Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Lembranças da participação de S.Exa. no movimento que permitiu a eleição indireta de Tancredo Neves para Presidente do Brasil em 1985. (como Líder)

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Lembranças da participação de S.Exa. no movimento que permitiu a eleição indireta de Tancredo Neves para Presidente do Brasil em 1985. (como Líder)
Aparteantes
Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2010 - Página 5542
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, TANCREDO NEVES, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EX GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMENTARIO, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO SOCIAL (PDS), MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (MDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), PROCESSO, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, REGISTRO, ANTERIORIDADE, APOIO, ORADOR, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

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            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente. O Senador Magno Malta fez uma indagação, e V. Exª é testemunha de que eu havia me inscrito há umas quatro horas, como Líder, há bastante tempo.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a minha fala hoje, na impossibilidade de ter podido falar na solenidade que homenageou a memória do Presidente Tancredo Neves, volta-se para a palavra que eu não poderia deixar de dar ao homem que marcou muito a minha vida pública.

            Eu fui Governador do Rio Grande do Norte quando Tancredo foi Governador de Minas Gerais. Eu era calouro, e ele, um Governador veterano. Em 1982, eu fui eleito Governador - foi a primeira eleição direta para Governador após o período revolucionário -, e S. Exª foi eleito também Governador em Minas Gerais. Ele, pelo MDB; eu, pelo PDS.

            Nos encontros que tínhamos nas reuniões de Sudene, foi se fazendo uma afinidade e se estabelecendo, de minha parte em relação a ele, um profundo respeito. O nosso sangue se assemelhava, se cruzava. Ele era do MDB; e eu, do PDS. Eu havia derrotado, em uma disputa pesada, o ex-Governador, o ex-Deputado Federal, o ex-Ministro Aluízio Alves, que era o líder político de muito merecimento do meu Estado, que voltava da cassação candidato a Governador, contra quem disputei a eleição de 1982 e ganhei. Ele era amigo fraternal de Tancredo, e eu o havia derrotado. Ele era MDB, eu era PDS.

            Tudo confluía para que eu não tivesse razões para manter uma relação próxima com Tancredo. Mas aqui foi mencionado hoje, pela manhã, de forma repetida: o espírito conciliador de Tancredo. Tancredo era, acima de tudo, um político extremamente competente e cordato. Ele era um homem que, assim como foi Primeiro Ministro no momento de transição, quando João Goulart assumiu a Presidência na renúncia de Jânio, e conseguiu fazer a transição em um momento difícil, com a maestria de sua habilidade política, cativando a todos, adversários e correligionários, estabeleceu comigo uma relação muito próxima.

            Estabeleceu-se o processo de eleição presidencial.

            Senador Magno Malta, eu fui eleito Governador na primeira eleição direta após a Revolução. O processo estava apenas iniciado. Era preciso que se desse o salto maior, que era o compromisso com eleição presidencial pela via direta. O meu Partido tinha um candidato que não tinha compromisso claro com a eleição direta, não tinha compromisso claro com a transição para a eleição direta. E eu dizia que, se o hoje Deputado Paulo Maluf resultasse candidato a Presidente pelo PDS - ele, que não tinha compromisso com a eleição direta para Presidente -, eu não o apoiaria. Deixei isso claro. Deixava claro nas reuniões que tinha com o então Presidente da República e nas reuniões de Governadores que nós tínhamos.

            Na convenção do PDS, resultou candidato Paulo Maluf, e eu cumpri aquilo que dizia antes, que eu anunciava antes. Houve uma disputa entre Andreaza, que tinha compromisso com a transição, e Paulo Maluf, que não tinha compromisso explícito. E eu cumpri aquilo que havia prometido, pagando um preço altíssimo. O meu Estado foi isolado das verbas federais, porque eu anunciei claramente - e fui o primeiro a fazê-lo - o rompimento com o meu Partido e o apoio a Tancredo.

            Ainda hoje eu conversava com o Governador Aécio Neves, e ele relembrava a importância daquele meu gesto, porque eu fui o primeiro dos Governadores do Nordeste que entrou em uma luta intestina, disputando, no meu Estado, com os meus correligionários que apoiavam Paulo Maluf. O meu Partido tinha ala e subala; e uma subala forte mantinha o apoio a Paulo Maluf e lutou para conquistar os votos do Colégio Eleitoral na Assembleia Legislativa. E eu fui à luta e os derrotei, e conquistei todos os seis votos para o Colégio Eleitoral eleger Tancredo, porque Tancredo se submetia ao Colégio com o compromisso de fazer a transição democrática, marcar eleição direta para Presidente da República, fazer no País o que eu tinha conseguido como candidato a Governador pela via direta.

            Isso me fez muito próximo de Tancredo, Tancredo que tinha como Vice Sarney. Isso me fez fundador daqueles que se juntaram para criar um Partido novo, o chamado PFL. Aqueles que queriam a transição, que eram do PDS e que não se submeteram a um candidato que não tinha compromisso com a eleição direta resolveram sair do PDS e fundar o PFL, que, junto com o MDB, formou, compôs a Aliança Democrática, que fez a coisa mais importante da história política recente do Brasil: a transição sem trauma. Aquele foi o grande gesto: a eleição de Tancredo, que veio a falecer em seguida e foi sucedido por Sarney, que cumpriu à risca os compromissos da Aliança Democrática, escrita, assinada pelos nossos companheiros e pelos peemedebistas, ou emedebistas da época.

            Pois bem, a transição democrática foi seguida à risca. Num primeiro momento, com algumas dificuldades e, em seguida, ao longo dos anos, como até hoje, a sintonia fina, para que o regime democrático no Brasil fosse a realidade que é hoje.

            Eu tive, portanto, uma relação muito próxima e marcante com Tancredo. Hoje, o Governador Aécio lembrava o que ele dizia: “Não tivesse sido o gesto de José Agripino, não sei se nós teríamos conseguido escrever a história dessa forma”. Porque me permita a imodéstia: depois do meu ato, da minha atitude de anunciar, em primeiro lugar, como Governador, vieram todos os outros Governadores do Nordeste que garantiram a vitória a Tancredo. E garantiram a ele que, candidato, ele ganharia. E ele se encorajou a renunciar ao Governo de Minas para ser candidato, porque ele renunciou ao Governo de Minas para se submeter ao Colégio Eleitoral. E nós, Governadores do Nordeste, com os nossos seis votos, pelo menos, na Assembleia Legislativa, dávamos a ele a certeza de que, no Colégio Eleitoral, ele ganharia a eleição, de que ele seria eleito pela via indireta e marcaria a eleição direta para Presidente da República.

            Faleceu, e ficaram a sua história e a sua memória. A história de um homem, de um político conciliador, de um administrador competente, de um homem capaz de conviver com contrários e, acima de tudo, um homem probo, um homem de mãos limpas, um homem sério, um homem com visão nacional, um homem que honra a classe política do Brasil até hoje, que, por essa razão, mereceu as homenagens de todos os Partidos. Toda a classe política do Brasil, toda ela veio aqui neste plenário prestar homenagem à memória de um homem que - repito - marcou muito minha vida pública, porque, para mim, significou, num dado momento, a exemplo do que ele fez a vida inteira, a minha capacidade de, vencendo ranços da política local, apoiar o candidato do meu adversário tradicional em nome de uma causa maior, qual fosse a transição para a democracia plena, com eleição direta para Presidente.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Lembro-me demais do dia em que ele foi lá para receber o meu apoio. Eu pedi a ele para que o meu apoio fosse anunciado aos meus companheiros e ao meu povo sem a presença do MDB. Talvez um erro de minha parte, mas para mostrar a ele que eu era capaz de apoiar o candidato dos meus adversários em nome de uma causa maior, que era a causa do Brasil, a transição democrática e a eleição direta para Presidente.

            Tudo isso me marcou muito.

            E eu não poderia deixar passar o dia de hoje sem o registro devido da importância para minha vida pública da existência de um homem com as qualidades de Tancredo Neves, que morreu, meu amigo, e a quem eu peço que Deus o tenha, iluminando os caminhos do nosso País.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Senador José Agripino, antes de V. Exª descer da tribuna...

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Com prazer Senador Magno Malta.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Quando desse advento da atitude de V. Exª , eu era S. Exª ninguém.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Eu entrei na vida pública, em 1992, assisti a isso tudo de longe, e me lembro exatamente que estava dentro de um açougue, vendo na televisão chegar os dissidentes do PDS, em uma chapa chamada Participação, que iam fazer aqueles que se rebelaram para apoiar Tancredo, com V. Exª encabeçando, e me lembro bem, porque um Deputado Federal do meu Estado chamado Theodorico Ferraço, que era do PDS, que se juntou a esse grupo, comandado por V. Exª em um primeiro momento, que decidira apoiar Tancredo. Lembro-me bem que ele veio a Brasília trazendo um filho, que era do PDS, que tinha 18 anos, que era Vereador em Cachoeiro de Itapemirim, chamado Ricardo Ferraço, que hoje é o vice-Governador.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) -.... e candidato a Governador. E me lembro muito bem da imprensa cobrindo esses dissidentes chegando para essa reunião, não sei onde aconteceu, mas foi aqui em Brasília, eu estava assistindo e eu me lembro dessa movimentação que começou a partir do gesto de V. Exª. E a partir daí esse grupo começou a participar dos comícios das “Diretas Já”. Por isso, para mim, é um feliz momento ver V. Exª fazer esse relato, sentado aqui, diante de V. Exª, quando V. Exª já era Governador e eu era só um “imortal”, porque eu não tinha onde cair morto. Eu era “S. Exª ninguém”, assistindo a uma televisão dentro de um açougue. Eu me lembro bem, por causa da figura do Ferraço, que hoje é Deputado Estadual, na Assembleia Legislativa, com o ex-Ministro e expoente do Partido de V. Exª, Élcio Alvares, que é o Presidente da Assembleia Legislativa, que foi líder de Fernando Henrique nesta Casa e que o filho.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Hoje, aquele Vereador de 18 anos é candidato a Governador. Eu não sei com quantos anos estava o nosso Felipe naquela época, mas o filho do Ferraço tinha 18, esse que vai ser Senador, e o nosso Felipe, que vai ser reeleito agora, não sei com que idade está, o meu amigo pessoal...

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Trinta e cinco.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Um menino, um jovem, que certamente seguirá o seu caminho e que vai ser Governador em determinado momento, porque a fila anda. Gostem ou não gostem, a fila anda. Nego tem que entender isto: a fila anda. Não tem jeito, não é? Então, eu não sei que idade ele tinha naqueles dias, mas eu me lembro daquele episódio exatamente por causa disso. V. Exª está de parabéns pelo pronunciamento que fez e por trazer à luz um outro momento muito pessoal de V. Exª. De tudo que foi lembrado aqui, V. Exª traz mais um ponto. Se outros vierem a esta tribuna para falar da história de Tancredo, certamente, coisas novas virão. Mas o seu discurso fica.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Ele tem uma outra finalidade, exatamente pela importância do momento e pela importância de V. Exª no momento. Obrigado pelo aparte.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Obrigado, Senador Magno Malta. Honra-me muito o seu aparte. Talvez a gente esteja aqui recuperando na memória fatos do pretérito.

            V. Exª é mais moço do que eu, lembra-se talvez do... Eu me lembro bem que quando eu anunciei o apoio fui alvo de represálias fortes. Lembro-me bem que o então Presidente Figueiredo foi ao meu Estado - eu Governador - circulou pela cidade inteira e não me avisou que iria ao meu Estado, como que uma pessoa entrasse na casa de alguma outra pessoa, sem avisar, fosse à cozinha, tomasse um café e fosse embora, na tentativa, evidentemente, de talvez me diminuir. Eu aguentei aquilo tudo porque em jogo estava uma atitude que eu já havia tomado de forma refletida, sabendo que iriam cortar verbas do meu Estado, mas que valia a pena tudo aquilo porque.

(Interrupção do som.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - ... estava-se construindo o futuro da democracia brasileira e alguém tinha que pagar um preço. E esse alguém não fui eu só: foi Hugo Napoleão, do Piauí; Totó, do Ceará; foi Roberto Magalhães, de Pernambuco; foi Divaldo Suruagy, de Alagoas; foi João Alves, de Sergipe, e foi Antonio Carlos Magalhães, da Bahia. Foram esses que compuseram, com a maioria que tinham no Colégio Eleitoral pelos membros das assembleias legislativas que seguiam a sua orientação, que deram a Tancredo a segurança de que, candidato, ele seria eleito. E aí ele renunciou ao governo de Minas, foi ao Colégio Eleitoral, ganhou a eleição e tomou a condição de, eleito Presidente, fazer a transição que o Brasil agradece.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - V. Exª traz esse fato. Só para encerrar, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Só é um aparte.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Mas é em homenagem a Tancredo. Eu não posso fazer o aparte?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - O aparte ele já deu. V. Exª está inscrito.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Porque eu sou aprendiz de V. Exª. Mas, se V. Exª não quiser, eu não faço.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - V. Exª está inscrito.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Eu sei, mas eu estou aparteando um discurso importante que trata da história do Brasil. Posso fazer? Sou aprendiz de V. Exª. Posso?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Faça, é bom para os outros oradores terem sensibilidade.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Porque tempo longo só é bom quando a gente está na tribuna. Quando a gente está sentado embaixo, ninguém quer, não é? Então, este momento é muito importante para mim, porque eu não estava na vida pública, mas lembro-me muito bem de uma entrevista de Antonio Carlos Magalhães, que não está aqui, de saudosa memória, e que foi chamado de traidor. E ele respondeu - vi no Jornal Nacional: “Traidor é quem apoia um corrupto para Presidente da República”. Lembro-me dessa frase, recuperei a frase. Eu era menino mesmo e tinha boa memória. Guardei a frase quando ACM foi chamado de traidor porque integrava esse grupo de que V. Exª está falando. Assisti um pouco aqui à sessão e ouvi todos os discursos do meu gabinete, mas a recuperação desse momento importante que fez o peso da balança para a vitória de Tancredo e da segurança da renúncia, que V. Exª encabeçou, certamente, foi um dos momentos mais ricos desse dia de discurso em homenagem a Tancredo Neves.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Obrigado a V. Exª. Obrigado ao Presidente pela tolerância.

            Encerro as minhas palavras, cumprimentando o povo mineiro pelo grande estadista que teve chamado Tancredo Neves.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2010 - Página 5542