Discurso durante a 244ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Celebração do centenário da Diocese de Natal-RN, comemorado no próximo dia 29 de dezembro.

Autor
Rosalba Ciarlini (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: Rosalba Ciarlini Rosado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Celebração do centenário da Diocese de Natal-RN, comemorado no próximo dia 29 de dezembro.
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2009 - Página 67097
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, FUNDAÇÃO, DIOCESE, IGREJA CATOLICA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ELOGIO, PROGRAMAÇÃO, REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, BISPO, SACERDOTE, SAUDAÇÃO, PROCESSO, CRIAÇÃO, SANTO PADROEIRO, RELIGIÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Meu pronunciamento pretende prestar uma homenagem à Arquidiocese de Natal pelo centenário que acontecerá no dia 29 de dezembro. Todo o ano, desde 29 de dezembro de 2008, tem havido uma programação intensa, inclusive, recentemente, houve uma celebração na Catedral de Natal de casamento coletivo, com cem casais. Foi uma coisa linda!

            Há encontros de jovens, de pastorais, movimentações em todas as paróquias. Realmente, este foi um ano bastante movimentado, que tem marcado muito essa data.

            Mas, antes do meu pronunciamento, eu gostaria de dizer ao Senador Mão Santa, que, com certeza, Zózimo não vai fazer o lançamento do seu livro somente no Piauí. Se ele lançá-lo no meu Rio Grande do Norte, muitos irão para conhecer melhor a vida e a história de V. Exª. “Atentai bem!”, como diz Mão Santa.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o povo católico do Rio Grande do Norte está comemorando, com muito júbilo, o primeiro centenário da criação da então Diocese de Natal. Com data de 29 de dezembro de 1909, o Papa São Pio X expediu a Bula Pontifícia “Apostolicam in Singulis”, retirando todo o território do Rio Grande do Norte da Diocese da Paraíba e atribuindo à Igreja Nossa Senhora da Apresentação, em Natal, a dignidade de Catedral.

            O primeiro Bispo foi o norte-rio-grandense Dom Joaquim Antônio de Almeida, que antes fora Bispo do Piauí, sendo sucedido pelo sergipano Dom Antônio dos Santos Cabral, depois Arcebispo de Belo Horizonte, sucedendo-o, em Natal, o alagoano Dom José Pereira Alves, depois Arcebispo de Niterói.

            Em 16 de fevereiro de 1952, com a Bula “Arduum Onus”, o Papa Pio XII eleva Natal à Arquidiocese, unindo a ela as duas dioceses do Rio Grande do Norte, Mossoró e Caicó. O primeiro Arcebispo foi o baiano Dom Marcolino Esmeraldo de Sousa Dantas.

            Sr. Presidente, a Igreja do Rio Grande do Norte sempre foi marcada pelo pioneirismo, como de resto é próprio do Rio Grande do Norte e de seu povo.

            Ao prestar essa homenagem ao centenário da Diocese de Natal, faço primeiro uma invocação em honra dos Mártires de Uruaçu e Cunhaú, beatificados pelo Papa João Paulo II, em 5 de março de 2000.

            Eu tive a oportunidade de estar presente, Sr. Presidente, a esse momento muito marcante, que muito emocionou a todos nós, que foi a beatificação dos mártires de Uruaçu e Cunhaú, em Roma, lá na Igreja de São Pedro.

            Ao tempo da Invasão Holandesa, em 1645, os Padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, e mais 29 companheiros, foram assassinados no Engenho Cunhaú e no Porto de Uruaçu, no Rio Grande do Norte, proclamando a sua fé católica frente aos invasores calvinistas. O martírio comoveu e em muito contribuiu para a reação à invasão estrangeira com a Insurreição Pernambucana. Esse processo histórico de libertação, mas também de consolidação da nacionalidade brasileira, teve participação marcante dos norte-rio-grandenses, revigorados pelo sangue dos Protomártires do Brasil, à frente o chefe indígena Poti, de quem herdamos o nosso gentílico, potiguar. O guerreiro, que adotou o nome cristão de Antônio Felipe Camarão, esteve na primeira Batalha dos Guararapes, em 1648, à frente de numeroso esquadrão de brasileiros, sendo agraciado pelos feitos heróicos com o hábito da Ordem de Cristo.

            Natal, que nascera no dia do Nascimento de Cristo - 25 de dezembro - e cresceu levando no nome esse evento central da cristandade, consolidava assim sua fé, à sombra do Forte dos Santos Reis Magos, ainda hoje de pé na foz do Potengi, símbolo intacto de melhor arquitetura militar do Brasil, símbolo da cidade de Natal, que tem recebido milhares de visitantes.

            E todos que passam por aquele Forte admiram sua arquitetura, mas muito mais sua localização: o mar, o rio, o sol, que ilumina o nosso Estado, fazendo assim como um recanto, realmente um cartão-postal da nossa cidade, da nossa querida Natal.

            Com esses exemplos de devotamento, a vida cristã fincava sólidas raízes na terra potiguar. Reza a tradição, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, que, na manhã de novembro de 1753, nas margens do Potengi, foi encontrado por pescadores um caixote onde estava uma imagem da Virgem Maria com o Menino no colo. Como no calendário católico o dia 21 de novembro é a Festa da Apresentação da Virgem no Templo de Jerusalém, logo a devoção popular passou a invocar a imagem que saíra das águas como Nossa Senhora da Apresentação, tornando-se assim, com essa forte raiz popular, a Padroeira da cidade de Natal e da futura Diocese, hoje centenária.

            Os fundamentos históricos da fé cristã no Rio Grande do Norte têm dado frutos dignos de nota, reconhecidos como dos mais significativos avanços da Igreja Católica no Brasil.

            Natal, no final do século XIX e início do século passado, foi marcada pelo figura de seu Pároco, o sertanejo norte-rio-grandense Pe. João Maria Cavalcanti de Brito, que o povo chama de o Santo de Natal, cuja a memória de abnegação, caridade e desprendimento se pode retratar nas palavras que repetia como seu lema de ação: “Ser tudo para todos”. Relata Câmara Cascudo: “1904 e 1905 reavivaram em Natal as cenas dolorosas da epidemia variolosa. Ruas e ruas despovoadas, doentes em abandono, fome, o governo em plena guerra contra o flagelo. É a época em que o Padre João Maria carregava água de madrugada, espalhava consolo, fazia alimentos e dormia no chão, porque tinha dado a rede”.

           Abolicionista atuante, é ainda de Câmara Cascudo esta constatação: “Logo depois de 13 de maio só continuou escravo na cidade [Natal] o Presidente da Sociedade Libertadora, o Padre João Maria, escravo dos sofrimentos alheios, escravo dos surtos de varíola e só ficou livre quando morreu”.

           Filho do sertão de Caicó, esse despojado servo dos pobres, dos doentes, dos desamparados de toda a sorte, era, qual o Santo de Assis, de ilustre família, bastando recordar seu irmão, Amaro Cavalcanti, jurista, diplomata, Ministro de Estado, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Prefeito do Distrito Federal, Deputado Federal, Constituinte de 1891, e Senador da República.

           Não seria crível que exemplos assim, quais o do Padre João Maria, não se perenizassem fecundos e pródigos. Na Arquidiocese de Natal, depois do primeiro Dom Marcolino, foram Arcebispos Dom Nivaldo Monte, Dom Alair Vilar Fernandes de Melo, Dom Heitor de Araújo Sales, e o atual Arcebispo, Dom Matias Patrício de Macêdo, todos norte-rio-grandenses e oriundos do clero de nosso Estado.

            Também norte-rio-grandenses dois Bispos auxiliares, Dom Antônio Soares Costa, depois Bispo de Caruaru, e Dom Eugênio de Araújo Sales, por muitos anos Administrador Apostólico de Natal, depois Cardeal e Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil, e Arcebispo do Rio de Janeiro.

            Durante a administração de Dom Eugênio, surgiu na Arquidiocese o hoje internacionalmente conhecido Movimento de Natal, de que nasceram iniciativas pioneiras, as quais mais se destacam por se terem concretizado bem antes do Concílio do Vaticano II, que imprimiu novos rumos à Igreja. De Natal partiram doutrinas e métodos que se institucionalizaram mundialmente.

            (Interrupção do som.)

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Sr. Presidente, muito obrigada.

            Ainda na década de quarenta, os novos padres ordenados em Natal já recebiam a influência da Ação Católica, movimento inovador fundado no Rio de Janeiro pelo Cardeal Sebastião Leme. O jovem Padre Eugênio Sales, ordenado na festa de Nossa Senhora da Apresentação de 1943, logo tratou de fundar, à semelhança da já existente Juventude Feminina Católica, um outro movimento, a Juventude Masculina Católica, de início com 18 militantes, que, com o lema “Ver, Julgar e Agir”, desenvolveu o belo e pioneiro trabalho de ensino e assistência social na Casa de Detenção de Natal.

            Breve se percebeu que os angustiantes problemas da cidade tinham origem no abandono e na pobreza extrema das comunidades interioranas, sendo fundado, então, o Serviço de Assistência Rural. Dessas duas células iniciais, de ação urbana e rural, desabrochou o Movimento de Natal, sob a direção e o estímulo dos jovens Padres Eugênio Sales, Nivaldo Monte e Alair Vilar, estes dois últimos, mais tarde, Arcebispos de Natal, e ainda do Padre Manoel Tavares, depois Bispo de Caicó, dos Padres Pedro Moura e Expedito Medeiros, este pároco, por 56 anos, de São Paulo do Potengi, carinhosamente chamado de Profeta das Águas, pela sua ingente luta em defesa de investimentos que minorassem os efeitos cruéis das secas.

            É ainda dessa época a Carta Pastoral dos Bispos do Rio Grande do Norte, cuja redação foi coordenada por Padre Eugênio Sales, em que se lê esta constatação ainda tão dramaticamente atual: “Comprar o voto, no sertão, começa a ser uma praga”.

            Os esforços foram, então, redobrados para a educação e a politização do meio rural. A Rádio Rural de Natal, também iniciativa pioneira, e suas Escolas Radiofônicas foram inauguradas em agosto de 1958. A sindicalização dos trabalhadores rurais começou em 1960, despertando fortes reações. Compreenderam os que faziam, na Igreja, o Movimento de Natal que era preciso abolir a verdadeira escravidão que ainda imperava nos campos nordestinos, com seu sistema de meias e terças, e a voraz exploração dos donos dos barracões de financiamento.

            Para isso, era indispensável a organização pacífica dos camponeses, e Dom Eugênio, numa palestra em fins de ...

            (Interrupção do som.)

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Sr. Presidente, mais dois minutos. Estou finalizando.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Dei três. V. Exª merece sempre mais.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - E Dom Eugênio, numa palestra em fins de 1961, desafiava: “Ninguém deterá a marcha da sindicalização rural”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi dessas origens que nasceram em Natal tantas e tão importantes iniciativas, hoje permanentemente adotadas no Brasil inteiro, como é a exitosa Campanha da Fraternidade - surgiu, sim, lá em Natal -, que marca os tempos da Quaresma todos os anos e em todo o nosso País.

            São essas ações pioneiras que dão à Arquidiocese de Natal, nada obstante centenária, feições e alma jovens a desafiar o futuro. A Arquidiocese, hoje sob a direção profícua de Dom Matias Patrício de Macedo, sertanejo da melhor estirpe, tem intensificado suas ações sociais tanto nas grandes cidades como nos campos, aqui com ênfase no abastecimento de água para as comunidades rurais, como meio de debelar o crescente êxodo para as periferias urbanas.

            No campo religioso, destaco a sagração da Basílica dos Mártires de Uruaçu e Cunhaú, ocorrida em setembro último em Natal. Esse novo lugar tão especial de orações e recolhimento, evocando fato marcante da história civil e religiosa do Brasil, certamente será fomento de novo desabrochar espiritual, com os frutos de civismo e ética que o exemplo desses mártires do Brasil haverá de plantar no coração dos brasileiros.

            Continua a Arquidiocese de Natal, portanto, como tem feito toda a Igreja do Rio Grande do Norte desde a fundação da fortaleza na Barra do Rio Potengi, em 1598, sob a invocação evangélica dos Reis Magos, seguidores das guias da luz, continua a Arquidiocese seguindo as luzes dos mártires, dos primeiros brasileiros, qual Poti, do Padre João Maria, do Movimento de Natal, porque segue, enfim, sem parar ou recuar, como no Evangelho: “Saiu o semeador a semear a semente”.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente, Srs. Senadores, nesta homenagem que presto ao centenário da Diocese de Natal, pelos serviços, pelo grande trabalho que tem feito a nossa diocese, semeando a fé, a justiça social, a solidariedade e a fraternidade entre os homens.

            Eu queria também, Sr. Presidente, entregar à Mesa um requerimento.

“Nos termos do art. 222 do Regimento Interno do Senado Federal e de acordo com as tradições da Casa, requeiro voto de louvor à Diocese de Natal, no Rio Grande do Norte, pela comemoração do seu centenário no próximo dia 29 de dezembro de 2009.

Senadora Rosalba Ciarlini.”

            Muito obrigada, Sr. Presidente.

            A todos que fazem a Arquidiocese de Natal, a todos os fiéis, parabéns pelo centenário!

            Viva Natal! Viva sua Diocese!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2009 - Página 67097