Discurso durante a 30ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro do encaminhamento de expediente ao Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores, colocando-se à disposição do Partido como opção para concorrer ao governo estadual. Homenagem ao cartunista Glauco Villas Boas, assassinado juntamente com seu filho Raoni, na sua residência, em Osasco - SP, na madrugada da última sexta-feira.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.:
  • Registro do encaminhamento de expediente ao Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores, colocando-se à disposição do Partido como opção para concorrer ao governo estadual. Homenagem ao cartunista Glauco Villas Boas, assassinado juntamente com seu filho Raoni, na sua residência, em Osasco - SP, na madrugada da última sexta-feira.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2010 - Página 7093
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.
Indexação
  • CONFIRMAÇÃO, DISPOSIÇÃO, ORADOR, CANDIDATURA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EXPECTATIVA, DECISÃO, DIRETORIO ESTADUAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEBATE, MEMBROS, LIDERANÇA, POPULAÇÃO, ATENÇÃO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, BUSCA, ALTERNATIVA, CONTRIBUIÇÃO, ELEIÇÃO, SUCESSOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, ARTISTA, DESENHISTA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), VITIMA, HOMICIDIO, SIMULTANEIDADE, FILHO, REGISTRO, BIOGRAFIA, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, ENGAJAMENTO, COMBATE, DITADURA, DEPOIMENTO, ORADOR, AMIZADE, RECEBIMENTO, APOIO, CAMPANHA ELEITORAL, LEITURA, TRECHO, HOMENAGEM, AUTORIA, ESCRITOR, JORNALISTA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

             É fato que encaminhei, no dia 1º de março último, ao Presidente Edinho Silva, um número de assinaturas mais do que suficiente, pela norma que o próprio diretório estadual do Partido havia colocado. Assim, coloco-me à disposição do Partido para continuar com o trabalho sério que tenho procurado realizar, já que fui eleito até janeiro de 2015 Senador pelo Partido dos Trabalhadores de São Paulo. Ou então, se avaliarem que posso contribuir como candidato ao Governo do Estado de São Paulo, também será uma possibilidade.

            O Presidente Edinho Silva informou-me que prefere que essa decisão seja tomada por meio de diálogo. Espero que esse diálogo se faça tanto com o Presidente Lula quanto com todos os Parlamentares, dirigentes do Partido, sobretudo levando em conta a opinião da militância, de todos os filiados e da própria população de São Paulo.

            É nesse sentido que avalio que será próprio, antes de uma decisão conclusiva, que o Partido dos Trabalhadores tome conhecimento de pesquisas de opinião independentes, quer seja o Datafolha, o Vox Populi, o Ibope ou alguma instituição de pesquisa reconhecidamente independente, realizadas entre os eleitores de São Paulo, para vermos qual é, de fato, a melhor opção para ajudar a eleição do Partido dos Trabalhadores - a eleição da nossa Ministra Dilma Rousseff, que foi por todos, consensualmente, aclamada como a nossa candidata à Presidência. E também para que tenhamos o melhor resultado possível para o Governo do Estado de São Paulo, para o Senado, para a Assembleia Legislativa e para a Câmara dos Deputados.

            Mas, hoje, Sr. Presidente, eu aqui quero prestar uma homenagem ao Glauco Villas-Boas, que tragicamente foi assassinado juntamente com o seu filho, Raoni - Glauco, de 53 anos, Raoni, de 25 anos - na madrugada de sexta para sábado último, na sua residência em Osasco. Glauco era um dos melhores chargistas, cartunistas, desenhistas da imprensa brasileira e trabalhava na Folha de S.Paulo.

            Nos termos dos arts. 218, inc. VII, e 221 do Regimento Interno do Senado, requeiro a inserção em Ata de voto de pesar pelo falecimento de Glauco Villas-Boas, aos 53 anos, morto na madrugada da última sexta-feira, dia 12 do corrente, juntamente com o seu filho Raoni, de 25 anos, bem como apresentação de condolências a sua mulher Beatriz Galvão e sua filha.

         Geraldão, Geraldinho, Dona Marta, o Casal Neuras, Netão, Zé do Apocalipse, Edmar Bergman, Doy Jorge, Zé Malária, Ficadinha, Faquinha, Nojinski, os Ets. Desde a última sexta-feira esses personagens choram a morte de Glauco Villas-Boas, um dos principais cartunistas da atualidade.

            O jornalista José Hamilton Ribeiro, que dirigia o Diário da Manhã nos anos 70, foi quem retirou Glauco, paranaense nascido em Jandaia do Sul, da fila do vestibular para Engenharia e o jogou direto para as páginas do jornal, já com a tira Rei Magro e Dragolino. Era ali, em Ribeirão Preto, onde José Hamilton Ribeiro convidou Glauco para trabalhar.

            Alguns anos mais tarde, em 1976, a premiação no Salão de Humor de Piracicaba abriu as portas do jovem cartunista para a grande imprensa. Em 1977, Glauco começou a publicar suas tiras esporadicamente na Folha de S.Paulo. Mais tarde, quando a Folha passou a dedicar espaço diário à nova geração de cartunistas brasileiros, Glauco passou a publicar ali as suas tiras.

            Tive a oportunidade de conviver naquela época com Glauco, Angeli, Laerte, cartunistas da Folha de S.Paulo, pois, de 1976 a 1980, fui convidado por Cláudio Abramo, Otavio Frias, o pai, e por todos aqueles que trabalhavam na Folha; e, depois, convivi muito com Otavio Frias Filho, eu tive a alegria, a felicidade, de contribuir para esse que é um dos melhores jornais do Brasil. E, na oportunidade, havia um convívio excelente entre todos os jornalistas e cartunistas.

            Muitas vezes, depois de realizar o meu trabalho na Fundação Getúlio Vargas, como professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, por volta das cinco, cinco e meia da tarde, me dirigia à Folha, onde ali trabalhava até dez e meia, onze horas, para ler tudo que se passava no âmbito da economia e contribuía com artigo, às vezes, três, quatro vezes por semana; às vezes, até para editoriais para a Folha de S.Paulo.

            Esse foi um dos momentos mais significativos de minha vida de trabalho e que inclusive muito colaborou para que eu aqui estivesse, porque, quando já depois do primeiro ano de trabalho, em 1976, pouco após as eleições, aliás, na oportunidade das eleições de 1976, naquele ano, foi quando um grupo de amigos me procurou e me disse, pensando já nas eleições seguintes: “Olhe Eduardo, nós estávamos aqui pensando sobre quem poderia ser eleito deputado na próxima eleição”. Foi então que me disseram: “Nós avaliamos que, como seus artigos na Folha de S.Paulo estão sendo muito lidos, será muito bom que você passe a defender as suas idéias no Parlamento”. E, assim, sugeriram-me que eu me tornasse representante do povo. E foi então que procurei pessoas, tais como André Franco Montoro, Ulysses Guimarães, Chopin Tavares de Lima, Alberto Goldman e outros, para saber o que era ser um Deputado Federal ou Estadual. Eu tinha filhos pequenos, avaliei que seria próprio começar sendo Deputado Estadual. Mas foi justamente com a ajuda entusiástica e o apoio de muitos dos jovens jornalistas e, inclusive, dos cartunistas da Folha de S.Paulo que fiz a minha primeira campanha e fui eleito Deputado Estadual, em 1978, pelo MDB. E Glauco foi uma das pessoas que, com Angeli, Laerte e outros, ajudaram-me naquela campanha.

            Pois bem, quando o Glauco chegou a São Paulo se hospedou por nove meses no lendário apartamento de Henfil, na rua Itacolomi. Henfil que justamente nessa época era um amigo muito próximo meu, de Carlito Maia, e de tantos outros com quem tinha grande afinidade. Casual ou não, esse encontro foi fundamental para sua carreira. A agilidade do traço de Henfil, quase “caligráfico” - como destacava Jaguar -, e a liberdade no uso do espaço do cartum contagiaram Los 3 Amigos: Laerte, Angeli e Glauco.

            “Estou falando com Deus, pensava, quando conheci o Henfil. Os Fradinhos, aquele traço todo solto, o uso do palavrão - o trabalho dele era um avanço muito grande”, declarou Glauco numa entrevista.

            A partir de 1977, iniciou sua colaboração com a Folha de S.Paulo, no momento em que o humor vivia o conflito entre a militância e a contestação da Esquerda. Ele reduzia a República a seus elementos mais infantis para revelar o nonsense de engravatados e congêneres. Suas charges - “cartuns editoriais!” - como bradaria o humorista Osmani Simanca na página de “Opinião” da Folha, vibravam nesse Olimpo dos palpiteiros do jornalismo. A surpresa da caricatura nascia do movimento, dos nervos. Geraldinho e Geraldão, Dona Marta, Zé do Apocalipse e Doy Jorge se metiam em tumultos vários, alguns deles animalescos - em diálogo e traço.

            Músico, também tocava em bandas de rock. Para o público infantil, leitor do suplemento semanal Folhinha, criou o personagem Geraldinho, que era uma versão light (no traço e na temática) do seu personagem Geraldão.

            Uma vez Glauco sonhou que a igreja que ele criou, a Céu de Maria, no Jaraguá, era invadida por pessoas que fugiam de São Paulo. No sonho, contou que as pessoas fugiam da cidade, desesperadas, por causa da violência, e ele temeu não ter como ajudá-las, pois eram muitas.

            Relatou ainda esse sonho durante um ritual em 2000, no dia em que recebia e celebrava a iniciação de mais um grupo em sua igreja, na chamada cerimônia de “fardamento”, quando os fiéis são oficialmente iniciados na doutrina.

            Glauco ganhou o título de padrinho ao fundar a igreja Céu de Maria em meados dos anos 90, mas sua origem religiosa é muito anterior. Ele contava que teve a primeira epifania mística ao ler livros de Carlos Castañeda, escritor e guru de uma geração e autor, entre outras obras, do clássico “A Erva do Diabo”. Definia Castañeda como grande marco em sua vida.

            Com seu suor, da mulher Bia e dos filhos de ambos, a Céu de Maria cresceu e, em alguns rituais, reuniu mais de 300 pessoas, vindas de várias partes do mundo. Glauco, o padrinho, era querido e amável com todos e comandava os trabalhos no centro da igreja, sentado em um banquinho, acompanhando os cânticos com seu acordeon escuro.

            Além de líder religioso, Glauco também era compositor e deixou para a doutrina que abraçou dois grandes hinários de fé, um conjunto de cânticos.

            O cartunista Maurício de Sousa divulgou nota sobre a morte do cartunista Glauco e de seu filho Raoni: “O fato é tão chocante que nossa reação não pode ser medida em palavras, mas em um sentimento de dor, luta e desesperança (...). Apesar disso, nós sairemos do choque. E vamos encontrar caminhos, mesmo que sejam longos, demorados, para contermos essa onda de irracionalidade e desumanidade. Famílias bem formadas, educação, fé em Deus, justiça social serão alguns dos pontos por onde passará o caminho do respeito à vida. Vamos lutar para isso como tributo ao Glauco e ao Raoni”, concluiu Maurício de Sousa, que com os personagens Mônica e outros, ainda recentemente, aqui estiveram, chamaram-nos atenção sobre como, por meio das histórias em quadrinhos, podemos contribuir para a transmissão de valores importantes e melhores para a educação de nossas crianças, bem como de todos nós adultos, seres humanos.

         Para Ziraldo, que também é um dos maiores cartunistas brasileiros, a morte de Glauco é uma perda brutal: "A notícia me pegou na estrada, é uma coisa que deixa você meio chapado. É como perder um sobrinho. Vi esses quatro meninos - Glauco, Angeli, Laerte e Adão - começarem a vida. Sempre os tratei como filhos e tenho um carinho muito grande por todos eles. O Glauco, em específico, sempre foi a alegria da festa, a alegria dos salões. Tinha uma agilidade mental muito grande, era muito crítico, debochado -debochado num bom sentido, como uma qualidade, quase como uma ironia. (...) É uma perda brutal para todos nós, e fico com raiva e vergonha dessa violência. Demorará para passar. Há muito tempo não sentia uma dor tão grande".

            Vejam como Glauco era tão importante para essas pessoas, como Maurício de Sousa, Ziraldo, Chico e Paulo Caruso, que são gigantes das nossas histórias em quadrinhos.

            Já Chico Caruso ressaltou o espírito anárquico do cartunista Glauco: “suas charges eram muito engraçadas e jovens. Era surpreendente que fosse tão iconoclasta e ao mesmo tempo bispo de uma igreja”.

            Laerte, um dos três amigos, disse que “Glauco tinha um modo muito pessoal, particular de trabalhar que a gente costumava comparar com o Garrincha, o Jorge Ben, um trabalho intuitivo; o sujeito segue o próprio faro, a linha dele, o prazer de estar fazendo aquilo. O Glauco sempre trabalhou assim, não importa qual fosse o contexto”.

            Angeli, o outro amigo inseparável - e dos três um dos que mais proximidade tinha comigo, sobretudo naquela época em que trabalhei na Folha -, diz que fica difícil absorver os fatos. “As nossas vidas se entrelaçavam porque todas as fases do Glauco e as minhas não eram simplesmente de amigos ou colegas de trabalho. A gente dividiu coisas juntos, e tudo isso foi de uma forma tão criativa da parte dele e tão despretensiosa que fica a imagem de um grande homem. O humor dele era muito particular, era uma coisa dentro das limitações do Glauco. Ele criou uma coisa genial, não era o melhor desenhista do mundo, mas o desenho dele falava tudo o que ele queria. Foi uma situação trágica, situação de um psicopata, e justamente com o Glauco, que era um cara de bom humor, que fazia bem para os seus leitores. Eu achei que eu era até um sujeito frio em relação à morte, mas vejo que quando você olha o amigo ali... é uma situação assim de aperto mesmo”.

            Sérgio Dávila, Diretor-Executivo da Folha de S.Paulo, deu um depoimento muito bonito que tive a oportunidade de ver, acredito que na Globo News ou na Folha Online, na Internet. Ele disse: “Glauco é um pouco o rosto dessa Folha dos últimos 30 anos. Ele estava presente na página dois do jornal, uma das páginas mais importantes; ele estava presente diariamente na Ilustrada, um dos cadernos de maior peso do jornal. Ele criou essa galeria fantástica de personagens como quadrinista. Enfim, eu poderia ficar horas falando dos personagens que são muitos e já incorporados à Cultura Brasileira, à paulistana principalmente, e que influenciaram muitos outros quadrinistas que vieram depois dele. O Glauco era a antiviolência. Os quadrinhos dele passam esse lado mais menino, esse lado mais moleque, mas com qualidade, com uma crítica importante. Mas não tem violência, não abre chance para a violência. E ele foi vítima da violência. Isso é um tapa na cara de todos os leitores dele, de todos os fãs, de todas as pessoas que consumiam o trabalho dele, e também da cidade”.

            Como disse Rita Lee, o mundo agora vai ficar mais triste: “Sem as tirinhas de Glauco, a gente vai rir menos, pois ‘Los Tres Amigos’ ficam desfalcados”...

            Quero ainda fazer uma reflexão aqui sobre a tragédia que se abateu sobre a família de Glauco, que deixou viúva, Beatriz Galvão, e sua filha e deixou sem um amigo essas pessoas todas cujos testemunhos aqui citei. E, sobretudo, os cartunistas, os desenhistas e os formuladores de histórias em quadrinho que o tinham como um exemplo, um amigo, uma luz.

            O que terá feito esse rapaz relativamente jovem que, certamente tendo consumido não sei que tipo de drogas, perdeu a consciência de uma pessoa normal? Tanto é que, segundo testemunhas ali, chegou dizendo que era como que a reencarnação de Jesus Cristo, o que estava em contradição, porque Jesus Cristo nunca portou um revólver em suas mãos ou uma arma que pudesse ser utilizada para matar uma pessoa que, inclusive, havia sido seu companheiro na igreja que Glauco havia fundado, e, segundo as informações, esse Cadu era uma pessoa que havia frequentado aquela igreja.

            É muito importante que, dessa tragédia, possamos tirar lições, sobretudo para que os jovens de hoje não enveredem, de forma alguma, pelo caminho da utilização de drogas, que os levam a situações de violência, a situações que causam tanto dano, tanta dor às suas próprias famílias, bem como às famílias de suas vítimas.

            Eu quero enviar o meu abraço, os meus sentimentos de pesar à Beatriz Galvão, à sua filha e a todos os amigos, e transmitir ao Otávio Frias Filho, Diretor de Redação da Folha, o meu sentimento de pesar e a toda a comunidade dos que trabalham na Folha de S.Paulo. Nós pudemos perceber o quanto a morte de Glauco foi uma perda para a Folha de S.Paulo, para todos os jornalistas, para todos os desenhistas. Ele foi uma pessoa que soube tão bem honrar o seu trabalho, a sua família, a sua comunidade.

            Sr. Presidente, assim encaminho à Mesa formalmente o requerimento e peço que seja considerado. Se não chegou ainda, eu...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Nós aguardamos a formatização do documento.

            A Mesa se associa ao pesar pela morte do cartunista Glauco, da Folha de S.Paulo, ao tempo em que adverte que dois Senadores querem assinar e dizer palavras também de pesar pelo falecimento do cartunista Glauco.

            Estão pedindo participação o Senador Cristovam Buarque e o Senador Paulo Paim. Então concedemos um minuto para cada um.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Suplicy, eu o felicito por ter vindo à tribuna lembrar esse grande brasileiro que nos deu tanta alegria durante tantos anos. Quero dizer que, a partir do seu falecimento, mesmo que outros venham a substituí-lo, o Brasil ficou mais triste. E com mais vergonha. Mais triste pelo falecimento dele; e com mais vergonha pela maneira como ele foi morto. Fosse uma morte natural, nós ficaríamos igualmente tristes, mas não daria para sentir qualquer vergonha por sermos direta ou indiretamente responsáveis pela morte de qualquer pessoa que é assassinada neste País. O senhor trouxe a lembrança da tristeza da morte dele e trouxe também a lembrança da vergonha pela maneira como ele perdeu a vida. Eu creio que até em homenagem ao Glauco deveríamos lembrar aqui centenas de milhares de pessoas que, ao longo dos últimos anos, perderam a vida de forma brutal por causa de armas de fogo e armas brancas e paus, que são usados como forma de violência. Quero pedir que, em nome da tristeza que passamos a sentir por falta do trabalho artístico dele, trabalhemos mais para desarmar os brasileiros, especialmente os jovens, que continuam armados neste País como se estivéssemos em guerra uns contra os outros. Guerra dirigida por assaltos e guerras sem nenhum senso, como essa que aconteceu três dias atrás, ao ser tirada a vida desse grande artista. Vamos refletir um pouco sobre a nossa tristeza e a nossa vergonha: a tristeza da morte dele e a vergonha da forma como a morte dele chegou em uma sociedade armada e violenta como é a nossa.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu incorporo as suas palavras e o seu sentimento, Senador Cristovam Buarque.

            Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Eduardo Suplicy, vejo que seu tempo está sendo monitorado pelo Senador Mão Santa, mas eu quero me somar a sua fala na homenagem que V. Exª faz ao Glauco e a toda a família dele. Eu também fiquei chocadíssimo quando assisti, no fim de semana, pela TV, à matéria sobre o assassinato covarde não somente do Glauco, mas também de seu filho, o Raoni. Cada um deles recebeu quatro tiros. Segundo a viúva, o jovem, provavelmente sob o efeito de drogas, queria que o Glauco fosse até a casa da mãe dele para dizer que ele era Jesus Cristo. Veja o efeito das drogas! Eu, infelizmente, tenho que repetir que a droga invade a maioria dos lares brasileiros, do nosso País e ceifa a vida de homens de bem. Quero apenas me somar a V. Exª. Tenho o maior carinho pelos cartunistas. Hoje, da tribuna, eu falava de um trabalho que recebi, gratuitamente, do Aroeira, um belíssimo trabalho que tenho usado em todos os meus materiais de divulgação do trabalho. Percebi que esse assassinato atingiu a todos...

            (Interrupção do som.

            (O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - ...aqueles que se comunicam com a população por meio do seu trabalho e, nesse caso específico, o trabalho do cartunista. Enfim, meus cumprimentos a V. Exª. Deixo aqui a nossa solidariedade. Fizemos questão de assinar juntos o requerimento de voto de pesar. Sei que isso é muito pouco; é quase nada. A fala de V. Exª da tribuna é um grito de alerta contra as drogas, porque foram as drogas que levaram esse jovem a assassinar covardemente tanto o pai quanto o filho. Tenho certeza que não foi por causa da religião que ele estava começando a praticar para se livrar das drogas. Não se livrou das drogas e ainda assassinou o Glauco e o filho dele, Raoni. Cumprimento V. Exª.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Ao mesmo tempo em que o cumprimento pelo seu aniversário de 60 anos...

            (Interrupção do som.

            (O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Outros Senadores já o cumprimentaram no início da tarde. Mas agradeço as suas palavras.

            Que seja a morte de Glauco e de Raoni um grito de alerta, um sinal para todos os jovens do Brasil, no sentido de que parem de consumir drogas, drogas que podem levá-los à prática de crimes como o que infelicitou Glauco, Raoni e toda a família deles.

            Meus cumprimentos também à Folha de S.Paulo, que, numa bonita homenagem a Glauco, no dia seguinte à morte dele, deixou a página de caricaturas em branco, apenas com o nome “Glauco”.

            Obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2010 - Página 7093