Pronunciamento de Alvaro Dias em 14/12/2009
Discurso durante a 246ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Críticas ao programa de televisão do PT, veiculado na última semana, no qual o Partido utilizou grande parte do tempo para atacar as realizações de governos anteriores, em lugar de apresentar realizações do governo Lula.
- Autor
- Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
- Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA PARTIDARIA.
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Críticas ao programa de televisão do PT, veiculado na última semana, no qual o Partido utilizou grande parte do tempo para atacar as realizações de governos anteriores, em lugar de apresentar realizações do governo Lula.
- Aparteantes
- Heráclito Fortes, Mão Santa, Papaléo Paes.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/12/2009 - Página 67278
- Assunto
- Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- QUESTIONAMENTO, PROGRAMA, TELEVISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AUSENCIA, DIVULGAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ESCLARECIMENTOS, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DISCRIMINAÇÃO, BRASILEIROS, SUJEIÇÃO, POLITICA EXTERNA, TENTATIVA, OCULTAÇÃO, AUTORIA, PLANO, REAL, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), LEGISLAÇÃO, RESPONSABILIDADE, NATUREZA FISCAL.
- CRITICA, GOVERNO, INEXATIDÃO, DADOS, OBRA PUBLICA, IRREGULARIDADE, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO, AUSENCIA, PREVISÃO, INAUGURAÇÃO, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, DESCOBERTA, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL.
- CRITICA, GOVERNO, REPETIÇÃO, POLITICA MONETARIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, POLITICA SOCIAL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERDA, ETICA, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, MANIPULAÇÃO, DADOS, REFERENCIA, DIVIDA PUBLICA, FALTA, CONTROLE, GASTOS PUBLICOS, SUPERIORIDADE, FOLHA DE PAGAMENTO, CARGO EM COMISSÃO, NEGLIGENCIA, REAJUSTE, APOSENTADO, TRABALHADOR.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo não ataca, realiza e proclama as suas realizações. Essa é a norma. Mas há exceções. Na última semana, o Brasil acompanhou o programa do PT pela televisão. Seria oportuno ao partido apresentar os seus feitos; afinal, completará, no próximo ano, oito anos de mandato. Mas reservou o espaço maior do seu tempo para agredir governos passados.
É evidente que o autoelogio é admissível nessas circunstâncias, assim como a proclamação dos próprios feitos, a valorização das obras realizadas, a consagração do êxito dos programas sociais efetuados. O que não é compreensível é o ataque de forma estapafúrdia e mentirosa. Por exemplo, ao se afirmar que o Governo passado não gostava de nordestinos, alimenta-se um preconceito injustificável.
Em primeiro lugar, isso não é verdadeiro. Em nenhuma ação do Governo que antecedeu Lula, pode-se perceber um desapreço aos nordestinos. É uma atitude preconceituosa acusar um governo de um preconceito deplorável que divide brasileiros. É uma atitude inusitada semear a discórdia entre brasileiros, dividir o País. Isso não se justifica em hipótese alguma. Nem mesmo a ambição por uma vitória eleitoral pode justificar esse tipo de comportamento.
Aliás, eu não estou fazendo considerações sobre o desvirtuamento do programa partidário na TV. A legislação diz que o programa deve se dedicar ao proselitismo programático. A razão do programa é a difusão das propostas partidárias. Não condenamos a utilização da forma como se utilizou - com objetivos eleitoreiros -, porque não é a primeira vez que isso ocorre. Na verdade, todos os partidos utilizam de forma a distorcer os objetivos iniciais desse programa. Essa, portanto, não é a questão. A questão essencial é a utilização da mentira como arma.
Por exemplo: “O Governo passado foi servil aos estrangeiros”. Mas que servidão é essa? Onde viu o PT servidão na política de relações diplomáticas do Governo Fernando Henrique Cardoso? Servidão, nós podemos apontar agora, por exemplo, em relação à Bolívia, quando um patrimônio extraordinário do Brasil foi entregue àquele país, e nas relações com a Venezuela. Nesse relacionamento diplomático com aprendizes de ditadores na América Latina há, sim, um viés de servidão inegável. O Governo passado, ao contrário, sempre adotou uma postura de elevação diplomática nas suas relações com países de todo o mundo.
Outra mentira: “A Srª Dilma Rousseff comanda o PAC com 14 mil obras em execução”. Não é verdade. Aliás, é bom notar que o noticiário descreve as visitas do Presidente da República às obras do PAC não para inaugurá-las. Trata-se de visitas para vistoriar obras em execução. Mas não seria apropriado inaugurar obras depois de quase sete anos de mandato. Não há obras para se inaugurar desse revolucionário “programa administrativo” do Governo Lula, que é o PAC, o campeão dos superfaturamentos de obras e de sobrepreços, conforme aponta o Tribunal de Contas da União. Não há, portanto, uma relação estreita com a verdade nessa afirmação do programa petista na TV.
“Um milhão de casas estão sendo construídas”. Onde estão sendo construídas um milhão de casas? O Presidente anunciou um programa de um milhão de casas, depois se antecipou a informar que ele não teria condições de entregá-las durante o seu mandato. Portanto, ele fez cortesia com o chapéu alheio: anunciou um programa que não executará. Ele vai delegar a outros a responsabilidade de cumprir as suas promessas.
Quis também o Partido dos Trabalhadores, na TV, apropriar-se do pré-sal, como se fosse uma conquista do atual Governo, especialmente da Ministra Dilma. Ora, há trinta anos a Petrobras investe em pesquisas para que um dia pudesse anunciar essa conquista no fundo do mar. O Presidente Itamar Franco só não fez o anúncio por uma questão de responsabilidade. A ele foram repassadas as condições para anunciar a descoberta e, responsavelmente, preferiu aguardar, como o Governo que o sucedeu, até que o Presidente Lula, de forma espetaculosa, pudesse anunciar o pré-sal como uma conquista capaz de resolver todos os problemas do País no futuro; ou seja, tomando uma reserva prevista como se fosse reserva provada de pré-sal e anunciando ao mundo que o Brasil se tornou um país rico.
Enfim, estou dissertando, de passagem, sobre essas questões, porque não pretendo aprofundá-las, até pelo ridículo, pela mediocridade do oportunismo em se tentar apagar da memória coletiva da Nação feitos de outros governos. Chegou-se a afirmar que nada foi feito, tudo estava para ser feito, ignorando-se que o Governo anterior domou aquele que era considerado o indomável: o monstro da inflação. Acabou com uma inflação de 2.500% ao ano. Quem viveu a atividade pública naquela época, sofreu as consequências dramáticas de uma inflação que chegava a superar 80% ao mês. Querem se apropriar também do Plano Real, que tanto combateram. Posicionaram-se contrariamente ao Plano Real, mas hoje se apresentam como seus proprietários.
O Plano Real foi o maior feito da administração pública contemporânea do Brasil. Não foi um simples plano econômico que sucedeu a tantos planos fracassados; foi a reabilitação da capacidade de planejar do País, do povo e dos governos. Era impossível planejar por uma semana. Reabilitou-se a hipótese do planejamento com o real, que mudou a vida dos brasileiros, que melhorou a qualidade de vida dos brasileiros, e, hoje, os frutos colhidos pelo Governo Lula têm origem na ação competente que se desenvolveu àquela época, plantando os pressupostos básicos indispensáveis para que chegássemos à estabilização da economia e possibilitássemos a superação das eventuais crises econômicas e dos problemas oriundos das mazelas históricas existentes no País. Mas não. Combateram à época e apropriam-se agora. Desdenham do feito, mas se valem dos seus frutos e os apresentam como se fossem única e exclusivamente resultado da sua ação competente no Governo. É heresia, é cinismo, nós não podemos passar recibo a essa hipocrisia governamental.
Nós tivemos, junto ao Plano Real, a política de responsabilidade fiscal.
Vou conceder, logo após, o aparte ao meu querido amigo, o Senador Heráclito Fortes.
O Governo atual, o PT, combateu a Lei de Responsabilidade Fiscal, votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, e hoje vale-se dos seus benefícios. O Proer. Ao Proer houve um combate implacável. Afirmavam que o Governo estava enchendo as burras dos banqueiros do País, que o Governo FHC estava tirando dinheiro do povo para colocar nos bolsos dos banqueiros nacionais. E agora, no advento dessa crise financeira nos Estados Unidos, o Presidente Lula fez pose para o mundo e afirmou que o Brasil tinha a lição, que o Brasil tinha a fórmula e que podia oferecê-la aos Estados Unidos. E qual era a fórmula? Era exatamente o Proer, do Governo Fernando Henrique Cardoso.
Na época, lembro-me bem, Senador Heráclito, combateram o câmbio flutuante. Sim, e que combate! Exacerbado! No entanto, está aí o câmbio flutuante como política do atual Governo, exercitada - faça-se justiça! -, com competência, pelo Ministro Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Nós não estamos aqui para ignorar os feitos do atual Governo, mas não estamos aqui também para compactuar com esta ausência de caráter, com este cinismo, com a mentira.
Eu, que, em determinados momentos, combatia o Governo Fernando Henrique Cardoso, tenho o dever moral, ético e político de defender os seus feitos. Não há feito maior na administração pública brasileira - repito - do que o Plano Real. Foi o maior feito, sim, da administração pública brasileira contemporânea.
Antes de prosseguir, vou conceder o aparte, com satisfação, ao Senador Heráclito Fortes.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Alvaro Dias, V. Exª traz um tema, nesta segunda-feira, que foi recorrente nesse final de semana. Por onde andei, não só aqui em Brasília, mas também no meu Estado, as pessoas que me encontravam comentavam o programa do Partido dos Trabalhadores, como um programa de ressentidos. Olha lá: depois de sete anos de Governo, não se apresentou nada de concreto, tudo no campo da ilusão, tudo no campo do “nós vamos fazer”, como se este Governo estivesse começando e não terminando. V. Exª, quando falou da subserviência do atual Governo aos países amigos ou não, esqueceu-se - e é justificado, porque não conseguimos nos lembrar de tudo - da maneira como o Brasil atuou, por determinação do Governo Federal, no episódio daqueles dois pugilistas cubanos. Senador Alvaro Dias, um avião venezuelano desceu no Rio de Janeiro e levou, na marra, os dois pugilistas, na madrugada, com a intervenção de setores do Governo, comandado pelo assessor especial, Sr. Marco Aurélio Garcia. E esses rapazes foram embora, sendo forçados, inclusive, a prestar depoimentos de que estavam indo por desejo, por vontade própria, na madrugada, sem laudo médico, sem nada, nada, nada, nada, nada. Talvez tenha sido um dos atos mais vergonhosos deste Governo no tocante ao item respeito aos direitos humanos. E é essa política subserviente, atabalhoada, que o Governo vem praticando em relação aos países vizinhos. V. Exª lembrou o caso da Bolívia, mas nós tivemos também o caso do Equador, em que tivemos empresas brasileiras humilhadas - humilhadas. As constantes rusgas com a Venezuela, para ficarmos só nisso. V. Exª foi muito feliz quando, no item crise econômica, abordou o Proer, que tanto foi combatido pelos oposicionistas do ex-Governo. E hoje o Presidente da República vende pelo mundo afora o Proer, como se fosse um modelo do seu Governo. Aliás, o Proer salvou o Brasil de uma crise fantástica, sem tirar um tostão dos cofres do Tesouro. Pelo contrário, o dinheiro foi constituído por um fundo do qual participavam os próprios bancos. E, logo após, o modelo do Proer serviu para salvar de um crise, por exemplo, o governo japonês. E quantos foram os países que copiaram o Proer? O caso mais recente é o dos Estados Unidos. Outra coisa de insensatos é dizer que o Governo passado discriminou o nordestino. Pelo contrário, esses programas de inclusão social - à época de inclusão social e hoje transformados em dependência social -, como o Bolsa Escola, foram criados exatamente para atender às regiões pobres do País e, de maneira muito especial, o Nordeste brasileiro. Ninguém, por exemplo, no programa, falou da coragem que teve José Serra, como Ministro da Saúde, de quebrar patentes, de enfrentar o problema de remédios específicos, por exemplo, para a cura da Aids, e a criação do remédio genérico, criando casos, enfrentando países poderosíssimos, com seus parques farmacêuticos a nos ameaçar. É muita bobagem para um programa, é muita bobagem para um objetivo que a Lei Eleitoral nos confere, que é de mostrar o lado programático, o lado das ideias dos partidos, e não do ressentimento, do ódio e da mesquinhez. Daí por que felicito V. Exª.
É lamentável que este Governo viva num clube de falsa felicidade. É pena que Mão Santa não esteja aqui. O Piauí, que é governado pelo PT, não foge à regra. O Governador vai à televisão e diz: “As estradas do Piauí são um tapete”. Mas, Senador Papaléo, se você for para Luzilândia, indo por José de Freitas ou Campo Maior, entre José de Freitas e Cabeceiras, verá que a estrada está completamente destruída; entre Esperantina e Luzilândia, a estrada está totalmente destruída. Se você vai para União, outra cidade vizinha à Teresina, a estrada está acabada. E o Governo vai para a televisão e diz que está tudo feito. Eu quero lembrar outra coisa em relação ao Nordeste. No primeiro ano, nós aprovamos aqui a construção de um gasoduto ligando o Ceará ao Piauí e ao Maranhão, e a Ministra de Minas e Energia à época, hoje Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, vetou. Isso, sim, é discriminação ao Nordeste. Quanto à Transnordestina, que é fundamental para a infraestrutura do meu Estado e dos Estados do Ceará e de Pernambuco, colocaram para a obra ser tocada por uma PPP, que ainda não funcionou no Brasil coisa nenhuma. Portanto, parabenizo V. Exª e lhe agradeço como paranaense por resgatar os fatos e tirar essa injustiça que se comete contra o governo passado em relação ao Nordeste. Foi um governo altamente atento, um governo que teve uma atenção muito especial para com os nordestinos. Basta ver, por exemplo, as pesquisas que mostram tanto Serra como Aécio muito bem avaliados no Nordeste. Muito obrigado.
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Obrigado a V. Exª, Senador Heráclito Fortes, e o seu depoimento é fundamental porque é o depoimento do povo do Piauí. É evidente que nós não esperávamos que o atual Governo e o PT, especialmente o Presidente da República, proclamassem os feitos do Governo passado, como a estabilização da economia, o regime de estabilidade fiscal, de responsabilidade fiscal, sustentabilidade financeira do setor público e a recuperação da competitividade da economia. Não esperávamos que proclamassem esses feitos do Governo passado, mas também nunca imaginamos que pudessem tentar se apropriar desses feitos como se fossem seus. Porque eu indago: qual foi a mudança no modelo econômico que vigia à época de Fernando Henrique Cardoso? Qual foi a inovação? O Governo Lula adotou uma nova política econômica? Continuam combatendo a política econômica neoliberal do Governo passado. Esta é a frase cunhada: “política neoliberal”. Combatem, mas qual é a política que desenvolvem? É esta; é a que receberam como herança. Não inovaram. Se no final do Governo Fernando Henrique Cardoso já se debatia avanços nesta política, porque o essencial, que era a estabilização da economia, já se alcançava, e que portanto podíamos dar um passo à frente ou ousar mais e adotar uma política desenvolvimentista que proporcionasse ao Brasil crescer mais do que vem crescendo. Isso já se discutia no Governo Fernando Henrique Cardoso, imagina no PT se não se discutia isso. Ocorre que ao assumir o PT ignorou a sua pregação e manteve exatamente a política exercitada durante os oito anos do Governo Fernando Henrique Cardoso que tinha por objetivo chegar a estabilização econômica.
E os programas sociais? Qual é o programa social novo do Governo Lula? Onde se diferencia do Governo anterior? O apelido Bolsa Família era Bolsa Escola, se tornou Bolsa Família. O único programa novo que se anunciou foi o “Fome Zero”, e ficou no “zero”, o Fome Zero morreu, foi sepultado.
Enfim, há que se ter o mínimo de responsabilidade no exercício de um mandato tão importante como é o de Presidente da República.
Senador Papaléo havia pedido um aparte, eu vou conceder e depois ao Senador Mão Santa. Primeiro ao Senador Papaléo Paes e depois eu pretendo partir para a conclusão.
O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Muito obrigado, Senador Álvaro Dias. Eu quero realmente dizer que o seu pronunciamento é irretocável. V. Exª descreve toda essa questão relacionada com o Governo Lula e com o Governo Fernando Henrique Cardoso de uma forma bem perfeita, compreensível e, realmente, trazendo à justiça, que nós temos que ter essa responsabilidade, justiça nessa questão política. V. Exª fala muito bem: mudou de apelido, mudou de nome, mudou de nomenclatura. Praticamente a base de sucesso do Governo Lula toda ela foi calcada nos programas já existentes, tanto programas sociais quanto programas econômicos já existentes no Governo Fernando Henrique Cardoso. Trabalhou toda essa questão do Bolsa Família em cima do Bolsa Escola, Bolsa Gás, enfim, o Governo Fernando Henrique começou, foi pioneiro e, graças a Deus, o Governo Lula teve a responsabilidade de continuar. Mas o que me deixa muito intrigado é esse abuso, abuso de poder, eu falo assim, que o Presidente da República sente ter pelo índice de popularidade que ele tem. Então, ele acha que com esse abuso de poder ele pode dar uma de Chávez aqui no Brasil. Por exemplo, enfiar goela abaixo, como enfiou no programa do PT, goela abaixo, dizendo que a Dilma é a mãe de tudo e de todos, que tudo que é sucesso do Governo ela que é a responsável, é a mãe do PAC. Senador Alvaro, eu não quero jamais.... O cidadão diz assim, eu posso ser bobo, mas não quero que me achem com cara de bobo. Nós não podemos jamais aceitar, e o povo tem que ficar atento para isso, que um jogo de marqueteiro tenha multiplicado por cem uma ação de governo, que é justamente em cima das obras públicas. O governo jogou nas mãos do marqueteiro e disse: olha, te vira aí, que eu quero que apareça as obras públicas. Eu quero que povo sinta que o Brasil está crescendo. Aí, o camarada encontrou uma sigla chamada PAC, e chama PAC para tudo isso. As obras caducas lá do meu Estado do Amapá são obras do PAC hoje. O asfaltamento da BR-156 tem 20 anos. É obra do PAC. Então, por favor, esse excesso, esse autoritarismo que o Presidente Lula tem em cima de uma popularidade muito justa, que ele merece, está fazendo com que nós passemos a ter mais cuidado e muito mais atenção no rumo que vai, politicamente, esse Governo. Muito obrigado e parabéns a V. Exª.
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Eu que agradeço V. Exª, Senador Papaléo Paes.
Realmente, não há inovação em matéria de política econômica ou política social. A inovação do Governo Lula é no plano da ética. Ele é o criador do mensalão. Essa é a novidade do Governo Lula. Esse foi o grande programa de iniciativa do Governo Lula. Nós não vamos pedir que coloquem isso no seu programa de TV, mas tenham paciência, não exagerem. O cinismo exagerado pode provocar uma reação contrária.
Então, eu concedo o aparte ao Senador Mão Santa, que lançou, com muito sucesso, o livro que lhe presta homenagem, descrevendo a sua trajetória política.
O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Senador Alvaro Dias, V. Exª traz, em boa hora, a verdade. Ninguém pode esconder; eu aprendi com a sabedoria popular que é mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade. E um filósofo me ensinou que quem tem bastante luz própria não precisa apagar a luz dos outros para poder brilhar. Quero dizer que governei o Estado do Piauí com Fernando Henrique Cardoso, Presidente da República. Quero dizer que ele não era do meu Partido. Eu era do PMDB. Então, a bem da verdade, tenho que dizer para a história, porque antes eu tinha sido Prefeitinho, como V. Exª foi... Na Londrina não foi, não, não é?
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Não. Só Vereador. (Risos) Mais modesto. Fui Vereador.
O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Trabalhou com Dalton Paranaguá, do Piauí - V. Exª era o Líder. Mas quero lhe dizer o seguinte. Olha, fui Prefeito antes. O Heráclito está aqui do lado e também foi de Teresina. Era uma zorra este País. Zorra, zorra! Olha, ninguém sabia quem devia, não. Isso era um rolo. Era uma zorra. Esta aí o Heráclito. Ele era Prefeito de Teresina e eu, de Parnaíba. Existia um tal de ARO. Vou confessar: o último ARO quem tirou fui eu, o último ARO do Brasil. O Aro era o seguinte. Olha o nome: Antecipação de Receita Orçamentária. Os Prefeitos perdiam, outubro, em novembro eles iam ao banco e tiravam esse ARO - Antecipação da Receita Orçamentária. Então, era em tudo que é Município. Hoje são 5.520, fazendo irresponsavelmente, estimulados por banqueiros. Lá, no Ceará, tinha um Banco BIC; era só a gente chegar e empenhava, até o ano de 3.000, a receita que tirava. E Fernando Henrique Cardoso acabou com isso. Mas tinha um prazo, um mês, e eu fui e tirei. Estou confessando como era o Brasil. Para aquela ponte - o Heráclito havia feito uma ponte quando Prefeito - eu, como Governador do Estado, tirei o último ARO do País. Quando ouvi “Vai acabar”; foram US$5 milhões para fazer aquela ponte Wall Ferraz, viu Heráclito? Confessei ao Fernando. “Mas você tirou?” Tirei! Tem que ter obra! Cristo falava bonito como V. Exª, mas ele fez obras. Se ele não tivesse cego ver, aleijado andar, ninguém seguiria Cristo. Então, vou fazer essa ponte, e fiz, em 87 dias, no rio Poti. Mas ninguém sabia quem devia. Todo mundo devia a todo mundo. Ninguém acreditava que a inflação pudesse acabar. Vimos quase uma dezena de planos que chegavam ao ridículo, à desesperança, não é? Olha, foi conseguido isso. Eu fui prefeito durante essa inflação. Havia mês em que tínhamos 80% de inflação ao mês. Todo mês, Papaléo, a gente tinha que ficar a noite toda, a madrugada inteira fazendo atualização salarial, porque houve mês em que tivemos inflação de 80% . Era uma loucura! Só os bancos ganhavam, não é? Então, olha, essa zorra acabou. Este País tem que dar uma estátua a ele, ao Itamar. Pedro Malan - ô homem de bem!, ô homem decente!, ô homem correto! E Pedro Parente, que o substituía, que é filho é piauiense. Olhe, pagar não é bom, não! Foram mensurar essas dívidas, e eu, como muitos governadores da minha época, começamos a pagar. Mas é necessário. Aí é que nós... Esse projeto de Responsabilidade Fiscal... Um governo de uma realidade. Fernando Henrique Cardoso - a inveja e a mágoa correm por cima dele. Ele é o maior estadista deste País! Olha, ele sabe, eu sei. Eu estudo muito, eu sou preparado, eu dava melhor presidente do que o Luiz Inácio! Prestem atenção, atentai bem! Mas o Fernando Henrique Cardoso é muito, muito, muito, muito mais preparado! Essa é a realidade. A ignorância é audaciosa! Um estadista, uma decência. Aquela senhora dele é santa! Eu convivi, eu adentrei aquele programa Solidariedade: sem escândalo, sem aparecer, sem mídia, sem nada. Na decência e na dignidade! Só temos o Santo Galvão como canonizado. Pode pesquisar a vida daquela mulher. Eu não saia do lado dela, não. Mulher de moral, de decência, de respeito! Esse programa Solidariedade não era para bacanal, não. Eu vou confessar como era. Eu vou dizer. Eram Nossa Senhora dos Remédios, do Norte, e Simões. Eram os piores índices de analfabetismo. Eles não faziam mídia, não. Chamavam o governador e todas as escolas foram reconstruídas e recuperadas. Curso de alfabetização, teve um dia que entreguei três mil em Simões, sem espalhafato, porque isso até discriminava, humilhava a cidade. Não conheço programa melhor do que esse Programa Solidariedade. Não conheço. Eu participei, eu vi; mudou os Estados. Agora, ela era quase bíblica, porque dava com uma mão, a direita não sabe, a esquerda que deu - sem espalhafato. Mas, o Programa Solidariedade não existiu igual. Eu estudo história, Luiz Inácio. E vou dizer, o Peti - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, dá tudo; a educação. Todas as cidades pequenas do Piauí, e Deus me permitiu criar 78 cidades, todas as escolas por esse Programa Solidariedade. Quanto mais pobre era o município, mais ação, sem estardalhaço, sem zoada, sem confusão. Então, venho trazer esse sentimento...
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Obrigado, Senador Mão Santa, pelo depoimento importante.
O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - ...de respeito e de gratidão. E quero dizer do estadista: eu do PMDB, reeleição; tinha um candidato muito bom, muito bom do PSDB, Francisco Gerardo, ex-prefeito da capital, e tinha o do PFL, Senador Hugo Napoleão, que era aliado; e eu do PMDB. Ô homem de vergonha, ô homem de dignidade, Luiz Inácio! Não era essa palhaçada em que o Presidente da República é um cabo eleitoral, não! Não é cabo, porque o cabo eleitoral é pequeno. É um grande... fazendo aí... E esse PAC assemelha-se às campanhas do Hitler, que o Goebbels disse que tinha, lá na frente, umas para cacarejar a obra, que ele chamava de galinhas cacarejadoras. Está no livro Mein Kampf, de Hitler. É isso que se vê aí. Com Fernando Henrique... Olha, como é que eu ia ganhar no Piauí, um Estado economicamente com dificuldade, contra um candidato extraordinário, um dos melhores homens que eu conheço, Francisco Gerardo, ex-Prefeito, do PSDB? Se ele quisesse ter posto a máquina aloprada em cima de mim, mensalão em cima de mim, eu teria dançado! Eu não teria sido reeleito. Então, essa é a diferença. Olha, eu aprendi também, de meninozinho: na minha cidade, tem um cajueiro plantado por Humberto de Campos...
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Senador Mão Santa...
O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Espera aí, só para dizer: a gente só atira pedra em cajueiro que dá caju doce. Isso foi o Governo de Fernando Henrique Cardoso, de Dona Ruth Cardoso; dão esses frutos. Então, a inveja e a mágoa corrompem os corações. Eu dou esse testemunho. Eu era do PMDB. Ele é um estadista!
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - O Senador Mão Santa transformou o meu discurso num aparte ao discurso dele. Mas ele merece. É um testemunho importante do Nordeste. É uma palavra nordestina que vem muito a propósito em razão das aleivosias que ouvimos pela TV na última semana.
Aliás, o Senador Mão Santa relembrou a figura de Hitler e, há algum tempo, o Presidente Lula disse ser admirador de determinadas características de Hitler. E, certamente, o modelo copiado foi exatamente o da mentira - uma mentira repetida inúmeras vezes se transforma em verdade. Esse e o modelo alemão hitleriano que se importou para o Brasil no atual Governo.
Eu chego ao interior do Paraná, vem um jovem e diz: “É, o Lula pagou a dívida do Brasil”. Esse jovem não sabe que a dívida pública brasileira hoje está chegando a R$1,6 trilhão, um crescimento assustador, preocupante, que vai exigir do futuro Presidente medidas drásticas para desarmar essa bomba de efeito retardado que pode explodir no seu colo. Nós tínhamos, até setembro, empréstimos do Tesouro ao BNDES da ordem de R$137 bilhões.
O Governo, por meio do Ministério da Fazenda, adotou a mágica de não considerar endividamento a transferência de um setor para outro no próprio governo. Agora, há sinais de que mais R$200 bilhões poderão ser repassados do Tesouro para a Petrobras e bancos públicos. Com isso, nós elevaremos a dívida pública bruta do País para 70% do Produto Interno Bruto. E os países emergentes como o nosso têm em média um percentual de 43% de dívida em relação ao Produto Interno Bruto.
Nós estamos verificando nos últimos meses a degradação fiscal, o populismo e a perda de competitividade. São indícios sérios de que o atual Governo repassará para o seu sucessor uma herança que não se poderá considerar bendita. É preciso alertar para essa realidade. A irresponsabilidade fiscal leva o Governo a aumentar os gastos correntes de forma exorbitante, comprometendo cada vez mais a capacidade de investir produtivamente no Estado brasileiro.
Vejam que hoje o Governo nega reajustar aposentadorias, mas vamos verificar o que ocorreu. Será que o Presidente Lula sabe disso, ou ele não sabe? Nós estamos acostumados a ouvi-lo dizer que não sabe.
O crescimento real do salário dos servidores públicos da União foi de 12 a 61%, dependendo do setor da administração pública. E o dos aposentados? E o do setor privado? O do setor privado foi 0,4% de ganho real do salário durante o Governo Lula. E eu repito: os servidores públicos, especialmente aqueles privilegiados que, como diz o Senador Mão Santa, entram pelas portas do fundo, esses tiveram reajustes reais de até 61% no período. São os comissionados do Governo, os cargos de confiança do Governo. É a irresponsabilidade fiscal. Nós não podemos estabelecer no País um cenário entre brasileiros de primeira classe e de segunda classe. Os de primeira classe são os servidores próximos do Presidente. De segunda classe são todos os brasileiros trabalhadores. Eu vou concluir agora agradecendo ao Presidente Sadi Cassol, que foi de uma generosidade incrível, permitindo os apartes e permitindo que nos alongássemos, extrapolando o limite regimental do tempo. Muito obrigado a V. Exª.
Não poderia deixar de passar esta segunda-feira sem carimbar o programa do PT na TV como um programa de cinismo irrefutável, um programa em que a mentira foi a arma ferina para agredir os adversários. É surpreendente, porque Governo tem muito o que dizer sem agredir; deve ter muito a dizer sem agredir, porque tem o dever de prestar contas à população.
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