Discurso durante a 257ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Devastação causada pelas chuvas no Estado do Rio Grande do Sul, analisando as mudanças climáticas em todo o mundo e tecendo considerações sobre a conferência de Copenhague, a COP-15. Relato sobre os problemas causados ao Estado do Rio Grande do Sul com empresas mudando-se para outros Estados da Federação.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA INDUSTRIAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Devastação causada pelas chuvas no Estado do Rio Grande do Sul, analisando as mudanças climáticas em todo o mundo e tecendo considerações sobre a conferência de Copenhague, a COP-15. Relato sobre os problemas causados ao Estado do Rio Grande do Sul com empresas mudando-se para outros Estados da Federação.
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2009 - Página 73661
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA INDUSTRIAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, INUNDAÇÃO, MUNICIPIOS, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), EFEITO, AUMENTO, TEMPERATURA, OCEANO PACIFICO, CONFIRMAÇÃO, ESTUDO, METEOROLOGISTA, PUBLICAÇÃO, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • COMENTARIO, DEMORA, GOVERNO FEDERAL, ASSISTENCIA, VITIMA, INUNDAÇÃO, REGISTRO, PARCERIA, SECRETARIA DE SAUDE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), MINISTERIO DA SAUDE (MS), VIABILIDADE, REPASSE, RECURSOS.
  • IMPORTANCIA, ESTUDO, CLIMA, OBJETIVO, PREVENÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, REGISTRO, CRIAÇÃO, CENTRO DE PESQUISA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PARCERIA, DEFESA CIVIL, UNIVERSIDADE FEDERAL.
  • EXPECTATIVA, ACORDO, CONVENÇÃO INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), DEBATE, ALTERAÇÃO, CLIMA, CRITICA, PREVALENCIA, INTERESSE ECONOMICO, PAIS INDUSTRIALIZADO, DEMONSTRAÇÃO, GRAVIDADE, EFEITO, NEGLIGENCIA, PREVENÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, MEIO AMBIENTE, ESPECIFICAÇÃO, SECA, CONTINENTE, AFRICA, QUEIMADA, RESERVA FLORESTAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), AUSTRALIA, REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SUPERIORIDADE, CONSUMO, RECURSOS NATURAIS, DEFESA, ORADOR, IMPORTANCIA, REFLORESTAMENTO, POSSIBILIDADE, UTILIZAÇÃO, FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA, FINANCIAMENTO, PROTEÇÃO, FLORESTA.
  • APREENSÃO, ORADOR, PERDA, PROCESSO, INDUSTRIALIZAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DETALHAMENTO, SAIDA, INDUSTRIA DE COMPUTADORES, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA.
  • DEFESA, ESCOLHA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CONSTRUÇÃO, POLO INDUSTRIAL, INDUSTRIA, TECNOLOGIA, ATENDIMENTO, ACORDO, GOVERNO BRASILEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, PRODUÇÃO, EQUIPAMENTOS, TELECOMUNICAÇÃO, LEITURA, TRECHO, NOTA OFICIAL, MINISTERIO DA CIENCIA E TECNOLOGIA (MCT).
  • IMPORTANCIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ZERO HORA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CONFIRMAÇÃO, CAPACIDADE, REGIÃO, RECEPÇÃO, INDUSTRIA, TECNOLOGIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB -RS. Sem apanhamento taquigráfico. - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o conjunto de tradições, venho hoje a esta tribuna para fazer um pronunciamento sobre a devastação que as chuvas vêm causando no Estado do Rio Grande do Sul nesses últimos trinta dias.

            Chuvas fortes, queda de granizo e vendavais vêm atingindo praticamente todo o Estado, com exceção da Região Norte. As regiões mais sacrificadas são Litoral Norte, Metade Sul, Fronteira Oeste, Noroeste e Zona Carbonífera.

            Só para exemplificar apresento o caso de Bagé, cidade que ficou conhecida em épocas anteriores por sofrer com as secas. Pois bem, no mês passado aquela cidade recebeu chuvas que equivaleram a 500 por cento da média histórica das precipitações locais em novembro.

            No curto espaço de um mês, de meados de novembro até hoje, 186 municípios gaúchos decretaram estado de emergência em função de chuvas, granizo ou vendavais. Estima-se que oito pessoas faleceram em função das fortes chuvas em menos de um mês.

            A Defesa Civil do Rio Grande do Sul registra 2 mil pessoas desabrigadas, outras 4 mil estão desalojadas. Mais de 15 mil casas estão danificadas, mais de 300 totalmente destruídas.

            Algumas rodovias do estado foram interditadas ao longo desse tempo, por conta de queda de barreiras, ruptura de bueiros, aterros e pontes. Incontáveis plantações foram destruídas. Muitas escolas tiveram que suspender as aulas.

            O Governo do Estado, segundo a Defesa Civil, tem enviado milhares de cestas básicas de alimentos para as regiões atingidas bem como material para prestação de socorro: pacotes com produtos de limpeza, lonas e colchões, cobertores, lençóis e travesseiros.

            Se estendermos o prazo da tragédia para três meses, recuando até o mês de setembro, o número de municípios gaúchos atingidos por eventos climáticos adversos sobe para 260.

            Pois bem, se acrescentarmos a esse total os 281 municípios que decretaram estado de emergência, no primeiro semestre, em função de estiagem, chegaremos a um total de 541 cidades!

            Assim, ao longo deste ano, em função de calamidades variadas, o número de municípios levados a declarar emergência no nosso Estado -- por falta e por excesso de chuvas -- é superior ao número de cidades existentes no Rio Grande do Sul, que chega atualmente a 496.

            O mais triste é que muitos desses municípios foram atingidos por duas calamidades sucessivas: seca no primeiro semestre, inundação no segundo semestre.

            Não sei de um levantamento dos danos materiais, mas obviamente eles devem chegar à casa das dezenas de milhões de reais. E, como costuma ocorrer nessas tragédias, em geral as mais atingidas são as moradias dos menos favorecidos.

            Vista por esse ângulo, a situação ganha em dramaticidade. A verdade é que os mais pobres são sempre as principais vítimas nas nossas tragédias climáticas.

            Some-se a isso um fato inegável: o Estado brasileiro tradicionalmente não socorre bem e rapidamente as vítimas dessas calamidades.

            Temos, portanto, uma tragédia sobreposta a outra, que é a incompetência histórica do Estado em defender os mais simples, vítimas contumazes nas calamidades.

            O Governo brasileiro é lento no socorro às unidades da federação atingidas por calamidades. E não me refiro apenas ao caso do Rio Grande do Sul. Aqui mesmo no Senado tenho ouvido inúmeros senadores protestarem contra a omissão do governo central toda vez que ocorre alguma calamidade em alguma unidade da federação.

            Para minimizar os danos em nosso Estado, uma rede de apoio aos municípios em situação de emergência foi acertada entre a Secretaria Estadual da Saúde e o Ministério da Saúde, com recursos no valor de R$ 50 milhões.

            Hoje, dia 15 de dezembro, prefeitos e diretores de 83 hospitais dos municípios que decretaram emergência até 9 de dezembro se reunirão com a Secretaria da Saúde para acertar detalhes do pedido de auxílio. Os repasses serão feitos ao Fundo Estadual de Saúde, que transferirá aos Fundos Municipais de Saúde.

            A verba atenderá à reconstrução e ao reforço da rede de atenção básica e hospitalar, atingida pelos recentes desastres ambientais no Estado.

            No último final de semana, os eventos mais graves foram registrados no Litoral Sul. A cidade de Rio Grande deverá decretar situação de emergência em razão das fortes rajadas de vento que atingiram o município na manhã de sábado.

            As águas da Lagoa dos Patos foram represadas pelos ventos, fazendo com que algumas ilhas fluviais fossem alagadas. Esse fenômeno também foi sentido em Pelotas e Tapes, mas o arrefecimento dos ventos trouxe ontem baixa gradual das águas, que em determinados pontos chegou a 30 centímetros, trazendo a normalidade à região.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, haveria explicação para essa tragédia que atinge outra vez o Rio Grande do Sul?

            Sim, dizem os cientistas. Uma das causas seria o fenômeno El Niño, que se traduz pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico.

            Ainda em agosto do corrente ano, em entrevista à revista Época, o meteorologista Expedito Rebello, do Instituto Nacional de Meteorologia, responsável pela análise da evolução do fenômeno, disse que a previsão era no sentido de que ele se consolidaria a partir de setembro e outubro.

            Segundo o Dr. Rebello, os efeitos do El Niño seriam diversos no Brasil. “No Norte e no Nordeste, as chuvas ficam mais fracas no norte das duas regiões. A Amazônia, em particular, pode sofrer com a falta de chuva. Na primavera, o Sudeste e o Centro-Oeste têm temperaturas muito mais altas. Mas o efeito mais claro do El Niño no Brasil é a chuva forte nos Estados do Sul.”

            Pois foi o que se confirmou.

            Em contato com a Defesa Civil gaúcha, que me deu os números sobre cidades atingidas, fiquei sabendo que o Rio Grande do Sul é considerado hoje o Estado brasileiro que mais sofre com a ocorrência de eventos climáticos adversos.

            Isso ocorre porque o Rio Grande do Sul é o local aonde massas de ar quente vindas do centro do país se chocam com ondas de ar frio que chegam do sul do continente. O Rio Grande do Sul é, portanto, um corredor sobre o qual se defrontam forças naturais adversas.

            Dizem até mesmo que o Rio Grande do Sul seria, hoje, o segundo ponto do mundo onde mais ocorrem esses embates entre forças contrárias da natureza.

            Cabe falarmos aqui um pouco sobre o El Niño, um fenômeno tão antigo quanto desconhecido.

            Segundo o meteorologista Expedito Rebello, conceitualmente o El Niño consiste no aquecimento anômalo das águas superficiais do setor centro-leste do Oceano Pacífico, predominantemente na sua faixa equatorial. É um fenômeno oceânico-atmosférico que afeta o clima regional e global, mudando a circulação geral da atmosfera, sendo um dos responsáveis por anos considerados secos ou muito secos. Também é caracterizado por variações na atmosfera sobre a região de águas aquecidas.

            Os efeitos do El Niño no Brasil podem ser benéficos ou prejudiciais. Como os danos causados são superiores aos benefícios, ele é temido pelos agricultores.

            Segundo o meteorologista Expedito Rebello, “em cada episódio do El Niño é observado na região sul um grande aumento no volume de chuvas, principalmente nos meses da primavera, fim do outono e começo do inverno. Pode-se observar acréscimo de até 150% na precipitação em relação ao seu índice médio.

            Isso pode acarretar nos meses decisivos em que acontece a colheita prejuízos devastadores aos agricultores, principalmente, nos setores de produção de grãos. As temperaturas também mudam nas regiões Sul e Sudeste, onde é observado um inverno mais ameno na região Sul, enquanto no Sudeste as temperaturas ficam mais altas em relação ao seu valor normal”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma das soluções na luta para a contra a devastação causada por fenômenos climáticos, como se sabe, é justamente o estudo do clima. Só com mecanismos eficientes de pesquisa as autoridades poderão prever as catástrofes e trabalhar antecipadamente para a redução dos danos.

            Nesse sentido, na semana passada, a Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul - em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Secretaria Nacional da Defesa Civil - anunciou a criação do Centro Universitário de Pesquisas sobre Desastres do RS (CEPED/RS). O órgão irá funcionar junto à UFRGS e fomentará ações preventivas contra os efeitos dos desastres ambientais, beneficiando diretamente a população gaúcha.

            Quando eventos climáticos adversos são detectados pelo InMet, o órgão envia um alerta para a Secretaria Nacional de Defesa Civil e para o Ministério da Integração Nacional, que mobiliza os Estados e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), criando uma rede de proteção para as áreas potencialmente atingidas.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que coincidência! Justo agora, quando se realiza a Conferência de Copenhague sobre os problemas climáticos do mundo, o meu Estado, o Rio Grande do Sul, volta a ser atingido por cheias devastadoras.

            O que todos desejam é que essa Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP-15), coordenada pela ONU, possa trazer algo de concreto para a solução do gravíssimo problema do aquecimento mundial.

            É a última oportunidade para que os países definam suas agendas climáticas até 2012. A Conferência servirá para acentuar a consciência ecológica mundial que, na verdade, é algo bem recente, que começou a ocupar a agenda dos governos no começo dos anos 90, a partir da ECO-92 realizada no Rio de Janeiro.

            Espero com confiança que surja em Copenhague um consenso mínimo em torno das grandes propostas para a superação de uma crise ambiental que já está desenhada no horizonte próximo e que castiga regularmente a minha terra, a minha gente no sul do país.

            Aguardo o nascimento em Copenhague de propostas eficientes, que sejam efetivamente aplicáveis, como a criação de mecanismos confiáveis de avaliação e de fiscalização de políticas ambientais.

            O mundo precisa estabelecer urgentemente um acordo sobre o uso sustentável das florestas, das águas e do solo, que ao mesmo tempo ponha um freio no avanço do desmatamento e da pecuária extensiva.

            Tenho fé, realmente, que a Conferência de Copenhague represente um novo patamar na convivência do homem com o meio ambiente, um modo mais saudável de gerir os recursos da natureza, a fim de reduzir as calamidades que atingem todo ano milhões de pessoas em todos os cantos do Mundo.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acredito que podemos levar também para os domínios da natureza algumas reflexões que fazemos no campo social. No terreno da economia costumamos dizer que lamentavelmente a ganância e a ambição determinam que bilhões de pessoas sobrevivam à beira de miséria enquanto uns poucos milhões vivem com recursos ostensivos, acintosos, moralmente indecentes.

            No que se refere à natureza podemos dizer o mesmo. Ou seja, uma minoria consome a maior parte dos recursos disponíveis, sejam eles água ou alimentos.

            A mesma ganância que se vê na luta pela posse de bens e na ostentação pode ser observada no reino da natureza. Em todo o mundo muita terra está concentrada em poder dos ricos, mas no Brasil esse desequilíbrio é ainda maior.

            Os habitantes dos países mais opulentos consomem a larga maioria dos alimentos produzidos na terra - e consomem principalmente os alimentos mais nobres, mais caros, mais exclusivos.

            Os automóveis dos que moram nas nações mais poderosas - em especial os Estados Unidos - consomem a maior parte do combustível fóssil retirado das entranhas do planeta.

            Agora, os países que derrubam boa parte de suas florestas querem impedir que os países em desenvolvimento usufruam de suas terras. E se recusam a diminuir as suas emissões de carbono. E, nesse impasse, o mundo caminha para a tragédia.

            Todo ano inundações devastadoras repetem-se no mundo todo, deixando milhões de pessoas ao desabrigo. A cada ano repetem-se as grandes queimadas de reservas florestais e parques incendiados na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália. Ano após ano se sucedem secas terríveis na África que matam milhões de pessoas de fome. A desertificação avança pelo continente africano e se espalha pelo mundo, ceifando vidas, tangendo multidões famélicas que marcham sem rumo, sem esperança, sem vida.

            Esse é o panorama atual. Contra ele temos que lutar.

            A edição desta semana da revista Veja traz na capa uma manchete assustadora: “Estamos devorando o Planeta”.

            Entre os vários números levantados pela revista, um me impressionou particularmente: a cada dia nascem 213 mil pessoas no mundo. 

            Segundo essa reportagem, “os recursos naturais do planeta vêm sendo consumidos em velocidade que ultrapassa a capacidade de reposição da natureza”.

            Várias atitudes podem amenizar, porém, essa tendência. Entre elas, destacam-se o reflorestamento, o uso de energia alternativa, o financiamento para proteger de florestas, o uso de automóveis mais econômicos, a redução persistente do consumo de energia.

            As soluções talvez sejam mais simples do que imaginamos.

            Basta sermos mais solidários. Basta sermos menos gananciosos. Bastas entendermos que a natureza é um bem comum, que nos reserva um destino comum. Sim, porque a natureza, que não tem registro em cartório, não pertence a ninguém. Nem é patrimônio dos mais ricos, nem privilégio dos mais poderosos. A verdade é que pobres e ricos respiram o mesmo ar e bebem a mesma água. E comem os alimentos gerados pelo mesmo solo que, mais dia, menos dia, nos servirá de túmulo, a morada final de todos nós, ricos ou pobres.

            A pergunta que me ocorre é: será que não está no respeito à natureza aquele ponto de consenso em que, finalmente, todos os seres humanos se encontrarão?

            Sim, porque a natureza diz respeito a todos, independentemente de crenças e etnias. Será que em torno do necessário respeito à natureza os homens, por fim, se convencerão de que é preciso viver uma vida mais austera?

            A tragédia das águas no Rio Grande do Sul, agora, nos faz refletir outra vez sobre tudo isso que nos atinge, nos aflige, nos machuca, nos preocupa.

            Os céus nos flagelam com tormentas, nos afogam com perguntas, nos assolam com tragédias.

            Devemos responder a tudo isso.

            O planeta não pode esperar. A vida não pode esperar.

            Como segundo assunto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero dizer que em 1999 foi instalada em Eldorado do Sul a montadora Dell Computers, a segunda maior fabricante de computadores, seus acessórios e componentes do mundo.

            A vinda dessa indústria "montadora" de alta tecnologia fazia parte de um grande projeto de reconversão do perfil econômico do Rio Grande do Sul. Além dela viriam outras ligadas às indústrias do setor eletroeletrônicos e, igualmente relevante, as montadoras do segmento automotivo General Motors e Ford Motors, juntamente com seu parque industrial acessório.

            A Ford, todos sabem, nós a perdemos, em 1999. Transferiu-se para a Bahia. A fábrica em Camaçari foi inaugurada em 2001, com investimentos na ordem de quase R$2 bilhões, gerando 8 mil empregos diretos e 80 mil indiretos.

            Mesmo com uma renúncia fiscal estadual e municipal de 10 anos e estimada em R$180 milhões, somente graças ao setor automobilístico o PIB baiano cresceu, de 2003 a 2005, 17,7%, enquanto que o PIB nacional cresceu no mesmo período em torno de 7,8%.

            Felizmente, e por pouco, a GM ficou no Rio Grande do Sul. Instalou-se em Gravataí, onde naturalmente - com o apoio do Governo Estadual - originou-se o que se esperava, um pólo de desenvolvimento de vários setores agregados.

            Enquanto isso, meus nobres Colegas, Sr. Presidente, em Eldorado do Sul, a unidade da Dell, que empregou diretamente 250 pessoas e recebeu investimentos de US$130 milhões, permanecerá em operação somente com a parte administrativa, o centro de desenvolvimento de software, a área de apoio técnico e o call Center.

            Isso ocorreu em relação à Dell Computers em Eldorado do Sul, pois em 2007 essa montadora transferiu sua linha de montagem, distribuição, manutenção e assistência técnica para Hortolândia no interior do Estado de São Paulo, onde já existe um aglomerado de empresas, tais como a IBM, Belgo-Mineira, Magneto Marelli, Laboratório SEM e outras. Ficando no Rio Grande do Sul apenas a "administração" da Dell.

            Quando construiu sua fábrica em Hortolândia (SP), a Dell transferiu gradualmente as linhas de produção de Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre. Na época, seu gerente-geral na América Latina argumentou: “70% dos nossos clientes no Brasil está na região Sudeste”.

            Outro fator que pesou na mudança, segundo a diretoria da empresa, é que a região de Hortolândia concentra a maioria dos fornecedores locais da companhia. A localização da cidade, próxima a Campinas, também facilita receber os componentes importados, que ingressam no país pelo aeroporto de Viracopos.

            Além melhorar a "qualidade" do atendimento aos clientes do Sudeste, com redução no tempo de entrega dos equipamentos e do frete, consequentemente, baixando os preços dos computadores.

            Além disso, a pressa na mudança da Dell era devido ao fato de só dispor de somente mais um ano dos incentivos fiscais concedidos pelo governo gaúcho, que eram basicamente um desconto de 75% do ICMS por 8 anos.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de forma alguma é meu propósito atribuir culpa ou responsabilidades. Contudo, é imprescindível continuarmos na busca da reconversão econômica do Rio Grande. Não se pode prosseguir com uma matriz produtiva centrada na exportação de primários e semi-elaborados.

            A exportação dessas commodities agregam pouco valor monetário, tecnologia de produção, qualificação de mão de obra, pesquisa e desenvolvimento em Ciência e Tecnologia.

            Diante desse quadro surge a idéia de gestionar politicamente junto ao Executivo Federal no sentido de direcionar a instalação no Rio Grande do Sul - o Estado-Centro da América Latina e, especialmente do Mercosul - as prometidas indústria de tecnologia de ponta advindas dos contratos firmados para aquisição de equipamentos bélicos e de telecomunicações - os aviões caça que estão em vias de serem comprados, a implantação da TV digital e a popularização do uso da internet banda larga.

            Sr. Presidente, nobres Colegas, nessas duas contratações há a perspectiva de instalação de fábricas de semicondutores e seus derivados (chips, integrados, placas, nanocircuitos, tecnologias de plasma, led e cristal líquido).

            Inclusive, é oportuno registrar que quando da adoção do sistema digital de televisão, o Brasil possuía três alternativas: o americano, o europeu e o japonês, este último acabou sendo adotado após várias negociações entre os dois governos, via Ministros Hélio Costa (Comunicações) e Celso Amorim (Relações Exteriores).

            No memorando de entendimento havia a noção de um inequívoco comprometimento por parte do governo do Japão em pressionar pela instalação de indústria de alta tecnologia no Brasil.

            Segundo nota, publicada no informe Convergência Digital de 20 de maio de 2008 - mas cuja a situação da informação não foi alterada - o Ministério de Ciência e Tecnologia - MCT preconizava: "Brasil pode ganhar fábrica de semicondutores até 2009".

            Bom, 2009 já praticamente acabou e o que nós temos ainda são as mesmas circunstâncias e situação de 2008.

            Prossegue a nota:

            "Hoje nós temos, voluntariamente, algumas empresas japonesas que souberam do evento (IC Summit) e estão aqui. Até porque, agora, o padrão japonês foi aprovado e com a TV Digital entrando em operação no Brasil teremos um grande alteração nos aparelhos domésticos nos próximos três anos. Isso pesará na decisão das empresas", afirmou o Ministro.

            E pasmem, ainda segundo o informe, segue a matéria com o curioso subtítulo "Blá-blá-blá":

            Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, a proposta assinada com os japoneses "num Protocolo de Intenções" pelos ministros das Comunicações, Hélio Costa, e das relações Exteriores, Celso Amorim, até foi bem-intencionada mas, no fundo, não levava em conta o fato que o Brasil não estava preparado para atrair tais investimentos. "Para ser muito franco, era muito blablablá, mas era o possível de ser negociado naquele momento", frisou.

            Hoje esses componentes são basicamente importados da China, com a qual temos a demonstração cabal do quanto o Brasil , não somente o Rio Grande, tem que redirecionar sua política industrial, repetindo: ainda com perfil de Brasil-Colônia.

            É importante lembrar que hoje temos dois grandes pólos de indústria de tecnologias avançadas - sempre lembrando de que se tratam de "montadoras - no setor eletroeletrônico: Em Manaus com a Sharp, a Motorola, a Sony e outras; e o eixo Rio-São Paulo-Minas. Falta justamente um pólo no Sul do País, para conferir um equilíbrio regional e possibilitar a expansão comercial dessa produção para os Países do Cone Sul, principalmente, ou o seu escoamento via saída para o Pacífico.

            Porém, Sr. Presidente, ocorre que muitas vezes o inusitado ocorre. Vejam só, meus nobres Colegas, um fato recente merece nosso registro e atenção. Na edição de 10 de dezembro do corrente, a seção Empresas do jornal Zero Hora trouxe a seguinte matéria assinada pela jornalista Alice Rodrigues:

Zero Hora - Empresas - 10/12/2009

Joint-venture entre grupo coreano e gaúcho anuncia unidade de semicondutores no Estado

Quatro cidades do RS estão no páreo para receber investimento de U$ 200 milhões

Alice Rodrigues

A governadora Yeda Crusius anunciou nesta quinta-feira a instalação de fábrica de semicondutores no Estado. O investimento de R$ 200 milhões será realizado pela joint venture HT Micron, formada pela coreana Hana Micron e por grupo brasileiro liderado pela Altus. Até 1,3 mil empregos diretos devem ser criados.

Os acionistas Ricardo Felizzola e Chang Ho Choi assinaram em audiência no Palácio Piratini um protocolo de intenções e compromissos recíprocos esta manhã.

O Estado é parceiro nos incentivos que é capaz de fornecer para que essa empresa se instale no Rio Grande do Sul a partir dessa decisão oficial das assinaturas que nós promovemos. Essa negociação vem de muito tempo. Nós estamos celebrando que a decisão veio para o RS oficialmente ontem - afirmou Yeda.

A unidade industrial fará o encapsulamento e o teste de semicondutores. O foco da empresa será o mercado brasileiro.

O local onde a unidade deverá ser instalada será definido entre duas semanas e um mês. Quatro cidades gaúchas concorrem. Uma delas é Porto Alegre.

            São, obviamente notícias alvissareiras. Chamo a atenção para três pontos. Em primeiro lugar, por começarmos a nos integrarmos nesse setor industrial, nem que seja fabricando "embalagens", que no fundo é, a grosso modo, o chamado encapsulamento, e, numa etapa posterior - de maior sofisticação tecnológica -, efetuando o teste desses componentes.

            Como segundo ponto importante da notícia, eu destaco que esses investimentos serão feitos em meu Estado do Rio Grande do Sul.

            E a terceira observação é que todo o processo de negociação foi patrocinado, até aqui com sucesso, pelo Governo Gaúcho que estimulou a criação da joint venture HT Mícron, formada empresas, a nacional Altus e pela Hana Mícron, de origem sul-coreana.

            O destaque feito pela origem coreana da empresa é devido a surpreendente capacidade empreendedora demonstrada por meus conterrâneos. Nós demos um primeiro, e grande passo, enquanto todo o País ansiava, e anseia ainda, pela promessa da vinda de indústrias de fabricantes de sistemas e componentes eletrônicos advindos compromisso do acordo Brasil-Japão para a implantação deste tipo de parque industrial. Tido como a contrapartida pela escolha do padrão de televisão digital japonês.

            Desse acordo Brasil-Japão ainda não veio nada. Eu quero, com esse pronunciamento ressaltar a importância de que seja o Rio Grande do Sul o Estado a recepcionar esse pólo de tecnologia. Independente da matéria citada, nós temos um passado e uma experiência com este tipo de setor de ciência e tecnologia.

            É também necessário registrar que não existe na América do Sul indústrias "fabricantes" nesses supracitados setores de produção. Segundo a imprensa, estria em fase de implantação um pólo desse setor na República da Costa Rica, na América Central.

            Nunca é demais lembrar que durante o maior período da história do desenvolvimento nacional, aos gaúchos ficaram reservados os postos de patrulha de fronteira de eterna prontidão e de entrega de sua própria existência numa constante vigília para defesa da nação. Essa situação de constante resistência custou-nos o preço do atraso e da dependência.

            O Rio Grande do Sul não merece e talvez não aguente mais retrocessos. Após a distensão em nosso continente, buscamos com garra a busca da modernidade. Com isso implantamos indústrias de base e de fina siderurgia, um poderoso (e custoso) Pólo Petroquímico.

            Temos que retomar nossa combatividade. Agora, mais do que nunca, precisamos de bravura e persistência para transpor a mais difícil borda, a do atraso.

            O polo das indústrias de alta tecnologia precisa ser construído no Rio grande do Sul.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/2009 - Página 73661