Discurso durante a 19ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do escritor José Mindlin, que faleceu ontem aos 95 anos de idade.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do escritor José Mindlin, que faleceu ontem aos 95 anos de idade.
Publicação
Publicação no DSF de 02/03/2010 - Página 4891
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ESCRITOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMPONENTE, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CRIAÇÃO, BIBLIOTECA, REGISTRO, DOAÇÃO, LIVRO, BIBLIOTECA PUBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP).
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), IMPORTANCIA, ESCRITOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PUBLICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CONFERENCIA, DETALHAMENTO, ACERVO HISTORICO, BIBLIOTECA.
  • SOLICITAÇÃO, SENADO, ENCAMINHAMENTO, VOTO DE PESAR, FAMILIA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Para uma comunicação inadiável. Com revisão do orador.) - Muito obrigado, Nobre Senador Mão Santa.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores Papaléo Paes, Pedro Simon, Paulo Paim, Fernando Collor de Melo, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna do Senado, nesta tarde, para registrar fato que muito enluta a sociedade brasileira - o passamento ocorrido ontem do escritor José Mindlin, aos 95 anos de idade.

            Ele, desde 2006, integrava a Academia Brasileira de Letras e era reconhecidamente uma pessoa voltada para o desenvolvimento cultural do País. Muitos gestos ele deu, ao longo de sua vida, que comprovam essa sua dedicação ao livro e, de modo mais geral, à melhoria das condições culturais de nosso povo.

            Não foi sem razão que Celso Lafer, ex-Ministro das Relações Exteriores, no Governo Fernando Henrique Cardoso, disse que Mindlin deixa legados em muitos campos, e o maior deles foi a doação da sua biblioteca - de 38 mil títulos, uma das mais completas do Brasil - à Universidade de São Paulo, USP.

            Mindlin era um emblema do livro; tinha com ele uma relação orgânica - tal foi a manifestação de Marcos Vilaça, atual Presidente da Academia Brasileira de Letras, a respeito da morte de tão ilustre brasileiro que grande contribuição deu, inclusive, às celebrações do Ano Cultural de São Paulo.

         Lê-se no Correio Braziliense, desta data, matéria intitulada “O caçador de livros em Brasília”, de autoria da jornalista Izabel Toscano:

José Mindlin foi o segundo sócio da Confraria dos Bibliófilos do Brasil, fundada em 1995, pelo engenheiro eletrônico José Salles Neto, 62 anos. À época, Salles Neto publicou em quatro jornais uma nota sobre a intenção de formar um grupo de amantes dos livros. No mesmo dia, o então vice-presidente da República, Marco Maciel, foi o primeiro a fazer o contato. “E o Mindlin foi, então, o segundo sócio. Eu liguei para ele convidando. Mantivemos uma relação por meio de correspondência por quase trinta anos. E conluia Salles Neto: “Eu mandava livros e ele me respondia sempre por telegramas”.

Mineiro de Araxá, radicado em Brasília, Salles Neto chegou a conhecer a biblioteca de Mindlin, em São Paulo. [Era, como já todos sabem, extremamente rica e preciosa]. Ele fez uma estrutura tão especializada com livros diferenciados e tiragens limitadas que não se encontra em grandes bibliotecas.

A Confraria dos Bibliófilos reúne hoje 350 sócios numerados, mas tem lista de espera por vagas. [Então, há uma grande lista de pessoas que pretende se associar a esse seleto clube de bibliófilos]. 

Outro bibliófilo brasiliense que lamenta a morte de Mindlin é Oto Reifschneider, 30 anos, que coleciona livros há 14 e hoje já contabiliza 4 mil títulos. Além de divulgar o amor pelos livros, ele ajudou no resgate de obras e autores e na preservação e conservação da cultura. Também teve um papel importante porque editou e reeditou obras e apoiava projetos de incentivo.

            Menciono, Sr. Presidente, Senador Mão Santa, que Mindlin era o quinto ocupante da cadeira 29, da Academia Brasileira de Letras, eleito em 20 de junho de 2006, na sucessão de Josué Montelo, e recebido em 10 de outubro de 2006 pelo Acadêmico Alberto da Costa e Silva.

            José Ephim Mindlin nasceu em São Paulo, em 8 de setembro de 1914. Formou-se em Direito em 1936, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi redator de O Estado de S. Paulo de 1930 a 1934. Advogou até 1950, quando foi um dos fundadores e Presidente da Empresa Metal Leve S. A, pioneira em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, exatamente dentro de seu próprio ramo de atuação. De interesses muito diversificados, tanto no campo cultural quanto educacional, econômico e político, embora não-partidária, da ciência e da vida empresarial, Mindlin atuou durante muitos anos em todos os setores e integrou numerosos conselhos e entidades no Brasil e no exterior. Foi membro do Conselho Superior da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, de 1973 a 1974; de 1975 a 1976, Diretor do Conselho de Tecnologia da Federação das Indústrias de São Paulo - FIESP - e Secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, quando estruturou a carreira de pesquisador. Foi um dos fundadores da UNIEMP, entidade destinada a promover a aproximação entre a Universidade e a empresa e da qual era Presidente Honorário. Era membro colaborador da Academia Brasileira de Ciências e membro do Conselho de vários museus brasileiros, como o Museu de Arte Sacra de São Paulo, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo - Umam - e o Museu Lasar Segall, Membro honorário Conselho de Montreau e do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e também Presidente da Fundação Crespi Prado, Membro do Conselho da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional e da Casa de Cultura de Israel, membro emérito da Fundação John Carter Brown Library, nos EUA, uma das principais bibliotecas do mundo de livros raros sobre as Américas e da Associação Internacional de Bibliófilos, com sede em Paris. Era Presidente do Conselho da Aliança Francesa de São Paulo e do Conselho Editorial - EDUSP - Editora da Universidade de São Paulo.

            Ele recebeu o título de Professor Honorário da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, e o título de Doutor Honoris Causa em Letras pela Brown University, famosa universidade dos Estados Unidos. Também foi acolhido como Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília, Universidade da Bahia, Universidade de Tocantins e Universidade de São Paulo. Foi membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, instituição de quase 150 anos de existência. Era sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco e da Academia de Letras da Bahia. Devo dizer que o Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco é uma instituição bastante acatada e, muito brevemente, estará também completando seu sesquicentenário de vida muito densa e de grande contribuição prestada à preservação da memória nacional.

            Desejo também mencionar que José Mindlin foi casado com Guita Mindlin, nascida em 2 de agosto de 1916 e falecida em 25 de junho de 2006. Guita e José Mindlin tiveram quatro filhos: a antropóloga Betty, a designer Diana, o engenheiro Sérgio e a socióloga Sônia.

            José e Guita compartilharam, ao longo da vida, a paixão pelos livros, o que levou o casal a formar uma das mais importantes bibliotecas privadas do Brasil, que Mindlin começou a constituir aos 13 anos e chegou a ter 38 mil títulos. No conjunto doado à USP, constam obras de literatura, história, sociologia, poesia. Dentre as raridades, estão documentos do século XVI, com as primeiras impressões dos padres jesuítas que se encontravam no Brasil.

            Além disso, ele possuía obras raras, muitas das quais resgatam a gênese literária de grandes obras como Sagarana, de Guimarães Rosa, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. José Mindlin promoveu edições de cerca de 40 livros e revistas de arte e literatura e de bibliografia brasileira. Publicou numerosos artigos e fez inúmeras conferências no Brasil e no exterior, em associações e universidades, sobre todos os assuntos de que se ocupava. Autor de Uma Vida entre Livros - Reencontros com o tempo e Memórias Esparsas de uma Biblioteca, lançou, em 1998, o CD “O Prazer da Poesia”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, José Mindlin fez um excelente discurso por ocasião de sua admissão na Academia Brasileira de Letras e foi um frequentador ativo da ABL. Estava sempre presente, quer nas sessões ordinárias, às quintas-feiras, quer nos eventos significativos da instituição. Por isso, não podemos deixar de reverenciá-lo neste momento em que ele nos deixa com riquíssimos exemplos de dedicação à melhoria cultural do nosso povo e ao desenvolvimento educacional da nossa gente.

            Sei, Sr. Presidente, que o Senador Cristovam Buarque está tomando ou já tomou idêntica iniciativa -, na forma do Regimento Interno e de acordo com as tradições da Casa, um voto de pesar pelo falecimento do acadêmico José Ephim Mindlin, ocorrido na Capital do Estado de São Paulo.

            O requerimento que apresento pede a inserção em Ata de voto de profundo pesar e o envio de condolências aos seus familiares, à Academia Brasileira de Letras, à Universidade de São Paulo e a muitas outras instituições a que se filiara José Mindlin.

            Portanto, Sr. Presidente, concluo a minha manifestação com esse sentimento de pesar, que certamente vai encontrar o apoiamento, a adesão de membros desta Casa, para que, com esse gesto, deixemos bem presente que o Congresso Nacional e, de modo especial, no caso, o Senado Federal não deixem passar, sem um registro, o passamento de José Mindlin e o reconhecimento da obra que realizou em favor do País com muito espírito público e ardor cívico.

            Sr. Presidente, Senador Mão Santa, peço que seja submetido ao Plenário o requerimento a que me refiro. Estamos juntos, reconhecendo o mérito, o trabalho e a dedicação de José Mindlin ao País e às suas instituições.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/03/2010 - Página 4891