Discurso durante a 26ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso, ontem, do Dia Internacional da Mulher. Comentários sobre a matéria "Igualdade ou Semelhança", que analisa a relação entre homens e mulheres, publicada na revista de bordo da empresa de aviação American Airlines. Leitura da poesia "Mulheres", de Pablo Neruda, e da Oração de São Francisco de Assis.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. FEMINISMO.:
  • Homenagem pelo transcurso, ontem, do Dia Internacional da Mulher. Comentários sobre a matéria "Igualdade ou Semelhança", que analisa a relação entre homens e mulheres, publicada na revista de bordo da empresa de aviação American Airlines. Leitura da poesia "Mulheres", de Pablo Neruda, e da Oração de São Francisco de Assis.
Publicação
Publicação no DSF de 10/03/2010 - Página 6315
Assunto
Outros > HOMENAGEM. FEMINISMO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ELOGIO, COLABORAÇÃO, MELHORIA, SOCIEDADE, LUTA, IGUALDADE, OPORTUNIDADE, GARANTIA, DIREITOS SOCIAIS, COMENTARIO, HISTORIA, DATA.
  • LEITURA, TEXTO, PERIODICO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, EXTERIOR, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, RECONHECIMENTO, DIFERENÇA, SEXO.
  • LEITURA, TEXTO, AUTORIA, FILHA, ORADOR, RECONHECIMENTO, EVOLUÇÃO, SITUAÇÃO, MULHER, SIMULTANEIDADE, ACUMULAÇÃO, RESPONSABILIDADE, COMENTARIO, OPINIÃO, ESCRITOR, NECESSIDADE, RESPEITO, CONCLAMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, POLITICA, FEMINISMO.
  • LEITURA, OBRA ARTISTICA, ESCRITOR, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE, PRECE, HOMENAGEM, MULHER.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Sadi Cassol, que, brilhantemente, preside esta sessão nesta tarde do dia 09 de março, um dia após o Dia Internacional da Mulher e que, hoje, o Congresso Nacional, Câmara e Senados - juntos - homenagearam durante várias horas.

            E o meu tema não podia ser outro, já que não falei na sessão específica nem pude fazê-lo ontem, o de homenagear as mulheres. Quero começar homenageando todas as mulheres brasileiras nas pessoas de minhas avós. Uma, a materna, que eu conheci; a outra, não a conheci, mas que me deram meus pais: meu pai e minha mãe. Minha mãe que, no mês que vem, fará 86 anos de idade, é uma batalhadora, que me deu, digamos assim, os ensinamentos básicos para poder ser, em querendo, uma boa pessoa. Quero homenagear as minhas professoras, que junto com a mãe - principalmente a professorinha, do chamado curso primário de meu tempo ou Ensino Fundamental de hoje - moldam os primeiros momentos do caráter de uma pessoa. Minha esposa, que há 41 anos vive comigo, mas que tenho de adicionar mais oito anos de namoro; portanto, são 49 anos juntos. Uma mulher que se assemelha a minha mãe em quase tudo, menos na aparência física, mas que tem uma excepcional tolerância comigo.

            Quando exerci a Medicina, como obstetra, como parteiro, fazendo partos madrugada adentro, e como cirurgião geral, ela segurou a barra do lar. Ela é a maior responsável pela educação do filho e das duas filhas que tivemos.

            Homenageio as minhas duas filhas, uma juíza aqui no Distrito Federal e a outra administradora; as minhas netas; as minhas parentas, minhas e da minha esposa; as amigas; as colegas - recentemente completamos quarenta anos de formados em Medicina e revi as colegas da época de estudante, tive o prazer de encontrar algumas que há quarenta anos não via. Portanto, quero homenagear todas as mulheres, as que me cercam e todas as outras deste Brasil do Caburaí ao Chuí e do leste ao oeste.

            Não vou repisar a história do 8 de março. Em 8 de março de 1917, operárias de uma fábrica de tecidos situada na cidade norte-americana de Nova York fizeram uma grande greve, ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como: redução da carga diária de trabalho para dez horas - as fábricas exigiam dezesseis horas de trabalho diário -, equiparação de salário com os homens - as mulheres chegavam a receber até um terço do salário do homem para executar o mesmo tipo de trabalho -; e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

            Quero pedir, Sr. Presidente, que esse documento seja transcrito como parte integrante do meu pronunciamento, porque é evidente que o histórico desse dia é fundamental.

            Mas eu quero também, Sr. Presidente, eu peguei uma leitura de bordo, da empresa americana American Airlines, escrita em espanhol mas traduzida para o Português, de uma maneira não tão portuguesa como a gente tem, mas de que gostei muito. O titulo é: “Igualdade ou semelhança?”, escrito por uma mulher.

Em 8 de março celebramos o Dia Internacional da Mulher, reconhecido pelas Nações Unidas. Nele se comemora a luta da mulher por sua participação na sociedade e seu desenvolvimento integral como pessoa.E, muitos afirmam, esta também é a ocasião de promover a mensagem de sua igualdade com o homem.

Eu considero que nós, mulheres, somos diferentes dos homens. Não somos iguais [eu diria que são melhores]. Somos semelhantes. E mais, estou convencida de que essa ideia de igualdade, além de ser errônea, é destrutiva, tanto para a mulher como para o homem e consequentemente para a família e a sociedade, pois gera um sentimento de competição entre os gêneros.

Minha opinião se baseia, em parte, na definição das palavras e na minha interpretação da função de ambos os seres. Segundo o Dicionário da Real Academia Espanhola, igualdade se define como “a conformidade de uma coisa com outra, em natureza, forma, qualidade ou quantidade”. Como por natureza somos tão distintos, a igualdade entre homens e mulheres é uma impossibilidade.

Semelhança é o termo comparativo que permite espaço para a expressão das diferenças naturais e, ao mesmo tempo, outorga igual valor e dignidade a ambos os seres. [O que a mulher quer é igualdade de dignidade]. Assim sendo, celebremos as diferenças!

Convido-lhes, cordialmente, a pensarem sobre este tema por ocasião dessa data e no futuro também. Temos investido muitos recursos nessa luta e é justo celebrar as diferenças sem atribuir-lhes superioridade umas sobre as outras.

            Aí está o “x” do problema: não pode haver superioridade entre homem e mulher. Eu entendo - e aí vai o meu viés como obstetra e ginecologista - que o organismo da mulher é várias vezes mais perfeito do que o do homem, em todos os aspectos. A mulher engravida, a mulher tem o seu parto, a mulher amamenta. O homem nada disso faz. Nós somos uma espécie de jipe, um trator, se comparados com o organismo da mulher, que é, vamos dizer, um carro de última geração, altamente sofisticado.

            Eu quero também ler aqui, Sr. Presidente, uma mensagem que a minha filha escreveu para este dia. Ela diz:

Nós, mulheres, lutamos, por muitos anos, pela igualdade entre os nossos direitos e os dos homens. E alcançamos nossos ideais: direito de votar [ aliás, concedido pelo nosso ilustre fundador do PTB, Getúlio Vargas] e ser votada, igualdade salarial [pelo menos no serviço público], possibilidade de ingresso a cargos públicos e políticos importantes, dentre outras vitórias.

Esquecemo-nos, todavia, do fato de que os homens não lutariam por essa igualdade, pois não lhes interessavam os direitos (ou deveres?) que somente a nós cabia. Destarte, vimo-nos frente a um acúmulo de responsabilidades: além da igualdade conquistada e outrora mencionada, mantivemos o dever de cuidar da casa, dos filhos, das empregadas, do supermercado e das malditas unhas, cabelos, pele, corpo, etc, pois a ditadura da beleza é cruel com as mulheres e não aceita escusas como a maternidade ou a lei da gravidade. Resta-nos, como prêmio, o amor em nossos corações e o reconhecimento de nosso esforço representado pelo Dia Internacional da Mulher.

            Também há um grande artigo aqui, escrito pela famosa escritora Danuza Leão, que, em outras palavras, diz isto: o que a mulher de fato quer é ser respeitada, ter a sua dignidade muito realmente levada em conta e não reclamar só não.

            A gente não consegue. A lei diz que 30%, pelo menos, dos cargos eletivos têm que ser preenchidos por mulheres. Senador Paim, consegue-se isso com facilidade? Não consigo, por exemplo, no meu Estado. A gente vai atrás, briga, motiva, mas as mulheres não querem. Talvez elas tenham razão, mas o certo é que não se consegue. Pode ser que em um ou outro Estado, em um ou outro Município se consiga.

            Por isso eu quero aqui fazer este convite, este chamamento às mulheres neste dia: venham para a política. Venham para a política participar efetivamente como vereadoras, deputadas estaduais, federais, senadoras, porque realmente nós precisamos de ter a participação feminina.

            Eu quero concluir, Sr. Presidente, lendo primeiro uma poesia de Pablo Neruda, intitulada “Mulheres”:

Elas sorriem quando querem gritar.

Elas cantam quando querem chorar.

Elas choram quando estão felizes.

E riem quando estão nervosas.

Elas brigam por aquilo que acreditam.

Elas levantam-se para a injustiça.

Elas não levam "não" como resposta

quando acreditam que existe melhor solução.

Elas andam sem novos sapatos

para suas crianças poder tê-los.

Elas vão ao médico com uma amiga assustada.

Elas amam incondicionalmente.

Elas choram quando suas crianças adoecem

e se alegram quando suas crianças ganham prêmios.

Elas ficam contentes quando ouvem

sobre um aniversário ou um novo casamento.

         E quero realmente finalizar, se V. Exª me conceder mais um tempinho, com uma famosa oração que, para minha surpresa, fiquei sabendo há pouco, foi escrita pela mãe de quem levou a fama da oração. Essa oração foi escrita pela mãe de quem é tido como o título:

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor.

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.

Onde houver discórdia, que eu leve a união.

Onde houver dúvida, que eu leve a fé.

Onde houver erro, que eu leve a verdade.

Onde houver desespero, que eu leve a esperança.

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais

Consolar que ser consolado

Compreender que ser compreendido

Amar que ser amado

Pois é dando que se recebe

É perdoando que se é perdoado

E é morrendo que se vive para vida eterna.”

            Essa oração acho que todo mundo conhece, é a Oração de São Francisco. Mas o que pouca gente sabe é que foi escrita pela mãe dele.

            Portanto, eu queria encerrar aqui este pronunciamento, homenageando mais uma vez as mulheres de todo o Brasil, especialmente as do meu Estado: Índias, não índias, negras, brancas de olhos azuis, gaúchas que vieram lá do Rio Grande do Sul, paranaenses que vieram do seu Estado. Enfim, todas as roraimenses que estão lá ajudando a construir aquele Estado mais setentrional do Brasil, que é o meu Estado de Roraima, onde está situado o ponto extremo norte deste País, que é o Monte Caburaí.

            Muito obrigado.

            Quero pedir a V. Exª que considere lidos os trechos que foram aqui mencionados.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“História do Dia Internacional da Mulher - Suapesquisa.com”

“Igualdade ou semelhança”

“Carta manuscrita”

“Mulheres fortes - Danuza leão”

“Mulheres - Portal da Família”

“Oração de São Francisco - WWW.Melgama.com”


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/03/2010 - Página 6315