Discurso durante a 247ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do bicentenário de nascimento de Louis Braille, inventor do Sistema Braille de leitura e escrita para cegos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoração do bicentenário de nascimento de Louis Braille, inventor do Sistema Braille de leitura e escrita para cegos.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2009 - Página 68825
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PIONEIRO, ADVOGADO, CEGO, BRASIL, DEPOIMENTO, AMIZADE, ORADOR, COMPROVAÇÃO, IMPORTANCIA, APRENDIZAGEM, COMPENSAÇÃO, DEFICIENCIA, ELOGIO, VITORIA, AÇÃO JUDICIAL, BENEFICIO, VITIMA, MEDICAMENTOS, MUTILAÇÃO, EMBRIÃO, OPORTUNIDADE, HOMENAGEM, CENTENARIO, AUTOR, CODIGO BRAILLE.
  • ELOGIO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, VALORIZAÇÃO, VIDA HUMANA, CONCLAMAÇÃO, ETICA, CLASSE POLITICA, LUTA, DEFESA, INTERESSE PUBLICO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Está aí um dia bonito no Senado. Nada como a beleza das crianças e a genialidade de Maurício de Sousa. Estive com um colega de formatura que estudou comigo durante todo o ginásio do Rosário, na faculdade de Direito, formou-se advogado e trabalhou até poucos dias, quando faleceu: Dr. Walkirio Bertoldo, o primeiro advogado cego do Brasil.

            Então, eu convivi com Walkirio Bertoldo. Convivi. Andávamos juntos, passávamos as férias juntos, viajávamos juntos, e eu aprendi a entender que Deus compensa. Walkirio Bertoldo via e entendia muito mais a natureza, que ele não enxergava, do que eu, que a enxergava. Através do perfume, ele interpretava melhor as flores do que eu, que sentia o perfume e via, enxergava as flores. E foi o Código Braille, foi a interpretação desse que fez dele o primeiro advogado cego. Nós víamos e mexíamos. Na hora de fazer a prova, era proibido usar código, mas ele usava o Código Braille, e a gente não sabia se ele estava ou se ele não estava colando.

            Walkirio Bertoldo, cego, um advogado genial, foi o advogado que ganhou a questão espetacular das crianças, das milhares que nasceram defeituosas, da talidomida. Ele topou essa parada, e parecia impossível, contra o laboratório internacional. Ele, cego, e nós vínhamos com ele a Brasília, íamos ao Tribunal, íamos ao Supremo, debatíamos, discutíamos, e parecia que nunca ia dar certo. E deu certo! Ele ganhou aquela causa, e, no Brasil, as vítimas da talidomida receberam uma remuneração realmente justa e correta.

            Morreu o Walkirio. Estou viajando de Porto Alegre para Brasília e vem comigo um jovem de 50 anos, um advogado brilhante em cadeira de rodas. Mas o que é o que não é? “Eu sou vítima da talidomida.” “Ah, tu és vítima da talidomida?” “Sim.” “O que tu vais fazer em Brasília?” “Eu vou, porque, agora, se vocês aprovarem...” Vai ser votado no Senado. Vão votar agora uma lei que nós votamos aqui, Senador Arns, de sua autoria, que foi para a Câmara. Senador, o seu projeto foi votado aqui, foi para a Câmara, a Câmara dobrou, e nós vamos votar aqui. E vamos cobrar do Arruda, porque o Arruda tinha o compromisso de que o Presidente não... Não, o Arruda, não! Isola! O líder do Governo tinha o compromisso de que o Governo não vetaria o seu projeto. A Câmara dobrou, e agora nós temos que votar o projeto dobrado, aprovando aqui. Ele vinha como advogado, numa cadeira de rodas, vítima da talidomida, sobrinho do Walkirio Bertoldo, um advogado sério que tinha sido o advogado que entrou com uma ação há 35 anos.

            Então, quando vejo o Senado festejando através desse homem fantástico, que é o meu querido Senador Arns; quando vejo nós entendermos a importância da 5ª Semana de Valorização das Pessoas Deficientes; quando vejo esta sessão aqui homenageando - e como é lindo homenagear! - exatamente o Braille, que criou a linguagem dos cegos, quero dizer, meus irmãos, que os senhores não calculam o bem que nos estão fazendo! Vocês não calculam o fantástico para nós, homens ridículos, que temos olhos para ver, pernas para caminhar, braços para escrever, cabeça para pensar e, no entanto, fazemos tão pouco pelo nosso País! Que estamos aqui nesta tribuna trazidos por milhares de votos e, no entanto, fazemos tão pouco por este País! Quando vemos o exemplo de vocês, quando vemos o exemplo que mostra que Deus existe, para que, se as pernas estão com dificuldade, o cérebro pensa mais, porque, se os olhos não enxergam, a sensibilidade é muito maior. Não, Deus não fez o homem uma criatura dependente apenas das suas condições materiais. Temos olhos para ver, sim. Pernas para caminhar. Boca para falar. Mas, muitas vezes, algo pode nos faltar. Mas o nosso coração, mas a nossa alma, mas a beleza do nosso sentimento nos permitem ver, enxergar, compreender e avançar.

            Olhando para vocês, meus jovens, olhando para esse cartunista fantástico que é Maurício de Sousa, fico a pensar como a vida permite que pessoas se dediquem ao bem e ao belo, ao puro e ao grandioso, o quanto, no nosso tempo, nós perdemos tempo naquilo que não vale a pena. Quando aprendemos na fé e dizemos “Deus nos permita não nos agarrarmos às coisas que passam e nos prendermos às coisas que não passam” é que entendemos. A doença passa, a falta de visão passa, as pernas fracas passam, mas a alma, mas o sentimento, mas a beleza do pensar, do sentir, do entender, do compreender, isso não passa. E é isso que vale.

            Muito obrigado, Senador Mão Santa. Muito obrigado, na figura de Maurício de Sousa, de Eriberto Leão. Muito obrigado, na figura de Antônio José do Nascimento Ferreira. Muito obrigado pelo fato de os senhores estarem aqui, pela aula que estamos recebendo de amor, de paz, de sentimento e de beleza. Vale a pena.

            Nós não somos aqui criaturas muito boas. Temos muitos defeitos, temos muitos erros. Olhamos as coisas muito mal, nem sempre olhamos a beleza da vida, mas hoje os senhores estão nos mostrando: vale a pena, vale a pena olhar, sentir, ver e compreender. Vocês estão indo, vocês são o farol. Vocês, ainda que alguns não enxerguem, têm luz para que nós, enxergando, caminhando atrás, entendamos, entendamos que ali está o norte, ali está o caminho, ali está a paz, ali está o amor, ali está a verdade, ali está a justiça.

            Obrigado, meus irmãos. (Palmas.)


Modelo1 4/30/2412:04



Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2009 - Página 68825