Discurso durante a 26ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso do Dia Internacional da Mulher e comentário sobre a indicação de duas mulheres como candidatas à Presidência da República

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso do Dia Internacional da Mulher e comentário sobre a indicação de duas mulheres como candidatas à Presidência da República
Publicação
Publicação no DSF de 10/03/2010 - Página 6365
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER, COMENTARIO, LUTA, GARANTIA, DIREITOS SOCIAIS, IGUALDADE, OPORTUNIDADE, RECONHECIMENTO, EVOLUÇÃO, SITUAÇÃO, DEFESA, COMBATE, VIOLENCIA, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL.
  • IMPORTANCIA, INICIATIVA, SENADO, PREMIO, MULHER, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, SOCIEDADE.
  • RELEVANCIA, MULHER, POLITICA, DISPUTA, ELEIÇÕES, CARGO PUBLICO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

            Prezado Sr. Presidente, Senador Mão Santa, hoje, a Senadora Fátima Cleide, que é educadora, foi designada pelo nosso Líder, Senador Aloizio Mercadante, e por mim próprio, uma vez que o Senador Aloizio Mercadante está se recuperando de uma cirurgia realizada na semana passada - S. Exª repousa nesta semana em São Paulo -, para falar em nosso nome na sessão de homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Estive presente ali e pude assistir aos belos pronunciamentos feitos por quase todas as Deputadas Federais e Senadoras do Congresso Nacional. Aqui, eu gostaria também de falar em homenagem às mulheres.

            Se existe uma imagem simbólica para o século XX, uma ideia que atravessa os anos, os melhores e os piores, e não só permanece na mente de toda a humanidade, mas também cresce a cada dia, é a presença ativa da mulher em todos os setores da vida, dos mais subjetivos até os friamente objetivos.

            Todos os que nasceram nos anos 40 no Brasil, como eu, nascido em 1941, puderam ver como a entrada da mulher no que antes chamavam enganosamente de “mundo dos homens” se deu de maneira rápida e definitiva. Essa mulher que abriu porteiras e ocupou todos os espaços sem pedir licença, a não ser com sua própria condição de humana e, portanto, cheia de direitos, reuniu em si a história de outras que vieram antes dela e que, com ou sem limites, muitas vezes legais, passaram às suas filhas e netas que o mundo era delas, sim. Ou melhor, o mundo também era delas, porque faz parte do que Gilberto Gil chamou de “porção mulher” a generosidade, a tendência natural para somar e dividir.

            As mulheres brasileiras são famosas pelo trabalho, pela dedicação, pela sua imensa capacidade de lutar e pela sua beleza, engendrada na multiplicidade de origens. Com a vinda dos imigrantes, simplesmente trabalhava-se, fosse homem ou mulher. A industrialização formou as grandes cidades e a classe operária, em que as mulheres sempre foram numerosas. Desse tempo, muitas ainda estão vivas para contar o que era tocar um tear de uma empresa têxtil, quando se estava grávida, por quatorze horas diárias, incluindo os sábados, e sem direito à licença-maternidade. Aliás, chegar ao nascimento do filho com emprego era coisa até rara, pois era permitida a demissão durante a gravidez. De tanta injustiça, criou-se uma luta vitoriosa, e as mulheres passaram a atuar nos sindicatos, nas escolas e nos partidos políticos.

            Hoje, com tantas colegas mulheres, boas políticas em todos os níveis, parece cena de filme de ficção a luta pelo voto feminino. O voto das mulheres veio com o crescimento urbano, com a maior escolaridade e com muita luta. Desse período, temos o exemplo da inesquecível Bertha Lutz, por muitos hoje relembrada na sessão desta manhã. Pois é, isso é coisa do século XX, quando as mulheres passaram a usar e a lutar por cidadania, algo que os homens, por séculos, achavam que passava longe do universo feminino. Nos anos 50, eram raras as mulheres matriculadas nas universidades. Já nos anos 60, elas estavam na corrida dos vestibulares, sem olhar para trás. Hoje, as mulheres universitárias são maioria no País, assim como as eleitoras. E pensar que, muito pouco tempo atrás, colocava-se a questão da mulher como luta de minorias!

            Mas, apesar de tanto avanço, ainda há uma questão séria em relação às mulheres que temos todos a obrigação de combater: a violência física e psicológica dentro e fora de casa. Segundo dados de organizações feministas, uma em cada três mulheres já sofreu algum tipo de agressão violenta. Algumas perderam a vida simplesmente por serem mulheres. Outras têm de ser escondidas em serviços legais de proteção, para que não sofram mais. Esse é um combate que teremos de travar junto com elas. Há uma coisa que elas nunca esquecem: somos todos seres humanos. E elas sabem que podem contar comigo.

            Gostaria, Sr. Presidente, de assinalar a importância do Prêmio Bertha Lutz, hoje concedido a inúmeras mulheres que têm sido exemplos notáveis em nosso País.

            Até 2009, a premiação já contemplou 45 agraciadas, sendo duas homenageadas especiais e três in memoriam. Este ano, em sua 9ª edição, o Conselho do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz obteve 32 indicações, das quais foram selecionadas cinco mulheres. Uma delas é Leci Brandão da Silva, cantora, compositora e membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Leci Brandão, hoje, brindou-nos com um extraordinário discurso e também com uma canção, com uma de suas composições mais bonitas de homenagem à mulher, e aqui expressou seu sentimento como uma mulher que compreende a trajetória e o sofrimento daquelas que, ao tempo da escravidão, muitas vezes, foram objeto de estupro, ao afirmar que nenhuma mulher negra, ao tempo da escravidão ou hoje, pode se sentir, de qualquer maneira, violentada por uma ação de estupro.

            Também foi agraciada Maria Augusta Tibiriçá Miranda, médica e Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon); Cleuza Pereira do Nascimento, ex-Prefeita de Salgueiro (PE); Andréa Maciel Pachá, Conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ); e a Engenheira Clara Perelberg Steinberg.

            Também foram homenageadas Maria Lygia de Borges Garcia, escritora e criadora do centro de reabilitação da Fundação Dom Aquino Correa, e, in memorian, Fani Lerner, falecida aos 63 anos. Inclusive, hoje, contamos com a presença do ex-Governador Jaime Lerner. Nascida em Curitiba, Paraná, ela era filha de imigrantes judeus-poloneses que vieram para o Brasil a fim de escapar do nazismo. Foi a primeira latino-americana a vencer, em 2003, o Prêmio Kellogg’s para o Desenvolvimento da Criança, a mais importante premiação do mundo na área de ação social voltada à criança.

            É importante que, hoje, exista esse prêmio Bertha Lutz, que reconhece o valor de extraordinárias mulheres.

            Também a Srª Zilda Arns foi hoje relembrada como exemplo de mulher extraordinária. Ela, que constitui grande exemplo para todos nós, já foi homenageada aqui.

            Leonardo Boff relembra em seus livros o voo da galinha, e nós, homens, precisamos perceber que é sempre muito importante que, nas diversas instituições, seja no âmbito das empresas, das organizações as mais diversas, das prefeituras, dos governos estaduais e da Presidência da República, alternemos no comando do poder ora o homem, ora a mulher, pois as mulheres têm qualidades diferentes das nossas. Elas têm uma sensibilidade especial para certos aspectos da vida humana que nem sempre nós, homens, percebemos.

            Então, para o avanço da civilização, será importante que, no Brasil, haja uma presidente mulher. Felizmente, neste ano, duas pessoas de excepcional qualidade e talento disputarão as eleições. É claro que respeitamos os candidatos homens, mas a Ministra Dilma Rousseff e a Senadora Marina Silva são duas mulheres de excepcionais qualidades humanas, por sua determinação, por sua capacidade e por seu conhecimento, inclusive por seu conhecimento da realidade brasileira. Então, nós, homens, poderemos ficar muito tranquilos, pois, se a população brasileira escolher, em outubro próximo, uma mulher para a Presidência da República, estaremos muito bem.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/03/2010 - Página 6365