Discurso durante a 34ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Observações sobre a manifestação do Secretário-Geral do PT, Deputado José Eduardo Cardoso, comunicando sua desistência de candidatar-se nas próximas eleições. Considerações sobre a manifestação realizada no Rio de Janeiro contra o risco de perda de arrecadação, representado por novos critérios ora propostos para a distribuição dos royalties da exploração do petróleo.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. REFORMA POLITICA.:
  • Observações sobre a manifestação do Secretário-Geral do PT, Deputado José Eduardo Cardoso, comunicando sua desistência de candidatar-se nas próximas eleições. Considerações sobre a manifestação realizada no Rio de Janeiro contra o risco de perda de arrecadação, representado por novos critérios ora propostos para a distribuição dos royalties da exploração do petróleo.
Publicação
Publicação no DSF de 20/03/2010 - Página 8403
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. REFORMA POLITICA.
Indexação
  • LEITURA, DECLARAÇÃO, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SECRETARIO GERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DESISTENCIA, CANDIDATURA, ELEIÇÕES, FRUSTRAÇÃO, AUSENCIA, REFORMA POLITICA, LOBBY, RETORNO, ETICA, POLITICA PARTIDARIA, DENUNCIA, ABUSO, PODER ECONOMICO, CAMPANHA ELEITORAL, MANIFESTAÇÃO, ORADOR, SOLIDARIEDADE, IGUALDADE, DECISÃO.
  • FRUSTRAÇÃO, INSUCESSO, MOVIMENTAÇÃO, ENTIDADE, SOCIEDADE CIVIL, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB), LOBBY, PROIBIÇÃO, CANDIDATURA, REU, PROCESSO JUDICIAL, PREVISÃO, AUSENCIA, PRAZO, OMISSÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, VOTAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, CARTA CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), BALANÇO, DECISÃO, MAIORIA, CONGRESSISTA, DISPUTA, REELEIÇÃO, COMENTARIO, INFERIORIDADE, NUMERO, DESISTENCIA, CANDIDATURA, AVALIAÇÃO, CIENTISTA POLITICO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), OCORRENCIA, VICIO, PODER, CLASSE POLITICA, JUSTIFICAÇÃO, FALTA, ETICA.
  • COMPARAÇÃO, CRISE, ATIVIDADE POLITICA, ATUALIDADE, LUTA, RESISTENCIA, PERIODO, DITADURA, REGIME MILITAR, DEPOIMENTO, LONGO PRAZO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR.
  • ANALISE, PODER, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, MOBILIZAÇÃO, DEFESA, ETICA, CONTINUAÇÃO, GRAVIDADE, OCORRENCIA, CORRUPÇÃO, POLITICA NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), DESVIO, RECURSOS, COOPERATIVA, BANCARIO, FAVORECIMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPUNIDADE, LIDERANÇA, MESADA, PROPINA, CONGRESSISTA, FRUSTRAÇÃO, ORADOR, NEGLIGENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • AVALIAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO VERDE (PV), EXPECTATIVA, QUALIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, SUGESTÃO, URGENCIA, REFORMULAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, GARANTIA, ETICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Mais uma vez estamos aqui numa sexta-feira, Sr. Presidente. Com a liderança de V. Exª, ainda que com poucos, esta Casa funciona na sexta-feira e, graças à nossa TV Senado, são milhares de brasileiros que, em todos os recantos, escutam a nossa palavra.

            Eu venho a esta tribuna por dois motivos. Para o primeiro, eu já estava preparado para vir. Recebi a manifestação do Deputado Federal José Eduardo Cardozo, Secretário-Geral do PT, Deputado Federal por São Paulo, comunicando à Nação que ele não será mais candidato a Deputado, que está largando a política, que se desiludiu, que, ao longo dos seus mandatos, ele teve uma luta intensa no sentido da moralização da causa pública, a começar pela forma como a eleição se realiza - ele defendeu fanaticamente a verba pública de campanha -, mas foi derrotado. E, derrotado, ele não se sente em condições de participar de uma campanha para a qual, segundo ele, a importância necessária para se eleger é fabulosa, maior do que ele ganha nos quatro anos de mandato. Ele disse, então, que não é mais candidato.

            Eu tenho admiração pelo José Eduardo. Ultimamente, essa admiração tinha até diminuído: a Deputada Federal mais bonita do Brasil, uma gaúcha, a Manuela, resolveu namorar um paulista, e nós todos ficamos revoltados. Já temos uma Governadora que é paulista, e, agora, nossa Deputada competente, capaz... Mas parece que brigaram. Tomara que a briga seja definitiva e que ela vá namorar um gaúcho. Há tanto gaúcho...

            Mas eu o admirava. Houve um momento, no auge da crise do mensalão, em que alguns quiseram fazer uma reforma no PT. O Deputado Tarso Genro estava à frente desse movimento, e esse ilustre Deputado José Eduardo era aliado de Tarso. Chegaram a ganhar a eleição: o Tarso foi eleito Presidente do PT. À época, houve uma manifestação, uma entrevista que eu achei sensacional, e vim elogiá-la nesta tribuna. O então Presidente do PT disse que a crise do PT, a questão de mensalão, essas coisas, essas denúncias que estavam aparecendo, para o PT, não deveriam ser uma questão de CPI, não deveriam ser uma questão de polícia, não deveriam ser uma posição do Congresso nem da Justiça, mas uma posição interna do PT. Entendia que o próprio PT é que tinha de resolver, moralizar, e usou uma expressão que eu achei chocante e importante: “Temos de recriar o PT e fazer a limpa que for necessária”.

            O meu amigo Tarso Genro ficou muito pouco tempo na presidência do PT, porque o seu discurso teve uma reação negativa imensa, a começar pelo Presidente Lula. E o Tarso saiu. E, quando se falou com ele que ele tinha caído fora, que ele tinha recuado, ele respondeu: “Não. Nós fizemos um acordo, e o meu representante é o José Eduardo Cardozo, que ficou de Secretário-Geral do PT”. Mas o PT não fez a recriação que o Tarso queria, assim como o PT, o PMDB nem ninguém fez as reformas políticas que nós desejávamos no que tange a essa questão.

            Então, diz o Deputado:

Desde a última campanha eleitoral, disse e repeti, por diversas vezes, que achava difícil a possibilidade de vir a participar de uma nova eleição à Câmara dos Deputados se não houvesse uma radical reforma do sistema político brasileiro.

Continua o Deputado:

Fazia isso por já não me sentir confortável em disputas onde os recursos financeiros cada vez mais decidem o sucesso de uma campanha, onde apoios eleitorais não são obtidos pelo convencimento político das ideias, pelo programa ou pela própria atuação de candidato proporcional, mas quase sempre pelo quanto de “estrutura” financeira ele pode distribuir.

            Diz o Deputado:

Hoje um político sério no Brasil pode vir a ser punido ou mesmo correr o risco de perder o seu mandato por um mero descuido ou erro formal.

            Já os corruptos cuidadosos, que podem pagar bons e caros técnicos que os assessoram, costumam não cometer erros desta natureza ao engendrarem suas grandes “falcatruas”. Bem-assessorados, quase sempre saem “limpos” das disputas eleitorais.

Não bastasse isso, a generalização e a banalização da ideia de que todo político é “desonesto” não pode deixar de abater ou desestimular os que buscam comportar-se com dignidade (...).Não há nada pior para alguém que vive com dignidade no mundo da política do que, diante de uma acusação qualquer, ver que a sua palavra ou a ausência de provas incriminadoras não afasta nunca a “certeza” da sua culpa.

            E comunica:

Por isso, deixarei, ao final deste ano, a Câmara dos Deputados, mas não abandonarei a militância política. Estarei sempre à disposição do meu Partido (...). Peço de todos os que sempre me apoiaram, mesmo que eventualmente agora os decepcione, a compreensão deste gesto.

            Eu felicito o Deputado. Não aplaudo; não estou feliz com a decisão da retirada da sua candidatura. Eu mesmo venho pensando nisso. Eu também já tenho uma decisão. É verdade que a minha decisão está ligada à idade, mas com idade ou sem idade, vivo ou morto - morto não digo, mas vivo -, jamais me candidatarei a qualquer cargo.

            Pensei em renunciar ao meu mandato e ainda penso. Tenho recebido intensas manifestações, lembrando, inclusive, que, no auge da ditadura, quando havia um movimento de renúncia coletiva, em que os radicais cobravam que o MDB deveria ir para casa, renunciar a seus mandatos porque estavam aqui coonestando o regime, sempre fui contrário, dizendo que nunca havia visto, em qualquer democracia, um democrata renunciar ao mandato. Eu havia visto muitas ditaduras cassarem, prenderem, matarem, fecharem Congresso; mas, espontaneamente, a gente oferecer a eles aquilo que querem, nunca havia visto. Mas acho que a manifestação do Secretário-Geral do PT é muito importante e atinge a todos nós, independentemente de partido.

            Eu vejo agora, nos jornais, a igreja se movimentando, a CNBB, a ABI, a OAB, principalmente a OAB, com um milhão e seiscentas mil assinaturas, para pedir que se impossibilite a candidatura do chamado “ficha suja”. E na reunião para a qual me convocaram, eu fui e disse: “Não esperem nenhum resultado. Nada vai acontecer. Nada vai acontecer!”

            Ontem, apareceu nos jornais a figura desses líderes na Câmara dos Deputados com o Presidente da Câmara. E o que ficou claro? Nada vai acontecer. Nada vai ser votado a tempo de atender a eleição deste ano. Era o que a gente imaginava e é o que está acontecendo.

            O segundo motivo que me traz a esta tribuna, que é ligado ao primeiro, é a manifestação de Cynara Menezes na CartaCapital. E eu gosto muito dessa revista, CartaCapital. Ela aborda muitos assuntos e, praticamente, ela os aborda isoladamente; não se veem essas matérias em outras revistas.

            Diz a CartaCapital:

O Congresso Nacional pode até ser considerado por 39% dos brasileiros como ruim ou péssimo, [...] mas a insatisfação não se estende aos ocupantes de gabinetes espalhados pelas duas cúpulas projetadas por Oscar Niemeyer [...]. Entre os 513 deputados, pode-se contar nos dedos os que abrirão mão de disputar a reeleição [...]. No Senado, dos 54 parlamentares cujo mandato termina neste ano, nenhum até agora manifestou a intenção de não competir. Serem espinafrados e desprezados por parte significativa dos brasileiros não constitui razão suficiente para fazer parlamentares pegarem o boné e irem para casa. Só se desiste do Congresso no Brasil por falta de dinheiro.

O liliputiano grêmio dos que admitem alguma frustração por não terem sido capazes de realizar quase nada como congressistas acaba de receber [a adesão do Deputado José Eduardo Cardozo, do PT].

Ciro [Gomes] declarou preferir deixar a política do que ter de voltar à Câmara.”‘Nunca mais vou ser deputado na vida. Não tenho mais paciência de passar nove horas conversando fiado e não fazendo nada pela vida de ninguém.

Cardozo divulgou uma carta aos eleitores na qual anuncia sua desistência.

Ao comunicar a um colega do Parlamento que não iria se lançar à reeleição embora acredite ter chances, ouviu o que todo brasileiro gostaria de dizer: ‘Mas vai deixar essa boquinha?’ Quando os próprios Parlamentares veem a coisa assim, fica difícil se solidarizar com Cardozo quando ele argumenta ser esta uma imagem equivocada, que na verdade perdeu dinheiro ao virar deputado pois ganhava mais como procurador da prefeitura de São Paulo. “Sempre tive que dar aulas para complementar. Para ainda ser chamado de ladrão”’, reclama, magoado com a generalização. “A palavra do político não vale nada.” [Diz o deputado.]

Há, sim, desilusão com a lentidão na aprovação de projetos, com o excesso de medidas provisórias e com o baixo nível intelectual do debate. Mas a razão financeira é a que mais pesa na decisão de desistir das urnas, mesmo porque ninguém assume ter interesse em abandonar de todo a política por não se candidatar.

A probabilidade de o político, mesmo desencantado, deixar de vez a política, como ameaçou Ciro Gomes, é rara. Uma vez político, sempre político, acredita a professora da Universidade de Brasília Lúcia Avelar. Inebriados pelo poder, diz a cientista, os que alcançam um cargo público não se conformam com a possibilidade de voltar ao anonimato do cidadão comum, como um viciado para o qual não foi encontrada cura. “A política é mais do que uma cachaça, como eles dizem. Ao ganhar poder, experimentam a droga mais alucinante que existe. Por isso, mesmo odiados, se recusam a mudar de ramo e largar o osso”, analisa [a cientista].

Avelar conta que sempre a intrigou certa falta de autocrítica intrínseca à atividade, que faz os políticos serem capazes de tolerar, ao contrário de outros profissionais, a rejeição pública. “Parece que existe um patamar ético na sociedade e outro na política, como se eles vivessem num mundo à parte.” Ela cita o sociólogo Max Weber, que analisou o tema na conferência de 1919, “A política como vocação”. Weber divide o homem político em duas espécies: os que realmente se entregam, de corpo e alma, à política, e os que apenas se sentem atraídos pela aura do poder. ‘No Brasil, ao que tudo indica, há mais políticos do segundo time do que do primeiro’. [Há mais os que buscam a aura do poder do que os que estão preocupados com o bem público.]

Especialista em Weber, o professor aposentado da USP Gabriel Cohn aponta outra distinção feita pelo pensador alemão, separando os políticos entre os que se movem por valores e os que se guiam por interesses. “Na perspectiva de Weber, o valor é o que se invoca em última instância, a rocha dura na qual o político se agarra - o bem comum, por exemplo. Já o político movido por interesses não enxergará valor algum. E, se não tem a convicção de que deve haver um valor último, é um homem dos interesses momentâneos, que defende uma coisa hoje, outra amanhã”. Cohn acrescenta: “Desconfio que estes atualmente sejam a maioria. Por isso não possuem autocrítica ao ponto de partirem para outra: ‘está ótimo aqui, por que vou largar?’

            Continua:

Ao longo da história do País, os casos de renúncia à política, de tão incomuns, são lembrados até hoje. Após 15 anos no poder, Getúlio Vargas foi obrigado pelos militares, em 1945, a renunciar, chegou a se retirar para suas fazendas no Rio Grande do Sul, mas celebrou a volta "nos braços do povo" [numa vitória espetacular] em 1950.

Jânio Quadros se deu mal em 1961 ao querer provocar o mesmo sentimento nas massas abrindo mão do mandato presidencial e dizendo que iria se dedicar à carreira de advogado e professor. Em 1982, porém, voltaria à vaca fria como candidato ao governo de São Paulo, quando foi derrotado por Franco Montoro. Ao retornar ao poder como prefeito de São Paulo três anos depois, pendurou uma chuteira no gabinete para demonstrar que era diferente dos demais e que poderia largar tudo na hora em que bem entendesse. Mas só desistiu de retornar ao Planalto em 1989 por ter adoecido.

No Parlamento, um caso emblemático é o do ex-deputado federal Vladimir Palmeira, que, após três décadas de dedicação à vida pública, desde o movimento estudantil, nos anos 1960, abandonou a Câmara em 1993 alegando já ter dado sua contribuição. Palmeira não voltou a concorrer ao Legislativo. No entanto, jamais deixou a política. Eterno rebelde, tentou ser candidato ao governo do Rio em 1994 e em 1998, quando o PT carioca sofreu intervenção nacional e foi obrigado a deglutir o apoio a Anthony Garotinho. Em 2006, saiu finalmente ao governo e ficou em quarto lugar.

É comum o político dizer aos quatro ventos que está farto e que vai renunciar à política, mas, na hora agá, voltar atrás. Em abril do ano passado, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, informou que iria desistir da disputa ao Senado em 2010 [iria desistir de disputas eleitorais] [...]. “A política tem me consumido muito. Agora quero descansar e ter tempo para cuidar da minha família e da vida empresarial”. Cinco meses depois, anunciaria ter desistido de desistir. Deve concorrer ao Senado.

            A revista acrescenta:

O mesmo aconteceu com o senador Pedro Simon, que tinha marcado até a data para a renúncia ao mandato, para o qual lhe restam ainda cinco anos... [a data era 31 de janeiro]. Dizia-se "machucado", cansado de ser voto vencido no Senado e em seu próprio partido, o PMDB. [Pedro Simon] Renunciou à renúncia diante das manifestações que chegaram ao gabinete por sua permanência. “Eu não teria nem como explicar para mim mesmo se renunciasse”, justifica Simon, que admite o próprio vício em política, mas não a idéia de que os políticos continuem políticos por não saberem fazer outra coisa. “Imagina, tem Senador dono de emissora de TV, fazenda, fábrica...”.

            Tem Senador com muitas e muitas outras atividades além do Senado.

Entre ser político ou bispo evangélico da Igreja Sara Nossa Terra, o Deputado Robson Rodovalho (PP-DF), se diz 98% decidido a optar pela atividade religiosa por ser mais compensadora. “Entrei na vida pública por causa do sonho de mudar o meu País. Isso palpita no meu coração e às vezes me faz até chorar. Mas como bispo sou amado e, como deputado, sou suspeito”, lamenta o parlamentar, secretário do governador preso José Roberto Arruda que milagrosamente escapou da Operação Caixa de Pandora. “Estou em busca de um novo modelo de fazer política. A multidão que me ama aceitará a decisão que irei tomar, seja ela qual for. Só não abrirei mão de meu sonho” [diz o evangélico].

Mais sincero, o deputado federal Fernando Coruja, atual líder do PPS na Câmara, diz que não pretende voltar ao Congresso simplesmente por não se sentir útil. Coruja, ex-prefeito e vereador em Lajes, Santa Catarina, há 22 anos possui um mandato eletivo e não pretende ter mais nenhum. Raridade no meio, manteve o consultório de médico endocrinologista na ativa durante todos estes anos, e é só lá que pretende dar expediente a partir de 2011. “Sempre tive o cuidado de não ficar dependente da política economicamente. Não é bom ser político profissional, porque se perde a sintonia com o mundo real”.

Cansado do “excesso de lobbies” no Parlamento, onde “o poder econômico manda”, Coruja resolveu elaborar duas listas para tomar a decisão se iria concorrer ou não concorrer a um quarto mandato. A lista do “sim” [ficou parada] ficou em branco. A lista do ‘não”: “Não estou melhorando a vida das pessoas, não sinto prazer no que faço, não há debates importantes, sou 500 vezes mais útil como médico”. Se todos fizessem reflexão idêntica, não ia faltar quórum ao bloco dos desiludidos.

            Eu venho a esta tribuna, Sr. Presidente, porque venho debatendo essa matéria há muito tempo. Há muito tempo! Eu lamento que a classe política tenha chegado a uma posição tão deplorável. Eu lamento! Eu lamento que nós não possamos fazer o mínimo necessário na questão da ética e da moral com a coisa pública.

            Eu acho engraçado, Sr. Presidente, mas, na época da ditadura militar, esses escândalos que estamos vendo no Congresso não existiam. Os cassados, os presos, os torturados existiam... Nós, da oposição, vivíamos horas muito difíceis... Eu, lá no Rio Grande do Sul, Estado onde a ditadura foi dez vezes mais dura do que em qualquer outro Estado do Brasil, terra de Getúlio Vargas - ali, do outro lado, no Uruguai, estavam Brizola e Jango, homens que foram depostos na ditadura -, foram horas e momentos terríveis: de dor, de morte, de violência.

            Deputado, guri de 30 anos, cheguei à Assembleia, vindo da vida universitária, apaixonado pelo governo de Juscelino, por renovações, por mudanças que nós poderíamos fazer. Um ano depois de ser Deputado, veio o Golpe de 64, que mudou tudo! Prendeu, matou... E, de repente, eu, um guri, por falta de mais gente, fiquei no comando da oposição no Rio Grande do Sul por um longo período. E nós sofremos, sofremos demais. Depois, eu vim a este Congresso e, aqui, nós sofremos, e sofremos demais. Mas é interessante que nós tínhamos uma bandeira, nós tínhamos uma causa: a causa da liberdade, a causa da democracia. E é interessante salientar que, em meio a uma ditadura de cinco generais ditadores, nomeados Presidentes, com todo o poder, com todo o mando, com toda a força, com um ato institucional com que podiam cassar um mandato - hoje, no A Voz do Brasil, sairia o nome e o nome estaria cassado -, em que o Deputado poderia desaparecer e nunca mais ser encontrado, no meio daquela luta, tinha brava gente neste Congresso. Brava gente! É verdade que alguns se acomodaram. Naquela hora em que o Jango caiu como Presidente, o PTB, o seu partido, tinha-se transformado no maior partido do Congresso Nacional. O Partido do Presidente, o PTB, se transformou num grande partido.

            Com a ditadura, primeiro cassaram, fizeram uma limpa geral e, depois, as pessoas foram entrando e foram parar, a grande maioria, na Arena. Mas ficou muita gente. Dignidade, correção, seriedade dominaram, durante muito tempo, esta Casa.

            Eu não consigo entender: terminada a ditadura e retornada a democracia, a corrupção foi crescendo, foi crescendo e o esvaziamento desta Casa foi quase que total. Em seguida, nós pensamos: “Quem sabe vamos recriar o grupo dos autênticos, que nós tínhamos na época da ditadura?”. Aí, fomos olhar, fomos botar no papel: seria muito pequeno o grupo dos autênticos.

            Eu vejo agora, no Rio de Janeiro - e vou falar sobre essa matéria na semana que vem -, uma manifestação espetacular: 150 mil pessoas, em questão de 24 horas, foram para a rua em defesa do interesse que o Rio considera legítimo, porque querem mexer na sua arrecadação. Correto, correto! O mesmo Rio de Janeiro, lá atrás, botou milhões na rua, levados pela imprensa, pela própria igreja, pelos militares e pelas forças empresariais, na luta com Deus a favor da revolução que se instalou.

            Foi muito difícil levarmos o povo às ruas na luta contra a ditadura, mas conseguimos levar. E foi o povo nas ruas, foram os caras-pintadas que fizeram o milagre, o fantástico milagre de terminarmos com a ditadura sem guerra civil, sem luta, sem morte e sem sangue. Eles foram para a rua. Os jovens tiveram coragem. E quando, nas Diretas Já, cercaram o Congresso Nacional e impediram que ela fosse aprovada, muitos congressistas se assustaram e não vieram votar ou votaram contra. O povo continuou na rua e levou Tancredo à Presidência da República. Mais adiante, quando houve o episódio Collor, o povo foi para a rua, e o povo na rua forçou este Congresso a cassar o mandato do Sr. Collor. Agora, o povo está lá, na rua, defendendo o interesse do Rio de Janeiro.

            Eu me pergunto: por que não há nenhuma movimentação, na sociedade brasileira, com relação à dignidade, à moral e à credibilidade da sociedade pública?

            Há o sentimento de que isso não é importante, há o sentimento de que se pode usar, abusar, fazer o que quer, porque nada acontece. De um lado, isso é verdade: é a impunidade. Se roubar bastante neste Brasil, nada acontece.

            Estamos vivendo um momento histórico. O Brasil está assistindo a um movimento, e está todo mundo, boquiaberto, olhando: um Governador, em pleno mandato, é preso, é mantido preso, e o Tribunal cassa seu mandato, anula seu mandato, e, provavelmente, a Assembleia vai extingui-lo. Isso está acontecendo. É a primeira vez que isso ocorre. De um lado, há o mensalão: são quarenta denunciados no Supremo. O Sr. José Dirceu é um herói. No seu aniversário, na semana passada, a começar pelo Sr. José Sarney, o primeiro time dos importantes do Brasil estava festejando com um cara que está sendo julgado no Supremo como o líder, o chefe do grupo que fez o mensalão.

            Agora, isso surge em São Paulo. O cidadão foi eleito tesoureiro do PT. Meus cumprimentos à Ministra Dilma, que já deixou claro que ele não vai ser o tesoureiro da sua campanha. Mas ele foi eleito. Quando o Secretário-Geral atual, junto com o Dr. Tarso, queria recriar o PT para fazer uma limpa, ele é que caiu fora. E aí está a realidade: de um lado, está o Governador de Brasília, afastado num processo de corrupção absolutamente igual ao que envolveu o PT no processo do mensalão. Pela primeira vez, alguma coisa está acontecendo. E, vamos fazer justiça: foram os jovens de Brasília que foram à Assembleia, que lá entraram, que invadiram a Assembleia; foram os jovens de Brasília que se postaram à frente do Tribunal e que manifestaram protesto e revolta. Não sei até que ponto isso ajudou, mas acho que ajudou a decisão de afastar e prender o Governador.

            Mas o que quero dizer é que há uma movimentação. Com 1,6 milhão de assinaturas, um projeto de iniciativa popular está na Câmara. Ele ainda nem andou, e o Presidente disse que vai reunir os líderes. Reunião de líderes, na Câmara, é uma reunião com trinta ou quarenta pessoas, Sr. Presidente, porque há trinta partidos e porque cada partido leva seu vice-líder. Então, é absolutamente claro que nada irá acontecer.

            Podíamos votar verba pública de campanha. Podíamos votar, mais do que isso, o voto distrital, e tudo isso terminaria. Podíamos moralizar a vida neste Congresso. Mas a saída do Lúcio, Secretário-Geral do PT, da vida pública não melhora essa situação. Pelo contrário, isso termina piorando a situação.

            Eu disse e repito: felicito o Presidente Lula. Essa viagem dele ao Oriente Médio foi nota 10: foi positiva, concreta, objetiva. Eu não me tinha dado conta de que nenhum Presidente brasileiro tinha ido a Israel, ao Oriente Médio, desde que foi criado. Penso que o Presidente Lula, com seus 74% de popularidade, podia fazer essa campanha. É pena que essa parte da ética e da seriedade na coisa pública parece não ser referência com a qual o Presidente Lula se importe muito. Pelo contrário, a gente vê, pelas alianças dele com o PMDB, que, para ele, isso é o que menos importa. E dentro do próprio PT? Isso, para ele, não importa muito.

            Se os jovens, se o povo que foi às ruas no Rio de Janeiro anteontem para fazer aquela importante movimentação, para melhorar suas verbas, se o povo do Rio e o povo do Brasil topassem ir para a rua para fazer essa movimentação, para que fizéssemos as reformas necessárias - voto distrital, verba pública em campanha eleitoral, fidelidade partidária -, moralizaríamos a vida política brasileira. Queira Deus que isso possa acontecer! Mas, com toda a sinceridade, com este Congresso, não acredito nisso. Até que esta Casa já votou. Verba pública de campanha, já votamos, por unanimidade. Está lá na Câmara, na gaveta da Câmara. São vários projetos que o Senado votou e que estão na gaveta da Câmara. É uma pena!

            Quanto à CartaCapital, em relação a mim, respeito a análise que ela faz. Essa é uma dúvida que realmente tenho, e acrescento algo que ela não publicou, até porque, no dia 31 de janeiro, fiz 80 anos e, com essa idade, tenho o direito de me aposentar. Por isso, pensar em ir para casa, na minha idade, é compreensível. Estou aqui. Vivo do meu mandato com a verba de Senador, com os R$16 mil brutos e nada mais. Poderia viver melhor fora daqui. Talvez, eu pudesse fazê-lo.

            Com toda a sinceridade, digo que alguma coisa deve ser feita, que alguma coisa precisa ser feita. Quando Lula chegou ao Governo, eu, empolgado, achei que tinha chegado a hora. Aquele PT na oposição era um Partido tão fantástico, com tantas ideias, com tanta garra, que achei que havia chegado a nossa vez. Que pena! Lula, como Presidente, em vez de se manter firme... E isso seria tão fácil, não precisaria de grande coisa: se ele tivesse demitido o Waldomiro, se ele tivesse tomado meia dúzia de providências para dar a linha ao Governo dele, o Governo dele seria outro. Mas na hora de fechar o olho e deixar os Waldomiros... Durante um ano impediu que convocássemos uma CPI para apurar as corrupções do mensalão, e foi preciso que o Supremo mandasse implantá-la. Aí ele deu a linha do Governo dele. A desculpa do PT é que ele faz, e é isso o que o PSDB também fazia.

            Sou muito sincero. Tenho um otimismo. Meu querido Presidente, dentro do quadro que estamos vivendo, se eu olhar para o PT, não vejo candidato melhor que a Ministra. Acompanhei a vida da Ministra, a sua luta no Ministério de Minas e Energia, quando ela lutou contra o Presidente Sarney, contra o PMDB e contra o PT para que os quadros da Petrobras, da Eletrobrás, do Banco do Brasil e de tudo mais fossem ocupados por técnicos, para que não houvesse a vala comum de políticos interessados, lamentavelmente, em outras coisas que não a causa pública. Na época, até se dizia: “É que ela tem outra gente, ela tem os cupinchas dela”. Fui ver depois que o que ela queria eram os técnicos especializados, que tinham competência, que tinham tradição, para que eles ficassem na Petrobras, na Eletrobrás, no Banco do Brasil. Não vejo condições de o PT encontrar um candidato a Presidente da República melhor que a Ministra Dilma. E confio muito mais na Ministra Dilma do que no Presidente Lula.

            Sou obrigado a reconhecer que, no PSDB, é difícil encontrar um candidato melhor do que o Serra. Serra é muito melhor do que Fernando Henrique. Fernando Henrique titubeou. A emenda da reeleição foi comprada. Houve dinheiro, houve compra de voto. Fernando Henrique tinha um compromisso quando éramos do Governo do Itamar - ele era Ministro, e eu, Líder do Governo. Quando houve a reforma, prevista cinco anos depois, da Constituição, havia a emenda da reeleição. Todos os Governadores a queriam, todos os Prefeitos a queriam, mas nós e o Itamar votamos contra. E, por apenas nove votos, a emenda não conseguiu o quórum necessário para ser aprovada. Naquela ocasião, Fernando Henrique disse: “É claro que não, temos de ser contra”. Mas, quando chegou a vez dele, escandalosamente, a emenda foi aprovada. A privatização da Vale do Rio Doce, até hoje eu não aceito a forma com que ela foi feita. Houve doação.

            Quanto ao Serra, não conheço nada na sua vida... Inclusive, na minha opinião, foi o melhor Ministro da Saúde que este País já teve. Eu não via ninguém no PSDB ou em qualquer partido melhor que ele para Secretário.

            Se deixarem o nosso PMDB ter candidato, há o Requião, excepcional Prefeito de Curitiba, eleito e reeleito Governador do Paraná - e também foi excepcional -, um Senador que marcou presença nessa época, principalmente na CPI do Sistema Financeiro e na CPI do setor judiciário. Não vejo ninguém melhor na nossa área do que o Requião.

            Se olhássemos para pureza, se, de repente, olhássemos para o Cristo, que está ali pendurado, se olhássemos para alguém que significaria uma utopia espetacular, ninguém seria melhor que Marina. Não há biografia, história e luta mais excepcionais do que as de Marina.

            Alguma coisa me diz que essa será uma grande campanha. Serra tem deixado claro, não aceitando as provocações do Fernando Henrique, que o Fernando Henrique está entrando e querendo fazer o debate em cima do governo dele, o que Serra não quer, e ele está certo. Não interessa ao Serra discutir o Governo do Fernando Henrique, até porque Serra não gostou de muita coisa do Governo do Fernando Henrique. Não interessa ao Serra comparar o Governo do Fernando Henrique com o Governo do Lula, até porque ele diz, corretamente, na minha opinião, que não quer ser o anti-Lula, que ele quer ser o pós Lula, e acho isso correto.

            Se depender da Ministra, penso a mesma coisa: sinto que haverá um debate de alto nível, uma campanha de alto nível.

            Que bom seria se Lula, com 84% de prestígio popular, chamasse esses quatro candidatos e tentasse fazer uma mini e urgente reforma desse nosso sistema eleitoral e se pudéssemos, nesses dois meses em que ainda é possível e viável, com os candidatos e com o Presidente, equacionar essas questões, que fariam da nossa campanha uma campanha séria, uma campanha digna, que moralizaria a vida deste Parlamento!

            Muito obrigado pela gentileza e pela tolerância do meu querido amigo Presidente Mesquita.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/03/2010 - Página 8403