Discurso durante a 255ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Importância do folclore do Amapá, destacando a festa do Marabaixo, uma homenagem à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Importância do folclore do Amapá, destacando a festa do Marabaixo, uma homenagem à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2009 - Página 72569
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CULTURA, TRADIÇÃO, FOLCLORE, FORMAÇÃO, IDENTIDADE, POVO, DETALHAMENTO, DIVERSIDADE, MANIFESTAÇÃO, ESTADO DO AMAPA (AP), ESCLARECIMENTOS, HISTORIA, ORIGEM, FESTA, DANÇA, CRIAÇÃO, ESCRAVO, HOMENAGEM, SANTO PADROEIRO, IGREJA CATOLICA, CONCENTRAÇÃO, OCORRENCIA, CAPITAL DE ESTADO, COMUNIDADE, QUILOMBOS, REGIÃO, AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, ELOGIO, VALORIZAÇÃO.
  • SAUDAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, CULTURA, INDIO, ESTADO DO AMAPA (AP), DETALHAMENTO, DANÇA, DEFESA, DIVULGAÇÃO, BRASIL, OBJETIVO, INTEGRAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

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            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB -AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o conjunto de tradições, lendas, crenças e costumes populares que compõem o folclore de cada região engloba as mais autênticas manifestações da cultura popular. É nesse conjunto de saberes e expressões artísticas, transmitido de geração para geração, que melhor se revela, que melhor podemos perceber a alma de um povo, o sentimento que ele tem de sua história, os ideais que ele projeta para seu futuro.

            Assim como no restante da Amazônia, o folclore do Amapá apresenta extraordinária vitalidade. Resultado de influências diversas - indígenas, africanas e européias -, a cultura amapaense combina, nas mesmas manifestações, traços sagrados, que denotam a profunda religiosidade do povo local, e traços profanos, por meio dos quais se expressa seu espírito festivo, alegre, amante dos prazeres da vida.

            Algumas das mais vigorosas expressões da cultura do Amapá são compartilhadas com outros Estados da região Norte do Brasil, a exemplo do Boi-Bumbá e do Círio de Nazaré. Outras, contudo, possuem feição nitidamente local.

            A mais autêntica manifestação folclórica do Amapá é, indiscutivelmente, a festa do Marabaixo, uma homenagem à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo que foi criada pelos escravos negros trazidos para Macapá, no século XVIII, para construir a Fortaleza de São José. Em várias ocasiões ao longo da festa, que começa no Domingo de Páscoa e tem duração de muitos meses, as pessoas cantam e dançam o marabaixo, ao som de dois tambores, solista e coro. Com efeito, essa dança típica se tornou tão conhecida no Estado que virou nome de bairro e de sorvete em Macapá.

            Essa tradição foi passada pelos escravos aos seus descendentes que vivem na Vila de Curiaú, a 8 km de Macapá, e também àqueles que moram na Vila de Mazagão Velho, no Município de Mazagão, e na cidade de Macapá, onde a tradição é especialmente forte nos bairros do Laguinho e Santa Rita. A festa do Marabaixo inclui missas e ladainhas, mas tem também seu lado profano, expresso no consumo da gengibirra, bebida feita de gengibre ralado, cachaça e açúcar, usada para garantir a energia dos dançarinos.

            Apenas na Capital amapaense, porém, o Marabaixo sobrevive com grande parte de suas características originais. Em Mazagão Velho, por exemplo, ele desapareceu completamente. Na Vila de Curiaú, o marabaixo ainda é dançado por ocasião da festa em louvor à Santa Maria, no fim de maio. A transformação que a festa sofreu ao longo do tempo, deve-se, de acordo com os estudiosos, a variáveis como a urbanização, a modernização e a migração rural.

            Embora a festa do Marabaixo comece no Domingo de Páscoa, com uma missa na Igreja de São Benedito, no bairro do Laguinho, seu ponto alto acontece no começo de novembro, com o Encontro dos Tambores, em Macapá. Nessa oportunidade, as pessoas cantam e dançam o marabaixo durante quatro dias.

            Outros momentos importantes da festa são a “Levantação do Mastro” do Divino Espírito Santo, na “Quinta-feira da Hora”, a “Levantação do Mastro” da Santíssima Trindade, na “Segunda-feira do Mastro”, e o “Domingo do Senhor”, o último dia do ciclo anual do Marabaixo. Nesse dia, os participantes dançam até às 18 horas, quando param para fazer a “Derrubada do Mastro” - na verdade, os dois mastros -, e, em seguida, recomeçam a dança, que se estende até tarde da noite.

            O Encontro dos Tambores reúne os grupos remanescentes de populações negras, com finalidade de reforçar as raízes e identidades, unindo diversas linguagens musicais. O evento também coloca em discussão os problemas das diversas comunidades negras. Como a cultura amapaense é calcada principalmente nos costumes negros, o Encontro dos Tambores representa uma grande oportunidade para assistir às apresentações dos mais diversos segmentos da arte afro-brasileira: dança, pintura, escultura e música, incluindo o batuque, o candomblé, o sahirê, o samba, o gingado da capoeira e o quase extinto zimba.

            A cultura do Amapá, contudo, Senhor Presidente, inclui muitas outras manifestações de extraordinária riqueza, além do Marabaixo. O Boi-Bumbá, por exemplo, tradição muito comum no Norte do Brasil, tem considerável destaque no meu Estado. Também no Amapá, as pessoas vestem fantasias e dançam para contar a história do boi que ressuscita graças à intervenção do pajé. Nosso Carnaval é muito animado, e inclui eventos peculiares e já tradicionais, como o “Futebol à Fantasia”, disputado na Segunda-feira Gorda, e a saída da “Banda”, um dos maiores blocos de sujos do Norte, na Terça-feira Gorda.

            O mês de junho é um dos mais movimentados em Macapá, sendo todo marcado por apresentações de grupos folclóricos, quadrilhas, bois-bumbás, encenados nas diversas praças públicas, bairros da cidade e, principalmente, no Sambódromo, onde é promovido o mais disputado concurso de quadrilhas.

            O Círio de Nazaré, que os brasileiros de outras regiões associam sempre a Belém do Pará, é realizado em Macapá desde 1934, quando a cidade ainda pertencia ao Estado do Pará. Em 6 de novembro daquele ano, graças ao entusiasmo do Major Eliezer Levy, Prefeito Municipal, realizou-se o primeiro Círio de Nazaré em Macapá, o qual, apesar das dificuldades da época, revestiu-se de grande beleza. São já, portanto, 75 anos consecutivos de realização dessa bela festa na Capital do meu Estado.

            Lá em Macapá, o Círio é realizado simultaneamente ao de Belém do Pará, sempre no segundo domingo de outubro, e a forma de realização da procissão macapaense também é fiel ao acontecimento de Belém. O Círio de Macapá tem início sempre num sábado, com uma carreata seguindo a imagem da Santa por diversos bairros da cidade. Em seguida, há missa e traslado da imagem da Igreja Jesus de Nazaré para a de Nossa Senhora de Fátima, onde, no domingo, o dia mais esperado, outra missa dá início à festividade e precede a procissão, que arrasta pelas ruas de Macapá uma verdadeira corrente humana.

            O Círio, a partir de então, é pontuado por terços de alvorada, missas, pregações, liturgia penitencial, que, juntos, integram o calendário litúrgico da festividade. Ao mesmo tempo, acontece o programa cultural, que inclui arraial na quadra da paróquia, com premiações, leilão e noite de animação.

            Não posso deixar de mencionar, ainda, a Festa de São Tiago, realizada entre os dias 16 e 28 de julho, na Vila de Mazagão Velho, situada a 29 km de Mazagão, Município distante 65 km de Macapá, às margens do Rio Mutuacá.

            Essa vila foi fundada em 1770, com objetivo de abrigar 163 famílias de colonos lusos vindos da Mauritânia, na Costa Africana, em decorrência dos conflitos político-religiosos entre portugueses e muçulmanos que ainda por lá perduravam. Por meio da festa de São Tiago, os habitantes de Mazagão Velho revivem as batalhas que cristãos e muçulmanos travaram no Continente Negro.

            A origem da festa está ligada à lenda que conta o aparecimento de São Tiago, anônimo que lutou heroicamente contra os mouros, e sua realização enfoca personagens interessantes, como São Tiago, São Jorge, Rei Caldeira, Atalaia e outros.

            Outras belas e ricas manifestações da cultura amapaense, Senhoras e Senhores Senadores, são aquelas realizadas pelas comunidades quilombolas.

            A apenas doze quilômetros do centro da nossa Capital, por exemplo, uma comunidade quilombola preserva seus costumes e crenças ao mesmo tempo em que luta para conservar a Área de Proteção Ambiental (APA) em que vive. Importante sítio histórico e ambiental, a APA de Curiaú é uma das principais atrações turísticas da região, atraindo turistas de outros Municípios do Amapá e de diversos Estados do Brasil.

            Na primeira comunidade quilombola reconhecida no Estado, onde vivem cerca de quatro mil pessoas, está a Igreja na qual, anualmente, é celebrada uma das mais importantes festas religiosas do Amapá. A Folia de São Joaquim, festejada em agosto mediante nove noites de novena com folia, atrai muitos visitantes.

            A APA de Curiaú destaca-se por suas belezas naturais e, na mesma medida, pela importância das manifestações culturais preservadas pela comunidade, que incluem o batuque, a ladainha e o marabaixo. São manifestações culturais que têm levado um grande público a conhecer o local. E, para garantir a transmissão desse riquíssimo legado cultural às novas gerações, a Escola Estadual José Bonifácio, que funciona na comunidade, busca valorizar a cultura afrodescendente. O estabelecimento mantém projetos que valorizam o batuque e que se empenham no resgate dos costumes locais. Seus alunos sabem dançar carimbó, batucar, cantar as cantigas dos santos.

            Por último, mas certamente não com menor importância, o Amapá conta com as manifestações culturais de seus mais antigos habitantes, os povos indígenas.

            Existem no Amapá oito etnias indígenas, sendo as três maiores os Karipunas, os Marwornos e os Wajapis. Para não me estender demasiadamente, vou mencionar apenas a manifestação ritualística consubstanciada na dança do turé, dos povos indígenas da região do Uaçá, que são: os Karipunas, os Galibi-Marwornos, os Palikurs e os Galibi do Oiapoque, que formam redes de intercâmbio social e cultural no Município do Oiapoque.

            O Ritual do Turé é uma festa tradicional desses índios manifestada por meio da dança ritualística, demonstrando uma apuradíssima habilidade e qualidade artística e técnica de sua arte plumária, pintura corporal e facial.

            Sr. Presidente, Senhoras e Senhores Senadores:

            Nosso País, com sua dimensão continental, com sua população de múltiplas origens e fortemente miscigenada, tem, como todos sabemos, uma cultura extremamente rica e diversificada. E o Amapá, no contexto da Federação brasileira, destaca-se pelo extraordinário vigor e peculiaridade da sua cultura, pródiga em manifestações folclóricas amorosamente cultivadas pelas comunidades da Capital e do interior do Estado.

            Em função da distância geográfica que separa o Amapá dos maiores centros urbanos do País, milhões de brasileiros ainda desconhecem quase que por completo a riqueza da cultura do meu Estado. É chegada a hora, porém, de avançarmos firmemente no sentido da plena integração nacional. É importante que todos os brasileiros possam usufruir do privilégio de conhecer, de perto, as belas manifestações culturais dos amapaenses.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2009 - Página 72569