Discurso durante a 243ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 370 anos da Expedição Amazônica de Pedro Teixeira, desbravador português considerado o "Conquistador da Amazônia".

Autor
Augusto Botelho (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 370 anos da Expedição Amazônica de Pedro Teixeira, desbravador português considerado o "Conquistador da Amazônia".
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2009 - Página 66500
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, EXPEDIÇÃO, PEDRO TEIXEIRA (MG), MILITAR, PORTUGUES, DIFICULDADE, PIONEIRO, NAVEGAÇÃO, RIO AMAZONAS, IMPORTANCIA, ANEXAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, TERRITORIO NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, RESGATE, MEMORIA NACIONAL, RECONHECIMENTO, CONTRIBUIÇÃO, PORTUGUES, FORMAÇÃO, IDENTIDADE, BRASILEIROS, NECESSIDADE, SIMULTANEIDADE, HOMENAGEM, ANTERIORIDADE, HABITANTE, REGIÃO AMAZONICA, RESISTENCIA, DIFICULDADE, ISOLAMENTO, PRESERVAÇÃO, NATUREZA, DEFESA, VALORIZAÇÃO, POPULAÇÃO, BUSCA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, GARANTIA, SOBERANIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Aloizio Mercadante, em nome de quem cumprimento a todos os membros da Mesa e os membros do Exército e da Marinha aqui presentes.

            O Mercadante realmente me surpreendeu quando ele falou em Pedro Teixeira, porque, sendo ele um cara lá de São Paulo, o que ele vai saber de Pedro Teixeira? Então, ele mostrou realmente que é um Senador competente, ligado às coisas nacionais. Eu até reclamei: “Está me tomando Pedro Teixeira!”. Porque eu é que tinha que fazer isso. Lá em Roraima tem a Rua Pedro Teixeira, nas escolas, em Boa Vista, fala-se em Pedro Teixeira, graças a um conterrâneo da Profª Edith, que é o Dr. Gursen de Miranda, que é um juiz que gosta de história. Ele era paraense, teve acesso àquelas informações, transformou-as em livro e soltou na nossa cidade. Mas eu sou um homem da Amazônia. Minha tetravó era indígena e minha mãe era roraimense, descende de um dos primeiros... O primeiro prefeito de lá, meu tetravô, quando chegou lá, era casado com uma indígena.

            Eu não sei de que etnia, mas era uma etnia do Amazonas. Então, eu tenho um sentimento... Por isso, também, eu vivo lá, eu me criei lá, só saí para estudar, para ser médico, e voltei. Conversando com o Geraldinho, Senador Geraldo Mesquita, elaboramos um texto para falar de nós, dos homens da Amazônia. Os feitos de Pedro Teixeira todos já declamamos aqui, mas só quem remou uma canoa subindo um rio da Amazônia é que sabe a dificuldade que foi subir com 47 canoas um rio em que nunca se tinha andado.

            E também, quando ele ia voltando de Quito, em que pegou a terra e levantou... Nos rios da Amazônia - vocês estão vendo fotografias aqui - não existe espaço para chegar e encostar, você tem que abrir, pegar um pedaço de mata onde o barranco é mais alto, para ficar lá. Eu acho que foi lá na cidade de Franciscana, que hoje é Tabatinga, que ele fez isso. Quando ele ia voltando, já deveria haver uma clareira lá, onde ele deixou aquele pessoal, com aquele... Favela. E eu imagino que tenha sido bem na beira do rio que ele pegou aquela terra e levantou, proferindo estas palavras: “Tomo posse destas terras, (...) em nome do Rei Felipe IV...”, e tal, deixando a terra cair. E teve a inteligência, a organização de registrar em um cartório de Belém, que garantiu a nossa posse da terra.

            Vou começar a falar do texto que preparamos.

            A iniciativa do nosso ilustre colega Aloizio Mercadante ao promover esta sessão em homenagem ao desbravador português Pedro Teixeira é uma oportunidade para refletirmos não apenas sobre suas façanhas, mas, sobretudo, acerca dos avanços do passado, dos desafios do presente e das expectativas do futuro. A história da humanidade transcende, sem dúvida, a narrativa dos avanços da civilização.

            É, também, a saga dos conquistadores e o infortúnio dos conquistados, a epopeia dos descobridores e a desventura dos descobertos. É, por fim, a coragem dos colonizadores e a desdita dos colonizados. O heroi português-brasileiro Pedro Teixeira, que hoje reverenciamos, simboliza, sem dúvida, a síntese de todas essas facetas da história comum dos conquistados e conquistadores, dos descobridores e dos que foram descobertos, dos colonizadores e colonizados.

            A humanidade é o produto dessa síntese imemorial entre os que rememoramos e os que esquecemos. Por isso, é preciso exaltar, ao mesmo tempo, os conquistadores, como Alexandre Magno, que alargaram os estreitos limites da Magna Grécia e os povos subjugados e por ele conquistados, cujo registro a história esqueceu. Da mesma forma, não podemos deixar de lembrar as vitórias de César, que estenderam as fronteiras de Roma dos confins do Mediterrâneo às margens orientais do Atlântico.

            A civilização que ambos simbolizaram deixaram marcas inesquecíveis em todo o mundo ocidental de que somos herdeiros. A língua, a cultura, a filosofia, o direito, as crenças e os valores que hoje cultuamos são, ao mesmo tempo, produto de suas conquistas e resultado de suas contribuições materiais e intelectuais.

            A idade que convencionamos chamar de medieval e de moderna não é mais do que a continuidade desse legado que denominamos de idade clássica ou antiga. A civilização ibérica, por sua vez, é o mundo da transição entre as eras que convencionamos chamar de Moderna e Contemporânea e que corresponde - para nós, povos das Américas - ao nosso passado e ao nosso presente.

            Portugal e Espanha inauguraram o que poderíamos, com toda propriedade, chamar de desbravadores do mundo oriental, que a Europa e os povos europeus desconheciam. Foram ambos impérios, como mais tarde viriam a ser o holandês e o britânico, “onde o sol nunca se punha”.

            Nós, povos “descobertos”, desbravados, dominados e colonizados, nesta parte do vasto continente que se estende do Ártico ao Antártico, reconhecemos e, como hoje, celebramos os que nos descobriram, os que desbravaram as terras que habitamos e de que somos filhos e os que colonizaram os territórios e que hoje constituem a comunidade das nações que integramos - não só os povos ibero-americanos, mas também os anglo-americanos e os franco-americanos das Américas do Norte, do Centro e do Sul deste vasto continente, o nosso continente americano.

            Esta sessão em homenagem a Pedro Teixeira, o desbravador português da Amazônia, é um exemplo desse reconhecimento. Não cultuamos rivalidades, não alimentamos preconceitos, não estimulamos ódios, não cultuamos aversões a outras etnias, a outros povos, a outros cultos ou religiões.

            A Amazônia que Pedro Teixeira ajudou a desbravar é, sem dúvida, uma dádiva da natureza. Outros a descobriram, e nem mesmo nós que hoje a habitamos a conhecemos integralmente. Os que a conhecem mais do que nós lá estavam e lá viviam antes de nós, e o reconhecimento que devotamos, como nesta solenidade, ao desbravador português ajudou a desvendá-la. Deveríamos também, com o mesmo espírito de gratidão, votar aos que lá nasceram, aos que lá sempre viveram e sempre a preservaram, em contraste conosco, que estamos ajudando a devastá-la, sem a preocupação de preservá-la.

            Esta solenidade, portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores convidados e convidadas, deve servir a este duplo propósito: cultuar os que colonizaram e clamar pelos que lá sempre habitaram. Hoje, nós somos 25 milhões de habitantes na Amazônia, que, vivendo em paz e harmonia com a sua natureza tão vasta quanto desconhecida, tão celebrada quanto cobiçada, respeitaram-na, preservaram-na, sem explorá-la e sem devastá-la.

            Saúdo as ilustres autoridades portuguesas e as personalidades que também aqui se encontram, que nos prestigiam com suas presenças e que nos honram com suas participações.

            Neste ato de celebração e de reconhecimento ao nosso herói português, que chamo de português-brasileiro, Pedro Teixeira, congratulo-me com o eminente colega e meu Líder Aloizio Mercadante pela oportuna iniciativa.

            A todos peço que relevem, se este meu clamor destoar ou, de alguma forma, parecer inadequado a esta solenidade. Mas o dever de todo político e a obrigação de todo amazônida é celebrar a Amazônia, cultuá-la, defendê-la e lutar por sua preservação, por seu desenvolvimento, por seu progresso.

            A convivência entre os naturais daquela valiosa parte do nosso patrimônio nacional e os de outras origens nem sempre tem sido pacífica, nem sempre tem sido harmônica. Por isso mesmo, temos mais que o dever e a obrigação moral de buscar os meios com que todos possam conviver em harmonia e pacificamente, respeitando-nos mutuamente e preservando-a, que é o quanto exigem a civilização a que pertencemos e o País de que somos todos naturais e que tanto amamos.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Modelo1 5/16/2411:25



Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2009 - Página 66500