Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. :
  • Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.
Aparteantes
Renato Casagrande.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2010 - Página 3981
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ZILDA ARNS, MEDICO, FUNDADOR, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA, APOIO, CRIANÇA, IDOSO, SITUAÇÃO, POBREZA, ABANDONO, REPRESENTANTE, BRASIL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MILITAR, FORÇAS ARMADAS, VITIMA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI.
  • REGISTRO, EMPENHO, ZILDA ARNS, MEDICO, APROVAÇÃO, SENADO, EMENDA CONSTITUCIONAL, RELATOR, ORADOR, OBRIGATORIEDADE, UNIÃO FEDERAL, ESTADOS, MUNICIPIOS, APLICAÇÃO, PERCENTAGEM, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, FINANCIAMENTO, SAUDE, POPULAÇÃO CARENTE, BRASIL.
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, ZILDA ARNS, MEDICO, COMENTARIO, SITUAÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, DEFESA, AUMENTO, SOLIDARIEDADE, PAIS INDUSTRIALIZADO, REFERENCIA, PAIS SUBDESENVOLVIDO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eminentes componentes da Mesa, voluntárias e voluntários do movimento pastoral iniciado e fomentado pela saudosa Zilda Arns, a quem saúdo em nome da minha conterrânea Ana Ruth Góes, que trabalhou durante 25 anos com essa figura imortal da vida pública brasileira.

            Esta é uma sessão promovida pelo Senado Federal de homenagem àqueles que, numa missão de solidariedade, foram dizimados naquela tragédia, que todos nós lamentamos, ocorrida no Haiti, onde faleceram mais de duzentas mil pessoas, e pessoas queridas do Brasil, militares e civis que ali estavam mostrando o espírito progressista, avançado, de solidariedade humana do povo brasileiro. Uma dessas pessoas, que não poderíamos deixar de enaltecer pelas suas qualidades, pelas suas virtudes, sempre em defesa dos direitos humanos das populações mais pobres; uma figura que não poderíamos deixar de enfatizar e que todos nós admiramos: a Drª Zilda Arns.

            Solidariedade, amigos, não se agradece, se comemora - foi Betinho quem disse. A comemoração que devemos fazer, neste instante, é a exaltação, como exemplo, dessa personalidade marcante. Eu mesmo, que já estou aqui no Senado Federal há muitos anos - já vou completando 16 anos de mandato eletivo -, já vi muitas vezes, pelos corredores desta augusta Casa, a Drª Zilda.

            Numa dessas oportunidades, eu relatava a chamada PEC da Saúde, que terminou sendo promulgada como Emenda Constitucional nº 29, de 2000. Essa proposição passou aproximadamente sete anos no Congresso Nacional. Quando ela veio para o Senado Federal, já no último ano de sua tramitação, fui designado Relator e de logo contei com o seu apoio, com a sua solidariedade, com a sua força e a sua energia, porque aqui veio, pessoalmente, pedir ao então Presidente do Senado Federal, Antonio Carlos Magalhães, que colocasse logo em votação essa matéria.

            De fato, enquanto a matéria passou uns seis anos lá na Câmara dos Deputados, aqui, com o trabalho que foi feito pela Drª Zilda para sensibilizar os parlamentares, inclusive os nossos dirigentes do Legislativo, a emenda constitucional foi aprovada num toque de mágica - a emenda que terminou sendo a Emenda nº 29, que trata do financiamento público da saúde, obrigando os Municípios, os Estados e a própria União a disponibilizarem recursos permanentes, certos e determinados em favor da população mais pobre do Brasil.

            Então, quando alguém tem uma vida como a da Drª Zilda, de luta incessante, retilínea, quando falece, como aconteceu, inclusive em circunstâncias trágicas, esse é um acontecimento que nos deixa abalados, tristes, mas, ao mesmo tempo, convencidos de uma realidade que sempre lembrava o Millôr Fernandes: “viver é desenhar sem borracha”. É não cometer erros. Desenha, erra, passa a borracha. A vida é cheia de altos e baixos. Cometemos erros e acertos, mas a vida desenhada pela Drª Zilda foi uma vida perfeita, consagrada no sacrifício em prol de nossos semelhantes.

            Se ela desaparece do nosso meio, deixou o exemplo, assim como nos afiançou aquele grande alemão, Goethe: “A vida é a infância da imortalidade”. Se a nossa vida é tão curta, tão breve, naqueles dias tão breves que ela por aqui passou, neste mundo ela realmente construiu a sua imortalidade, construiu um patrimônio que jamais será destruído. Aqui ela viveu a sua infância, a infância da imortalidade.

            E ao encerrar minhas palavras, Sr. Presidente, eu não poderia deixar de acentuar que, se nós temos um país tão pobre e miserável como o Haiti, se nós temos no mundo mais de 1 bilhão de pessoas passando fome, se há a desnutrição infantil invadindo os lares dos países subdesenvolvidos, isso se deve, principalmente, à ambição desmedida pelo lucro, à falta de solidariedade humana daqueles que enriqueceram demais e se esqueceram que o nosso Planeta é constituído de pessoas humanas.

            E isso ficou comprovado: nos Estados Unidos, o país mais rico do mundo, o mais poderoso do mundo, que dificilmente divide sua riqueza com os países mais pobres e que tem como prioridade a manutenção do seu império econômico. Nós vimos a crise última que aconteceu, a do Subprime, em que a fome grassou mais ainda, porque a crise se avolumou e atingiu os países mais pobres. Por quê? Porque, lá, as empresas ligadas ao setor habitacional criaram fraudes, falsificações, erros clamorosos, que repercutiram no sistema financeiro e econômico daquela grande nação, espalhando-se pelo mundo inteiro.

            O Sr. Renato Casagrande (Bloco/PSB - ES) - Senador Valadares.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Antes de terminar minhas palavras, concedo um aparte, com muito prazer, ao Senador Casagrande, do Espírito Santo, nosso companheiro do PSB.

            O Sr. Renato Casagrande (Bloco/PSB - ES) - Muito obrigado, Senador Valadares. Vou fazer um aparte muito rápido a V. Exª. Estou inscrito, mas vou cortar minha inscrição, porque já está ficando tarde e as pessoas aqui presentes já estão cansadas. Mas eu não poderia deixar de fazer, pelo menos, o meu registro. V. Exª faz seu registro como Líder do nosso partido. Quero apenas incorporar ao discurso de V. Exª a minha homenagem a Zilda Arns, a Luiz Carlos Costa, aos civis e militares que, em uma missão, em um trabalho humanitário, perderam suas vidas. E que o trabalho desenvolvido por Zilda Arns no Brasil e no mundo todo, com as crianças e as pessoas de mais idade, possa, de fato, ter continuidade, através das ações de diversas outras pessoas neste País. Que ela possa servir como referência, como marco, como exemplo desse trabalho. E que o trabalho dos nossos diplomatas, dos nossos civis e militares no Haiti seja um exemplo daquilo que precisamos fazer como líderes de um continente, como líderes da América. O Brasil é um país líder deste nosso continente. Temos um papel na relação com os demais países e que possa ser um exemplo desse trabalho com os demais países. E que agora nós tenhamos, com o sofrimento dos familiares e a perda dessas vidas, energia para ajudar o Haiti a se reconstruir, com a sua soberania, que tem que ter, mas com a nossa colaboração, com a nossa ajuda, que já estamos dando, com os nossos militares lá, com os nossos diplomatas lá, com diversas autoridades e lideranças participando dessa reconstrução do Haiti. Obrigado, Senador Valadares, por esta oportunidade.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Agradeço e finalizo, portanto, minhas palavras, concitando os países mais ricos para que diminuam suas ambições e passem a colaborar, não em termos de caridade, não em termos de doações, mas deixando que as nações mais pobres participem ativamente do processo de desenvolvimento do mundo, não só o Brasil, como as nações subdesenvolvidas, inclusive o Haiti.

            O processo de desenvolvimento econômico não é um patrimônio somente dos países desenvolvidos, é uma conquista que deve ser de todos os países que compõem a Terra. Essa é a solidariedade, esse é o recado, essa é a lição deixada por Zilda Arns, essa mulher brasileira que orgulha a todos nós. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2010 - Página 3981