Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Preocupação com a grave situação financeira por que passa o Estado do Piauí. Comentários à matéria intitulada "Presidente Lula passa pito em Wellington Dias durante evento ao vivo do Meio-Norte".

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com a grave situação financeira por que passa o Estado do Piauí. Comentários à matéria intitulada "Presidente Lula passa pito em Wellington Dias durante evento ao vivo do Meio-Norte".
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2010 - Página 5535
Assunto
Outros > ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ECONOMIA, ESTADO DO PIAUI (PI), INSUFICIENCIA, DESTINAÇÃO, RECURSOS, GOVERNO FEDERAL, DENUNCIA, DESCUMPRIMENTO, GOVERNADOR, PROMESSA, ELEIÇÕES, INCOMPETENCIA, GESTÃO, CRITICA, ABANDONO, PRIORIDADE, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, PARALISAÇÃO, OBRAS, AUMENTO, DESEMPREGO.
  • CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), IMPOSIÇÃO, OBSTACULO, DESTINAÇÃO, RECURSOS, ESTADO DO PIAUI (PI), ATENDIMENTO, SECA, INUNDAÇÃO, DESRESPEITO, ISONOMIA CONSTITUCIONAL, QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, PRIORIDADE, AUXILIO, PAIS ESTRANGEIRO, VITIMA, CALAMIDADE PUBLICA.
  • REPUDIO, COMENTARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OFENSA, GOVERNADOR, PUBLICAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, RECURSOS, DESTINAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), NECESSIDADE, PRIORIDADE, ATENDIMENTO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta Casa acompanha, ao longo desses meus sete anos de Senador, a maneira vigilante com que exerço a posição, sempre que posso construtiva, com relação aos fatos que ocorrem no Estado do Piauí.

            Tenho sido um ácido crítico do Governo Federal, principalmente no que diz respeito ao descaso e ao desprezo com que os assuntos inerentes ao meu Estado são tratados pelo Governo Federal.

            A insensibilidade do Governo com o Nordeste não é novidade para ninguém, e essa insensibilidade é histórica. Infelizmente, o Norte e o Nordeste brasileiro são tratados como subproduto pelos Governos que se sucedem neste País.

            Não quero dizer que a prática do atual Governo seja de uma inserção, mas, na realidade, é o cumprimento de uma regra.

            O que me traz à tribuna hoje, Senador Mão Santa - e tenho certeza de que V. Exª haverá de concordar comigo - é a insatisfação pela maneira com que o Governo do Presidente Lula vem tratando o Estado do Piauí. Promessas. E realizações nada.

            Agora, pontualmente, Senador Mão Santa, existe um motivo que me traz a esta tribuna. É a grave situação financeira por que passa o Estado do Piauí. É verdade, é claro, que tudo isso é produto de uma gestão sem planejamento; de uma gestão sem projetos básicos ou projetos estruturantes; de uma gestão que procurou ao longo desse período colocar de lado prioridades fundamentais para o desenvolvimento do nosso Estado; e se deteve em cumprir pequenos compromissos eleitoreiros, atendendo ao pedido de uma estrada que começa ali e não termina e de outra que se inicia ali.

            Promessas que custaram cara ao Erário do Piauí. E hoje o Governador, na indecisão de deixar ou não governo para se habilitar a disputas eleitorais do próximo pleito, está correndo de maneira desesperada e com pires na mão junto aos gabinetes de Brasília, no sentido de encontrar uma mão bondosa e generosa que lhe salve dos vexames, porque, com certeza, os desmandos cometidos ao longo do tempo lhe poderão criar dissabores num futuro próximo.

            Mas não é por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que eu como piauiense viria a esta tribuna para defender a tese do quanto pior melhor, até porque, Sr. Presidente, o que nós vemos é, de maneira fácil, o Presidente da República anunciar todos os dias ajudas emergenciais a países vizinhos, a países amigos, a países que enfrentam agruras e dissabores. E o Presidente, de maneira sempre rápida e generosa, a fazer doações, a prestar socorro - o que é uma atitude louvável.

            Mas eu queria lembrar ao Presidente da República e aos que fazem parte deste Governo que nós temos que ser solidários, mas nós temos que ver, Senador Flávio Arns, que o Haiti está no Piauí. Porque nós vivemos lá as mesmas dificuldades, nós tivemos lá problemas semelhantes, nós tivemos uma barragem que, por negligencia dos homens, estourou, ceifando vidas e deixando vários desabrigados.

            E até hoje as promessas do Governo Federal continuam a serem esperadas. E não se justifica, o comportamento da cúpula econômica do Governo Federal com relação ao Piauí, porque o que nós vemos e estamos vendo no dia-a-dia são palavras de desesperança do Ministro Guido Mantega com relação a esse socorro emergencial ao Estado do Piauí. Estão fazendo esse discurso, correndo o risco de - inclusive o Senador Cristovam Buarque - estar criando uma cobra para me morder lá na frente, ajudando a resolver um problema que poderá voltar-se contra mim, porque tenho no atual Governador uma das possibilidades de adversário no pleito que se avizinha. Mas eu não raciocino em política dessa maneira. Não posso aceitar que, por questões sejam elas quais forem, o Piauí não seja olhado de maneira eqüitativa aos outros Estados da Federação. Se Estado do Sul tem enchente, se Estado do Sul tem seca, a providência chega de maneira imediata e diligente. O Piauí padece de enchente, padece de seca, padece do arrombamento, por exemplo, da Barragem Algodões. E as dificuldades burocráticas são colocadas de maneira intransponível para que não se tenha acesso aos recursos tão necessários.

            O Ministro Guido Mantega precisa ter uma sensibilidade social, precisa ter uma sensibilidade humana para com essa crise que atravessa o Estado do Piauí neste momento. Não importa se, no dia 3 de abril, se no dia 4 de abril, ou seja lá quando for, estará governando o Estado o Sr. Wellington Dias ou o seu sucessor. O que importa é que o Piauí, por divergências políticas, não pode pagar o preço caro que vimos pagando, exatamente pelo fato de o Estado Federal lhe virar as costas.

            Mas há, Senador Cristovam Buarque, um fato acontecido hoje e sobre o qual não posso me calar. Publicado nos jornais de circulação no Piauí, e de maneira muito especial, Senador Mão Santa, no 180graus, que diz: “Presidente Lula passa pito em Wellington Dias durante evento ao vivo do Meio-Norte”. O Presidente participou hoje, pela manhã, de uma solenidade, por meio de uma videoconferência, para o lançamento do site Portal Brasil em sintonia com a Escola Meio Norte e chamou o Governador também para conversar com estudantes e - Senador Cristovam Buarque, observe bem V. Exª, que é um educador - professores da referida escola.

            Ao mencionar Dias, o Presidente fez o seguinte comentário: “Eu vou chamar aqui o Governador para que ele fale com o pessoal da Casa Meio Norte, para que ele tome a Casa Meio Norte como exemplo e para ver se melhora a sua performance”.

            O Governador, que estava na plateia, fez que não era com ele e cumprimentou as demais autoridades presentes. Lula fez o comentário em referência aos problemas financeiros que a administração do seu partidário vem enfrentando no Piauí.

            Não é a primeira vez. Há cerca de 15 ou 20 dias, também de maneira pública, o Presidente da República puxou as orelhas do Governador do Estado do Piauí por conta dessa crise financeira.

            Ora, Sua Excelência - aqui é testemunha o Senador Mão Santa -, em determinado momento, procurou a mim e a ele e tratava o Governador como um filho querido, como um filho dileto, e não pode jogá-lo agora na rua da amargura. Eu faço essa defesa do Governador porque estou fazendo a defesa do povo do Piauí. Não tem nada de político, não tem nada de pessoal. É uma defesa lógica, porque é inaceitável essa maneira de o Presidente da República passar uma reprimenda em um governante como os jornais trazem aqui hoje.

            Eu quero lançar aqui o meu protesto. As críticas aos governantes do Estado, as críticas dos políticos do Piauí que fiquem restritas aos piauienses. As agruras por que passamos que sejam analisadas e combatidas pelos que são piauienses e têm legitimidade para tanto.

            Senhor Presidente Lula, havendo alguma diferença, alguma divergência com a maneira de administrar do seu correligionário, no caso, até pupilo, que o chame ao seu gabinete e, a portas fechadas, mostre-lhe o seu ponto de vista e lhe ensine os caminhos a seguir. Mas essa reprimenda pública, como piauiense, eu não posso aceitar. Não posso aceitar, Senador Mão Santa, porque ela diminui o Estado. O Estado do Piauí é um Estado altivo, um Estado altaneiro. Nunca tivemos em nossa história um governante sendo repreendido publicamente nem sequer pelo Presidente da República. É lamentável e nós não podemos aceitar. Não podemos aceitar e não aceitaremos. É lamentável, Senador Flexa Ribeiro, mas é uma verdade. Acima de tudo, se fosse o pai o conselheiro que repreende, mas resolve o problema, ainda vá lá. Que dissesse, “menino, meu filho”, como chamavam, quantas vezes, Senador Mão Santa...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - “Tome conta do meu menino”, mas o menino era traquina e travesso.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - “Meu menino, você errou, você foi rebelde, você não ouviu os meus conselhos. Mas tome aqui essa pequena importância, esses recursos e vá resolver os seus problemas”, que não são problemas individuais de um governante, mas de todo o Estado do Piauí.

            Agora essa reprimenda desmoralizante, sem qualquer consequência objetiva, sem nenhum fruto objetivo para o Estado do Piauí, é inaceitável, e nós temos que, em um momento como esse, fazer uma união de repulsa ao tratamento dispensado ao piauiense, que, por ser Governador, tem que representar, ao menos no âmbito externo, o Piauí com dignidade.

            Ouço o Senador Flexa Ribeiro com o maior prazer.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Nobre Senador Heráclito Fortes, V. Exª e o Senador Mão Santa usam da tribuna com competência para clamarem por melhores condições para o querido Estado do Piauí. No Pará, nós sofremos do mesmo mal, que é termos um Governo incompetente e sem nenhum compromisso com a população e com as promessas feitas também, não nessa ordem de “meu filho” ou “minha filha”, quando da campanha. V. Exª diz agora que o Presidente fez uma reprimenda ao Governador, e V. Exª, mostrando a sua compostura, o seu amor pelo seu Estado, defende a posição como piauiense, o respeito a todos os piauienses. No Pará, Senador Heráclito Fortes, por ocasião do resultado da eleição, em que a população, enganada que foi, elegeu a Governadora, uma revista de circulação nacional fez uma reportagem com o Presidente Lula, querendo ouvir a opinião dele a respeito de alguns Governadores que tinham sido eleitos, como o José Serra, de São Paulo - uns quatro ou cinco Governadores. Quando chegou ao Pará: Governadora Ana Júlia, V. Exª sabe que disse o Presidente Lula? “Desastre anunciado.” Está na revista. Eu acho que o Presidente Lula tem a capacidade de prever o futuro porque sabia ele que era realmente um governo que traria um desastre anunciado para o Pará. Agora, ele deveria ter dito isso quando esteve no palanque com a então candidata, pedindo que votassem nela, para que ele pudesse ajudar o Pará. Não ajudou o Pará, e o desastre que ele disse que era anunciado, lamentavelmente, hoje, é uma realidade.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Agradeço o aparte de V. Exª.

            E quero deixar bem claro, aqui, algo que se faria desnecessário. Mas não custa nada repetir, Senador Flávio Arns. Feliz é o País que tem Oposição; feliz é o Governo que tem Oposição; e feliz é a Oposição que tem a clareza de, numa hora como essa, saber colocar as coisas sem radicalismos, saber colocar as coisas com lógica. Porque o que estou fazendo, aqui, Senador Flexa Ribeiro, é nada mais, nada menos do que defender a soberania do Estado do Piauí.

            Faço um apelo a Sua Excelência, o Presidente da República, para que repare a grosseria cometida com o governante, com o representante maior, constitucionalmente, do nosso Estado. E só há uma maneira de reparar: é acudi-lo, é atendê-lo nas necessidades fundamentais por que o Piauí passa hoje.

            O Piauí está com perigo de atraso dos seus funcionários. Quase 90% das empresas com obras em construção no Estado paralisaram seu serviço, gerando desemprego, gerando incerteza. Mas nem por isso. E o Governador insistentemente a anunciar novas obras sem recurso para dar continuidade às existentes. Mas, apesar de tudo isso, em defesa do meu Estado, eu assumo a responsabilidade, o dever e a obrigação de vir aqui pedir ao Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, aquele que o Piauí tanto tratou bem em todas as suas visitas, em todos os momentos da sua história: respeite o Piauí, porque o Piauí merece.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2010 - Página 5535