Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Celebração pelo transcurso, ontem, dia 24, dos 78 anos de conquista do voto feminino no Brasil. Homenagem à cuiabana Maria Taquara, mulher que teve fundamental importância na cultura e história do Mato Grosso.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. FEMINISMO.:
  • Celebração pelo transcurso, ontem, dia 24, dos 78 anos de conquista do voto feminino no Brasil. Homenagem à cuiabana Maria Taquara, mulher que teve fundamental importância na cultura e história do Mato Grosso.
Publicação
Publicação no DSF de 26/02/2010 - Página 4488
Assunto
Outros > HOMENAGEM. FEMINISMO.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, DIREITOS, VOTO, MULHER, BRASIL, REGISTRO, HISTORIA, LUTA, LEITURA, TELEGRAMA, LIDER, FEMINISMO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).
  • HOMENAGEM, MULHER, VULTO HISTORICO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), IMPORTANCIA, CULTURA, HISTORIA.
  • SAUDAÇÃO, MULHER, LIDER, FEMINISMO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), INCENTIVO, ORADOR, PARTICIPAÇÃO, VIDA PUBLICA, ANALISE, CONTINUAÇÃO, LUTA, IGUALDADE, DIREITOS, IMPORTANCIA, INICIATIVA, GOVERNO FEDERAL, CRIAÇÃO, SECRETARIA ESPECIAL, CONCLAMAÇÃO, AMPLIAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, AMBITO, POLITICA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, LEITURA, TRECHO, DISCURSO, DILMA ROUSSEFF, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, CONGRESSO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), VALORIZAÇÃO, ATUAÇÃO, CONSTRUÇÃO, FUTURO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Eu gostaria de dizer, Senador, que sou a Senadora Serys Slhessarenko, V. Exª me chamou de Ideli Salvatti, com toda a honra que me chamar de Ideli Salvatti me cabe.

            O SRª PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Não, mas é Serys Slhessarenko, que eu aprendi, desde o início, a respeitar, e muito.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, obrigada, Senador querido, muito obrigada, inclusive pela permuta. 

            O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senadora, com todo o respeito à Senadora Ideli, mas a senhora é bem mais simpática.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Oh, meu Deus, mas nossa Senadora Ideli é tão querida. (Risadas)

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Srªs e Srs. Senadores, hoje eu tenho a imensa satisfação de ocupar a tribuna e me dirigir ao Plenário de nossa Casa para saudar e celebrar o dia de ontem, quando comemoramos os 78 anos de conquista do voto feminino. É uma data muito importante, com certeza, para a democracia do nosso País.

            Eu começo meu pronunciamento homenageando uma mulher simples e, em nome dela, homenageio a conquista do voto feminino no Brasil. Apresento aqui, senhoras e senhores, uma cuiabana que foi, na sua época, uma personagem controversa, que enfrentou preconceitos e afrontou as normas da sociedade tradicionalista das décadas 30 e 40 em Cuiabá.

            Refiro-me a Maria Taquara, mulher que teve fundamental importância na cultura e história do meu Estado de Mato Grosso, como tantas outras “Marias” tão valiosas, tão bravas lutadoras pela vida e, principalmente, pela decência de se viver.

            Neste dia, invoco as destacadas “Marias” de Mato Grosso: Maria Benedita Deschamps Rodrigues, a professora Dunga Rodrigues; Maria de Arruda Müller; Ana Maria do Couto May; Maria Lígia Garcia; e tantas outras “Marias”. E aqui saúdo todas as mulheres: Tereza de Benguela, que viveu na histórica cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital de Mato Grosso, localizada às margens do rio Guaporé. Lá hoje nós temos o nosso grande, competente e comprometido Prefeito Wagner.

            Teresa de Benguela, mulher valente e guerreira que comandou e fez crescer o Quilombo do Quariterê. Possuía organização político-administrativa, com parlamento, conselhos e uma rainha, a rainha negra do nosso Pantanal.

            Saúdo aqui todas as mulheres no momento, as companheiras líderes da BPW, a companheira Wilza Sodré, líder das empregadas domésticas de Mato Grosso, que hoje lidera centenas e centenas, eu diria milhares, de mulheres do trabalho doméstico no meu Mato Grosso. Temos que lembrar daquelas mulheres que participam de governo, que participam com autoridade de secretária de Estado, como a Secretária de Emprego, Trabalho e Cidadania, Teresinha Maggi, mulher competente, mulher comprometida. Saúdo Lindinalva, nossa Promotora de Justiça. Em nome dela, todas as promotoras. Amini [Campos], nossa juíza! Realmente, mulher competente em todas as áreas nós temos.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Maria Taquara, como eu dizia no início da minha fala, não fez nenhum ato patriótico. Não combateu na guerrilha, como combateu Teresa de Bengala, por exemplo, e não governou nenhuma cidade. Ela simplesmente existiu e deste então enche de graça o imaginário daqueles que vivem ou passam por Cuiabá. Mulher pobre e negra, Maria Taquara sempre soube que a vida não lhe seria fácil. Ainda mais em uma sociedade conservadora como a daquela época. Mas foi nesse contexto histórico que Maria Taquara se transformou em uma lenda na nossa cultura mato-grossense.

            Mas foi neste contexto histórico que Maria Taquara se transformou em uma lenda na nossa cultura mato-grossense.

            Nos anos mais difíceis em que a mulher pouco ou nenhum direito tinha, ela era uma contraventora das normas vigentes. E foi a primeira mulher a abolir as saias. Ela viu na calça comprida a sua marca registrada. Naqueles tempos, a calça comprida só era usada pelos homens. No entanto, Maria não pensou duas vezes em usar a peça durante suas andanças pelas ruas de Cuiabá, causando escândalo à sociedade por seus hábitos. Foi a necessidade que a levou a usar roupas mais resistentes para a labuta nos córregos e rios da capital. Maria Taquara era lavadeira. Já naquela época, por trás da lata d’água na cabeça e do pé descalço, havia uma denúncia social. Naqueles anos, Maria representou em cenas da vida real a marginalização de uma grande parcela da nossa sociedade, que estava alheia ao processo de transformação social que vigorou fortemente em meados dos anos 50, inclusive na busca da conquista ao direito ao voto pelas mulheres.

            Fiz questão de contar, senhores e senhoras, parte da história desta mulher para demonstrar cabalmente por que continuo firme buscando espaço na vida pública, disputando mandatos, travando a boa disputa democrática. Lá em Mato Grosso, assim como Maria Taquara, sou uma pioneira. Sou, com muito orgulho, a primeira Senadora da República mato-grossense. Ousei um pouco mais que as calças compridas de Maria Taquara. Desafiei atuar num mundo que também só pertencia aos companheiros homens e hoje, pela minha atuação, percebo o respeito de muitos deles que fazem política com decência e percebo o quanto minha luta serve às companheiras mulheres, pelo fim da violência e pela justiça de oportunidades no mercado de trabalho.

            Por causa dos desafios de tantas mulheres, no mundo todo, de tantas marias taquaras e de tantos homens conscientes é que aqui no Brasil, no dia 24 de fevereiro de 1932, por meio do Decreto nº 21.076, assinado pelo então Presidente Getúlio Vargas, e como resultado de uma intensa campanha que mobilizou grandes personalidades da Política Nacional, a partir da Proclamação da República, foi finalmente garantido o direito de voto às mulheres.

            Entre tantas outras heroínas do voto feminino, destacamos Bertha Lutz, grande pioneira feminista, líder nacional e política. Lembramos também a luta incansável da baiana Leolinda Daltro.

            Mas, por incrível que possa parecer, diferentemente de outros países, a luta pelo voto feminino teve início, no Brasil, por meio do impulso de homens ilustres, os quais, já em 1890, na primeira Assembléia Constituinte da República, defendiam esse direito. Estavam ali a defendê-lo grandes homens, como César Zama, Almeida Nogueira e Lopes Trovão, entre tantos que antes mesmo da Proclamação da República já defendiam o sufrágio universal, para que todos os homens e mulheres tivessem o mesmo direito.

            Faço menção a uma mulher especial, Celina Guimarães Viana, a primeira eleitora da América Latina, colega nossa de profissão, professora, nascida em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Lecionou em escola normal municipal. Celina, do Rio Grande do Norte. Temos aí a sua grande participação.

            Foi a primeira mulher a conquistar o voto feminino. Não foi fácil, não. Sabemos que foi bem difícil. Precisou, inclusive, de autorização judicial para poder manter a sua inscrição para votar. Ela teve que fazer um telegrama ao Presidente do Senado Federal de então.

            Dizia o telegrama:

Peço nome mulher brasileira seja aprovado projeto institui voto feminino amparando seus direitos políticos reconhecidos Constituição Federal. Saudações Celina Guimarães Viana - Professora Escola Normal Mossoró.

            Senadora Rosalba Ciarlini, com certeza, a senhora conhece muito bem essa magnífica história porque a senhora também constroi a história de mulher.

            Vou precisar de um pouquinho mais de tempo.

            Desta forma, nesta ocasião em que comemoramos os 78 anos da conquista do voto feminino no Brasil, devemos fazer uma reflexão sobre a necessidade, a importância e a urgência de seguirmos na luta aguerrida pela conquista e garantia dos direitos da mulher, seja na vida política, profissional ou social, mas principalmente no respeito à convivência pacífica e isonômica entre homens e mulheres.

            Caminhamos em passos firmes. Conquistamos o voto feminino a partir de 32. Em 88, nossa primeira Constituição que consagrou que homens e mulheres são iguais perante a lei e em 2006 chegou a Lei Maria da Penha.

            Entre tantos desafios, devemos lembrar o impulso que foi dado à nossa luta pelos direitos da mulher no Governo do nosso Presidente Lula, que criou, em 2003, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, tão bem conduzida, de forma intensa, corajosa e dedicada, pela nossa companheira a Ministra Nilcéa Freire.

            Apesar de ainda sermos minoria no Congresso Nacional e essa situação se repetir no Executivo e também no Judiciário, estamos na luta, trabalhando juntas, Senadoras da bancada feminina deste Congresso, Deputadas e a Secretaria de Políticas para as Mulheres, na pessoa da nossa Ministra Dilma Rousseff.

            Os nossos Municípios, os nossos Estados e o Brasil como um todo ainda estão carecendo de muito mais participação feminina, tanto na formulação como na condução das políticas e na administração pública.

            Somos as mães, as esposas, as companheiras, somos aquelas que compõem a base fundamental da família, como célula-mater, célula tronco da formação do tecido social, dos valores morais e das bases para a plena convivência social harmônica. Mas queremos mais que isso. Podemos ter mais que isso.

            Sim, queremos e podemos ser mais do que aquela mãe que somente embala o berço e o destino dos nossos filhos. Queremos e podemos ser protagonistas dos nossos próprios destinos. Não precisamos delegar só ao sexo masculino a nossa representação e participação política e social. Agora, a nossa luta vai além do querer e do poder. Precisamos consolidar o ser, o realizar e a nossa liderança feminina no cenário nacional.

            Faço questão de reproduzir uma parte do discurso da Ministra Dilma Rousseff no Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, no final da semana passada, que representa a luta que travo também em Mato Grosso. Disse ela sobre as mulheres:

Muitos dizem que as mulheres são metade do céu. Mas nós queremos também a metade da terra. Queremos ser a “metade do céu”, sim, mas queremos também a “metade da terra”, com igualdade de direitos salários e oportunidades. Quero com vocês, mulheres do meu País, abrir nossos espaços na vida nacional. É com este Brasil que quero caminhar. É com ele que vamos discutir e seguir, avançando com segurança, mas com a rapidez que nossa realidade social exige sistematicamente de nós.

            Como disse o Presidente Lula, para as mulheres hoje não há limites.

            Quero ainda dizer que nós, mulheres, Sr. Presidente, estamos prontas, conscientes e determinadas a desempenhar um papel cívico, político e social cada vez mais amplo. Queremos, podemos e seremos uma parte cada vez mais integrante e expressiva na liderança de nosso País, seja na administração pública, seja na produção legislativa, seja no âmbito do Judiciário. Queremos ser, podemos ser e seremos protagonistas numa sociedade cada vez mais plural, justa e igualitária, sociedade esta em que as mulheres conquistam seu espaço e garantem a sua participação de forma cada vez mais expressiva.

            Estamos convencidas de que nós, mulheres, somos um marco importante, um divisor de águas, que vai definir o momento de uma nova realidade, em que o protagonismo das mulheres, em bases iguais aos homens - iguais, queremos ser iguais aos nossos filhos, absolutamente iguais em termos de direitos; todos os homens são nossos filhos, digo sempre, e nós só queremos a igualdade de direitos com eles -, permitirá ao Brasil mostrar ao mundo que o nosso povo já está maduro e a nossa sociedade pronta para virar, definitivamente, a página da desigualdade entre os sexos.

            Mulheres e homens, de modo solidário, vamos celebrar, no dia 24 de fevereiro, sempre, o dia da conquista do voto feminino no Brasil como o momento da virada, da boa-nova que demorou a chegar, mas que chegou para ficar, a boa-nova do protagonismo das mulheres no cenário político nacional. Lembro a todas as mulheres que nossos espaços devem ser garantidos por nós, no nosso engajamento cada vez mais forte na política...

(Interrupção do som.)

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Não vamos mais engrossar a estatística das analfabetas políticas que Berthold Brecht tão bem definiu:

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe [coitado!] que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, lacaio dos exploradores do povo.

            Por isso, homens e mulheres, homens solidários, homens generosos, homens fraternos, nossos filhos, vamos juntos construir a sociedade dos direitos absolutamente iguais, em que homens e mulheres votam de forma consciente, em que as mulheres são, juntamente com os homens, protagonistas do nosso destino e do futuro do nosso grande Brasil.

            Viva a conquista do voto feminino!

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Senadora Serys, diz o poeta que a organização política sem mulheres é como um jardim sem flores.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/02/2010 - Página 4488