Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem póstuma à José Ephim Mindlim, advogado, ex-empresário da Metal Leve S/A e redator do Jornal O Estado de S.Paulo. Comentário sobre o acervo bibliográfico deixado pelo empresário à Universidade de São Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.:
  • Homenagem póstuma à José Ephim Mindlim, advogado, ex-empresário da Metal Leve S/A e redator do Jornal O Estado de S.Paulo. Comentário sobre o acervo bibliográfico deixado pelo empresário à Universidade de São Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2010 - Página 5550
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ADVOGADO, EMPRESARIO, JORNALISTA, ESCRITOR, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), COLECIONADOR, LIVRO, OBRA RARA, INCENTIVO, EXPANSÃO, LEITURA, RECEBIMENTO, PREMIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO), MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC), DOAÇÃO, OBRA LITERARIA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), SUPERIORIDADE, ACERVO BIBLIOGRAFICO, POSSIBILIDADE, CONSULTA, INTERNET, REGISTRO, ATENDIMENTO, ORADOR, PEDIDO, PROFESSOR, APRESENTAÇÃO, EMENDA, ORÇAMENTO, DESTINAÇÃO, RECURSOS, CONSTRUÇÃO, BIBLIOTECA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, PRONUNCIAMENTO, DIRETOR, BIBLIOTECA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), REGISTRO, HISTORIA, PROJETO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente Mão Santa, quero agradecer esta oportunidade. É fato que os Senadores Marco Maciel e Arthur Virgílio já manifestaram seu pesar pelo falecimento de José Mindlin. Mas, em função de ele ter sido uma pessoa extraordinária, assim como hoje tantos Senadores e Deputados Federais falaram sobre Tancredo Neves, eu creio que é importante que eu também, amigo pessoal, admirador dele próprio e de toda a sua família, possa aqui dizer algumas palavras sobre José Ephim Mindlin, que nasceu em São Paulo em 8 de setembro de 1914. Formado em Direito, foi redator de O Estado de S. Paulo entre 1930 e 1934 e advogou até 1950. Foi um dos fundadores da empresa Metal Leve S/A., pioneira em pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

            Filho de judeus nascidos em Odessa, Ucrânia, que emigraram para o Brasil, Mindlin começou a formar sua biblioteca aos 13 anos de idade. Ele reuniu, ao longo de 80 anos, cerca de 40 mil volumes entre obras de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários (originais e provas tipográficas), periódicos, livros científicos e didáticos, iconografia (estampas e álbuns ilustrados) e livros de artistas (gravuras).

            A Biblioteca Brasiliana é considerada a mais importante coleção do gênero no Brasil formada por um particular.

            Ele e sua esposa, Guida Mindlin, morta em 2006, doaram o acervo o ano passado à USP. Parte dos livros e documentos reunidos já pode ser consultada na Internet. Raridades tais como a primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, um original do Padre Antonio Vieira, os originais de Sagarana, de Guimarães Rosa, corrigidos à mão pelo autor, além do primeiro livro que Mindlin comprou num sebo quando tinha 13 anos, Discurso sobre a História Universal, escrito em 1740 pelo bispo francês Jacob Bossuet, podem ser encontradas na biblioteca. O acervo também conta com o primeiro livro em que o Brasil foi citado, uma coletânea de viagens de 1507. que noticia a viagem de Pedro Álvares Cabral, e a primeira edição de O Guarani, de José de Alencar, livro que demorou mais de 20 anos para ser comprado, entre leilões e oportunidades perdidas.

            Mindlin não colecionava livros raros por fetiche. Queria dividir o prazer da leitura para milhares de pessoas. Mesmo como empresário, que transformou a Metal Leve de uma pequena fábrica de pistões, nos anos de 1950, em uma empresa gigantesca do setor de autopeças, Mindlin buscou o ideal de uma gestão democrática em que os operários pudessem ter voz ativa nas discussões sobre seu destino. Com a globalização, a Metal Leve não sobreviveu ao assédio do capital estrangeiro e, em 1996, foi comprada por sua maior concorrente a alemão Mahle. O empresário, então com 82 anos, mais da metade dedicados à Metal Leve, não se aposentou. Continuou participando dos conselhos de administração de grupos - “O Estado de S. Paulo” entre eles - ou de instituições como a Sociedade de Cultura Artística, da qual seu pai foi um dos fundadores.

            Dono da cadeira de número 29 da Academia Brasileira de Letras, da qual passou a fazer parte em 2006, Mindlin era advogado, jornalista e empresário. Entre as obras que escreveu, estão memórias esparsas de sua biblioteca, como Uma Vida entre Livros.

            José Mindlin foi um dos empresários que mais colaborou para que realizasse o processo de abertura rumo à democracia durante o regime militar. Em meio aos empresários, era uma voz favorável ao amplo diálogo com os trabalhadores e com os movimentos sociais. Durantes os últimos Governos, desde o de Tancredo Neves e José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso até o do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi uma voz ouvida sempre com muita atenção pelo seu equilíbrio e bom senso.

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - A Coleção Brasiliana é o maior legado deixado por Mindlin, além da herança ética que o Brasil recebe desse empresário, jornalista, ex-Secretário de Cultura de São Paulo e membro das Academias Brasileira e Paulista de Letras.

            Adolescente avesso ao autoritarismo, Mindlin começou sua carreira jornalística aos 15 anos como redator do Estadão, driblando a censura durante a Revolução de 30. Da sala de Júlio de Mesquita, então diretor do jornal, transmitia instruções para a sucursal do Rio em inglês para confundir a escuta telefônica.

            Outro exemplo de sua conduta ética foi o pedido de demissão do cargo de Secretário de Cultura do Governo Paulo Egydio, quando o jornalista Vladimir Herzog foi morto pela ditadura militar em outubro de 1975. Esse foi um momento de muito pesar para todos nós. Como amigo de Mindlin, conhecendo-o de perto, posso dizer que ele era uma pessoa formidável, com uma visão ampla e uma postura muito aberta com os governantes em um momento muito importante como Secretário Estadual de Cultura. Sua postura nessa ocasião foi firme e de muita coragem.

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Segundo o Reitor da Universidade de São Paulo, João Grandino Rodas, Mindlin lutou muito para que a faculdade pudesse receber seu acervo pessoal de livros. Ele afirmou que, além dos livros,o bibliófilo tinha um acervo muito completo de mapas do Brasil.

            Ele foi membro do Conselho Superior da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo, de 1973 a 1974 e até 1976, Diretor do Conselho de Tecnologia da Fiesp, Secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia, quando estruturou a carreira de pesquisador. Fez parte do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, do Instituto de Pesquisa Tecnológica e da Comissão Nacional de Tecnologia da Presidência da República.

            Recebeu ainda diversas premiações. Entre elas, em 2003 o prêmio Unesco na Categoria Cultura; a Medalha do Conhecimento concedida pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; prêmio João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras; e, em 1998, o prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano.

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - A Brasiliana Digital já está no ar com mais de 5 mil títulos disponíveis para consulta ou download. Também é possível realizar buscas por título, nome do autor, data de publicação e até mesmo pelo conteúdo. Eu vejo José Mindlin como um homem que ajudou o Brasil a ser um País melhor e acredito que com a digitalização da Biblioteca Brasiliana ele vai continuar ajudando por muito tempo ainda.

            Conhecedor do acervo José Mindlin, e da importância da Biblioteca Brasiliana para a USP e para todo o Brasil, senti-me honrado em poder atender ao pedido do professor Istvan Jancsó e Pedro Puntoni, da Universidade de São Paulo, contemplando a entidade, em 2008, com uma das minhas emendas pessoais destinando R$500 mil para a construção da biblioteca. O mesmo aconteceu em 2009, quando destinei R$1 milhão por meio de outra emenda pessoal, como Senador por São Paulo.

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Suplicy, um minuto para concluir o encaminhamento.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Ele não era um homem conectado, sequer fazia uso direto da Internet. Reconhecia que as novas tecnologias podem ter um papel importante na democratização do conhecimento e no despertar do interesse dos mais jovens pela leitura. “Sempre achei o livro um instrumento de formação de pessoas e, quanto maior o número de beneficiados pela digitalização, melhor”. A digitalização da sua biblioteca deve ser mesmo a melhor maneira de nunca dizer adeus ao homem que amava os livros.

            Gostaria, Sr. Presidente, de ainda anexar aqui o pronunciamento feito pelo Diretor da Biblioteca, Pedro Puntoni, em 16 de junho de 2009, quando falou a respeito da história do Projeto Brasiliana.

            Muito obrigado, Sr. Presidente Mão Santa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2010 - Página 5550