Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pelo fato de nenhum político carioca ter chegado à Presidência da República, percorrendo a história política brasileira da Revolução de 30 aos dias atuais.

Autor
Paulo Duque (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RJ)
Nome completo: Paulo Hermínio Duque Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA NACIONAL.:
  • Lamento pelo fato de nenhum político carioca ter chegado à Presidência da República, percorrendo a história política brasileira da Revolução de 30 aos dias atuais.
Publicação
Publicação no DSF de 05/03/2010 - Página 5644
Assunto
Outros > POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • DESCRIÇÃO, HISTORIA, ORIGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL, FRUSTRAÇÃO, AUSENCIA, POLITICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EXERCICIO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, nós todos já estávamos com saudades de V. Exª na tribuna presidencial. Quero dizer isso com absoluta franqueza e segurança.

            Os Deputados perguntavam ainda: “Ele não vem mais presidir? Onde ele está?” Todo o mundo estava procurando a sua voz autorizada de Presidente.

            Essa é a homenagem que o Rio de Janeiro presta inicialmente a V. Exª. Aliás, a segunda homenagem é dizer que o Piauí já teve dois Prefeitos da cidade do Rio de Janeiro e um Governador. V. Exª seguramente...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - O Governador é o Moreira Franco.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Sim. E os Prefeitos? Vou dizer a V. Exª, até marquei aqui: hoje é nome de rua. V. Exª já passou por lá muitas e muitas vezes, porque é perto da Cruz Vermelha - rua Henrique Valadares.

            O Dr. Henrique Valadares já foi Prefeito do Rio de Janeiro e é do Piauí. E o outro do Piauí? V. Exª talvez não se lembre, porque era muito jovem ainda. Mas o outro do Piauí, meu caro Presidente, era o Coelho Rodrigues.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Conheci.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Também conheceu. Imagine mais! Que o Rio de Janeiro jamais teve um prefeito carioca. Eu estou repetindo praticamente um discurso que fiz outro dia, porque esse programa é visto por milhões de pessoas no Brasil e até no exterior. E quando eu afirmei isso, eu estava me referindo a 54 prefeitos do Rio de Janeiro e nenhum deles carioca. E nenhum deles preso, nenhum deles encarcerado, com exceção de um.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Quero fazer uma pergunta a V. Exª que sabe tudo ou quase tudo.

            Em frente a Buenos Aires nós temos aquela cidade, hoje é uruguaia, Colônia do Sacramento, e naquele tempo ela era de Portugal, no Tratado de Tordesilhas. Então, foi criada por um prefeito do Rio de Janeiro. O senhor sabe qual é?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Não.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Pois aquela cidade tem escrito: foi criada pelo Prefeito do Rio de Janeiro. Era aquele Tratado de Tordesilhas que dividiu o mundo em português e espanhol.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Exatamente.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Então, éramos portugueses, e o Prefeito do Rio de Janeiro que mandou construir esta cidade Colônia do Sacramento.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - E quem era?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Não, não sei o nome, não estou recordado.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Então, vamos descer só para os que conheço. Eu citei os 54 prefeitos do Rio de Janeiro, nenhum deles foi encarcerado, nenhum deles foi preso, cumpriram os seus mandatos. Só um foi preso por motivos ideológicos. Aí não vale. Sabe quem foi? Médico como V. Exª, Dr. Pedro Ernesto.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Ah, ele era médico? Pensei que ele era engenheiro, porque tem tanta obra dele.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Não, o filho dele é que era engenheiro.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Tem um hospital Pedro Ernesto no Rio de Janeiro.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Hospital Pedro Ernesto e tem...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - O filho é engenheiro, não é?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - O filho é engenheiro.

            E tem mais: a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro chama-se Palácio Pedro Ernesto. Ele esteve quatro anos preso, porque se envolveu na intentona comunista de 1935. Ele fazia parte da Aliança Nacional Libertadora, era daquela esquerda intelectualizada. Mas foi um grande prefeito. Mas um dia teve que ser preso. E mais; foi preso por um antigo Senador, que era chefe de polícia no Rio de Janeiro, Filinto Müller, que honrou este Congresso. Ele cumpria ordens, não prendeu porque quis. Ele cumpria ordens do governo.

            Então, veja V. Exª aqui é aquilo que V. Exª diz sempre...

            O SR. PRESIDENTE (Mão santa. PSC - PI) - Filinto Müller é mato-grossense, não?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Mato-grossense, chefe de polícia, não era o prefeito. Eu estou falando de prefeito. Mas eu não quero repetir muito o discurso que fiz recentemente em homenagem a V. Exª, quando eu citei esses dois do Piauí. E eu sei que V. Exª gostou disso: um governador do Piauí no Rio de Janeiro, já na fusão; dois prefeitos do Piauí na cidade do Rio de Janeiro. Garanto que não houve nenhum carioca em prefeituras do Piauí.

            O que eu queria dizer hoje, Presidente, já que estou sendo figuramente ouvido por dezenas de Senadores e por milhões de brasileiros em todo o Brasil, é que o Rio de Janeiro também não conseguiu ainda eleger nenhum Presidente da República. Talvez o Senador João Pedro até estranhe, mas nós, do Rio de Janeiro, ainda não conseguimos ter nenhum Presidente da República, nem o Rio, nem o Amazonas, nem o Pará. Mas Alagoas já teve dois: Marechal Deodoro da Fonseca, que tem belíssimo monumento...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Chegou o Heráclito, que sabe de tudo. Acho que Fernando Henrique Cardoso é carioca, nasceu no Rio.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Isso é outra coisa.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - E o Fernando Collor também não nasceu no Rio?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Não vamos confundir a linha filosófica deste discurso. Estou dizendo que Alagoas deu Deodoro da Fonseca, que proclamou a República - V. Exª sabe melhor história do que eu - e foi homenageado com um belíssimo monumento na Praça Paris.

            E o segundo alagoano, quem foi? Floriano Peixoto, que o substituiu.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - O Marechal de Aço.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - O grande Marechal de Ferro, Floriano Peixoto. Todos os dois foram Presidentes da República, e eram de Alagoas.

            Vamos agora para São Paulo e Minas. São Paulo é poderoso por isso, logo no início, teve um Prudente de Moraes. E teve Campos Salles e Rodrigues Alves, um atrás do outro: São Paulo, São Paulo, São Paulo. E Rio de Janeiro, nada. E Amazonas, nada.

            Depois, veio Minas Gerais. Estou falando de 1906 a 1909: Affonso Penna, que teve como seu Ministro da Guerra o Marechal Hermes da Fonseca, futuro Presidente da República. Após ele, e até agora, não surgiu Rio de Janeiro. Nilo Peçanha era do antigo Estado do Rio de Janeiro e não tem nada a ver com a cidade do Rio de Janeiro. Ele apenas foi Vice-Presidente, que substituiu o Presidente por algum tempo: nove meses. Depois disso, Hermes da Fonseca, gaúcho, foi Ministro da Guerra de Affonso Penna.

            Depois do Rio Grande do Sul, chegou a vez novamente de Minas Gerais, com Wenceslau Braz. Sigo em frente, meu caro João Pedro, sem ainda poder citar nem Amazonas nem Rio de Janeiro.

            Delfim Moreira, Minas Gerais. Epitácio Pessoa se elegeu contra Rui Barbosa e ele estava fora do País, representando nosso País na Conferência de Haia, na Conferência de Versalhes, logo depois da guerra.

            Então, disputou o pleito contra Rui Barbosa o Epitácio Pessoa. Em seguida, Arthur Bernardes. Foi um grande Presidente, eu o conheci, grande patriota. As riquezas nacionais, o minério de ferro sobretudo, e o petróleo tiveram nele um grande defensor.

            Até agora, Senador João Pedro, o Amazonas não aparece, nem o Rio, na Presidência da República. Estamos avançando. Depois vem um paulista de novo, Washington Luís. Esse aí, Presidente, acredite, era um paulista de Macaé, porque ele nasceu em Macaé. Foi embora muito cedo para estudar fora, acabou fazendo política em São Paulo, onde foi tudo, foi prefeito de uma cidade do interior, prefeito da Capital, deputado federal, representando aquele Estado.

            Aí ocorre a Revolução de 30, em que, enquanto não se decidia o lado do vencedor, uma junta militar foi depor o Presidente, que só saiu na companhia de Dom Jaime Câmara, e ficou 24 horas no Forte de Copacabana. Quando V. Exª voltar ao Rio de Janeiro - e vai sempre a Copacabana -, visite aquele forte, e está lá a sala com o dístico: “Aqui esteve preso por 24 horas o Ex-Presidente Washington Luís”. Rio de Janeiro e Amazonas nem aparecem por aqui.

            Getúlio Vargas assume, passa por um grande período em que o Brasil mudou. A primeira fase foi antes e depois de Getúlio Vargas. Um grande Presidente, sem dúvida, um homem de muito valor, enfrentou no seu governo grandes crises, violentas crises, as mais diferentes.

            Inclusive, nesse período, o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, em que vários generais de prestígio fizeram questão de participar porque íamos lutar contra países totalitários, com regime político totalitário. E havia grande esperança nesses generais de serem um eventual substituto, ou possível substituto, ou provável substituto do Presidente Getúlio Vargas.

            Os militares brasileiros foram à guerra para derrubar, derrotar países totalitários. Mas acontece que, com a vitória dos aliados, consequentemente do Brasil, em 29 de outubro... Ô Presidente do Piauí, V. Exª gosta de história, esta data é importante - 29 de outubro de 1945 - é uma data que tem um significado estranho na história do Brasil, porque não há nenhum documento, não existe um ato formal.

            Existe, sim, a vontade dos generais, reunidos no Palácio da Guerra, que mandam. Um seu representante foi um general também, que esteve na guerra, chamado Cordeiro de Farias, juntamente com um ex-Ministro que era conhecido dos dois, das duas partes. Era o Ministro Agamenon Magalhães, que, junto com Cordeiro de Farias, vai ao Palácio Guanabara para anunciar ao Presidente que ele estava deposto. Foi deposto, mas já com uma eleição marcada para o dia 2 de dezembro. Estou falando do dia 29 de outubro. Com eleição marcada para o dia 2 de dezembro. Foram depor o Presidente, e ele foi deposto. E agora? Quem iria substituí-lo, se não havia vice-Presidente, se não havia Presidência de Congresso, se não havia Congresso, se não havia Câmara de Vereadores, se não havia nada?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - José Linhares.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Exatamente. Todo o poder ao Judiciário. Todo o poder. Está vendo? É bom a gente falar com pessoas que conhecem o assunto. José Linhares! Por que isso?

            Porque os dois candidatos militares, Eurico Gaspar Dutra e Eduardo Gomes já estavam lançados e concordaram que todo o poder estava com o Judiciário para fazer a eleição. E não o General Ministro da Guerra de então, que era o General Góes Monteiro, do Rio de Janeiro. E não ele. Realizou-se a eleição. Aí é que entra, Senador João Pedro, Mato Grosso. Pela primeira vez, Mato Grosso teve a sua chance de ter um presidente. Só Mato Grosso? Apenas Eurico Gaspar Dutra, o general? Não, não, não.

            Estou me demorando, sei que estou me demorando, mas daqui a pouco saio daqui.

            Houve outro mato-grossense também: João Carlos. E ele é o Caifaz. Não só Eurico Gaspar Dutra, como ainda Jânio Quadros, ambos de Mato Grosso.

            Mas já vou encerrar este pronunciamento porque os meus colegas estão ansiosos para estar aqui na tribuna. Reconheço que V. Exª foi pródigo em prorrogar o meu tempo.

            Agora já decidi o seguinte: faço os meus discursos em dois capítulos. Então, termino aqui o capítulo 1, na Revolução de 30, na eleição democrática do dia 2 de dezembro de 1945. E amanhã quero ver se aparece o Rio de Janeiro ou aparece o Amazonas na Presidência da República. Não tenho esperança que isso tenha acontecido. Não tem Fernando Henrique Cardoso, não tem João Figueiredo. Não basta ter nascido só, tem que ter vivido, tem que ser político do Estado, senão não chega lá.

            Muito obrigado, Sr. Presidente Mão Santa, pela tolerância.

            Quantos minutos falei hoje?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Somente 23 minutos.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Não está mal.

            Muito obrigado a V. Exª.


Modelo1 5/2/243:41



Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/03/2010 - Página 5644