Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o aumento da influência dos envolvidos no "mensalão" no Partido dos Trabalhadores e no Governo Federal, e com o estado de letargia em que se encontra a opinião pública e até a classe política brasileira.

Autor
Tasso Jereissati (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Tasso Ribeiro Jereissati
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. TELECOMUNICAÇÃO.:
  • Preocupação com o aumento da influência dos envolvidos no "mensalão" no Partido dos Trabalhadores e no Governo Federal, e com o estado de letargia em que se encontra a opinião pública e até a classe política brasileira.
Aparteantes
Alvaro Dias, Antonio Carlos Júnior, Arthur Virgílio, Eduardo Suplicy, Flexa Ribeiro, Heráclito Fortes, José Agripino, Marisa Serrano, Sergio Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 25/02/2010 - Página 4240
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. TELECOMUNICAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, CONFIRMAÇÃO, DENUNCIA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SUSPEIÇÃO, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, EXERCICIO, TRAFICO DE INFLUENCIA, ESPECIFICAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, REATIVAÇÃO, TELECOMUNICAÇÕES BRASILEIRAS S/A (TELEBRAS), APREENSÃO, ORADOR, AUMENTO, INFLUENCIA, PESSOAS, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PEDIDO, MOBILIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, EXTINÇÃO, IMPUNIDADE.
  • COBRANÇA, ESCLARECIMENTOS, GOVERNO FEDERAL, PROJETO, REATIVAÇÃO, TELECOMUNICAÇÕES BRASILEIRAS S/A (TELEBRAS), OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, ACESSO, POPULAÇÃO, VELOCIDADE, INTERNET, DETALHAMENTO, AQUISIÇÃO, REDE DE TRANSMISSÃO, FIBRA OTICA, IRREGULARIDADE, EMPRESA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Marconi Perillo, Presidente desta Casa; Srªs Senadoras, Srs. Senadores, é extremamente preocupante para todos nós o estado de letargia em que se encontra a opinião pública brasileira, mas, mais do que a opinião publica brasileira, até a classe política brasileira.

            Fomos sacudidos por uma série de acontecimentos que deixaram, realmente, o País perplexo e com uma capacidade de indignação que deixa a população cada vez mais anestesiada. Os acontecimentos de Brasília são um exemplo. Vimos aí toda uma série de denúncias, filmes, VTs etc., uma sequência de irregularidades; vimos uma série de irregularidades em outros Estados, mas que começaram ainda na época do famoso mensalão do PT, no primeiro ano do Governo Lula. Esse foi o início que deu sequência a tudo, porque há impunidade.

            Veja bem, Senador Marconi Perillo, que, depois de todos esses acontecimentos, que, como eu disse, tiveram, na grande explosão, o mensalão do PT, vimos, a partir de ontem, nos jornais de primeira linha da imprensa brasileira, estampada como manchete principal, a denúncia gravíssima de que empresas que têm como consultor o ex-Ministro José Dirceu, Ministro esse conhecido, indiciado pelo Ministério Público Federal como o grande organizador do mensalão dos Correios, do mensalão que aconteceu na política brasileira no primeiro ano de Governo Lula... Mas, esse mesmo Ministro, indiciado, afastado do Congresso Nacional, volta hoje como o grande protagonista de uma série de denúncias gravíssimas na mesma linha ou pior, de acusações mais graves, envolvendo negócios muito maiores, negociatas muito maiores do que aquelas que apareceram durante o mensalão.

            O jornal Folha de S.Paulo, de ontem, publicava que uma determinada empresa comprou, pelo valor simbólico de R$1,00 os ativos de uma empresa mista estatal; comprou a parte privada, associou-se a uma empresa estatal, uma empresa que estava em regime de falência, mas que tem ativos que podem valer cerca de R$600 milhões.

            Então, temos aí o primeiro grande escândalo, a primeira grande questão que fica sem resposta. A gente fica querendo, aqui, entender por que o Governo não vem se explicar. Compra por R$1,00 ativos que têm dívidas, mas há ativos também de R$600 milhões.

            Em seguida, é anunciado aos quatro ventos, e é anunciado pelo próprio consultor privado - veja bem, consultor privado - desta empresa que fez esta compra por R$1,00, que vai ser reativada à Telebrás.

            A Telebrás, como todos sabem, não existe mais. A Telebrás, Senador ACM Júnior, não tem mais um ativo; a Telebrás não tem nem mais um ativo, não tem mais caixa, porque já houve um esvaziamento dessa caixa diante de alguns acordos esquisitos, mas começa a se espalhar, por vias oficiais, por vias extraoficiais e pelo blog desse próprio Ministro, Ministro José Dirceu, que a Telebrás vai voltar a ser ativa e vai montar uma grande rede de cabo ótico em todo o território nacional.

            Quero lembrar que, a partir daí, essa Telebrás, essa empresa que não tem um ativo sequer - ela não tem, Senador Tenório, uma mesa mais -, teve a maior revolução dos seus valores de cotação de ações na Bolsa que uma empresa no Brasil já teve. Números, realmente, estratosféricos, que não existem; não existem em qualquer país mediano que tem uma Comissão de Valores Mobiliários acompanhando isso mais de perto.

            Mas essa empresa, então, é anunciada. Os Ministros o dizem, e o próprio Presidente da República. E o consultor privado dessa empresa, o Ministro José Dirceu, dirigente do PT, anuncia que é favorável a isso e que vai acontecer qualquer coisa nesse sentido.

            Agora, estamos diante da possibilidade denunciada no jornal, que, além disso, dessa valorização evidentemente suspeita das ações da Telebrás, estamos diante da possibilidade de a Telebrás assumir os ativos dessa empresa, que era, se não me engano, a Telenet; assumir os ativos dessa empresa, que foi comprada, metade dela, por R$1,00, pela firma cliente do José Dirceu. Vai ser comprada, e esses ativos passariam a ter um valor extraordinário, podendo-se aí prever lucros, inclusive, no mínimo, de R$200 milhões, feitos a partir do zero, feitos a partir do nada.

            Ao mesmo tempo, fomos procurar, Senador Tenório quem é essa empresa. Veja bem, uma empresa que comprou e associou-se à Chesf, à Furnas, a uma série de empresas estatais elétricas; comprou 17 mil quilômetros de ativos de outra empresa estatal em cabo ótico. Quem é essa empresa? Deve ser uma empresa conhecida, deve ser uma empresa que tem um capital gigantesco, deve ser uma empresa com história no ramo, deve ser uma empresa com amplo conhecimento do negócio, com profunda experiência para fazer parte desse projeto, que vai unir-se não só às elétricas, mas também à Telebrás.

            Não consegui, Senador Agripino, desde que saiu essa notícia na Folha, encontrar uma pessoa sequer, seja no ramo de comunicações, seja no ramo elétrico, seja no setor financeiro, porque é uma potência, uma pessoa sequer que conhecesse essa empresa denominada Star Overseas Ventures. Não existe ninguém, veja bem. Star Overseas Ventures: ninguém conhece essa empresa no mercado.

            Também vinha, na reportagem, o nome do seu principal acionista-controlador. É um empresário, segundo consta nos jornais, chamado Nelson dos Santos. Sobre esse empresário eu também procurei informações, Senador ACM Júnior, sobre a sua história no setor, sobre a sua potência financeira, sobre a sua possibilidade, o seu nível de capitalização para entrar num negócio tão poderoso, tão forte, e verifiquei que não havia ninguém, absolutamente ninguém, em todo o Brasil - e procurei no setor financeiro, no setor de telecomunicações e no setor elétrico -, que o conhecesse, que tivesse ouvido falar nele no mercado.

            Veja bem, então, nós temos essa empresa desconhecida, absolutamente desconhecida, que ninguém sabe o que é.

            Eu gostaria que alguém do PT, por exemplo - aqui, vejo tantas lideranças do PT -, o Senador Eduardo Suplicy, que é tão zeloso com essas questões, me dissesse que empresa é essa, me dissesse quem é esse empresário e me explicasse essa transação, porque é impossível que nós todos fiquemos, nesta Casa, sem uma mínima explicação sobre um escândalo de proporções tão grandes, que envolve transações de infraestrutura fundamentais para o futuro do País e, pior, que se esconde atrás de uma falsa ideologia que prega a maior presença do Estado.

            Essa maior presença do Estado é apenas como uma capa, como uma cobertura, como um invólucro para proporcionar essas grandes negociatas entre Governo e empresários ou falsos empresários, que se aproveitam dessas circunstâncias para fazer grandes desfalques no Erário e contra a população brasileira.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Com certeza, Senador.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Tasso, o discurso de V. Exª é pontual, é oportuno. Dificilmente a Base do Governo encontrará argumentos para contestá-lo ou rebatê-lo. Mas eu queria fazer um registro aqui. Vejam V. Exª e a Nação brasileira o que faz a certeza da impunidade, ao que leva a ousadia de certos homens públicos e de certos Partidos. Os jornais, hoje, anunciam a volta à vida pública, o reentré à vida pública do Sr. Hamilton Lacerda. V. Exª se lembra de quem é Hamilton Lacerda? Era aquele aloprado que foi pego num hotel em São Paulo, nas proximidades do Aeroporto de Congonhas, com mala de dinheiro, às vésperas da eleição, tentando prejudicar a candidatura do então candidato José Serra. Aliás, depois, foram ver as atividades do Sr. Lacerda: ele é co-proprietário, digamos assim, de uma ONG que precisa ser investigada, mas, infelizmente, a nossa comissão, Senador Tasso, não tem conseguido sucesso, não tem conseguido número. Uma ONG dirigida pelo Sr. Lacerda e familiares é um dos alvos da necessidade de investigação dessas coisas. O Sr. Hamilton Lacerda está respondendo a processos, um em São Paulo e outro na Justiça do Mato Grosso, por aquela movimentação financeira atípica às vésperas da eleição. Agora, ele é reintroduzido, salvo engano, através de São Bernardo do Campo, na campanha eleitoral, já que chegou novamente o momento das grandes arrecadações. Eu parabenizo V. Exª pela oportunidade e coragem do pronunciamento.

            O Sr. Antonio Carlos Júnior (DEM - BA. Fora do microfone.) - Senador Tasso, eu gostaria de um aparte.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - É bastante importante essa sua colocação, porque ela vem complementar o que estou dizendo. Todos aqueles envolvidos no mensalão estão voltando, estão voltando com uma estrela a mais dentro do Partido, sendo influentes, e cada vez mais influentes, não só no seu Partido, mas cada vez mais influentes no Governo, e proporcionando o mesmo tipo de negócio e de transação que escandalizou o País naquela época. Agora, parece que o País fica inerte, anestesiado diante das repetições em escala maior daquilo que foi feito no passado.

            Eu queria dar um aparte, com prazer, ao Senador Antonio Carlos Magalhães Júnior.

            O Sr. Antonio Carlos Júnior (DEM - BA) - Senador Tasso, esse assunto merecerá, da nossa parte, uma permanente vigilância, inclusive porque o Sr. José Dirceu, agora, está livre para atuar em negócios que envolvam o Governo ou em que ele possa colocar o Governo para obter vantagens, obviamente, não só para ele, mas também para o Partido. Hoje, na Folha de S.Paulo, há um artigo do jornalista Fernando de Barros e Silva, que tem o título de “Dirceubrás”. Eu vou ler só um pequeno trecho, o trecho final, que vai ilustrar exatamente o que V. Exª estava falando:

O homem de negócios e o revolucionário convivem numa boa na pessoa de Zé Dirceu. O capitalismo de Estado e os interesses privados nele se acomodam harmonicamente. Ele é o “bolchebusiness” perfeito. Não há contradições insolúveis no horizonte de um democrata que se mira em Cuba ou de um socialista que topa tudo por dinheiro. Durante o congresso do PT, vários oradores usaram o microfone para inflamar os companheiros contra o fantasma do “modelo neoliberal”. Ninguém lembrou de levantar a voz contra o “modelo neopatrimonialista”. Pelo contrário. De óculos escuros, o neopatrimonialismo em pessoa circulava sorridente entre petistas, posando para fotos como um verdadeiro popstar.”

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Essa é uma narrativa verdadeiramente cortante, que se faz em cima do que está acontecendo neste País. Eu lamento, profundamente, que essas coisas continuem sob a benção do Governo Federal, sob a bênção do Partido dos Trabalhadores, que tem uma história tão bonita pela ética e que agora, simplesmente, anuncia não só a impunidade, mas a volta à ativa - à ativa no sentido mais amplo possível - daqueles todos, daqueles grandes popstar que fizeram o mensalão neste País, que desencadearam toda essa corrente de impunidade, que estimulou outras séries de irregularidades neste País, e que vêm denegrindo, de uma maneira grave, a vida pública e a democracia.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Um aparte.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador José Agripino e Senador Flexa.

            Eu queria até lembrar ao Senador José Agripino que, no momento em que o DEM dá a demonstração de, imediatamente, tomar todas as medidas, dentro do PT o que está acontecendo é, em escala muito maior, a atitude oposta, reincorporando-se, de uma maneira até premiada, aqueles que “pecaram”.

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Senador Tasso, eu iria direto ao assunto, mas já que V. Exª coloca esse assunto da postura que o Democrata, o meu Partido, tomou em relação às acusações feitas ao Governador José Roberto Arruda, eu quero dizer que esteve sempre muito presente na direção do meu Partido não conviver com a impunidade, nem conviver com a improbidade. Então, rasgando na própria carne, nós defenestramos o nosso único Governador, o Vice-Governador idem, dissolvemos o Diretório Estadual do Partido em Brasília e retiramos todos os quadros do Partido da Administração do GDF, do Governo de Brasília. Tomamos as posições que tínhamos de tomar para mostrar ao Brasil que se outros convivem com a improbidade e se outros convivem com a impunidade, nós não. Nós estamos procurando mostrar ao Brasil que somos diferentes, até para que não aconteça aquilo que é o objeto do discurso de V. Exª. V. Exª não citou ainda, mas seguramente vai citar, a presença do ex-Ministro José Dirceu numa suposta operação - não quero acusar - de megatráfico de influência. Senador Tasso Jereissati, não cabe na minha cabeça, muito menos na de V. Exª, que é empresário - foi Governador, é Senador, mas é empresário -, alguém comprar por R$1,00, ou seja por quanto for, o direito de ser devedor de R$800 milhões. Quem deve 800 milhões, se tem o juízo na cabeça e se quer agir de boa-fé, paga muito milhão para não dever 800 milhões. Pagar R$1,00 para ficar sócio de uma dívida de R$800 milhões, que é quanto essa antiga estatal devia, é completa insanidade, a menos que esteja armada uma tramóia, uma tramóia que... Eu não quero fazer acusações, mas só os ingênuos imaginariam que ela não está em curso. Por que razão? Preocupa-me, em primeiro lugar, a agressão que se está fazendo ao processo de privatização no setor de telecomunicações. O mais exitoso dos processos de privatização no Brasil é o das telecomunicações. Hoje, os brasileiros, de norte a sul, de leste a oeste, têm o direito de ter um telefone celular. O telefone que antes era um patrimônio, hoje é, nada mais nada menos, do que instrumento de um contrato. Processo de quê? Decorrente de quê? Da privatização do setor de telefonia. Muito bem, o gigantismo do Estado, hoje, coloca na ordem do dia a reestatização do setor...

(Interrupção do som.)

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - ... do setor de telefonia. Alguém tem informação privilegiada. Alguém que continua nos corredores do Governo, do Palácio do Planalto, participando da intimidade das decisões, condenado pelo mensalão, detendo informação privilegiada, pode estar burlando o interesse da sociedade. Eu estou me referindo ao ex-Ministro José Dirceu, que foi contratado pelo Sr. Nelson dos Santos. Pagou R$620 mil - é um bocado de dinheiro! -, para que ele desse algumas informações ou fizesse algum tipo de modelagem. Qual é a modelagem? É a compra ou a incorporação pela Telebrás dessa empresa que deve R$800 milhões e que ofereceu caução para recuperar os quilômetros de fibra ótica que são patrimônio dessa empresa e, no oferecimento dessa caução, o Sr. Nelson dos Santos não entrou com nada. Ele comprou por R$1,00 o débito de R$800 milhões, para participar de um processo de reestatização, sem participar de risco nenhum, porque a caução está toda ela debitada ao interesse da União, para recuperar os quilômetros de fibra ótica que estavam nas mãos dos credores dessa empresa estatal. E isso tudo está acontecendo enquanto as ações da Telebrás saem de 0,0000 para um valor astronômico, o que vale dizer que essa Star Overseas vai valer R$200 milhões. É o milagre do um valer 200 milhões. Por conta de quê? Por conta de informação privilegiada. Quem é o Sr. José Dirceu? Deveria estar punido. Nós Democratas o teríamos punido, diante das acusações de que ele foi alvo, como punimos com a desfiliação o Governador José Roberto Arruda. O PT não o fez. E onde é que ele está? Está envolvido nesse tipo de coisa, denunciado pelo jornal Folha de S.Paulo, e o assunto tratado pelos veículos de comunicação que têm interesse na saúde de procedimentos do nosso País. É para isso tudo que o País tem que acordar para perceber em que é que dá a impunidade. Dá nisso. Quem é que vai perder? A CVM vai dizer quem é que vai perder. E é preciso que o requerimento que aqui foi apresentado pelo Senador Alvaro Dias tenha continuidade, para que a Comissão de Valores Mobiliários mostre que tipo de informação ocorreu na montagem desses negócios, para que se perceba quem é que está ganhando e quem é que está perdendo. Agora, tudo movido por informação privilegiada, por tráfico de influência, de gente que se supõe que deveria estar punida severamente, mas está hoje sendo recebida aos abraços nas festas de aniversário do Partido dos Trabalhadores...

(Interrupção do som.)

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Enquanto nós Democratas fazemos o que acabamos de fazer hoje, cortando na carne, passando por todo o tipo de constrangimento, o País assiste ao que V. Exª denuncia, com o meu aplauso, porque V. Exª está trabalhando pelo interesse do País.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Agripino, por essa sua intervenção, que é sempre feita de maneira muito clara, muito didática, de modo que as pessoas possam entender com clareza o que está acontecendo. É o absurdo dos absurdos o que está acontecendo, mas o que é mais absurdo ainda, dentro desse teatro do absurdo, é a total ausência de palavra do Governo de punição, por parte de quem quer que seja, a ausência total - e há mais de vinte minutos estamos discutindo isto aqui - de uma explicação sequer do Governo sobre este assunto.

            Eu pergunto, num programa fundamental, Senador Agripino, dentro das colocações que V. Exª fez, que empresa é essa, a Overseas? Quem conhece? Quem já ouviu falar? Com que capital tecnológico, experiência ou financeiro ela entra num negócio desse volume e paga esse volume de recursos ao ex-Ministro José Dirceu? Ninguém conhece essa empresa! Veja bem, não existe indício mais gritante do que esse. É uma empresa desconhecida e a que se dá toda esperança, a expectativa de um programa amplo, popular, de banda larga, para uma empresa que ninguém sabe quem é nem nunca ouviu falar, e não tem ninguém aqui que responda quem é essa empresa. Onde está? E também não se dá mais bola, Senador Agripino. O Governo não dá mais bola para isso não. Perdeu qualquer veleidade de se mostrar, de se explicar...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Tasso?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Mão Santa?

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Tasso, um aparte.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Eu gostaria de ceder o aparte, antes de a V. Exª, Senador, ao Senador Flexa, que já tinha solicitado há algum tempo.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Tasso Jereissati...

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Só para completar. Veja, essa Star Overseas teve apenas R$1,00 para comprar a participação acionária, uma enorme participação acionária, metade de 51%. Um real só. Agora, pagou R$620 mil ao ex-Ministro José Dirceu para que se operasse o milagre que V. Exª está denunciando. Um real pela compra das ações e R$620 mil para operar o milagre da multiplicação dos pães a que V. Exª se refere.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - E agora tem a expectativa de ganhar R$200 milhões, no mínimo, em cima disso aí.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Tasso...

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Flexa.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª traz à tribuna do Senado um assunto da maior importância. Acho que a sociedade brasileira precisa ser esclarecida. Não vejo ninguém do Governo vir aqui para dar resposta às perguntas que V. Exª faz da tribuna. Espanta a todos nós, e já foi dito pelo Senador Agripino, que essa empresa comprou por R$1,00 uma dívida de R$800 milhões. O próprio setor não entendeu essa compra. Quer dizer, seriam as empresas do setor que poderiam ter interesse na empresa falida. Mais ainda, outra coincidência que existe neste Governo do PT, incrível: foi preciso fazer uma caução judicial porque a Eletronet...

(Interrupção do som.)

           O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - ...estava passando por questionamento judicial, e teve que ser feita uma caução. Só o Governo fez a caução por inteiro, inclusive da parte que caberia ao Sr. Nelson dos Santos fazer, já que ele tinha comprado os 25% das ações. Não fez. O Governo fez por inteiro. Mais: o ex-Ministro José Dirceu, diz aqui a matéria - as coincidências, Senador Tasso - da Folha de S.Paulo que ele fez uma referência defendendo a entrada da Telebrás no sistema no seu blog. Disse ele:

Do ponto de vista econômico, faz sentido o Governo defender a reincorporação, pela Eletrobrás, dos ativos da Eletronet, uma rede de 16 mil quilômetros de fibras óticas, joint venture, entre as norte-americanas AES e a Light Par, uma associação de empresas elétricas da Eletrobrás”.

Diz a Folha: “O ex-Ministro não mencionou o nome de seu cliente”. Quer dizer, quando ele colocou a notícia no blog defendendo a reativação da Eletrobrás, não colocou o nome de seu cliente. E mais: a primeira postagem no blog do ex-Ministro se deu no mês de sua contratação pelo Sr. Nelson dos Santos, em março de 2007. É interessante isso! Quer dizer, ele foi contratado, começou a colocar no blog, plantaram as notícias de que a Eletrobrás teria de ser reativada. Agora, uma informação: eu presido, com muita honra, a Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática do Senado Federal. Fizemos um convite ao Ministro das Comunicações, Senador Hélio Costa, no sentido de que viesse à Comissão, para que expusesse aos membros da Comissão o Plano Nacional de Banda Larga. O projeto do Ministério das Comunicações não é esse. O Governo está inventando - não pelo Ministério, porque há a questão do mérito técnico de definir o melhor perfil, o melhor programa para o usuário brasileiro. E não é a reativação da...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Eletrobrás. É... Essa proposta, Senador Tasso, veio do Ministério do Planejamento. Ela é defendida lá no Gabinete Civil, no Ministério do Planejamento, na Presidência da República. Ela não é defendida, pelo menos não nos foi apresentado isso, pelo Ministério da área, que é o Ministério das Comunicações. V. Exª está de parabéns. Acho que o Brasil, a sociedade brasileira, merece saber as respostas dessas questões que ficam realmente sem que possamos ver, porque todos gostariam... Há outra possibilidade. Nem na Mega-Sena acumulada se consegue jogar um real - porque não custa mais um real - e ganhar R$200 milhões em seguida. Parabéns pelo discurso.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Flexa. Gostaria de mais um pouco de paciência de V. Exª, Senador Mão Santa, para que eu tivesse a oportunidade de ser honrado com dois apartes, do Senador Arthur Virgílio e, em seguida, do Senador Alvaro Dias.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Tasso, eu acompanhava pelo rádio, vindo do Tribunal Superior Eleitoral para cá - em que discutimos, inclusive, um assunto de interesse do seu Estado, que ganha um Deputado Federal, se houver um remanejamento justo das vagas, para se obter maior representatividade: o meu ganha um a mais; Minas Gerais, mais dois; Pará, mais alguns, três; eu estava lá -, e ouvi parte do seu discurso. Oportuno, grande, um discurso generoso para com o País. E não vou redundar. Vou dizer apenas que o Sr. José Dirceu é um arquivo ambulante, obtém o que quer do Governo porque sabe tudo do Governo; tudo de ruim do Governo ele sabe. Eu era e sou amigo até hoje do Deputado José Genoíno, porque sou amigo dele. Não tenho tempo de vida para frente para deixar de ser amigo do José Genoíno. Fui interlocutor de José Dirceu, mas nunca me considerei seu amigo, porque nunca o vi com o corte, com o talhe da amizade. Mas era um bom interlocutor, quando eu, Líder do Governo, e ele, Líder da Oposição, tínhamos de dialogar. Respeito sua coragem pessoal, inclusive. Aquele gesto, quando ele é trocado pelo Embaixador que havia sido sequestrado, aquele gesto de ostensivamente mostrar a algema me passou, naquele momento... Eu tive respeito por aquele gesto - gesto de altivez, de coragem, enfim. Eu prezo as pessoas que são dessa forma, mas a virtude colocada a serviço de vício, ou seja, a coragem, a ousadia, a inteligência colocadas a serviço de vício, como disse São Tomás de Aquino, torna tudo isso muito pior. É o homem que acorda cedo para bater na mulher; que acorda cedo para beber mais tempo; que acorda cedo para planejar; que é muito inteligente para planejar...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Então, ele coloca virtudes a serviço...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª disse tudo a respeito dessa questão. Muito bem informado. Vou trazer três outros casos escabrosos, para mostrar que esse - tomara que seja o último - não é, fora o mensalão, o único escândalo do presente Governo. Tenho aqui alguns dados. Eletrobrás. No final do ano passado, correram rumores no mercado de que dividendos milionários contestados, que não necessariamente deveriam ser pagos, seriam pagos. As ações de Eletrobrás pularam de R$25,10, em 30/11/2008, para R$33,70, em meados de dezembro e, em 22 de janeiro, estavam já em R$35,00. Muito bem. Os rumores cessaram e, mais adiante, de fato, eles pagaram os dividendos milionários...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - ... para aqueles que haviam comprado ações até o dia 29 de janeiro, ou seja, informação privilegiada, jogo de cartas marcadas. Uma empresa que já prestou muito serviço à Zona Franca de Manaus, a Gradiente, que depois entrou em parafuso financeiro: o Presidente Lula anuncia que vai salvá-la, as ações dela disparam. Alguém ganhou com isso. Em seguida, logo em seguida, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) cessa as negociações com a Gradiente. Alguém ganhou. Agora a Telebrás: após esse episódio, que, segundo Dirceu e outros, não era para ter sido descoberto, as ações explodiram e estão caindo talvez na razão de 10% ao dia, em função da denúncia que foi feita - e, na democracia brasileira, hoje isso é algo sólido e aberto. Mas o fato é que nós temos aqui três casos claros de especulação, em que pessoas ficam ricas da noite para o dia. E, claro, se alguém enriquece é porque alguém em contrapartida eu imagino que empobreceu, se o enriquecimento é ilícito. E V. Exª, então, trás à tona, com muita oportunidade, algo que ontem não se podia ter discutido mesmo, porque o tema era homenagear esta santa, esta mulher melhor que as pessoas, que era a Drª Zilda Arns e os nossos heróis que foram vítimas daquele terremoto no Haiti, militares e diplomatas que estão lá cuidando dos interesses brasileiros e haitianos - um povo que merece a nossa solidariedade. Mas hoje tinha que alguém fazer esse discurso importante, discurso que paralisa o Senado, que capitaliza as atenções e que dá a oportunidade de trazermos - vi o Senador José Agripino fazer algo parecido - um certo rosário de outros escândalos. É preciso que a Justiça comece a agir com um peso e uma medida. É por isso, e não por nenhuma antipatia - até porque não a tenho; tenho simpatia e respeito pelo Ministro Barbosa -, que cobro do Ministro Barbosa que ele seja célere na análise do processo do mensalão.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Os crimes estão prescrevendo um a um; se se demora mais, daqui a pouco estão todos inocentados, sem serem inocentes, sem serem julgados. É preciso celeridade para ser fazer justiça; e dureza, quando se sente que há culpabilidade provada. Parabéns a V. Exª. É um discurso que fica para os Anais do Senado e fica para a memória dos seus admiradores, como este seu companheiro do Amazonas.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado a V. Exª, Senador Arthur Virgílio.

            Gostaria, Senador Arthur Virgílio, só de colocar que acho que a questão dessa empresa, que está em curso, não podemos deixar seguir adiante. Nós temos de dar um basta nessas coisas.

            Gostaria até de contar - com certeza, vou contar - com V. Exª e com o Senador Agripino, no sentido de que possamos trazer aqui - porque é uma curiosidade até pelo inusitado - esse empresário, Nelson Santos, dono...

(Interrupção do som.)

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - ... para explicar, pelo menos, ao Brasil que empresa é essa, que consegue esse milagre e paga....

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Pois não.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Tenho a impressão de que, a partir do que houve, hoje, na CCJ, nós terminaremos esta legislatura, sem trazer mais ninguém aqui, porque hoje revogaram o poder das Comissões Permanentes, depois de terem desmoralizado as Comissões Parlamentares de Inquérito. Foi uma das cenas mais deprimentes que já pude presenciar na minha não tão curta carreira parlamentar.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Alvaro Dias, gostaria de ouvir V. Exª logo após o Senador Eduardo Suplicy. Gostaria de ouvir a voz de alguém do Governo, do PT, para que nos desse alguma explicação sobre isso.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Tasso Jereissati, ainda ontem, no Gabinete do Senador Jarbas Vasconcelos, quando V. Exª participava conosco da reunião sobre a...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... sobre a reforma administrativa, à certa altura V. Exª mencionou os instrumentos modernos hoje existentes na Universidade de Illinois, que tanto o impressionaram, assim como também aquele instrumento que é muito utilizado hoje pelas crianças, o Skype, com o qual eu, por exemplo, ainda não sou familiarizado. Nunca utilizei o Skype. V. Exª descreveu como é que, hoje, os nossos filhos e netos estão namorando, diferentemente do tempo em que V. Exª falava com a sua namorada, quando era estudante, aos 20 anos, ela com 16, cada um falando de longe: “Alô, alô! Você está me ouvindo? Estou com saudades...” E precisava falar alto porque...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...e hoje fala com a namorada olhando-a nos olhos, ainda que por esse instrumento que eu ainda não conheço - quem sabe venhamos a conhecer. Falo essa introdução porque, sinceramente, estou aprendendo, começando a aprender, o que é a banda larga, quais são as formas de transmissão que recebemos pela internet quando fazemos o e-mail, como é possível, às vezes, haver a transmissão das imagens de televisão: umas são feitas por cabo, pela NET, outras pela Sky, que vão ao satélite e voltam, e assim por diante. Então, quero lhe dizer com sinceridade que ainda não me inteirei totalmente desses episódios todos relativos à Eletrobrás, à Telebrás...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... à empresa citada por V. Exª ou às diversas empresas. Então, eu quero lhe transmitir que eu me sinto responsável por estudar essa matéria, sobre cada uma das pessoas citadas, eu quero estudar melhor. Não tenho os elementos aqui, agora, para chegar a conclusões. É preciso que ouçamos todos. Tenho lido as reportagens, mas eu me sinto na responsabilidade de bem estudar este assunto e quero lhe transmitir que, nos próximos dias, eu estarei melhor informado, inclusive porque, como Vice-Líder e hoje na Liderança do Partido dos Trabalhadores, é importante que eu tenha a informação adequada. É isso que eu quero me comprometer com V. Exª a respeito desse assunto, que é de complexidade e que se iniciou, conforme...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... diversas empresas por V. Exª mencionadas iniciaram investimentos de grande monta nos governos anteriores. Então, há uma história que vem de longe. Muitas dessas disputas estão sendo objeto de decisões judiciais, que não têm a ver com decisões propriamente de governo. Nós precisamos separar bem o que é de uma parte, o que é de outra parte. Mas eu vou estudar o assunto para poder melhor dialogar com V. Exª e com todos os Senadores que aqui hoje se pronunciaram.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Suplicy, pela franqueza, pela sinceridade da argumentação que, aliás, sempre foi uma característica de V. Exª.

            Senador Alvaro Dias.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Tasso...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Obrigado, Senador Mão Santa. Serei sintético, o máximo possível, mas não eu poderia deixar de participar desse brilhante discurso de V. Exª, Senador Tasso, para dizer que, embora eu não seja um especialista na área, sei que esse é um dos maiores escândalos da história universal das bolsas de valores. Eu não conheço nenhum escândalo desse porte em bolsa de lugar nenhum do mundo. O Governo, o Presidente Lula, que está acostumado a não ver, a não ouvir, a não saber, precisa dar explicações. A nova Telebrás já é uma das maiores lambanças do Governo Lula. E se o Ministro José Dirceu é considerado por muitos um lobista excepcional, me parece, diante do Sr. Santos, modesto. Porque, veja, a previsão é de que o Sr. Santos...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - O Sr. Santos pode ganhar R$200 milhões. Que prêmio fantástico! Os R$620 mil do Sr. José Dirceu equivalem a 0,3% dessa bolada. Portanto, é um lobista modesto. O Santos não é Santos, não é, Senador Arthur Virgílio? Mas é um laranja. O Santos não é Santos, não é modesto, mas é um laranja. Senador Tasso, acho que nós temos que ouvir o Sr. Santos, acho que nós temos que convocar o Sr. Santos. Será que a bancada do Governo aceita a convocação do Sr. Santos? Não aceita a convocação da dona Dilma. Será que o Sr. Santos, com toda essa esperteza de ganhar R$200 milhões, não pode vir a uma comissão do Senado para debater com os Senadores?

(Interrupção do som.)

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Tasso, não há nenhuma liderança do Governo? Há o Senador Suplicy. Ele poderia nos dizer se o Governo aceita a convocação do Sr. Santos. Se o Senador Suplicy, que é Vice-Líder do PT, poderia assumir o compromisso conosco, aqui hoje, de aceitar a convocação do Sr. Santos para ele depor numa das comissões da Casa. Pode ser na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, da qual participamos. O Senador Tasso já me autorizou a indagar de V. Exª. Como Vice-Líder do PT, o senhor concorda com a convocação do Sr. Santos, esse fantástico empresário que está com uma previsão de lucro, só em uma transação, de R$200 milhões, graças à eficiência do Governo Lula?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Vamos primeiro examinar, conforme falei, todo o contexto. Comprometo-me a examinar e avalio que deveria ser em uma comissão mais referente ao assunto.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Examinar significa ouvir, não é? Então, nós podemos ouvir o Sr. Santos.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Na comissão mais referente ao assunto.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Qualquer comissão da Casa. Não há problema algum.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - O Senador Tasso Jereissati dirige o debate. O Senador Alvaro Dias está tomando o comando do PSDB.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Tasso, entendi do Senador Suplicy que ele aceita a convocação do Sr. Santos na comissão própria. Nós não nos importamos com a comissão. Pode ser Comissão de Ciência e Tecnologia, poder ser Comissão de Assuntos Econômicos, pode ser Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, qualquer comissão, porque esse escândalo da Telebrás está nos apresentando mais uma “telegangue” no País. Um País com muitas gangues, com muitas quadrilhas, e agora nós vamos conhecer a “telegangue” no Governo Lula.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado. A sua colocação, Senador Alvaro Dias, sempre muito firme e incisiva, é bastante pertinente.

            Existe uma curiosidade gigantesca, Senador Mão Santa, talvez de toda a opinião pública brasileira, dos empresários, da Bolsa de Valores, em saber quem é esse gênio que transforma R$1,00 em R$200 milhões de maneira tão rápida; conhecer suas explicações e como ele consegue, dentro dessa sua genialidade, inclusive, manter a sua empresa completamente desconhecida do mercado, apesar de toda essa genialidade, sem chamar a atenção.

            Eu gostaria de ouvir o último aparte - é uma honra que não posso perder -, da Senadora Marisa Serrano.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigada, Sr. Presidente. Queria cumprimentar o Senador Tasso Jereissati pelas suas palavras e dizer que realmente este é um assunto que não podia deixar de ser debatido nesta Casa. A sociedade brasileira não aceitaria que os Senadores e as Senadoras desta Casa não tomassem conhecimento dessa situação e não procurassem saber as razões, afinal de contas, fiscalização e controle são funções nossas. Se são funções desta Casa regimentalmente, como é que a gente não vai fiscalizar, não vai acompanhar, não vai questionar aquilo que está acontecendo no País? Senador Tasso, eu me preocupei com esta questão porque eu vi um cronograma, no jornal, de todos os fatos acontecidos. E li, também, o que o Deputado Cândido Vaccarezza disse a um jornal também de hoje, ou seja, que o José Dirceu faz como qualquer pessoa que tem consultoria faz: “Ele ofereceu apenas uma consultoria”. Ele não colocou qual é o cerne da questão. O problema não é apenas uma consultoria. O problema é a forma como foi feita. Se, em dezembro de 2009, acabou o contrato do José Dirceu e, em janeiro, se forma a proposta da criação da banda larga, e principalmente o Presidente confirma em reunião com organizações sociais que a Telebrás será reativada... Quer dizer, até dezembro foi o contrato do José Dirceu; em janeiro, sai a Telebrás, novamente sendo colocada, com ela vindo tudo aquilo que V. Exª já colocou aqui e que os meus companheiros já colocaram. Portanto, não foi algo que simplesmente aconteceu por acontecer. Isso foi planejado de modo que acontecesse dessa forma. Então, isso é aquilo que o Senador Alvaro acabou de dizer. Parece mesmo que é uma gangue toda articulada para fazer aquilo que nós já tínhamos visto lá atrás, com o mensalão, com outros tipos de corrupção. Isso é corrupção pura! E está dentro do Governo e continua lá. E a gente não pode fechar os olhos para isso. Se o Brasil quer ser passado a limpo, se o Brasil quer acabar com a corrupção que existe, tem que começar o Governo a dar o exemplo. E o exemplo está sendo dado justamente ao contrário, aumentando-se o nível de propostas ilícitas e ações ilícitas que prejudicam não só a imagem do Governo, mas prejudicam a imagem de toda a sociedade. Eram essas as minhas palavras, Senador.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senadora Marisa, pela sua sempre importantíssima intervenção aqui, em que coloca com clareza essa lógica que leva a esse indício tão explícito do que aqui acontece...

(Interrupção do som.)

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Posso conceder ao Senador Sérgio Guerra agora? Permite?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - S. Exª é o Presidente do partido. Eu não poderia negar.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - E eu gostaria de passar, mas, antes, aí fica outra pergunta. Hoje, pela manhã, na CCJ, perguntei o que nós estamos fazendo aqui se, depois que uma votação legítima, regimental, ter sido feita, eles receberam uma ordem do Governo e revogaram essa votação. A pergunta é também agora: onde está o Ministério Público num momento como este?

            Senador Sérgio Guerra.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador Tasso, são duas perguntas essas últimas que eu acabo de ouvir que, por si sós, explicam um episódio bastante claro da vida brasileira neste momento. Alguém que foi Deputado Federal a vida inteira, político militante... Eu conheci o Deputado José Dirceu, homem de classe média, trabalhando pelo seu partido, organizando as campanhas do PT e construindo uma organização partidária que se transformou no maior partido brasileiro, que é o Partido dos Trabalhadores. Foi assim que eu vi o José Dirceu a vida inteira. Depois de algum tempo, eu encontro José Dirceu poderoso, Ministro, “primeiro-ministro” do Governo do Presidente Lula. Não adotou um rumo adequado. Ele tinha condições de colaborar para que o Brasil fizesse avanços políticos, desenvolvesse uma reforma política, por exemplo. Não fez nada disso. Ele foi o principal motivador, o principal organizador de um processo cujo conteúdo é o seguinte: dar vantagens a parlamentares; fortalecer agremiações partidárias que, antes, praticamente não existiam; desestruturar agremiações partidárias que existiam; e fazer uma maioria que sustentasse o Presidente da República. E essa maioria se desenvolve ao longo dos últimos anos produzindo crises sucessivas. Todas as crises que passaram no Congresso até hoje, que aqui foram trabalhadas, discutidas, elas tinham a ver com a relação do Congresso com o Executivo e cuja motivação é sempre a mesma: manter uma determinada maioria, fortalecer uma determinada coligação. De repente as coisas ficam mais claras, a sociedade se rebela, a opinião pública também, e o Dr. José Dirceu é cassado. Impedido de continuar Deputado, ele começa a transitar no ambiente dos grandes negócios - aviões a jato, muito poder, muita importância, muita informação -, e o domínio da informação é algo que vale muito e dá capacidade de contribuir para que decisões possam ser tomadas a favor de interesses econômicos. Alguém que foi cassado, que comandou o mensalão, que o Congresso puniu, passa a ter uma grande exposição no mundo dos negócios, não dos negócios públicos, não dos negócios que tenham a ver com o conhecimento de todo mundo, nas disputas explícitas e normais na democracia, mas negócios que dependem...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - (...) principalmente do setor público brasileiro, ou seja, como fazer para que estruturas privadas avancem, progridam no ambiente do Governo Federal. Não há ninguém no Brasil, no mundo empresarial brasileiro, que não saiba que o ex-Deputado José Dirceu é alguém com enorme capacidade de influir nas decisões do Governo. Isso no Governo do Presidente Lula, no Governo da Ministra Dilma, que, aliás, não deu uma palavra sobre nada disso, como palavras ela não diz, a não ser aquelas que alguém diz para ela dizer e que ela repete de maneira sistemática. Estamos aí diante de um fato, um fato grave. Qualquer um que faça uma leitura breve desses fatos já constata a gravidade deles. Ainda ontem, quando cheguei aqui, encontrei o Senador Tasso, o Senador Arthur e vários Senadores indignados, parcela muito grande da imprensa também preocupada, indignada. E nós, imobilizados, inteiramente imobilizados Por exemplo, não vejo aqui agora nenhum parlamentar do PT que faça a defesa do Zé Dirceu, desses que eles aplaudem nos congressos. Lá eles aplaudem o Zé Dirceu nesses congressos muito grandes que são feitos aí. Agora, aqui, diante da população brasileira, porque não vêm defendê-lo? Dizer que José Dirceu é limpo como a luz do dia, é claro como todo mundo deveria ser, desempenha um papel na construção do partido, não intermedeia negócios, não participa de nada disso, não é advogado de ninguém? Por que não vêm aqui falar? Passou, nesse ambiente brasileiro, a não ser nada mais importante. Nada tem mais importância. O cara pode fazer o que bem entender. Alguém aqui usa a maioria, essa maioria que é alimentada a gente sabe como, e, simplesmente, cala a voz do Congresso e prejudica a democracia de maneira irremediável. Nós estamos às vésperas de uma campanha presidencial...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - (...) nós do PSDB. O PT já faz campanha há muito tempo, com o dinheiro público. Eu quero saber o seguinte: essa eleição não é para saber se o Lula fez mais 10 centímetros do que fez Fernando Henrique; se os movimentos sociais foram atendidos ou não, se o Bolsa Família avançou ou não avançou. Essa é a eleição para saber se o Brasil vai continuar nesse rumo, porque esse rumo é incontrolável. Isso tudo vai terminar muito mal. Se o Presidente Lula é capaz, pela popularidade que tem, pelo talento que tem, de controlar essa confusão toda, essa Ministra não vai controlar nada. Presidente da República, ela se perde no primeiro atoleiro. Não tem a representação nacional, não tem a história nacional que o Presidente Lula tem. Então, ela vai chegar a Presidente, e chegaria num ambiente desse tipo, para comprometer a democracia mais do que ela já está comprometida.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Graças a Deus não vai chegar lá. Graças a Deus e ao povo. O povo vai ser esclarecido. O povo tem ouvidos, o povo sabe a diferença que existe entre o Presidente Lula e, numa abordagem inimaginável, a Ministra Dilma presidindo o Brasil: confusão, solução nenhuma, comando nenhum, liderança nenhuma. Ela não tem liderança nenhuma; não lidera ninguém; não conheço um liderado da Ministra Dilma. Conheço eleitores lulistas, serristas, eleitores do Tasso Jereissati, do Arthur Virgílio, do José Agripino, do meu amigo Heráclito Fortes, mas não conheço nenhum eleitor da Ministra Dilma, um dilmista, alguém que diga: “Olha, sou Dilmista e quero que essa mulher presida o Brasil”. Não existe isso, é uma grande falsificação, uma enorme fraude, independentemente da personalidade dela, se é honesta ou não, se é boa e se é má. O fato é que ela não tem conteúdo político para governar este País. Aqueles que repetem aqui a crise - repetem isso todo dia -, crise que levou este Congresso ao julgamento que recebe hoje da população, que é muito ruim, vão prevalecer de vez. A nossa reação tem de ser muito forte. Vim correndo quando ouvi o seu discurso - estava trabalhando no nosso partido -, porque a gente, que tem confiança na sua palavra, sabe que a sua palavra pesa para muita gente. O Senador Tasso, como aqueles Senadores aqui, e são muitos, que têm o que falar, até alguns daqueles que não estão do nosso lado, que se levantem para condenar isso tudo. Essa república do José Dirceu não pode continuar, não dá para continuar com isso. Enfim, apenas manifesto minha indignação. Os fatos estão aí, vamos ver o que podemos fazer. O Ministério Público não se levanta; tem de se levantar imediatamente. Onde está a democracia brasileira? Onde está a força da democracia, da reação, do contraditório? Nada disso! Cadê os caras pintadas, que foram para as ruas com tanta vontade e mudaram o Brasil? Ninguém pinta mais as caras, ninguém mais faz coisa nenhuma. Enquanto isso, a gente assiste, todo dia, a uma figura como essa do Deputado José Dirceu... Eles já cooptaram tudo: as instituições estudantis, sindicatos, ONGs, a consciência de muita gente, mas o Brasil é mais do que isso, e a república do José Dirceu não vai ganhar essa eleição. Tenho convicção de quem vai ganhar no final não somos nós do PSDB, José Serra, Tasso Jereissati, José Agripino, nada disso. Quem vai ganhar é a democracia do Brasil. É um disputa entre a democracia e o que não é democracia, a fraude. Quero saudar a sua palavra mais uma vez.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Sérgio Guerra, por sua intervenção, que sempre é acompanhada de uma análise bastante profunda, que abrange muitos mais aspectos do que apenas os circunstanciais.

            Agradeço ao Presidente Mão Santa, meu querido amigo, por sua paciência e generosidade. Antes de encerrar, porém, queria dizer esta última frase, frase importante do Senador Sérgio Guerra: este País não pode ser a república do José Dirceu escondida atrás da cortina do discurso do estatismo e da popularidade do Presidente Lula.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/02/2010 - Página 4240