Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2010 - Página 3968
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ZILDA ARNS, MEDICO, FUNDADOR, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA, APOIO, CRIANÇA, SITUAÇÃO, POBREZA, ABANDONO, REPRESENTANTE, BRASIL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MILITAR, FORÇAS ARMADAS, POLICIAL MILITAR, DISTRITO FEDERAL (DF), VITIMA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, SAUDAÇÃO, PARENTE, AUTORIDADE, PRESENÇA, SESSÃO.
  • LEITURA, TRECHO, PRONUNCIAMENTO, ZILDA ARNS, MEDICO, IMPORTANCIA, SOLIDARIEDADE, PROMOÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, PAZ, MUNDO, COLABORAÇÃO, VOLUNTARIO, REDUÇÃO, MORTALIDADE INFANTIL, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO CARENTE.
  • RELEVANCIA, MISSÃO, FORÇAS ARMADAS, BRASIL, RECONSTRUÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, ELOGIO, BRAVURA, MILITAR.
  • IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, VOLUNTARIO, SELEÇÃO, FUTEBOL, BRASIL, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, UNIÃO, POPULAÇÃO, PAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Senador Mão Santa, Presidente desta sessão; Exmº Sr. Embaixador do Haiti no Brasil, Idalberto Pierre-Jean; Srs. Subscritores da presente sessão: Senadores Flávio Arns, Romeu Tuma, Aloizio Mercadante - que infelizmente hoje está fazendo um exame - Magno Malta, Paulo Paim e João Pedro; Sr. Comandante-Geral da PM, Cel. Ricardo da Fonseca Martins; Sr. Chefe da Assessoria Parlamentar do Gabinete do Comandante do Exército, Cel. João Chalella Júnior; Sr. Assessor Parlamentar do Comandante da Aeronáutica no Senado Federal, Tenente-Coronel Aviador Leopoldo José Lavers Hernandez; Sr. Coordenador Residente Interino da ONU no Brasil e Representante da Unesco no Brasil, Sr. Vincent Defourny; Sr. Representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Exmº Revmº Dom José Alberto Moura; Sr. Nelson Arns Neumann, filho da Drª Zilda Arns; Srª Ana Paula Policarpo Torres, viúva do General de Brigada , Exmº Sr. Emílio Carlos Torres dos Santos; Srª Emília Ribeiro Rodrigues Martins e Marina Rodrigues Martins, viúva e filha do Tenente-Coronel Francisco Adolfo Vianna Martins Filho; Srª Maria Batista Luz Neiva, Sr. Adimilson dos Santos Neiva, Adriana de Fátima Batista Neiva e Handerson Batista Neiva, mãe, pai e irmãos do Capitão da polícia Militar do Distrito Federal, Cleiton Batista Neiva; Srª Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança Revmª Irmã Vera Lúcia Altoé; Srª Líder da Pastoral da Criança do Distrito Federal, Srª Maria Alves Rolim; Sr. Sergio Danese: Sr. Coordenador-Geral de Preparação de Mão-de-Obra do Ministério do Trabalho e Emprego, Sr. Felipe Augusto Teixeira; demais familiares e amigos dos Militares do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Distrito Federal, da Drª Zilda Arns Neumann, do Sr. Luiz Carlos Costa, vítimas do terremoto no Haiti; eu gostaria de saudar também os Srs. Aregado Mantenque Té e Agustin da Costa, respectivamente Presidente e Secretário do Partido dos Trabalhadores da Guiné-Bissau, que, visitando-nos nesta tarde, resolveram vir a esta sessão para homenagem o povo do Haiti e aqueles que faleceram nessa missão heroica.

            Querido Senador Flávio Arns, acompanhei o momento em que o Presidente Lula, no velório e funeral de sua tia Zilda Arns, em Curitiba, se encontrou com toda a sua família, com as irmãs e os irmãos. Só não pôde estar lá, porque sua saúde não está tão boa, Dom Paulo Evaristo Arns, mas estava ali presente com todos vocês. Foi um momento muito belo aquele encontro em que as pessoas que estavam ao lado de Zilda Arns quando ela proferiu aquela última palestra de sua vida na igreja em Porto Príncipe puderam acompanhar, com emoção, o extraordinário trabalho dessa senhora, que se constitui num exemplo notável de ser humano não só para todas as mulheres mas também para todos nós, homens e mulheres do Brasil.

            O Senador Pedro Simon, a Senadora Fátima Cleide e outros já citaram belas passagens dessa última fala da Drª Zilda Arns, mas eu gostaria inclusive de homenageá-la com a citação de outras partes igualmente belas. No seu último discurso, em 12 de janeiro de 2010, ela disse:

Agradeço o honroso convite que me foi feito. Quero manifestar minha grande alegria por estar aqui com todos vocês em Porto Príncipe, no Haiti, para participar da Assembleia de Religiosos.

Como irmã de dois franciscanos e de três irmãs religiosas da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, estou muito feliz entre todos vocês.

Dou graças a Deus por este momento.

Na realidade, todos nós estamos aqui neste encontro, porque sentimos dentro de nós um forte chamado para difundir no mundo a boa notícia de Jesus. A boa notícia, transformada em ações concretas, é luz e esperança na conquista da paz nas famílias e nas nações. A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância e se transforma em fraternidade e corresponsabilidade social.

A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar quando impulsionamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas da busca do bem comum, que aprendemos com nosso mestre Jesus: ‘Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.’

Espera-se que os agentes sociais continuem, além das referências éticas e morais de nossa Igreja, a ser como ela, mestres em orientar as famílias e comunidades, especialmente na área da saúde, educação e direitos humanos. Deste modo, podemos formar a massa crítica das comunidades cristãs e de outras religiões em favor da proteção da criança, desde a sua concepção e mais excepcionalmente até os seis anos, e do adolescente. Devemos nos esforçar para que nossos legisladores elaborem leis e os governos executem políticas públicas que incentivem a qualidade da educação integral das crianças e saúde como prioridade absoluta.

O povo seguiu Jesus porque ele tinha palavras de esperança. Assim, nós somos chamados para anunciar as experiências positivas e os caminhos que levem as comunidades, famílias e o país a nos tornarmos muito mais justos e fraternos. 

            Não vou ler este belo discurso inteiro, mas apenas recomendar a todos vocês que o façam - inclusive o original aqui está em espanhol. Mas passo ao parágrafo final, Presidente Mão Santa:

Desde a sua fundação, a Pastoral da Criança investe na formação de voluntários e no acompanhamento de crianças, de gestantes, na família e na comunidade. Atualmente são 1.985.347 meninos e meninas, 108.342 gestantes, de 1.553.717 famílias. Sua metodologia comunitária e seus resultados, assim como sua participação na promoção de políticas públicas, com a presença em Conselhos de Saúde, Direitos da Criança e do Adolescente e em outros Conselhos, tem levado a transformações profundas no País, melhorando os indicadores sociais e econômicos.

Os resultados do trabalho voluntário, com a mística do amor a Deus e ao próximo, em sintonia com nossa mãe Terra, que a todos deve alimentar, nossos irmãos, os frutos e as flores, nossos rios, lagos, mares, bosques e animais, tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua transformação. É nesse espírito, ao fortalecer os laços que unem a comunidade, que podemos encontrar as soluções para os graves problemas sociais que afetam as famílias pobres.

Como os pássaros, que cuidam de suas crianças ao fazerem um ninho no alto das árvores e nas montanhas, distantes dos predadores, das ameaças e dos perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossas crianças como um bem sagrado, promover o respeito aos seus direitos e protegê-las.

“Muchas gracias” [disse ela].

Que Deus acompanhe a todos.

            São significativos aqueles caminhos colocados como exemplo para nós, ao longo de seus 75 anos. Como também o são os exemplos de todos aqueles que deram sua vida para o povo do Haiti, para que ali pudéssemos todos nos unir no sentido da fraternidade, que precisa mais e mais caracterizar a vida de todos os povos.

            Ontem, fiquei preocupado de ver que palmeirenses e são-paulinos, de repente, estavam se digladiando. Até mortes ocorreram! Será que não podemos promover mais ações de paz no mundo, querido Embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre-Jean?

            Eu tive a felicidade de ver uma coisa bonita em agosto de 2004. Estava eu ali, pois, numa missão de Senadores, e eis que tinha acontecido uma guerra civil entre haitianos - inclusive ali, em Porto Príncipe, alguns dos bairros mais pobres haviam entrado em conflito. E houve uma guerra civil. E diversos países resolveram fazer uma missão de paz e democratização para o Haiti.

            Coube ao Brasil comandar a Minustah - essa missão. Para se criar um clima de boa vontade, avaliou o Brasil que seria uma boa ação a Seleção Brasileira de Futebol, campeã do mundo, fazer uma partida ali no Haiti. O Presidente Lula estava lá, e a Seleção Brasileira chegou à República Dominicana, na ilha onde também está o Haiti, para ficarem próximos. Logo no início da tarde, os jogadores chegaram ao aeroporto de Porto Príncipe.

            O estádio de futebol haitiano comportava vinte mil pessoas, mas estavam ali, desde o aeroporto até o estádio, um milhão de pessoas para saudarem a Seleção e dizerem da felicidade das mulheres, dos homens e das crianças do Haiti por receberem Ronaldo, Ronaldinho, Romário e os craques da Seleção Brasileira. Eu os vi entrar no estádio. Quando a Seleção do Haiti fazia boas jogadas, o povo aplaudia, mas, quando a Seleção Brasileira fez bonitos gols - e foram muitos -, o povo haitiano aplaudiu também. E lembro-me muito bem de que, ao término do jogo, o Presidente Lula foi ao vestiário cumprimentar os jogadores, e eles, então, disseram: “Presidente, pode nos chamar sempre para missões dessa natureza, missões de paz, de solidariedade”.

            Eu me lembro disso porque, nesta bonita sessão, estamos sentindo que o exemplo dessas palavras tão belas de D. Zilda Arns e o exemplo de todos aqueles que faleceram nessa missão no Haiti, como brasileiros, têm muito daquele espírito. E é muito importante que possamos ajudar o Haiti a se reconstruir, a realizar reformas e a se tornar também um país que esteja à altura, inclusive, de um dos atos mais importantes da história das Américas, que foi o fato de o Haiti ter sido o primeiro país a se libertar da escravidão nas Américas.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2010 - Página 3968