Pronunciamento de Mozarildo Cavalcanti em 24/02/2010
Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Análise da pesquisa do Datafolha, publicada no jornal Folha de S.Paulo, constatando que cerca de 79% dos eleitores, acreditam que é impossível fazer política sem algum grau de corrupção. Registro da realização, nos dias 13 e 14 de março, do I Seminário Político do PTB.
- Autor
- Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
- Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ELEIÇÕES.
POLITICA PARTIDARIA.
SENADO.:
- Análise da pesquisa do Datafolha, publicada no jornal Folha de S.Paulo, constatando que cerca de 79% dos eleitores, acreditam que é impossível fazer política sem algum grau de corrupção. Registro da realização, nos dias 13 e 14 de março, do I Seminário Político do PTB.
- Aparteantes
- Paulo Paim, Romeu Tuma.
- Publicação
- Publicação no DSF de 25/02/2010 - Página 4187
- Assunto
- Outros > ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA. SENADO.
- Indexação
-
- ANALISE, RESULTADO, PESQUISA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SUPERIORIDADE, OPINIÃO, ELEITOR, IMPOSSIBILIDADE, EXERCICIO, POLITICA, AUSENCIA, CORRUPÇÃO.
- DEFESA, NECESSIDADE, MOBILIZAÇÃO, ENTIDADE, SOCIEDADE CIVIL, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, IMPORTANCIA, VOTO.
- ANUNCIO, REALIZAÇÃO, SEMINARIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB), ESTADO DE RORAIMA (RR), DISCUSSÃO, DEMOCRACIA, TRABALHO, RESPONSABILIDADE, CIDADÃO, ELEIÇÕES.
- REGISTRO, PRESENÇA, SENADO, FAMILIA, ORADOR.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador César Borges, que preside a sessão do Senado neste momento, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, quero reiterar um assunto que já venho falando há algum tempo, Senador Paim. Daqui a pouco mais de 200 dias, o povo do Brasil vai ter uma oportunidade ímpar de promover pelo voto uma melhoria na qualidade dos políticos do Brasil. Fala-se muito que há político ficha suja, político isso, político aquilo; e nenhum político seja ele vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, deputado distrital, senador, governador, presidente da República é nomeado. Ele é eleito pelo voto de cada cidadão, de cada cidadã.
Ocorre que, na verdade, o que acontece no dia a dia da nossa política, do povo de um modo geral é uma anestesia em relação à importância que tem o ato de votar, à importância que tem o voto do cidadão ou da cidadã depositado na urna, ou melhor, agora digitado na urna eletrônica.
No entanto, o que vemos, Senador César Borges? Recente pesquisa do Datafolha, na Folha de S.Paulo, com entrevista feita no Brasil todo com milhares de eleitores, o que se constatou? Que cerca de 79% dos eleitores, Senador Paim, acreditam que é impossível fazer política sem algum grau de corrupção. Quer dizer, o eleitor já aceita que é preciso haver um certo grau de corrupção para se fazer política. Ao mesmo tempo, isso serve de incentivo para aqueles que querem corromper. Se o eleitor já aceita, então fica mais fácil de corromper, quer dizer, os corruptores atuarem.
Por outro lado, setenta e pouco por cento desse eleitorado pesquisado diz que, de alguma maneira, já deu seu voto em troca de um favor, em troca de um cargo, em troca de um emprego, ou até, está lá na reportagem, por causa de uma carrada de barro.
Agora, se fosse só o eleitor que está lá passando necessidade social, passando fome, passando dificuldades, que quisesse realmente aproveitar esse momento para ter alguma vantagem, dava-se um jeito. Mas não é, não! O eleitor rico faz isso com muito mais intensidade, seja lá um empresário, ou mesmo um político que é de um certo nível e que a certo ponto negocia o voto dos seus eleitores que ele diz ter, para apoiar fulano ou beltrano para Governador, para Senador, para Deputado Federal, ou para Presidente da República, que é o caso que vai ter também agora.
Então, eu entendo que este papel devia ser muito dos partidos políticos: tentar dialogar com a sociedade. E começar lá na escola, partindo para os clubes, as instituições envolvessem realmente os jovens, depois as universidades, de maneira que nós criássemos uma geração de eleitores que, de fato, entendessem que, se ele vende ou troca o voto, não tem mais do que reclamar. Ele convalidou uma pessoa que já tem uma acusação de corrupta, que tem, digamos assim, um passado até na Justiça, se essa pessoa é reeleita ou eleita. Então é preciso que o eleitor tenha esta consciência de que votar é fundamental para mudar o seu Município, o seu Estado, o seu País. Precisa ver, por exemplo, para Presidente da República, não é só se a pessoa é mulher ou é homem, se é feia ou se é bonita, se é do partido A, se é do partido B. É preciso saber que tipo de proposta tem e quem está por trás dessas propostas. Da mesma forma, para Governador, para Senador, para Deputado Federal, para Deputado Estadual, cargos para os quais vai haver eleições agora, daqui a pouco mais de 200 dias.
Então, eu falo sempre que as instituições de um modo geral, as igrejas, o Lyons, o Rotary, a Maçonaria, a OAB, a CNB, todas as instituições da sociedade organizada deviam entrar de com força no trabalho de conscientização para que não houvesse a venda de votos.
Da minha parte, Sr. Presidente, tenho feito esses pronunciamentos aqui e vou tentar, Senador Paim, começar no meu Estado um trabalho do meu Partido, o PTB, fazendo o primeiro seminário promovido por um partido político lá, nos dias 13 e 14 de março. Portanto, vai terminar no dia 14 de março - 14 é o número do PTB -, e este seminário vai contar com figuras nacionais e figuras regionais. E vamos discutir o quê? Democracia, trabalhismo, como não poderia deixar de ser, porque o PTB tem justamente a filosofia do trabalhismo, que é uma filosofia sempre presente, uma doutrina sempre presente. O trabalhismo nada mais é do que assegurar a relação entre empregado e empregador. Não pode existir empregado sem empregador e não pode existir um empregador que faça justiça social se não houver alguém que intermedeie essa relação entre empregado e empregador.
Então, vamos discutir democracia, trabalhismo e as eleições, vamos discutir a parte da legislação eleitoral, vamos discutir a parte do marketing eleitoral, mas vamos discutir também a responsabilidade eleitoral de cada cidadão e de cada cidadã.
Portanto, Senador Romeu Tuma, quero dizer a V. Exª, que também é do PTB, que vamos fazer esse seminário como um primeiro passo. Não queremos um partido que funcione só na época das convenções. Aliás, o PTB de São Paulo é um exemplo de como um partido deve atuar o tempo todo, seja ano de eleição ou não.
Mas, Senador Paim, quero ter a honra de ouvi-lo, com muito prazer.
O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Mozarildo, quero cumprimentar V. Exª pelo tema que traz ao debate. V. Exª, com muita tranquilidade, fala da responsabilidade também do eleitor. E quero dizer que concordo com V. Exª. O eleitor, na minha avaliação, porque também sou eleitor, não pode simplesmente votar e dali a algum tempo - um mês, dois meses, um ano -, se alguém perguntar em quem ele votou para Deputado, para Senador, não saber. Ora, nessa linha de V. Exª, de aumentar o nível de consciência, que a gente tenha uma eleição cada vez mais transparente e clara, o eleitor tem também a obrigação de acompanhar a vida pública do eleito - seja Vereador, Prefeito, Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador, Governador, Presidente. Há um prefeito no meu Estado, Jairo Jorge, de Canoas, que disse: se o eleitor acompanhasse a vida de cada parlamentar, no caso que ele falava, seja Senador ou Deputado Estadual ou Federal, com certeza, cada vez, teríamos melhores parlamentares atuando no Congresso, na Assembleia, na Câmara de Vereadores. Quem tem um trabalho bom - e por isso defendo financiamento público de campanha - que mostre o que fez. Vamos falar no caso de quem já é Senador, de quem já é Deputado. Acho que nós que já somos e que vamos para o pleito não temos que prometer nada, temos que mostrar o que fizemos nesse período em que aqui estivemos. O eleitor é quem vai definir se vai reconduzir ou não. Mas acho que é um critério justo na linha do que V. Exª está colocando. O trabalho de cada Senador, de cada Deputado é julgado naquele momento em que ele vai à urna. Mas é bom que ele saiba também o que cada um fez, e repito, de Vereador a Presidente da República. Meus cumprimentos a V. Exª. Se avançarmos na linha do seu pronunciamento, com certeza vai melhorar, de forma acelerada, a vida do brasileiro e a qualidade dos homens públicos. Meus cumprimentos.
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Agradeço muito, Senador Paim, o aparte de V. Exª, que é um homem que está acima das ideologias partidárias, sempre defende as causas justas, as causas corretas. Eu tenho certeza de que, como disse V. Exª, se nós realmente conseguirmos fazer com que o eleitor entenda que o ato de votar é fundamental para mudar a vida dele, mudar a vida da sociedade onde ele vive, a coisa muda muito. Isso é um papel que não pode ser...
(Interrupção do som.)
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Obrigado, Senador Mão Santa. Não pode ser esperar somente do partido político, embora eu entenda que a missão principal do partido política seja permanentemente discutir com a sociedade, com os estudantes, com os jovens, com os aposentados a questão política, principalmente a política doutrinária do seu partido, para que o eleitor possa, realmente, ter consciência na hora de votar, em quem ele está votando e o que ele pode esperar de quem ele votou.
Senador Romeu Tuma, é uma honra muito grande receber o seu aparte.
O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Só queria cumprimentar V. Exª, porque é um assunto que realmente nos acorda para o que vem acontecendo no País. V. Exª tem razão: se não se propagar permanentemente a linha de conduta do Partido, o que o senhor representa desta tribuna, aqui, no plenário, nas comissões, o cidadão que vota na sua pessoa tem que saber, tem que acompanhar. São Paulo teve uma virtude, por decisão do Presidente Campos Machado, de congregar as regiões eleitorais e escritórios. Então, nós já estamos no 23º, devemos fazer mais dois na semana que vem; provavelmente, deve ir a 28 ou 30. Por quê? Por que, objetivamente, o que se faz? Só se trabalha na época de eleição. O cidadão praticamente não sabe nada o que o seu candidato fez, ele vai na ilusão no que ouve. E a nossa honestidade representa, quando se pode explicar permanentemente o nosso trabalho, o que nós vamos conduzindo e algumas discussões se está correto ou não o que se deve fazer em benefício do cidadão. Não é o rico, como V. Exª fala, mas aquele que mais precisa de um trabalho sério do Parlamento. Então, o resultado tem tido um efeito maravilhoso. Por quê? Cada escritório regional representa de quinze a vinte distritais que poderão permanentemente se reunir, ligando-se imediatamente ao Parlamentar, representante ou não da região, para expor qual é a ansiedade que o cidadão daqueles escritórios regionais têm na sua votação, como está o comportamento, e pedir explicações que são imediatamente transmitidas àqueles que fazem parte desse grupo de trabalho dentro dos diretórios e dentro do escritório regional, porque a gente só pode ter dignidade e respeito quando se respeita o voto do cidadão. Parabéns, Senador!
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Obrigado, Senador Romeu Tuma. V. Exª que é um exemplo de político sério, de homem honesto, honra muito meu pronunciamento com o aparte que faz, porque, realmente, muitas vezes... Rui Barbosa já disse em 1914 em discurso no Senado “que, de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar o poder nas mãos dos maus, o homem honesto chega a não ter vontade de ser honesto, a rir-se...
O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Sente vergonha de ser honesto.
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - É. Sente vergonha de ser honesto. Eu acho que nós não podemos chegar a esse ponto. Não devemos nunca chegar a esse ponto. Embora esse diagnóstico seja antigo - repito, desde 1914, - nós temos tempo... Por ser médico e por ter fé, acredito que nós podemos trabalhar para mudar essa realidade.
Portanto, quero aqui dizer que, nos dias 13 e 14 de março, vamos fazer esse primeiro seminário político do PTB lá em Roraima. Quero convidar todos os filiados e não filiados para estarem presentes.
Antes de terminar, Senador Mão Santa, eu queria fazer um registro que me emociona muito: encontra-se na tribuna de honra do Senado minha esposa, minha filha mais nova, que é juíza aqui em Brasília, e meu genro, que é Procurador do Distrito Federal. Então, para mim é uma honra ter meus familiares aqui presentes, assistindo esta parte de meu pronunciamento. Quero concluir, dizendo: entendo que o eleitor tem de compreender que é importante seu voto e acreditar que não pode generalizar que todo político não presta e que todo político é corrupto.
Assim como não podemos dizer que todo padre é pedófilo e que todo Fulano é ladrão, também não podemos dizer que todo político é desonesto.
Por isso mesmo acredito que o eleitor tem um papel fundamental. Daqui a pouco mais de duzentos dias, ao votar, ele tem a obrigação de escolher de maneira correta seu Deputado estadual, seu deputado distrital, no caso do Distrito Federal, seu Governador, seu Deputado federal, seu Senador e o nosso Presidente da República, porque não é uma atitude tola votar, não é uma atitude vã; é, talvez, o maior ato de cidadania que o ser humano eleitor pode ter.
Porque conquistamos o direito de votar - hoje o jovem tem o direito de votar a partir de dezesseis anos e as mulheres também têm direito ao voto desde o tempo de Getúlio Vargas, que fundou o meu Partido, o PTB -, temos que mobilizar as famílias, as escolas, as igrejas e toda a sociedade para que nós possamos sair da eleição de 2010 com um Brasil melhor.
Muito obrigado a V. Exª.
Modelo1 12/19/247:52