Discurso durante a 24ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, cujo tema será Economia e Vida.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO. POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, cujo tema será Economia e Vida.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2010 - Página 6060
Assunto
Outros > RELIGIÃO. POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, PARCERIA, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), CONSELHO, IGREJA, CRISTÃO, DEBATE, ETICA, ATIVIDADE ECONOMICA, VALORIZAÇÃO, TRABALHO, BEM ESTAR SOCIAL, LEITURA, TRECHO, DOCUMENTO.
  • GRAVIDADE, DIVULGAÇÃO, NOTICIARIO, CORRUPÇÃO, CLASSE POLITICA, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS, TRAIÇÃO, INTERESSE PUBLICO, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, MODELO ECONOMICO, FAVORECIMENTO, MAIORIA, DIRETRIZ, SOLIDARIEDADE, JUSTIÇA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ACIR GURGACZ (PDT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. 1º Vice-Presidente da Mesa do Senado Federal e subscritor da presente sessão, Exmº Senador Marconi Perillo, Exmº Sr. Senador Marco Maciel; Sr. Bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e Diocesano da Diocese Anglicana de Brasília, Exmº Revmº Dom Maurício José Araújo de Andrade; Procuradora de Justiça do Ministério Público da União e do Distrito Federal, Exmª Srª Maria de Lourdes Abreu; Presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, Revmº Sr. Pastor Sinodal Carlos Augusto Möller; Membro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Revmº Sr. Padre Nelito Dornelas; Secretário Executivo do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Revmº Sr. Luiz Alberto Barbosa; Coordenadora de Ação Ecumênica de Mulheres, Srª Mariane Kirst; Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores, aproveito a oportunidade, neste Dia Internacional da Mulher, para parabenizar todas as mulheres do Estado de Rondônia e do Brasil, bem como todas as mulheres aqui presentes.

            Nesta sessão sobre o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2010, é preciso delimitar muito bem a relação do ser humano com o dinheiro.

            Há uma diferença entre ser servo do dinheiro e ter o dinheiro como recompensa indireta de um trabalho bem realizado. Aquele que é servo do dinheiro faz de tudo para obtê-lo. Ele obedece às ordens que o dinheiro dá para que ele esteja sempre perto dele. O servo do dinheiro fica cego e não enxerga nada ao seu redor, enxerga apenas o dinheiro. Para ele, tudo passa a ser moeda. Nada mais faz sentido sem que o lucro seja a sua finalidade. Aquele que vê o dinheiro como recompensa de um trabalho eficiente, de um trabalho bem feito, sabe que o progresso é o seu real pagamento. Ele não explora, divide. Ele não simplesmente acumula, ele investe e reinveste. Ele vê o desenvolvimento ao seu redor, fruto do seu trabalho, de sua organização e fica feliz porque esse progresso atinge outras pessoas, sejam elas coordenadas por ele ou não.

            Aquele que não é um servo do dinheiro vê a moeda como uma ferramenta para atingir um objetivo. O servo do dinheiro vê a moeda como finalidade, uma em cima da outra, objetivo que justifica qualquer meio para atingi-lo.

            A Campanha da Fraternidade deste ano, pela terceira vez uma campanha ecumênica, reunindo as igrejas cristãs, trata exatamente da diferença entre esses dois tipos humanos que delineei agora: aquele que é o servo da moeda e aquele que não o é. O seu tema é “Economia e vida”, com o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. Esta frase, atribuída a Jesus Cristo pelo Apóstolo Mateus, mostra bem a sabedoria infinita do Filho de Deus, uma sabedoria realmente divina.

            Se formos analisar profundamente, todos os problemas da humanidade, desde que o homem é homem, têm sua raiz no acúmulo de bens, na ansiedade e na ambição por posses. Ainda não encontramos um meio termo, um equilíbrio de conviver com a riqueza. A Campanha da Fraternidade quer, exatamente, colocar isso em discussão.

            Esse tema, principalmente aqui no Brasil, está intimamente ligado à política. Muito se vê em nosso País, em noticiários recentes, casos claros de homens e mulheres investidos em cargos públicos que se mancham em nome do dinheiro. Tomo esse exemplo porque considero que seja a mais alta traição para com o povo, o eleitor, aquela pessoa que compra e furta o voto das pessoas nas eleições para depois servir não mais ao povo, mas ao dinheiro. Assim, coloca como foco de sua atuação pública o enriquecimento próprio, a criação de esquemas e a modificação de leis em benefício próprio. Assim, o homem ou a mulher, que deveria ser público, torna-se um legítimo adorador da moeda, do dinheiro.

            Um comportamento assim, tão comum nos dias atuais, bate de frente com princípios que foram explanados de forma tão clara no lançamento da Campanha da Fraternidade deste ano. Um deles diz que “bem comum é o conjunto de condições sociais que permitem e favorecem às pessoas o desenvolvimento integral da personalidade”. Outro, uma citação do Papa Pio XII, afirma que “a riqueza de uma nação não se mede por critérios quantitativos, mas pelo bem-estar do seu povo”. Ou seja, situações que exigem uma consciência coletiva muito bem definida e representantes do povo totalmente em harmonia com os seus direitos e deveres.

            Tudo isso em benefício da coletividade, porque é sobre isso que fala a Campanha da Fraternidade deste ano, sobre a necessidade de a sociedade global encontrar um novo modelo econômico no qual o bem da maioria se sobrepusesse ao bem daqueles que atendem somente ao dinheiro, como se este fosse o seu senhor.

            Essa intenção aparece, mais uma vez, no pronunciamento do lançamento da campanha com a seguinte expressão:

“Este trabalho demonstra concretamente o esforço que desenvolveram para a união de todos os que creem em Jesus Cristo, no sentido de realizar o projeto do Reino de Deus na vida das pessoas, visando um mundo mais justo e fraterno”.

            Este mundo mais justo e fraterno necessita, sim, desse novo modelo econômico. E não estamos falando aqui de um modelo que desprestigie a iniciativa e o empreendedorismo. Isso não! Isso já foi tentado em experiências historicamente fracassadas, e aprendemos a lição. Esse novo modelo requer uma harmonia que, provavelmente, estará calcada em alguns itens, como: o direito igualitário à educação e à saúde em todos os níveis, a segurança; a conscientização das vantagens da coletividade e das desvantagens da individualidade; a certeza de que o povo não precisa apenas das condições mínimas de sobrevivência - todos merecemos muito mais.

            Esse novo modelo econômico precisa ter valores como os que conseguimos assimilar com a leitura de duas passagens de Mateus, muito bem selecionadas para serem vistas associadas à Campanha da Fraternidade de 2010. A primeira delas em Mateus, capítulo 6, versículo 19: “Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde as traças e os vermes arruínam tudo, onde os ladrões arrombam as paredes para roubar, mas acumulai para vós tesouros no céu”.

            A segunda, no capítulo 6, versículo 24: “Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.

            Podemos apenas servir uns aos outros para, juntos, servirmos a Deus. E, quando servimos a Deus, estamos servindo a ninguém mais do que à coletividade propriamente dita, em escala mundial, porque é basicamente essa a lição que absorvemos das palavras de Cristo, das palavras de Deus.

            Esse modelo econômico, volto a frisar, precisa ter como finalidade não a divisão do que já existe, mas, sim, a multiplicação e a distribuição. Como afirmei desde o início, a riqueza pode ter as duas faces: o prêmio ao trabalho bem realizado ou a prisão daquele que adora o dinheiro. E, no primeiro caso, ela se distribui sozinha, pois quem reconhece o trabalho bem realizado e a necessidade de sua valorização por si só já impede o acúmulo tão prejudicial.

            Para atingir o objetivo desse novo modelo econômico e até mesmo social, é preciso ter em mente também a harmonia entre o bem comum e o bem particular.

            Cito mais uma vez um trecho do discurso do lançamento da Campanha da Fraternidade:

Para se estender a conciliação entre o Bem Comum e o Bem Particular, é indispensável o exercício de duas Virtudes: a Caridade e a Justiça, que são o liame interior da vida social. A primeira, ‘A CARIDADE’, ensina a vencer o egoísmo e incute a consciência de sociedade que une todas as pessoas; a segunda, ‘A JUSTIÇA’, estabelece o reconhecimento e o respeito aos direitos do ‘outro’, seja este o insocial intermediário, ou a própria sociedade.

            Caridade e Justiça seriam, então, o segredo para chegarmos a esse novo modelo econômico? Provavelmente, sim. Mas não a caridade que nos remete a dar esmolas. Não é isso. A citação que fiz é clara: a Caridade que ensina a vencer o egoísmo! E a Justiça que define o que é de direito de cada um de nós.

            Tenho certeza de que estão, nessas duas palavras, as chaves para que sejam respondidas as perguntas que são levantadas pela Campanha da Fraternidade deste ano. São elas: como a fé cristã pode inspirar uma economia que seja dirigida para a satisfação das necessidades humanas e para a construção do bem comum? Em que medida existe responsabilidade das pessoas em relação à economia e como isso afeta a vida das pessoas e do meio ambiente? Que aspectos de conversão pessoal e de mudança estrutural poderiam ser considerados, para que, de fato, a economia esteja a serviço da vida, promovendo o bem comum? E, talvez, a principal pergunta seja: como fazer para que essas preocupações não sejam transitórias, mas se tornem, de fato, balizamento moral permanente?

            Isso porque essa preocupação não deve ser apenas tema de discussão ao longo de um ano. Não deve ser esquecida. Deve ser um questionamento constante e em busca de soluções que atrevessem gerações. Afinal de contas, sabemos que todo modelo pode ter seu melhor ponto de partida, seu melhor início, mas pode ser desvirtuado com o tempo. Cabe a nós, homens e mulheres de consciência da coletividade, estarmos atentos aos vícios que surgirem no meio do percurso e estarmos prontos para conduzir a sociedade para o caminho correto, o caminho que já nos foi ensinado.

            Quero cumprimentar e parabenizar nosso Senador, o 1º Vice-Presidente Senador Marconi Perillo, pela proposição desta sessão que homenageia a iniciativa das Igrejas cristãs com a realização da Campanha da Fraternidade.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2010 - Página 6060