Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre o momento que se aproxima de eleições gerais no Brasil, destacando a necessidade de um grande trabalho para conscientizar a sociedade para o exercício de votar.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Reflexões sobre o momento que se aproxima de eleições gerais no Brasil, destacando a necessidade de um grande trabalho para conscientizar a sociedade para o exercício de votar.
Aparteantes
Augusto Botelho, Sadi Cassol.
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2010 - Página 6690
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • PROXIMIDADE, ELEIÇÃO FEDERAL, ESCOLHA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNADOR, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL (DF), DEPUTADO FEDERAL, PARTE, SENADOR, DEPUTADO ESTADUAL, DEPUTADO DISTRITAL, IMPORTANCIA, TRABALHO, SOCIEDADE CIVIL, COMBATE, CORRUPÇÃO, IDENTIFICAÇÃO, ERRO, CONDUTA, CIDADANIA, AMBITO, IGREJA, EXERCICIO PROFISSIONAL, FAMILIA, EDUCAÇÃO, CLUBE, BUSCA, VALORIZAÇÃO, VOTO, ELEITOR, IDONEIDADE, CANDIDATO.
  • COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), IDENTIFICAÇÃO, NIVEL, ACEITAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • QUESTIONAMENTO, AUMENTO, CUSTO, CAMPANHA ELEITORAL, MOTIVO, CORRUPÇÃO, ALICIAMENTO, VOTO, CONCLAMAÇÃO, ELEITOR, RESPONSABILIDADE, ESCOLHA, AMPLIAÇÃO, CONHECIMENTO, CANDIDATO.
  • ANUNCIO, SEMINARIO, ESTADO DE RORAIMA (RR), PARTIDO POLITICO, PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB), DEBATE, ELEIÇÕES, DEMOCRACIA, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Mão Santa, pelas palavras generosas. V. Exª se caracteriza exatamente por ser um colega amável com todos.

            Hoje, estamos a 206 dias das eleições gerais, que vão acontecer no País. Elegeremos o Presidente da República e seu Vice, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal e seus Vices, dois terços do Senado - já que um terço, no qual me incluo, tem mandato até 2014 - e a totalidade da Câmara dos Deputados, da Câmara Distrital, do Distrito Federal, e das Assembleias Legislativas dos Estados. As vagas da Câmara Distrital, das Assembleias Legislativas e da Câmara dos Deputados serão disputadas. Alguns vão para a reeleição, serão reeleitos ou não, e novos disputarão uma primeira legislatura. No Senado, apenas 27 Senadores não vão disputar a eleição, porque foram eleitos há quatro anos, em 2006. Vamos eleger também todos os Governadores e o Presidente da República.

            É um momento cívico da maior importância. Quem vai eleger? Todos nós. Mas principalmente a grande massa de brasileiros que não tem mandato eletivo, mas elege representantes. Esse voto é a grande arma da democracia. Então, é muito importante que tenhamos um trabalho. Aqui, tenho dito que não pode ser um trabalho só dos partidos políticos, embora até devesse ser, porque os partidos políticos existem exatamente para expor as suas doutrinas, mostrar os seus programas e aplicá-los depois da eleição dos seus governantes ou parlamentares.

            No entanto, infelizmente, o Brasil, se olharmos desde o início, na história do Brasil não existem realmente partidos doutrinariamente consistentes ou partidos programaticamente consistentes. Portanto, infelizmente, não pode ser um papel só dos partidos, tem que ser um papel de toda a sociedade, da família, do pai, da mãe, que têm que ensinar.

            Hoje há uma reação violenta da sociedade contra políticos corruptos. Aí eu pergunto: só existe corrupção na política? Não existe corrupção, por exemplo, nas igrejas, na polícia, na medicina? Infelizmente eu sou médico. Não existe corrupção na escola? Quando um pai vê um filho chegar em casa, por exemplo, com um lápis que não é dele e não diz nada, o que esse pai está ensinando para o filho? Que ele pode roubar! Quando o pai vê um filho chegar em casa com uma borracha, um caderninho que não é dele e não diz nada, ele está avalizando um futuro corrupto.

            A mesma coisa na escola: se o professor, a professora não diz para aquela criança que furar a fila da merenda escolar é um ato errado, portanto, um ato de corrupção, o que esse professor, essa professora está fazendo? Está dando incentivo para que esse jovem, amanhã, seja um corrupto realmente.

            Então, é preciso que haja um grande trabalho da família, da escola, das entidades da sociedade, como, por exemplo, as igrejas, os clubes de serviços, o Lions, o Rotary, e outras instituições como a Maçonaria, as igrejas, todas deveriam se empenhar, nesses 206 dias que faltam, em falar, em alertar o eleitor que ele não pode desvalorizar o seu voto, votando em pessoas que, de antemão, já sabem que são corruptos.

            Diz-se: temos que baixar uma lei para proibir que o corrupto possa se candidatar. E por que o eleitor não faz esta seleção não votando em quem sabe que é corrupto? Esse voto, essa arma é secreta; ele é digitado em uma urna eletrônica. O eleitor pode, sim, votar de maneira a fazer a limpeza que todos anseiam.

            E essa revolução democrática vai estar à disposição de todos os milhões de eleitores e eleitoras no Brasil afora. Eu tenho repetido, e já falei algumas vezes aqui da tribuna, que fiquei estarrecido com uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, publicado no jornal Folha de S.Paulo, quando foram entrevistados vários eleitores, milhares de eleitores no Brasil todo e foram feitas várias perguntas. Uma coisa que foi dita por cerca de 75% dos eleitores é que eles acreditam que não é possível fazer política sem um certo grau de corrupção. Ora, se o eleitor aceita isso, se acha normal isso, fica complicado mudar as coisas.

            Por outro lado, mais ou menos 69% dos eleitores também afirmaram que, de alguma forma, ou deram ou mudaram o voto por causa de um favor, por causa de um cargo, por causa de uma conta de luz paga, por causa de uma conta de telefone, por causa de algum outro tipo de bem material. Então, o eleitor que faz isso não pode depois reclamar, porque ele fez um ato de corrupção. Ele elegeu, portanto, um corrupto, já que quem corrompe o eleitor é corrupto, e já está sabendo disso.

            Nós deveríamos fazer essa pregação, fazer uma verdadeira operação mãos limpas neste País. Os jornais, as revistas e a televisão publicam a toda hora sobre pessoas que fizeram isso, fizeram aquilo, mas, na hora da eleição, vão uns marqueteiros e colocam o fulano como o cara que faz muito e, daí, vem aquele velho ditado de antigamente: “O cara rouba, mas faz”. Se isso vale, fica difícil pensar que queremos ter pessoas honestas no comando do País ou dos Estados.

            Conversei recentemente com um candidato a Governador que me disse assim: “Rapaz, eu já tenho R$50 milhões para a minha campanha, e eleição se ganha é com dinheiro, com poder. Portanto, estou despreocupado”. Se um cidadão desses tem R$50 milhões, de onde ele tirou esta quantia? Será que foi do trabalho dele? E vai usar esses R$50 milhões de que forma?

            O Sr. Sadi Cassol (Bloco/PT - TO) - Permite-me um aparte, Senador Mozarildo Cavalcanti?

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Em seguida, com muito prazer.

            Será que é só com o que é normal, ou seja, publicar os cartazes com o seu nome, o número, com o programa de televisão? Não, é corrompendo. Olhe, não é corrompendo... Não pensem que é corrupção desse nível de pessoa estar necessitando. Não é só o pobre que se deixa corromper, não. São os ricos também, e em grande monta. Pessoas que se dizem poderosas e, portanto, dizem que têm domínio sobre os eleitores, esses se vendem até muito mais caro, porque querem um troco depois. Então, temos que fazer esse trabalho de faxina eleitoral. E quem pode fazê-lo? É o eleitor. O candidato, duvido que tenha um candidato que vá aparecer na televisão, no rádio ou no palanque, dizendo que é corrupto, dizendo que rouba, mas faz. Duvido que vá aparecer dizendo. Ele não vai dizer. Ao contrário! Ele vai vender uma imagem de bom-mocismo e, depois que ele gastou R$30 a R$50 milhões, como a espécie de candidato a governador com quem falei, e for eleito, ele vai fazer o quê? Ele vai se ressarcir de mais outros R$50 milhões, ou multiplicado por várias vezes.

            Então, aqui tenho meu cacoete de médico: é o momento de evitarmos que essa doença se alastre. E como é que evitamos? Aplicando o remédio certo. Qual é o remédio certo nesta hora? É o voto. É o voto dado de maneira consciente. É o voto dado em quem presta. É o voto dado em quem você conhece. Não vote em pessoas por causa de um bom programa eleitoral. E aí fica aquela história: junta-se a um monte de partidos para ter mais tempo de televisão e, portanto, fazer mais propaganda, e o eleitor não se debruça para analisar realmente quem é aquele sujeito, como é a vida dele, o que ele já fez na vida, o que ele tem de errado no seu comportamento. Isso é muito importante que façamos.

            Então, quero fazer este apelo a toda sociedade brasileira, a todo eleitor, desde a pequenina vila até os maiores centros: vamos votar em gente de bem, porque só assim o Brasil muda.

            Senador Augusto Botelho e, depois, o Senador Sadi Cassol, com muito prazer.

            O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Mozarildo Cavalcanti, o discurso de V. Exª é um discurso de convocação para que se faça uma mudança neste País, principalmente no nosso Estado, onde este hábito está muito arraigado. A gente sabe do uso de recurso público para corromper as pessoas na hora do voto. E tenho certeza de que as pessoas não aceitam aquela história do “rouba, mas faz”. Não existe ladrão bom. Bandido é bandido, e homem que trabalha é homem que trabalha. E eu tenho certeza de que o povo de Roraima vai saber distinguir. É bom lembrá-los que um voto de uma pessoa é que coloca um Senador nesta Casa, que tira um Senador desta Casa. Por isso, eles têm que saber que o voto deles vale muito do ponto de vista moral e do ponto de vista do seu futuro. Também, como V. Exª falou aqui, aquele que rouba o dinheiro público para comprar votos nunca aparece, eles botam um preposto. Aquele que vai oferecer dinheiro para o eleitor não é um candidato, é mandado por ele. Eu dou até um conselho para as pessoas lá de Roraima: “Olha, quando for oferecido dinheiro, você tem que pegar, porque aquele dinheiro é seu, que ele está devolvendo. Com certeza ele roubou aquele dinheiro de ti, porque não é o dinheiro dele que está dando para comprar voto, gastando assim”. E já perguntei a um padre e a um pastor se não estou cometendo alguma heresia, algum pecado mandando que o trabalhador pegue o seu dinheiro de volta quando esses corruptos vão oferecer. Aliás, eles não, os prepostos deles, que também estão ganhando para fazer isso. Eu acho que está na hora de darmos uma arrumada nesta Casa, neste País todo, porque as cenas vergonhosas se sucedem. É um escândalo abafando outro. Estou aqui há sete anos ouvindo e vendo isso. Espero que este País mude.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Senador Augusto, quero agradecer o aparte de V. Exª. Não é porque V. Exª é meu colega de Bancada e não é porque é meu colega médico, mas eu o conheço há muito tempo. Conheço a vida de V. Exª e sei que é um homem íntegro. Não existe contra V. Exª nenhuma condenação, não; não tem nenhuma denúncia contra V. Exª, tal a retidão da vida de V. Exª. Portanto, espero que o eleitorado de Roraima saiba reconhecer isso, reconhecendo o trabalho bom que V. Exª aqui desempenha, e possa reconduzi-lo nas próximas eleições.

            Senador Cassol, com muito prazer.

            O Sr. Sadi Cassol (Bloco/PT - TO) - Quero parabenizar V. Exª por tratar de um assunto tão importante como esse, num ano eleitoral. É propício, é o momento. Precisamos cada vez mais fechar o círculo de toda a forma, por meio de informações...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Sadi Cassol (Bloco/PT - TO) - ...no sentido de se evitar que essa corrupção eleitoral continue no nosso País. Veja bem, Senador, sempre que se fala num grupo político para ganhar uma eleição num Estado ou Município, comenta-se - e é lamentável ter que ouvir isto: “Não tem estrutura, porque não tem um governo.” Mas, espera aí, o governo ganha quanto? Um governador, um prefeito, ganha quanto? Não ganha o salário dele? Como que se comenta que, havendo governo, há estrutura? Quer dizer, então, você rouba o dinheiro do governo para fazer a estrutura, não é isso? Então, quero conclamar a Polícia Federal e o Ministério Público para que peguem essas ondas que aparecem por aí - “não, mas só tem estrutura se é o governo” - e que vão lá, num comício grande, numa carreata grande. Quem está pagando isso tudo? De onde veio esse dinheiro? Porque senão...

(Interrupção do som.)

         O SR. Sadi Cassol (Bloco/PT - TO) - ...a estancar a corrupção neste País; e corrupção eleitoral, que é uma das mais graves. Por quê? Porque, no momento em que você elege o corrupto, depois ele será corrupto naquilo em que administra também. Então, se conseguirmos estancar a corrupção eleitoral, estaremos acabando também com os corruptos das obras, os que desviam dinheiro, e de forma vergonhosa, como vemos alguns casos acontecerem nos Estados deste País. Muito obrigado pelo aparte. Parabenizo-o mais uma vez por levantar uma questão tão importante.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Eu lhe agradeço, Senador Cassol.

            Quero dizer que tenho vindo várias vezes à tribuna abordar este tema. E, a partir de hoje, faltam 206 dias, Senador Mão Santa, para a eleição. Então, é muito pouco tempo. Portanto, é muito importante que cada eleitor medite sobre isso. Desde agora. Não vá deixar para decidir seu voto na hora em que for à urna, não. Comece a meditar desde agora, quando os candidatos aparecerem. Quem são? Esse e esse.

            (Interrupção do som.)

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Qual é o passado dele? O que ele já fez e o que poderá fazer? Ele tem qualificação para fazer?

            Então, isso é muito importante, mas, principalmente, que ele tenha, realmente, um passado honesto, um presente honesto e que, portanto, possa ter um futuro honesto.

            Quero finalizar, Senador Mão Santa, dizendo que, nos dias 13 e 14 deste mês, vamos realizar, em Roraima, o primeiro seminário do PTB, o primeiro seminário político. Aliás, será o primeiro seminário político realizado naquele Estado, em que vamos debater exatamente: eleições, democracia e trabalhismo, o que não poderia deixar de ser. O PTB é o Partido de Getúlio Vargas, Partido que foi feito para defender o trabalhismo, isto é, a relação entre o trabalhador e o empregador, para que o trabalhador tenha seus direitos garantidos. Está aí a CLT, criada também por Getúlio Vargas.

            E eu espero que nós possamos estar juntos com o PSC nessa campanha...

(Interrupção do som.)

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - ...lá em Roraima, em outros Estados e, quiçá, no Brasil. Tenho certeza de que, somente, realmente, juntando todas as pessoas de bem, poderemos fazer a mudança que este País quer.

            Como médico, tenho sempre esperança de que, mesmo desenganado, o paciente pode ser recuperado e salvo. Da mesma forma, tenho muita fé neste País e neste povo. Podemos mudar, e a hora da mudança é no voto, no dia 3 de outubro.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2010 - Página 6690