Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre conflitos ocorridos entre garimpeiros do Amapá e a polícia da Guiana Francesa. Importância da construção da ponte binacional que ligará o Brasil à Guiana Francesa.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Considerações sobre conflitos ocorridos entre garimpeiros do Amapá e a polícia da Guiana Francesa. Importância da construção da ponte binacional que ligará o Brasil à Guiana Francesa.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2010 - Página 7808
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • GRAVIDADE, OCORRENCIA, CONFLITO, POLICIA, PAIS ESTRANGEIRO, GUIANA FRANCESA, GARIMPEIRO, ESTADO DO AMAPA (AP), APREENSÃO, OURO, ALEGAÇÕES, ILEGALIDADE, GARIMPAGEM, TERRITORIO, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, ACUSAÇÃO, AUTORIA, BRASILEIROS, INVASÃO, POLICIAL, TERRITORIO NACIONAL, RIO OIAPOQUE, ARBITRARIEDADE, PRISÃO, EMBARCAÇÃO, PROVOCAÇÃO, REVOLTA, POPULAÇÃO, COMENTARIO, NOTICIARIO, JORNALISTA, LOCAL, SOLICITAÇÃO, ORADOR, ATENÇÃO, AUTORIDADE, PREVENÇÃO, VIOLENCIA.
  • REGISTRO, ANTERIORIDADE, GESTÃO, GILVAM BORGES, SENADOR, ITAMARATI (MRE), PEDIDO, CRIAÇÃO, CONSULADO, PAIS ESTRANGEIRO, GUIANA FRANCESA, FRONTEIRA, ESTADO DO AMAPA (AP), AGILIZAÇÃO, CONTROLE, MIGRAÇÃO, SOLUÇÃO, CONFLITO, SOLICITAÇÃO, INFORMAÇÃO, ANDAMENTO, OBRAS, PONTE INTERNACIONAL.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, ATENÇÃO, FRONTEIRA, ESTADO DO AMAPA (AP), PROTEÇÃO, BIODIVERSIDADE, BUSCA, COOPERAÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, REGISTRO, HISTORIA, ACORDO, CONSTRUÇÃO, PONTE, RIO OIAPOQUE, DIVISÃO, CUSTO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, telespectadores da TV e ouvintes da Rádio Senado.

            Sr. Presidente, um conflito entre garimpeiros do meu Estado e a polícia francesa foi registrado na semana passada na fronteira do Oiapoque com a Guiana Francesa. Não foi o primeiro conflito e provavelmente não será o último.

            O conflito aconteceu no final da manhã de quarta-feira, dia 10, quando garimpeiros brasileiros foram abordados pela polícia francesa. Os policiais apreenderam o ouro e as embarcações.

            Segundo a versão da polícia francesa, os presos seriam acusados de garimpagem ilegal e estariam transportando em torno de seiscentos gramas de ouro retirados do lado francês. Já os garimpeiros defendem que não estavam além dos limites brasileiros.

            Segundo o depoimento deles - vou abrir aspas aqui -, “a polícia francesa apreendeu nossos barcos e nossas mercadorias quando estávamos navegando pelo Rio Oiapoque. Isso foi invasão, e os policiais franceses agiram com arbitrariedade” - fecho aspas.

            Acontece que a prisão de mais de 30 brasileiros em frente a Clevelândia do Norte, na fronteira do Oiapoque com a Guiana Francesa, revoltou outros brasileiros que trabalham em canoas e catraias naquela localidade.

            Segundo o colaborador do jornal Diário do Amapá e correspondente do Programa O Estado é Notícia, comandado pelo jornalista Reginaldo Borges, o jornalista Roberto Veiga, do Oiapoque, que acompanhou o caso, a confusão teve início depois que policiais franceses, chamados de gendarmes, apreenderam duas canoas de brasileiros que estariam navegando do lado brasileiro e seguiam de Ilha Bela para Clevelândia.

            Os brasileiros teriam sido levados para as pedras, onde teriam sido aprisionados. Assim que as duas patrulhas francesas deixaram o local, mais de cem catraieiros e canoeiros brasileiros teriam cercado os barcos na patrulha francesa. O clima ficou tenso; e houve disparo por parte dos gendarmes, ou seja, dos policiais franceses. Finalmente, os brasileiros presos foram libertados pelos policiais franceses. Uma das embarcações apreendidas também foi liberada. A polícia francesa chegou a dar tiros de advertência na água já que o conflito aconteceu no Rio Oiapoque, que faz limite entre os dois países. As prisões teriam ocorrido de forma ilegal em águas brasileiras.

            Quase uma semana depois do incidente, o clima ainda é tenso. Teme-se o recrudescimento da violência na região. Autoridades do Itamaraty, Sr. Presidente, foram contactadas para intervir de forma diplomática na situação.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ainda no ano passado, o Senador Gilvam Borges, coordenador da Bancada Federal do Estado do Amapá, foi recebido em audiência pelo Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para tratar de dois assuntos.

            O primeiro deles foi exatamente a criação de um escritório consular em Saint George, Guiana Francesa, fronteira do Oiapoque, Brasil, a fim de estreitar as relações entre as duas nações, dinamizando o controle migratório que, lamentavelmente, tem sido responsável pela existência de graves conflitos.

            O segundo pedido que levou o Senador Gilvam Borges a encontrar-se com o Ministro das Relações Exteriores foi a formalização de pedido de informação a respeito do andamento do processo de construção da ponte binacional sobre o rio Oiapoque, que ligará a Guiana e o Brasil. Já estão em andamento as obras da ponte.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os conflitos envolvendo os brasileiros e a polícia francesa não são recentes e não são difíceis de ser explicados. Um olhar atento ao mapa do Amapá e logo nos asseguramos de que mais um pouco e o meu Estado seria uma península no território brasileiro. Situado no extremo norte da Amazônia, coloca, em termos geopolíticos, a Europa e a América do Sul como continentes vizinhos, e, em termos comerciais, aproximam a União Europeia e o Mercosul.

            Por essas razões, lá nós precisamos desenvolver uma cooperação inédita nas relações entre as duas nações: a fronteiriça.

            As fronteiras, em todos os países, apresentam-se na história nacional como áreas vulneráveis, fontes de preocupação constante, lugar onde a questão da soberania é imperativa.

            No caso da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, isso assume contornos críticos, pois a região que concentra a maior biodiversidade do planeta se encontra no foco das atenções nacionais e internacionais.

            O Estado do Amapá guarda imensas riquezas culturais e econômicas que precisam ser trabalhadas para que a distribuição da riqueza social possa equacionar os inúmeros problemas que afligem a nossa população.

            Nossa posição geográfica é privilegiada, e temos o maior índice de preservação dos recursos naturais, mas precisamos abrir fronteiras econômicas, caminhos que nos levarão à obtenção de dividendos econômicos, concedendo-nos o direito e a obrigação de contribuir para o desenvolvimento regional e nacional.

            Vejam V. Exªs que o que separa o Brasil da França é apenas um rio de 30 metros de largura. O Oiapoque delimita os 730 km da fronteira e é um meio pelo qual a navegação é obrigatória caso alguém queira ultrapassar esse limite. O que acontece no Oiapoque é perfeitamente normal em área de fronteira, porque, em decorrência da existência de ouro na Guiana Francesa, há um fluxo muito grande de brasileiros que querem garimpar na região. A maioria entra de forma ilegal, e isso naturalmente gera problemas que precisam ser resolvidos com boa diplomacia.

            Os Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy acordaram a construção da ponte sobre o rio, a fim de aumentar a integração entre os dois países, ligando as cidades do Oiapoque, no meu querido Estado do Amapá, e de São Jorge do Oiapoque, lá na Guiana Francesa.

            Essa idéia de construir a ponte binacional surgiu em 2001, durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, quando foi feito o primeiro acordo de construção da ponte. Em 2003, o Ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, firmou o acerto, mas não especificou uma data para o início das obras.

            Agora, é diferente. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou todas as providências necessárias para a feitura da ponte, e a obra foi definida em acordo assinado em julho de 2005, promulgado pelo Governo brasileiro em novembro de 2007 e aprovado pelo Parlamento Francês em março de 2007.

            O Presidente Lula e o Presidente da França, Nicolas Sarkozy, reuniram-se na Guiana Francesa em fevereiro de 2008. A classe política do Amapá acompanhou a maquete da ponte sobre o rio Oiapoque, com cerca de 400 metros de extensão, ao custo de R$55 milhões, prevista para terminar neste ano de 2010.

            O custo da obra será dividido igualmente entre o Brasil e a França, objetivando oportunidades para investimentos e projetos conjuntos, além da integração física e política da América do Sul ao continente europeu e de permitir a abertura do norte do Brasil ao Caribe.

            Tenho imensa admiração pela força de vontade e visão pragmática do Presidente Lula, que sabe romper as barreiras da morosidade burocrática e efetivar suas ações como gestor máximo da nossa Nação, com a simplicidade dos que sabem o que é preciso ser feito e como fazer. Mas a realidade é que, enquanto a ponte não fica pronta, o meio de transporte mais utilizado pelos turistas e habitantes locais é a “voadeira”. Esse tipo de embarcação é muito freqüente em toda a Amazônia e recebe esse nome porque sua proa empina enquanto ela navega, parecendo que vai voar.

            As pessoas que fazem a travessia são geralmente brasileiros que vão para a Guiana tentar ganhar algum dinheiro - de preferência em euro. Saint Georges, do lado francês, é toda circundada pela selva.

            O clima mantém o padrão úmido e quente de toda a Amazônia.

            A maioria da população é negra e proveniente de outros territórios franceses, como a Martinica, Guadalupe e as Ilhas Reunião. Grande parte do comércio aceita tanto o euro quanto o real. Não é difícil escutar música brasileira nas ruas...

(Interrupção do som.)

            O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP) - ...assim como pessoas falando em português. Já no Oiapoque, a situação é um pouco mais dura: quase não há ruas asfaltadas, quase tudo é terra. As casas de madeira são na grande maioria pobres e precárias. O porto, que deveria ser bem desenvolvido devido à situação geográfica e econômica em que a cidade se encontra, é um trapiche modesto, acompanhado de embarcações.

            Este século anuncia que o campo político brasileiro tem um desafio: atender as demandas sociais e econômicas de suas populações, ao mesmo tempo em que precisa ser sustentável no uso dos recursos naturais.

            Para as propostas de desenvolvimento da Amazônia, as fronteiras passam a ser percebidas pela potencialidade que apresentam para projetos de integração regional.

            A ponte binacional expressa pontualmente essa nova perspectiva, ou seja, o significado estratégico da fronteira foi flexibilizado em favor do conteúdo econômico.

            E, por fim, Sr. Presidente, só mais um minutinho, quero registrar desta tribuna que o Senador Gilvam Borges estava certo ao solicitar a criação de um escritório consular em Saint Georges, Guiana Francesa, fronteira do Oiapoque com o Amapá, Brasil. Enquanto isso não acontece, só nos resta pedir às autoridades que zelem para que a história de violência não se repita na geografia do rio que liga o Brasil à França.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância, pela sua generosidade e concluo o meu pronunciamento.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2010 - Página 7808