão.

            Quando ele diz “não me ofereceram nenhum cigarro, fiquei na porta estacionando os carros, não me elegeram chefe de nada, o meu cartão de crédito é uma navalha”, temos aqui um exemplo atualíssimo em que as pessoas honestas, simples e que fazem sua parte ficam sempre com os piores lugares nas escalas sociais e nunca chegam a ser chefes de nada. Era isso que ele escrevia, e é isso que a sociedade está demonstrando.

            Há outra parte: “Brasil, mostra a tua cara. Quero ver quem paga para a gente ficar assim. Brasil, qual é o teu negócio? O nome do teu sócio (...).” Fica clara outra situação atual: muitas vezes, no poder público, há sócio que não sabemos nem qual é o negócio nem o nome do sócio nesse negócio. E, quando aparece alguma filmagem ou algum assunto, acaba-se descobrindo quem são os sócios e quais são os negócios.

            Na outra parte, vem: “Grande Pátria desimportante, em nenhum instante, eu vou te trair. Não vou te trair.” Mais uma vez, mesmo muitos achando que a Pátria não importa diante do dinheiro, do poder e da vaidade, o poeta afirma que não vai trair a Pátria. Mais uma vez.

            Outra situação que acho importantíssima, Senador Mão Santa, é quando ele diz:

Não me sortearam

A garota do Fantástico

Não me subornaram,

Será que é o meu fim?

Ver TV a cores

Na taba de um índio

Programada

Prá só dizer “sim, sim”.

            Essa é outra situação em que os valores estão completamente desvirtuados na sociedade. Quando alguns acham que não estão sendo subornados, o poeta coloca: “Não me subornaram. Será que é o meu fim?”

            Muitas vezes, diante de tudo o que está acontecendo, até mesmo na política, goza-se de prerrogativas, goza-se de poder, tem-se a palavra, pertence-se a um grupo, e pessoas acham que, por você não estar metido em nenhuma armação dessas, você é uma pessoa sem poder. Como? Mas você não está nesse escândalo? São valores que estão completamente trocados na sociedade, Senador Mão Santa.

            Então, eu não me sentiria bem, Senador Mão Santa, se não colocasse aqui esse poema de alguém que nasceu no mesmo ano que eu, da maior sensibilidade, morreu jovem, vítima do amor que pregava, digamos assim, e que continua mais atual do que na época em que foi escrito.

            E, muitas vezes, passam pela nossa vida, por um país, pela nossa história pessoas que conseguem transformar em poema toda uma situação e toda uma visão de mundo clara, que elas conseguem transformar em algo que fica marcado.

            Essa talvez tenha sido uma prece da minha geração, momentos que não vamos ter mais, de quando temos 25, 26, 27 anos, em que achamos que somos os donos do mundo, que falamos o que queremos, escrevemos o que sentimos, falamos o que sentimos sem comprometimento nenhum. E, à medida que vamos envelhecendo, à medida que vamos criando círculos de amizade, acabamos criando comprometimentos em que acabamos não sendo o que éramos originalmente e acabamos por não falar aquilo em que acreditamos.

            Então, senti vontade de apresentar esse poema do Cazuza, um ídolo da minha geração, e que está mais atual do que nunca. Muitas vezes, Senador Mão Santa, tenho o maior orgulho de ser Senador. Participei de embates políticos dentro desta Casa que marcaram a passagem desta Legislatura, e me senti muito bem ao defender as coisas em que acreditava, sempre. E sempre me senti muito orgulhoso de ser chamado de Senador, de participar deste momento em que o País, independente de ideologia, independente de partidos, atravessa um momento nunca visto na história do Brasil: economia forte, povo satisfeito com o Governo que tem, representação no exterior do nosso Líder, que é um brasileiro - não estou discutindo questão partidária, estou discutindo alguém que foi eleito pela população e que representa nosso País no exterior, e representa muito bem, inclusive tendo a audácia de chegar a uma reunião e falar que ele podia conversar com o representante do Irã porque ele não tem armas atômicas.

            E quando acontecem situações políticas como essas que vêm acontecendo - e não estou aqui para julgar ninguém, não quero falar se é A ou se é B - acho que seja algo que vem contaminando a nossa sociedade fazendo com que muitas vezes homens de bem se afastem da política, grandes empresários de sucesso se afastem da política, achando que aqui sempre vai acontecer esse tipo de coisas e que todos os Senadores, que todos os políticos representam o que vem acontecendo aí nas últimas notícias.

            Não vejo assim. Vejo aqui no Senado muitos homens de bem, ex-governadores, vejo também na Câmara pessoas que pensam no País. E o nosso sucesso nessa legislatura e nessa administração com certeza passou pela Base de apoio do Governo e também pela Base que contesta o Governo, porque desse confronto de ideias é que saiu um Brasil que foi o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela. Um Brasil que é hoje a menina dos olhos dos grandes investidores internacionais.

            Mas continuamos pecando, pecando quando a questão é dinheiro, Senador Mão Santa. Muitas vezes, vejo políticos que fazem sua história sendo respeitados por ideias, sendo respeitados por comportamento, sendo respeitados pela liderança que exercem, e, de repente, ao ver um pacote de dinheiro, vendem toda a sua história. Quer dizer, aquele momento de ver o dinheiro é um momento de falar: “Não, isso aqui eu não vou nem pegar, não quero tocar nisso”. Esse é o momento importante para um grande político.

            Então, Senador Mão Santa, talvez esse hino da minha geração, infelizmente, continue mais atual do que nunca. Esse foi um poema escrito por Cazuza, Nilo Romero e George Israel, atual, muito atual para minha tristeza.

            Era isso que eu queria colocar, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2009 - Página 56695